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sexta-feira, 13 de maio de 2016

Bem vindo ao passado, com Michel Temer















POR SALVADOR NETO

Seja bem vindo ao passado que acaba de voltar à cena. Parece filme, mas não é. A população acreditou no discurso da mídia/oposição/mp/judiciário e pensa que com Michel Temer, desde esta quinta-feira (12/5) o presidente em exercício do país, tudo vai mudar. Como se ele e o PMDB tivessem o receituário da vida eterna, sem crises, uma maravilha. Já escrevi aqui, e retomo sem medo, que não há crime da presidente Dilma Rousseff, mas houve uma bem sucedida articulação que culminou com seu impedimento, a meu ver, irreversível. É fato, e o tempo, sempre racional, mostrará.

É cômico, e claro entristecedor, ver até jornalistas e alguns intelectuais, além de boa parte da população, afirmar que o PT, Dilma e Lula quebraram o Brasil. Sim, pois esquecem que esse trio está apenas 14 anos no poder central, enquanto PMDB, PSDB, DEM, PP, e outros menos votados, não saem do governo federal desde a redemocratização em 1985. Poucos minutos de pesquisa apontam fácil, fácil o que digo.

Por falta de pesquisa muita gente não sabe que entre os deputados e senadores deste belíssimo parlamento brasileiro estão latifundiários com casos de trabalho escravo em suas fazendas, outros com acusações de tráfico de drogas, muitos fanáticos religiosos, muitos, mas muitos empresários, que defendem desde sempre somente o seu direito às benesses do Estado e muitos representantes de classe elitista. O povo? Ah, o povo... não precisa de representantes...


Como diz o jornalista Mino Carta, a Casa Grande e a Senzala mandaram diretamente neste imenso latifúndio Brasil por cinco séculos. Nos governos petistas, mandaram em parte, nos acordos pela governabilidade. Graças a popularidade do ex-presidente Lula, os avanços sociais se sucederam ao longo dos somente 14 anos que governaram juntos. Bolsa Família, ProUni, Pronatec, políticas especiais para as mulheres, Minha Casa Minha Vida, milhares de obras federais direta ou indiretamente realizadas ou em realização pelo pais, gerando empregos e renda com os PACs, rodovias, ferrovias, retomada da indústria naval, entre outros projetos que marcaram o período.

O passado está de volta, minha gente, e logo vamos sentir e lembrar daqueles tempos, e comparar com este que finaliza sob grande regozijo da classe empresarial. Nos tempos tucanos-peemedebistas, direitos dos trabalhadores foram suprimidos. Manifestações das movimentos sociais eram reprimidas com a força. Para quem estava com saudades, o filme está voltando. 

A ponte para o futuro de Temer é uma miragem que pretende seduzir trabalhadores que ganharam muito nos últimos anos, e que ao perder poder econômico e empregos nesta crise financeira que nos atingiu, se voltaram contra o governo. O “corte” de despesas, a “reforma” previdenciária, a “redução” do Estado, a supressão de ministérios voltados às mulheres, índios, negros – aliás, não há mulheres no ministério Temer, isso diz algo à elas? – tudo isso sinaliza para tempos sombrios aos direitos dos trabalhadores. Infelizmente.


Virão aí as privatizações do que o PSDB e o PMDB nos tempos de FHC, não conseguiram finalizar. Tudo em nome de nos colocar novamente de joelhos perante o capital internacional, aos rentistas, relegando o futuro de milhões de jovens a ser mão de obra barata e sem direitos aos grandes negócios dos empresários , boa parte deles que sempre estão por trás da corrupção que transborda hoje na Lava Jato.

Retiraram com um golpe parlamentar a primeira mulher presidente do Brasil, talvez a única honesta, sem contas na Suíça, nem acusações de corrupção, para recolocar o governo nas mãos de quem já conhecemos, por seu passado nada elogiável. Saberemos o que isso vai nos custar, brevemente. 

Para finalizar, deixo alguns dados para reflexão dos leitores, e para comparação futura. 
A Presidente eleita Dilma Rousseff deixa para o presidente interino uma herança desejada por qualquer governante:

1) As reservas internacionais líquidas do Brasil são de US$ 376,3 bilhões (eram de apenas US$ 16 bilhões em 2002).
Elas superam, com folga, toda a dívida externa do país, que é de US$ 333,6 bilhões.
Assim, o Brasil é credor externo líquido em US$ 42,7 bilhões.

2) O Brasil é credor do FMI:

3) A dívida pública líquida é de 38,9% do PIB (era de 60,4% do PIB em 2002).

4) Os investimentos externos produtivos (IED) no Brasil foram de US$ 78,9 bilhões nos últimos 12 meses (Abril 2015 a Março 2016), sendo equivalentes a 4,56% do PIB;

5) O Brasil tem o 7o. maior PIB mundial (era o 13o. em 2002);

6) A Renda per Capita é de US$ 10.000 (era de US$ 2.500 em 2002);

7) A taxa de inflação está despencando e deverá fechar, segundo o Banco Central, 
perto do teto da meta em 2016, ficando próxima de 6,5% no acumulado do ano. Para 2017, já se prevê uma taxa de inflação perto do centro da meta (de 4,5%);

8) O salário mínimo é de R$ 880,00, equivalente a cerca de US$ 250 (era de US$ 55 em 2002);

9) O déficit externo, em transações correntes, está em 2,39% do PIB, no acumulado de 12 meses (terminado em Março de 2016), e continua caindo rapidamente;


10) O Superávit comercial foi de US$ 19,7 bilhões em 2015, já acumulou US$ 14,5 bilhões em 2016, sendo que estimativas apontam que o mesmo poderá chegar a US$ 50 bilhões neste ano.

Anote aí. Os dados são do Banco Central do Brasil, oficiais. Seja bem vindo ao passado.


É assim nas teias do poder...

terça-feira, 8 de março de 2016

Tem brasileiro dormindo com o inimigo

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Se Lula for culpado, tem que responder perante a lei. Se Dilma tiver atentado contra a Constituição, que venha o impeachment. E os brasileiros que desejam expurgar os dois da política têm o legítimo direito de pensar assim (sempre dentro do respeito pela lei, claro). Mas fica dúvida: que país surgirá caso Dilma seja impedida e Lula se torne inelegível?

É só fazer uma pequena recolha de manchetes de jornais para perceber há muita gente que anda a dormir com o inimigo.

·      É um terço SP, um terço nacional e um terço Aécio.
·      Denúncia do MPF sobre Furnas que envolve Aécio Neves volta à fase de inquérito no Rio.
·      Aécio era “o mais chato” na cobrança de propina junto à UTC, afirma delator .
·      Senador tem de explicar caso da cocaína no helicóptero, diz Aécio.
·      Dono do helicóptero do pó ganhou 3 contratos sem licitação de Aécio Neves.
·      Indenização por aeroporto de Cláudio ajudará tio de Aécio a quitar dívida.
·      Ministério Público pede para arquivar investigação sobre aeroporto em terreno da família de Aécio.
·      Escancarado esquema de corrupção tucana no Metrô de São Paulo.
·      Trens e Metrô superfaturados em 30%.
·      Lava Jato fecha cerco a Sabesp e Metrô. Tucanos e imprensa se calam.
·      Alckmin diz que cooperativa citada em fraude da merenda foi aprovada.
·      Governo Alckmin e aliados na mira do MP por esquema de propina na merenda escolar.
·      FHC usou empresa para me mandar dinheiro no exterior, diz ex-namorada.
·      Fernando Henrique Cardoso pagava a amante via empresa.
·      FHC nega ter apartamento em Paris e ataca Lula.
·      Mirian Dutra confirma: apê de luxo em Paris é de FHC.
·      Irmã de ex-amante de FHC é ‘funcionária fantasma’ no gabinete do senador José Serra, dizem jornais.
·      Serra diz que funcionária fantasma trabalha em projeto sigiloso.
·      WikiLeaks: EUA estavam preocupados com exploração do pré-sal.
·      WikiLeaks: as conversas de Serra com a Chevron sobre o pré-sal.
E, por fim:
·      Senado aprova fim da participação obrigatória da Petrobras no pré-sal.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Querem impedir o Brasil?















POR SALVADOR NETO

Há quase 23 anos vivi os momentos históricos do impeachment do ex-presidente, hoje senador por Alagoas, Fernando Collor, cuja abertura do processo foi aprovada por 441 votos na Câmara dos Deputados. Collor foi o primeiro presidente da República eleito pelo voto direto após o regime militar, ao derrotar em segundo turno o então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Duas entrevistas foram determinantes para a mobilização popular.

Primeiro o irmão do presidente, Pedro Collor, à revista Veja, denunciando o chamado esquema PC e o desvio de verbas públicas para as empresas do ex-tesoureiro de campanha. Depois, o motorista Francisco Eriberto França confirmou à revista Isto É ter feito pagamentos para Fernando Collor e sua esposa, Rosane Collor, com cheques e valores que buscava nas empresas de PC Farias.

No dia 29 de setembro de 1992, o deputado Ibsen Pinheiro abriu a sessão de votação pelo impeachment de Fernando Collor de Melo em um Congresso Nacional cercado por milhares de manifestantes Caras Pintadas. Com 441 votos favoráveis, 38 contrários, 23 ausências e uma abstenção, a Câmara dos Deputados decidiu pelo afastamento imediato do presidente da República de suas funções e autorizou o Senado Federal a abrir processo de cassação de mandato e dos direitos políticos.

No dia 2 de outubro, Collor foi comunicado de seu afastamento temporário pelo período que durasse o processo de impeachment e o então vice-presidente da República, Itamar Franco, assumiu o cargo. Itamar permaneceria na cadeira presidencial até o fim do mandato, em 1994. 
A cassação de Fernando Collor de Melo foi confirmada por 76 votos favoráveis e dois contrários no Senado Federal, em 29 de dezembro de 1992. O ex-presidente ainda tentou uma manobra para evitar a perda de seus direitos políticos. Depois de aberta a sessão no Senado, o advogado de defesa de Collor, José Moura Rocha, apresentou aos senadores a carta de renúncia dele.


A tentativa, no entanto, foi em vão, e a cassação foi confirmada. Em 1994, o ex-presidente foi absolvido no Supremo Tribunal Federal (STF) da acusação de corrupção passiva por falta de provas. A absolvição na ação penal, entretanto, não o livrou da suspensão dos direitos políticos por oito anos, a contar da data do que seria o término do seu mandato presidencial, em 1994. 

Escrevo isso para mostrar um pouco daquele contexto histórico, onde estávamos recém-saídos das fraldas da democracia. Aliás, nossa democracia é jovem. Em palestra que fiz a estudantes recentemente ainda perguntei quantos ali tinham 30 anos de idade ou mais. Apenas um levantou a mão. O que diferencia àquele impeachment deste que foi acolhido pelo deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara?

No de Collor, havia indícios, o governo havia confiscado dinheiro de empresas e pessoas físicas, e os deputados e senadores, sempre eles, se sentiam “desprestigiados” pelo Presidente, que se sentia um imperador. O clima era de confronto total. E mesmo assim, juridicamente Collor foi inocentado. Na arena política, no Congresso, foi derrotado. O país sofreu muito com essa grave crise, e quem viveu sabe.


Neste caso atual o que há é uma não aceitação, por parte da oposição, da vitória de Dilma contra Aécio. É fato incontestável que Dilma venceu no voto popular, e ponto. Na democracia é assim, vence quem tiver mais votos. Desde a derrota, a oposição tenta impedir o governo de governar. Cria factoides, promove ou incentiva atos de ódio contra a Presidente, seu partido o PT, e até aliados.

Articularam vários pedidos de impeachment, alguns arquivados por Cunha, antes interessado em mostrar seu poder e influenciar. Eduardo Cunha tramou até contra seu companheiro, Michel Temer, presidente de seu partido, e vice-presidente da República! Até quando surgiram as tais contas na Suíça. Aí a chantagem, o achaque, aumentou, até chegar ao atual estágio. É uma espécie de “abraço do afogado”.


Eduardo Cunha é acusado de gravíssimos crimes pela Procuradoria-Geral da República: corrupção, evasão fiscal e lavagem de dinheiro. Ocultou suas contas na Suíça em depoimento na CPI da Petrobrás e tem um longo histórico de envolvimento em escândalos de corrupção desde que chegou ao poder junto a PC Farias e Collor de Melo. Assim que as denúncias a Cunha foram comprovadas pelo Ministério Público do Brasil e da Suíça, o PSOL entrou com representação pedindo a cassação de seu mandato. 

Ou seja: um réu da Justiça, que mentiu e omitiu contas e bens em depoimento da CPI da Petrobras, não pode continuar presidindo a Câmara dos Deputados. É uma vergonha para os brasileiros, e uma afronta à legalidade. Portanto, os casos de impeachment de 1992 e o que se quer hoje são completamente diferentes. Este parece ser um puro golpe, mais “bonito” aos olhos da oposição, mas que leva o país para o buraco. Para tentar se salvar da perda de seu mandato no Conselho de Ética, Cunha passou os últimos meses chantageando deputados de diversos partidos. 

Em ato tardio a bancada do PT votou pela continuidade do processo de cassação do mandato de Cunha. Em retaliação, Cunha abriu processo de impeachment contra Dilma. Mas, o impeachment só pode existir em casos extremos, quando existe crime comprovado de responsabilidade. Gostemos ou não do governo Dilma, ele foi eleito democraticamente, e deve cumprir seu destino, com uma oposição séria e responsável, não esta que é comandada por verdadeiros coveiros do país como Cunha, Aécio, e outros menos votados. Até o momento não há nada que incrimine a Presidente, e sua biografia é incomparavelmente melhor que a de Cunha.


O governo Dilma enfrenta a crise econômica que ronda o mundo desde 2008, e que agora chegou forte ao Brasil. Durante seu primeiro mandato, medidas de redução de impostos para manter a economia girando foram feitas, empresas e o povo conseguiram se manter, até que a receita exauriu. Problema do governo eleito, e que deve assumir seus erros e encontrar saídas. 

A crise política contamina o Brasil inteiro, e principalmente a economia. Impede investimentos, cria medo e instabilidade a quem gera a riqueza, empresas e trabalhadores. Este ato de Eduardo Cunha, aplaudido por apoiadores no Congresso e país afora, é um impedimento ao Brasil, ao seu futuro, à retomada do desenvolvimento econômico. Não esqueçam que o governo não é só do PT, mas também do PMDB, PSD, PP, e outros P’s. 

É hora de acabar com esse terceiro turno interminável, inexistente na vida democrática. Há que se ter grandeza na oposição, para criticar e sugerir, mas não agir com o fígado, destilando ódio e empurrando o país para o obscurantismo. Não adianta matar a galinha dos ovos de ouro para se obter imediatamente todo o conteúdo. E, afinal, a democracia manda: tentem novamente em 2018. O resto é choro, ódio, e atos que só paralisam o país.

Por trás de tudo isso há interesses inconfessáveis, externos e internos – ou mistura de ambos -, pela Petrobras e o que sobrou do patrimônio brasileiro vendido nos anos 1990 a preço de bananas. E claro, desmonte do Estado, etc, etc. A hora não é para brinquedinhos políticos, é hora de unificar o país para superar a crise econômica.

É assim, nas teias do poder...

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Nos fios da teia #1


POR SALVADOR NETO

Inovar sempre é bom. Com Nos Fios da Teia, notas curtas sobre temas variados, da província, do planalto, de além mar, tecerei comentários e informarei os assíduos e permanentes leitores do Chuva Ácida. Vamos lá?

Caso Lia Abreu – O texto da semana passada sobre a perseguição política à fiscal sanitarista (clique aqui) chegou a mais de 5 mil visualizações únicas, mais de 300 compartilhamentos, superando mil leituras únicas somente no site, uma audiência que assusta a turma do outro lado do rio. Quem não deve, não deveria temer. Final do caso está próximo. E vai sobrar para muita gente, do maior ao menor...

Fakes – Chega até a refinada redação que há gente fiscalizando de perto alguns perfis “fakes” que andam rondando, ofendendo e intimidando quem critica o governo da “Villa”. Os dados de IPs, nomes e outras cositas más podem chegar em setor que ainda trabalha no governo Udo. Esperemos.

Colombo x PMDB – O governador que mais anuncia obras na mesma proporção que não as inicia, nem finaliza, está mais uma vez colocando o PMDB do finado LHS no bolso. Na base dos convênios, enreda (ou seria enteia) o prefeito Udo, que espera a grana, a obra, e nada. Enquanto isso, Darci de Matos articula.

Darci de Matos – Meio como quem não quer nada, nos escaninhos do poder, o deputado estadual do PSD vai tecendo sua campanha à Prefeitura. Motiva outros candidatos a se lançarem, acena a lideranças comunitárias com possíveis espaços a partir de 2017 na Prefeitura, e não briga com ninguém. Resta saber se aguentará a pressão na hora do pau comer na campanha.

Mariani Governador? – Após longos anos brigando nas internas do PMDB, o deputado federal parece que finalmente conseguiu quebrar a pedra que o impedia de seguir em frente na sua obstinada vontade de ser governador. Só que falta combinar mais coisas com Eduardo Moreira, Dário Berger, Paulo Afonso e outros. Muita água passará por baixo das pontes da Ilha. Inclusive uma água do oeste chamada Merísio.

Amin de novo? – O ex-governador, deputado federal pelo famoso PP, estourou as urnas em 2014 e volta com força total rumo ao governo de SC. Articula candidaturas por todo o estado, inclusive em Joinville que agora não tem mais a força de LHS, e terá apoio velado, ou aberto, tanto de PSD, PSDB e outros que cansaram de arrumar a casa para outros morarem. Ano que vem vai mostrar se o carecone vem prá valer. Virá.

PMDB tucanou – Enquanto aumenta a ocupação de cargos poderosos na esplanada em Brasília, o partido que está sempre no poder (tal qual foi o PFL/DEM) faz jogo de cena em cada estado. Uns gritam que não aceitam negociação de cargos, outros que querem a governabilidade. E assim passam por grandes estadistas. Na verdade, tem sempre é muita sede de poder. Com o PT ou quem estiver no Palácio do Planalto. Tomaram o lugar dos bicudos em cima do muro.

Colocaram a cunha no Cunha – Eduardo Cunha (PMDB), o incansável achacador do governo Dilma, do PMDB, do Temer e de quem quer que esteja na sua frente na corrida por mais poder, pensou que seria Presidente. Mas colocaram uma cunha – logo pode ser uma tornozeleira eletrônica – com as contas na Suiça, denuncia por corrução no STF. Em breve teremos novo presidente na Câmara dos Deputados.

Dilma e o golpe – Quem conhece um mínimo de política, acompanha o setor historicamente, sabe que o que está em jogo não é se a Dilma roubou ou não. A oposição quer voltar ao poder na marra, e com ajuda da grande mídia, não cansa de criar fatos com seus “soldados” bem instalados em TCUs, STJs, STFs, TSEs, ao longo de muito tempo no poder. O que se quer é dar um golpe branco. Quem viveu o período da ditadura militar sabe que a volta de tempos parecidos que sejam, seria um desastre para o país. Engana-se quem acha que os movimentos sociais ficarão em casa. Podemos viver tempos difíceis.

Prefeito por um dia – Joinville tem coisas que a colocam como cenário da novela de Dias Gomes, o Bem Amado. Agora, por ocasião das férias do prefeito Udo Döhler, a grande negociação pelo bem da cidade e que deve impactar deveras o futuro dos cidadãos, é quem vai ser prefeito por cinco, sete, dez ou 15 dias: Rodrigo Coelho ou Rodrigo Fachini. Os Rodrigos estão decidindo como farão para sentar naquela cadeira... e a caneta, será que fica na mesa? Joinville, Joinville... você merece mais. Muito mais.

É assim, os fios da teia nas teias do poder...

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Quem é Ivandro de Souza?

POR VANDERSON SOARES



vanderson.vsoares@gmail.com


Dias atrás publiquei um texto sobre os possíveis candidatos a prefeito da nossa cidade. Afirmei, na ocasião, que Ivandro de Souza (PSDB) estaria ali apenas segurando a vaga enquanto o verdadeiro candidato se apresentaria mais pra frente, que poderia ser o Paulo Bauer ou o nosso velho conhecido Tebaldi. 

Não é segredo para ninguém que sou filiado ao PSDB (mesmo não sendo tão participante quanto gostaria), e mesmo nesta condição, não conhecia muito bem Ivandro de Souza. Passei a conhecê-lo melhor nos últimos tempos, em que tive a oportunidade de ouvir alguns discursos, algumas palestras e devo dizer que ele é quem realmente deveria ser o candidato a prefeito pelo PSDB. 

Digo isto, pois alguns pontos de conversa me chamaram atenção nele. Antes de conhecê-lo, sabia apenas que era empresário e, pela experiência que estamos tendo com o Sr. Udo Dohler, estava até desiludido, pensando que era apenas mais um empresário a vender a imagem de gestor milagreiro.

Pois bem, Ivandro de Souza é um pouco diferente. É empresário e tem uma empresa forte, bem conceituada e com bom nome no mercado joinvilense. A novidade começa, e é nesse ponto a diferença nevrálgica com o Udo, é sua sensibilidade. Em dado momento de um discurso ele declarou a seguinte frase:

“Hoje quando se pergunta sobre qualquer área ao Prefeito ele repete incansavelmente ‘que as contas estão equilibradas, estamos com o caixa em dia**’, mas qual pai de família não entraria no cheque especial, não deixaria de comprar algo, para pagar um tratamento de saúde para o filho? Este prefeito não pensa nisso. Pensa apenas na saúde financeira, que deve ser observada e levada em conta, mas jamais sobrepor-se às necessidades da população como saúde, educação, etc...”*

Udo Dohler seria um excelente prefeito se tivesse sensibilidade aliada ao seu conhecimento sobre gestão. A diferença crucial da gestão privada da gestão pública consiste em que uma visa lucros financeiros e a outra lucros de qualidade de vida da população.  E Ivandro mostrou que entende de ambos.

Outro ponto muito interessante que Ivandro falou, em algumas ocasiões, foi sobre suas ideias de como desafogar o serviço público e diminuir os prazos das secretarias na execução dos expedientes da atual Secretaria do Meio Ambiente no que diz respeito aos Alvarás de Construção, Certificados de Conclusão de Obras, etc.

Comentou da possibilidade de certificar e auditar escritórios técnicos (engenharia/ arquitetura) de modo que a Secretaria apenas fiscalize pontos cruciais e auditem os escritórios.  São ideias que ainda podem ser aperfeiçoadas e desafogar, em muito, o trabalho desta secretaria. Citou outras secretarias nesta palestra que ouvi, mas recordo-me bem apenas desta.

Deste modo, confesso que Ivandro de Souza ganhou minha admiração e respeito mostrando dominar a técnica, ter sensibilidade e ainda por cima muito bom humor (outra característica que falta ao atual prefeito). 

*transcrição do que o autor ouviu na referida palestra.
** Essas falas do prefeito foram antes do Secretário Corona, afirmar que a prefeitura está pagando com atraso de 40 dias e que vai piorar ainda mais. Comenta-se hoje que o Hospital São José passa por dificuldades com falta de medicamentos e materiais básicos porque os fornecedores não suportam mais o atraso.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Para onde irão chorar as viúvas e viúvos?

LHS deixou centenas de viúvas e viúvos políticos
(foto Salmo Duarte/Ag. RBS)
POR SALVADOR NETO


Neste final de semana, uma semana após a morte do senador Luiz Henrique da Silveira – o quase imortal político que a tudo controlava na política catarinense – poderemos ter uma análise melhor do novo quadro que se anuncia. É só dar uma verificada nas três missas de sétimo dia agendadas para Joinville e Florianópolis. Para além do valor humano, da perda que é dura aos familiares, ao qual respeito, há que se verificar para onde irão as viúvas e viúvos do poderoso LHS agora que ele foi a outro plano.


Imaginemos, pois, para onde irão as viúvas penduradas, digo, aninhadas no impoluto senado federal? No velório as falas eram muitas, e as fontes muito próximas garantiam: só por lá seriam entre 60 e 65 que prestavam seus serviços aqui, lá e acolá. Talvez migrem, com o coração peemedebista partido, para o colo tucano do senador que assume a vaga, Dalírio Beber. Talvez. Ou então para outro bicudo, Paulo Bauer? Mas vejam, esses galhos tucanos já estão prá lá de lotados. Imagino o choro por um pedacinho do graveto.

Viúvas e viúvos aboletados em cargos do governo de SC? Não são poucos! Eles e elas estão por toda Santa Catarina, ou nas cabideiras SDRs – que estão na mira do governador Colombo – ou em cargos nas autarquias, secretarias, empresas, conselhos e outros ramos da mãe estado. Qual dos líderes políticos vai oferecer guarida a tantos “assessores”? Colombo? Mauro Mariani? Eduardo Moreira? Dário Berger? Fico a imaginar quanto faturam neste momento as fotocopiadoras por este estado afora! Dá-lhe currículos!

LHS foi um paizão. Na imensa rede onde descansam, ou descansavam, vários “assessores”, há de tudo. Desde grandes letrados (?) que ocupavam, e ocupam, cargos estratégicos para que seus projetos tenham caminho aberto, até seguradores de mala, motoristas, mantenedores de currais eleitorais, tocadores (?) de obras, e claro apaniguados de muitos deputados estaduais e federais dos mais diversos, todos certamente empenhados em dar o melhor para a gente catarinense.

Ah, sim! Viúvos e viúvas do empresariado que tanto tinham apreço por LHS, para onde correrão neste momento difícil? Dá para imaginar? Voltarão ao projeto Bornhausen? Amin? Ou já miram para os filhotes de Colombo como Gelson Merísio, Antônio Gavazzoni, João Rodrigues? LHS, LHS, porque nos abandonaste, era a cantilena ouvida pelos cantos do Centreventos Cau Hansen durante as exéquias ao grande líder. Se apurarmos os ouvidos, sons chegam da Fiesc e associações empresariais de muitas cidades. Mas estes, bom, estas viúvas tem muitos pretendentes sempre.

O que dizer dos partidos nanicos, cujos líderes viúvos ficaram tão sentidos a ponto de brigar para segurar na alça do caixão do senador falecido à saída para o féretro que levaria o grande líder em um caminhão de bombeiros para sua última morada. Não é invenção não, meninos e meninas, eu vi! E o seu PMDB, o maior viúvo do talento de LHS para manter o poder, que será deste? A argamassa que conseguia unir tantos desunidos se foi. As pequenas repúblicas internas se desprenderão rumo a outros pretendentes?

Em Joinville, onde o senador mandava há décadas no seu partido e em outros tantos, o engalfinhamento tende a ser magnífico. Senão uma luta fratricida, talvez traições inimagináveis tempos atrás. O atual prefeito Udo Döhler, que só é o alcaide pelas mãos de LHS, vai colocar seu poder para tomar de assalto a legenda? Ou então aproveitará a deixa para voltar à redutos mais adequados ao seu modo de ser, tipo PSD, DEM, PR, etc? O que farão os deputados Dalmo Claro, Mauro Mariani? Os vereadores Rodrigo Fachini, João Carlos, Mauricinho e Claudio Aragão? Essa reunião de viúvas de LHS será difícil de unir.

Mas se o espólio político de Luiz Henrique deixou muitas viúvas e viúvos a chorar, embaralhando o cenário estadual, por outro lado atiçou ainda mais o desejo do PSD de controlar o cetro deixado pelo senador. Com o comando do governo estadual, e sabendo manejar o poder como poucos, os pessedistas devem acelerar a máquina contra o PMDB, de olho já em 2016 e 2018.


Se quem mais enviuvou foi o PMDB, a choradeira pode aumentar e muito mais. Porque viúvas e viúvos também traem a memória e o legado deixado. É esperar e conferir para onde correrão as lágrimas de tantas viúvas e viúvos mal acostumados com os benefícios do poder.



sexta-feira, 13 de junho de 2014

#copa2014: torcer até vai; festejar não

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Quando o Brasil entrou em campo na abertura do mundial de futebol, na tarde de ontem, lembrei-me de quando era criança e gostava de acompanhar todos os jogos da Copa. Além de colecionar figurinhas, ou estudar as tabelas, o futebol por si só era o objeto principal daquele sonho infantil. Ao retornar a consciência para a realidade, em 2014, estava eu, em frente ao televisor, torcendo para a seleção brasileira.

Poderia ser como sempre foi. Mas não foi.

Sempre defendi aqui no blog, na sala de aula e em outros espaços nos quais convivo de que a FIFA, juntamente com o governo federal e os gestores estaduais e municipais de todas as 12 sedes, promoveram um atentado aos direitos básicos garantidos na Constituição Brasileira de 1988. É notório e sabido para a maioria que a Copa foi uma coisa inventada que se sobrepõe ao planejamento das cidades, porque em nome dos megaeventos vale tudo: remoções de famílias (estima-se que aproximadamente meio milhão de pessoas foram afetadas direta ou indiretamente) para construir estádios no lugar, operários morreram devido a obras de estádios feitas às pressas, em dispensas de licitações e outras situações já cantadas há muito tempo, ao contrário dos aproveitadores de uma situação eleitoral.

Aproveitadores estes que se situam dentro de grupos políticos (ou possuem simpatia com estas organizações) sobretudo pelas eleições que se aproximam. O problema da Copa é generalizado, pois foi construído pelos gestores dos 12 governos estaduais e mais os 12 governos municipais de cada sede, compostos por representantes dos mais diversos partidos políticos, da esquerda à direita. As remoções e violações do Direito à Cidade foram operacionalizadas por todos, sem exceções, e não somente pelo Palácio do Planalto. Longe de não reconhecer a culpa de quem está lá, xingar a presidenta faz parte de um desconhecimento sobre tudo o que vem acontecendo com a política urbana dos megaeventos desde que foram anunciados em meados dos anos 2000. É desconhecer a profundeza das questões que levam milhares às ruas há muitos anos (muito antes das "Jornadas de Junho"), lutando pela função social do espaço urbano.


Os pobres ficaram longe dos estádios. A miscigenação tão característica de nosso país não era a realidade da Arena Corinthians Itaquera São Paulo Isentão, pois eu só via brancos em grande maioria no estádio. Sinal de alguma coisa errada. Sinal de que a Copa, desde o começo, não foi para todos. Não foi para quem mais sofre com os problemas diários de nossa nação. Nem de longe.

Sendo assim, não consegui festejar e nem ao menos gritar "gol", como fizera em outros momentos de minha vida. Fiquei torcendo pela seleção, mas longe do clima de "festa" e "oba-oba". E muito menos entrarei na onda de uma massa que vaia sem dar os créditos aos verdadeiros protestos, mirando em uma parte dos responsáveis por tudo o que vemos aí.

O jogo acabou, a Copa acabará mês que vem. A atual questão urbana brasileira, por sua vez, parece não ter fim.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Festival de Bizarrices que Assola o País II


POR CLÓVIS GRUNER

Fiquei meio fora do ar a semana toda. Sem tempo até pra fuçar no Facebook, alimentei secretamente a esperança de, ao colocar de volta a cara na realidade – virtual ou não – seria gratamente presenteado com algumas boas notícias. Mas nada: o noticiário continua a produzir bizarrices em escala geométrica. Tantas que precisei de um bisturi para selecionar apenas as quatro que compõem o segundo volume do meu Febiapa – o Festival de Bizarrices que Assola o País.

DO DOMÍNIO DO FATO AO DOMÍNIO DO FRETE – Com um zelo surpreendente para uma imprensa e mídias que há até alguns dias pareciam dispostas a moralizar o país, ficamos sabendo do “helicóptero de carreira” de um deputado estadual de Minas Gerais, apreendido com inacreditáveis 400 quilos de coca. Não, você não leu errado nem eu me equivoquei: não eram 400 litros de Coca, a Cola, mas quase meia tonelada do mais puro pó, aquele que não levanta poeira. O deputado se chama Gustavo Perrella e pertence a um partido recentemente criado, o Solidariedade. Ele e o pai, o senador José Perrella (PDT), são aliados do governador e presidenciável Aécio Neves, do PSDB, o que talvez explique a solidariedade – com o perdão do trocadilho – dos meios de comunicação. O deputado tratou de responsabilizar rapidamente piloto e co-piloto, afirmando nada saber sobre a carga cheirável transportada em seu helicóptero.  Aliás, o combustível da eufórica viagem foi todinho pago pela Assembleia Legislativa de Minas. Bizarro.

DURA LEX, TUDO BEM; MAS SED LEX JÁ É VANDALISMO – Flagrado como responsável por um rombo de mais de meio bilhão de reais – estimativas falam de R$ 570 milhões, aproximadamente –, o PSDB decidiu se defender. E o fez acusando o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de manipular as investigações sobre a quadrilha que, sob o comando de tucanos de altíssima plumagem, passou os últimos anos superfaturando obras no metrô paulistano. E como o ministro teria manipulado o processo? Ora, enviando provas e demais documentos do caso à Polícia Federal. Isso mesmo. Para a alta cúpula tucana, o problema não é o superfaturamento, nem a propina paga aos políticos do PSDB ou os enormes prejuízos causados aos cofres públicos de São Paulo. O problema mesmo, de verdade, é que o Ministro da Justiça fez o que se espera de um Ministro da Justiça e encaminhou documentos e provas à PF, tudo com a clara intenção de prejudicar o PSDB e desviar a atenção para a prisão dos mensaleiros, óbvio. Não deu muito certo, porque os principais veículos de informação continuam a falar muito de Dirceu e Genoíno e muito pouco da corrupção em São Paulo, numa desproporção que seria intrigante não fosse tão reveladora. Em homenagem a FHC: très bizarre.

DIVERSIDADE, DESDE QUE BEM BRANQUINHA – Como quem manda na Copa é a FIFA, e o Brasil será sede do certame em 2014, andamos um tanto submissos aos caprichos da entidade. E eles são muitos. Nessa semana, os donos da bola decidiram que Lázaro Ramos e Camila Pitanga não era o casal apropriado para apresentar a cerimônia do sorteio da Copa do Mundo. Vetados, foram substituídos por Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert. Não se trata, claro, de racismo – afinal, não somos um país racista, nem tampouco a FIFA, não é mesmo? Tanto que Margareth Menezes e Olodum, entre outros artistas, se apresentarão na mesma cerimônia, tudo para mostrar ao mundo a diversidade étnica brasileira, segundo ainda a mesma FIFA. Trocando em miúdos: animar a plateia, tudo bem. Afinal, se temos anualmente o carnaval, não custa organizar um fora de hora para exportar via satélite nossa contagiante alegria. Mas ser mestre de cerimônia exige classe e postura, e o que pensariam plateias mundo afora ao serem confrontadas com a imagem improvável de dois negros apresentando uma cerimônia oficial? A lógica da FIFA parece ser a mesma dos comentadores anônimos de blogs: se mostramos ao mundo nossos negros e escondemos nossos talentos brancos, alguém vai pensar que somos racistas. Democracia racial se faz garantindo igualdade de oportunidades, diriam esses mesmos anônimos. Mas a responsabilidade não é da entidade maior do futebol se alguns são mais iguais que os outros. Bizarro, tudo muito bizarro: o veto e os anônimos.

“IDEOLOGIA-A, EU QUERO UMA PRA VIVER” – Quando o escreveu, Cazuza certamente não imaginou que seu verso ecoaria tanto e tão profundamente na direita conservadora brasileira. Fica difícil imaginar o que seria dela, hoje, sem ter uma ideologia para temer e ideólogos por toda parte para odiar. A bola da vez é a professora Cléo Tibiriçá, professora de Comunicação e Expressão na Fatec de Barueri . Ela virou objeto de bullying virtual levado a cabo por uma organização chamada “Escola sem partido”. A tal organização a acusou publicamente de colocar em prática um plano de ensino que objetiva criar “a maior aversão possível a tudo o que não se identifique com uma visão esquerdista ou progressista da sociedade, da cultura, da economia e da história”. Se não estivesse tão ocupado em entender como o gramscianismo adentrou o Vaticano, depois da declaração do Papa sobre a economia de mercado, Olavo de Carvalho certamente acusaria Cléo Tibiriçá de conspirar contra a Civilização Ocidental. O caso é apenas mais um em um elenco de aberrações produzido pela organização, que se diz neutra, mas trata professores como criminosos e alunos e pais como um bando de imbecis. Além disso, basta uma visita à sua página e a apregoada neutralidade cai por terra. Nela, pipocam artigos de viés de direita e conservador, assinados por um elenco de autores a quem se pode acusar de tudo, menos de não terem uma ideologia. Nada contra, há quem goste e se identifique com o estilo “I see red people”. Mas se a organização insiste em policiar e atacar a ideologia dos outros e disfarça a sua própria sob o manto de uma suposta e mentirosa neutralidade, a coisa é mais que bizarra. É desonesta.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O Mensalão, a memória e o esquecimento

POR CLÓVIS GRUNER
  
Alguns eventos precisam acontecer; outros, precisam não ter acontecido. Eleito pela primeira vez em 1994, FHC chegou ao governo como principal protagonista de um projeto de “20 anos de poder”, nas palavras do então ministro Sérgio Motta. A um ano da eleição de 1998, no entanto, um dilema: como manter-se duas décadas no poder sem um candidato forte para substituir o presidente? Os tucanos enfrentavam o mesmo problema do PT anos depois, porque cometeram exatamente o mesmo equívoco, apostar todas as suas fichas em um único carisma.

A solução encontrada por “Sérjão”, uma espécie de José Dirceu do governo tucano, foi simples. Como a Constituição de 1988 não previa a reeleição, FHC comprou parte do Congresso e aprovou a emenda da reeleição. Em bom português, ao mudar a Constituição em seu benefício, deu um golpe branco que custou aos cofres públicos milhares, talvez milhões de reais. Os detalhes, como em todo caso de corrupção, são sórdidos. Estima-se que foram comprados cerca de 150 parlamentares, pagos em dólares. “O pessoal votava a favor e na saída do plenário já tinha gente esperando para acertar o pagamento junto a doleiros. Não tinha erro”, confidenciou recentemente a um jornalista um dos deputados beneficiados com o “mercado da reeleição”. O resultado da farra? Nenhum. Com maioria no Parlamento, FHC conseguiu barrar a instalação de uma CPI. O procurador Geraldo Brindeiro – não por acaso chamado à época de “Engavetador Geral da República” – encarregou-se de enterrar a denúncia. Sérgio Motta morreu em 1998, poucos meses antes de ver seu chef-d'œuvre concluído, com a reeleição de FHC no final daquele ano, em primeiro turno.

Do roteiro acima, a maioria se lembra apenas da reeleição, como se ela tivesse acontecido em clima de normalidade. O esquecimento, como a lembrança, não é natural. Desde 1997 e ao longo dos anos seguintes, houve um esforço conjunto, orquestrado pelas lideranças tucanas e seus aliados – fora os demos, basicamente os mesmos que hoje apoiam o PT, incluindo José Sarney –, além obviamente dos meios de comunicação, para condenar ao limbo o episódio. Não nego ao governo tucano seus méritos. Esse é um deles: FHC e seus asseclas construíram um “não evento”. Claro, as tentativas de produzir o olvido, por eficientes que sejam, só conseguem resultados provisórios. Há sempre um espírito de porco disposto a lembrar que uma mentira contada mil vezes não se torna uma verdade, mas apenas uma mentira contada mil vezes.

"EU VEJO PESSOAS CORRUPTAS" – Tudo muito diferente de outra narrativa, protagonizada também por um governo envolvido em denúncias e práticas de corrupção. Desde o nome, “Mensalão”, quase toda a trama foi tecida de maneira a produzir um evento que precisava ter acontecido. Um dos pontos altos veio na semana passada, com as primeiras prisões dos condenados. Não me sinto particularmente comovido ao ver presos José Dirceu e José Genoíno: se todo aprisionamento é em si absurdo e violento, esse não deveria me deixar mais ou menos indignado. Por outro lado, não se trata de uma prisão qualquer, e que ela tenha ocorrido no simbólico 15 de novembro e sob os holofotes da chamada grande mídia, é apenas um dos elementos do espetáculo.

Não se trata de uma prisão comum porque Dirceu e Genoíno não são prisioneiros comuns: gostemos deles ou não, ambos são figuras emblemáticas na trajetória da esquerda brasileira e particularmente do PT. Não sei a extensão da responsabilidade de ambos e do PT no processo em que foram condenados – e, pessoalmente, penso que a verdade está em algum lugar intermediário entre o discurso de ódio da direita e a defesa exasperada dos governistas. Mas é notório que o STF e particularmente Joaquim Barbosa, serviram particularmente neste episódio a interesses que não necessariamente os da justiça.

Fosse assim, junto com Dirceu e Genoíno ou mesmo antes deles, outros já teriam sido punidos. Fernando Henrique Cardoso usou dinheiro público para salvar da falência o banco onde seu filho era sócio-diretor. Paulo Maluf está na lista de procurados da Interpol. Eduardo Azeredo, do PSDB, deu início em Minas, e com o mesmo Marcos Valério, ao esquema que condenou Dirceu e Genoíno. Demóstenes Torres, ex-senador Democrata, e seu cúmplice Carlinhos Cachoeira, enriqueceram fazendo da política uma extensão do crime organizado. José Serra, Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab impediram que nos últimos anos quase meio milhão de reais entrassem nos cofres do estado de São Paulo. Estão todos livres e, suspeito, continuarão exatamente assim.

QUEM CONTROLA O PRESENTETodo mundo tem o direito de aplaudir a prisão dos dois Zés do PT, mas daí a acreditar que se está a combater a corrupção vai uma distância: nunca se prendeu corruptos nesse país, e o reality show dirigido pelo Ministro Barbosa mantém a tradição. Ao prender Dirceu e Genoíno, não se pretendeu dar uma “lição aos corruptos”, como afirmou outro ministro do STF, fazendo coro à capa de uma revista semanal. O alvo era outro, o PT. Mas com que propósito?

Tenho dúvidas se os fins são exatamente eleitorais. Em 2006, ano em que explodiu o escândalo, o máximo que a oposição conseguiu foi levar a eleição para o segundo turno, e amargou o vexame de ver Geraldo Alckmin ganhar menos votos do que no primeiro. No ano passado, e apesar do providencial ajuste na agenda do STF para fazer coincidir o julgamento com a campanha eleitoral, o PT conseguiu eleger Fernando Haddad, o que parecia ainda mais improvável que a eleição de Dilma Rousseff. E embora seja muito cedo para prognósticos seguros, pesquisas indicam que ela mantém hoje larga vantagem sobre seus virtuais opositores.

Na falta de um projeto para o país, a oposição pode continuar a apostar no discurso moralizante, embora ele já não convença muita gente vindo de onde vem. Particularmente, acho que o propósito é outro. Em uma passagem emblemática de “1984”, de George Orwell, o personagem O'Brien afirma, a um impotente Winston Smith, que “quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado”. O que está em jogo não são apenas as eleições presidenciais, mas qual interpretação sobre os acontecimentos políticos passados e coevos prevalecerá. Na “novilingua” forjada pela oposição e por parte da mídia nativa, seus colunistas e blogueiros, a urgência não é moral a nenhum deles interessa combater a corrupção e os corruptos, nenhum deles está preocupado com a coisa pública –, mas narrativa. Fazer o acontecimento e produzir o não acontecido. E ao menos por enquanto, quem continua a escrever a história são os vencedores.