POR FELIPE SILVEIRA
Escrevi, na semana passada, o texto “Copa, capital e povo na rua... vai ter!”, comentando alguns posicionamentos pró-Copa. O José António Baço, parça de blog, sacou que se tratava de comentários sobre suas posições pró-Copa, e fez uma resposta, publicada no sábado, com o título “Uma certa confusão intelectual”. Publico, aqui, a tréplica. Dessa maneira, colocamos em prática uma das ideias iniciais do blog, que é o debate entre os co-autores.
Antes de prosseguir, ressalto que meu texto não comenta somente as posições do Baço, como pode parecer ao leitor desavisado. Fiz o texto com base em postagens dele e de outras pessoas nas redes sociais. E, concluindo as preliminares, explico que meus pontos não correspondem aos pontos do texto do Baço, embora possa coincidir. Ou seja, meu ponto 1 não é um comentário sobre o ponto 1 do texto dele. É apenas uma forma de organizar o texto. Aos argumentos:
1. Rejeito a sugestão de “ingenuidade”. Primeiro porque sugerir ingenuidade é uma forma de deslegitimar a fala do outro. E legitimidade é preciso. No campo em disputa que é a linguagem, sem legitimidade não dá. Então, para termos um debate, é preciso afastar essa história de ingenuidade.
2. Sobre a esquerda anacrônica, rejeito a noção aplicada ao caso. Anacronismo há na esquerda e na direita e em toda parte do mundo, vide os neonazis europeus. Mas rejeito a noção de que os protestos anti-copa partam dessa esquerda. Gosto do conceito de “multidão”, de Hardt e Negri, para tentar entender esses movimentos populares ao redor do mundo nos últimos anos. E, sim, os protestos contra a copa fazem parte desse contexto de insatisfação mundial no novo século. A copa apenas potencializou no Brasil (volto a comentar isso abaixo).
2.5. Podemos debater “socialismo moderno” a qualquer momento. Só escolher data, local e autores.
3. É preciso separar os atores do debate. Não se ignora a presença da direita, mas, pelamor, essa direita tá na mídia, nas redes sociais, e muito longe da rua. Essa direita tá sendo o que sempre foi: parasita. E, de fato, ela pode tirar proveito disso. Mas daí a dizer que são “manifestações estratégicas que têm o objetivo político de atacar o governo” é demais. É de um louvável desconhecimento dos fatos. Ou um conhecimento dos fatos muito baseado em meios de comunicação e redes sociais de direita ou governistas.
4. Massa de manobra. O discurso governista/petista é um problema, porque joga direita e esquerda no mesmo saco. Trata a esquerda como massa de manobra da direita. E assim fortalece a direita, que faz de tudo para colar na massa indignada das ruas. Há quem compra essa versão, muito distante da realidade. Refletir sobre as políticas de direita do governo... neca.
5. Para a direita não colar na esquerda é preciso dar o nome correto ao boi. Os protestos (do povo, que fique claro) contra a copa são protestos contra o capitalismo. O brasileiro, de modo geral, adora a copa, mas ela escancarou as mazelas do capitalismo para o povo. E, como fomos criados com a historinha que esse papo de direita e esquerda acabou, não sabemos dar o nome correto para o bicho. Aí a direita cola.
6. A direita é um verme que fica reclamando do 3G, vendo série gringa e planejando protestar com fitinha preta amarrada no braço na hora do jogo. Uma coisa patética, desonesta. A direita não sabe nada sobre o Brasil, sobre nossa cultura, nossa tecnologia. A direita sofre do complexo de vira-latas.
6.5. A esquerda que eu conheço e da qual faço parte não sofre. Nós acreditamos no Brasil. E por isso denunciamos, todos os dias, quem quer acabar com ele. Nós, brasileiros, somos fodas, e lindos. Não baixo a cabeça para ninguém de fora, não tenho motivos, mas também não piso em cima.
7. Esse lance de não abaixar a cabeça vale para o socialismo também. Abraço Darcy Ribeiro nessa. Às favas com os modelos - soviético, chinês, cubano... Vamos construir o nosso.
8. Sobre a indústria do futebol e também do turismo, bom, eu tenho acordo. Adoro futebol e quero que o Brasil seja o destino número um de todas as pessoas do mundo. E acho que isso pode ser desenvolvido com projetos de curto, médio e longo prazo. Acho também que deve haver investimento no turismo ao mesmo tempo que se investe em saúde, moradia, educação, agricultura. Acho que o dinheiro do primeiro pode ser investido no outro. Mas, acima de tudo, acho quem um não pode ser feito a partir do sofrimento do outro. Foi e está sendo feito dessa maneira. Espero que um dia possamos receber os turistas e mostrar nossas belezas sem ter lamentar nossas tristezas. Mas é preciso lutar por isso.
Obs.: Esse é um debate respeitoso, entre amigos, e todos estão convidados a participar, desde que com o mesmo respeito.