POR FAHYA KURY CASSINS
O mínimo que a gente espera de uma cidade é que ela tenha opções – de transporte, principalmente. O que mais se viu na última década foi o brasileiro reclamar do trânsito caótico, de todas as cidades. Houve o incentivo desenfreado ao consumo de automóveis, numa tentativa (frustrada, como se mostrou) de alavancar a indústria e o emprego. Mas, também, houve um fraco investimento em transporte público. Priorizou-se o individualismo em detrimento do coletivo. E aí não adianta reclamar.
Recentemente tive que fazer um trajeto novo em Joinville. Então, baixei dois aplicativos: Uber e Moovit. A princípio, utilizaria o Uber pela rapidez, pois o trajeto de casa até onde eu queria era estimado em 40 minutos de ônibus no horário de movimento, quando de carro pode ser feito em, no máximo, 15 minutos. Optei em ir de Uber porque não queria acordar meia hora mais cedo (preguiça minha). Na volta pegaria os ônibus (dois, no caso) conforme o Moovit me indicasse. Nos três primeiros dias tive gratas surpresas com ambos.
Ao contrário do que muito se pregou, a chegada do Uber foi um ganho pra cidade. O primeiro motorista me contou que estava desempregado desde novembro e começou no Uber havia duas semanas, o que para ele estava sendo excelente. O segundo, pasmem, era… taxista. Largou o táxi porque trabalhava todos os dias das 16h às 6h, com uma folga por semana e era empregado. Como tinha filha pequena e agora estava estudando, com o Uber conseguia ser dono do seu tempo.
Um dos motoristas me disse que estava desde o começo, mas que agora havia aumentado o número de motoristas e que não estava mais valendo tanto a pena porque chegava a ficar esperando corrida. O que falta, talvez, seja aumentar o número de usuários; como um deles me falou, as pessoas estão descobrindo as vantagens, como a carona compartilhada para ir e voltar do trabalho, que em muitos casos sai mais barato (e rápido, e confortável…) do que os R$4 do busão. No mesmo dia, vi uma pessoa reclamando que o carro tinha estragado e precisou usar táxi, que gastaria uma fortuna assim. Ao que outra perguntou “e o tal do Uber?” e ouviu como resposta “ai, nem sei como é isso”. Ninguém nasce sabendo, né.
Andar de ônibus na volta foi uma experiência tranquila, eu que sou fã do coletivo. Contudo, R$4 é muito – ao contrário do Uber que você paga um pouco mais, mas acha justo. O que mais me desgosta no transporte público de Joinville é o “encardido” dos ônibus e a sensação de tudo velho e desconfortável. No terminal do bairro achei o tamanho razoável pra quantidade de gente, mais ou menos sinalizado e a maioria dos horários bateu com as informações do aplicativo. Os corredores de ônibus são, sim, uma necessidade, com um porém: muito mal executados. Em todos os trechos é possível identificar coisas mal feitas (tanto usuários de ônibus quanto motoristas de carro percebem isso).
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Sobrando espaço? |
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Sobrando gente |
Contudo, o terminal do Centro não tem a menor condição. Há quantos anos ele não vê melhorias? E o que explica ter placas de propaganda naquele espaço exíguo? O número de passageiros aumentou e o terminal continua igual. As pessoas também não respeitam (não há nenhum tipo de sinalização ou campanha sobre preferências, aguardar sair para entrar, como se vê em qualquer outra cidade), pois já vão entrando antes de todos desembarcarem. Porém, não dá nem pra falar em “respeitar” fila, pois não há espaço para fazê-las…
Luxo não é você ter o seu carro. É ter motorista. Eu conheci o Uber quando usei o site BlablaCar, de caronas para viagens. Sai muito mais barato (ainda mais para uma região refém de Catarinense, Reunidas…) e com alguns cuidados pode ser uma boa experiência. Não é o futuro que clama por uso compartilhado dos meios de transporte (sejam públicos ou não), é o hoje. E os aplicativos dão uma baita ajuda.
(Ps.: O preço do Uber é realmente atrativo, além da facilidade do pagamento em cartão, o pagamento em dinheiro veio para atrapalhar. Um exemplo: o trajeto da rodoviária até em casa de táxi, anos atrás, era de R$10. Hoje não é menos que R$20. Com o Uber não chega a R$8. De ônibus é três vezes o tempo de carro, em horário sem movimento, pegando dois ônibus.)