POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Pensamento é linguagem. Quando a gente está a pensar usa palavras e daí a importância de saber o valor exato de cada uma delas. É também uma forma de defesa, porque manipulação das palavras é uma das marcas do capitalismo. Ou seja, é uma estratégia ligada à construção de narrativas que visam proteger e promover os interesses econômicos e comerciais.
A introdução de léxicos estrangeiros, sobretudo do inglês, é uma prática comum no meio empresarial. Já notaram que idiotice dita em inglês fica logo parecendo uma coisa do outro mundo. Mesmo as piores sacanagens ficam parecendo obras de anjinhos. Os gurus da economia, por exemplo, usam e abusam. Duvida? Então vamos ver alguns exemplos de coisas que, em inglês, assumem significados quase inofensivos.
Downsizing – Na língua dos administradores significa uma inocente redução dos níveis hierárquicos de uma empresa. Mas em linguagem de gente quer dizer que algum gestor inepto não soube fazer o seu trabalho e, para salvar o couro, teve que fechar departamentos e demitir uma porrada de gente. Há uma diferença entre dizer “o cara demitiu funcionários” ou “o administrador procedeu a um downsizing na empresa”. Em inglês, o sujeito até parece um Einstein.
Outsourcing – É a tal “terceirização”: uma empresa compra soluções a outra empresa. Ou seja, demite os seus funcionários (que tinham custos laborais e outras coisas mais), perde o know-how acumulado e passa a comprar de outro sujeito que produz com custos menores. E por vezes com os mesmos trabalhadores que foram demitidos.
Team building - É uma estratégia para motivar os trabalhadores e, desta forma, melhorar as performances no trabalho em equipe. O team building pressupõe uma série de atividades em que a colaboração entre trabalhadores e o eixo central. Na realidade são ações que contam com benefícios fiscais e pouco custam às empresas.
Outplacement – Isso acontece depois das demissões do tal downsizing. É quando se tenta recolocar um ex-trabalhador numa outra empresa. Dito em língua de gente simples quer dizer: “Nós te demitimos e estamos nos cagando para ti. Mas somos simpáticos e até indicaremos um consultor para te orientar. Também vamos escrever umas cartinhas para levares a outras empresas. No fim vais achar que nós, que te demos com o pé na bunda, somos mais bonzinhos que a Madre Teresa de Calcutá”.
Empowerment – É empoderamento em português. Significa dividir o poder de decisão com o grupo de trabalho. É uma forma de um superior se livrar de tarefas chatas e passar a batata quente para as mãos dos subordinados. E o chefe sempre tem alguém para pôr a culpa se a coisa sair mal.
Benchmarking – Parece sofisticado, né? É tomar decisões a partir do exemplo de outras empresas. Ou seja, quando um administrador não tem a menor imaginação, ele copia os outros. Copiar é mau. Mas um cara que faz “benchmarking” é capaz de acabar candidato ao Nobel de Economia (que, por sinal, é um equívoco, porque só há Nobel de Física, Química, Medicina, Literatura e Paz).
É a dança da chuva.
Or rephrasing, it's the rain dance.
Foto: Ron Lach |