POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
As auto-referências são para evitar. Mas
parece oportuno lembrar um post publicado (aqui) em janeiro de 2012, quando Udo Dohler anunciou
a decisão de concorrer à Prefeitura de Joinville. O texto pretendia refletir
sobre as dificuldades que o empresário teria para manter a postura de gestor. Afinal, o chamado da política é sempre mais forte. O próprio Udo Dohler reconheceu esse
risco, mas disse estar preparado para enfrentá-lo. Parece que não funcionou.
Passou o tempo e os fatos se encarregaram de esvaziar a figura
do gestor. O slogan “não falta dinheiro, falta gestão” entrou para o anedotário
da política local. Hoje, passados quase cinco anos, o homem que concorre
à reeleição é 100% político. E com um problema a resolver. Udo Dohler
ficou igual aos outros candidatos, mas com o ônus de ter feito uma administração muito questionada. É preciso criar um diferencial. Como? Eis um trabalho para os marqueteiros.
Udo
Dohler tem poucas obras estruturantes para mostrar. E não se encontram sequer
resquícios de uma estratégia consistente para a tal Joinville do futuro. Então é melhor eliminar,
da semântica da campanha, uma fraseologia que aponte para os seus déficits. Gestão, saúde, planejamento, asfalto, Joinville 2030, entre outras expressões, são incômodas. Desviar o foco é um velho
truque do marketing. Afinal, quando falta obra... sobram slogans.
De que se lembraram os marqueteiros? Ora, uma
olhadinha para as pesquisas de opinião mostra que a honestidade aparece, de modo reluzente, entre as preferências dos eleitores. Perfeito. Ainda mais porque um
dos principais adversários, o deputado Marco Tebaldi, já foi condenado por
improbidade administrativa. E surge uma campanha baseada no conceito de
“honesto”, de “mãos limpas”, de “incorruptível”. Funciona? Talvez. O marketing tem poder, mas...
Alguém duvida da honestidade de Udo Dohler? Não. É chover no molhado. E há uma questão
sociológica. O caráter de muitos brasileiros mistura o "espírito macunaímico” e a lógica do “laissez faire, laissez
passer”. Ou seja, o Brasil é o lugar onde – infelizmente – o inconsciente social tem convivido de forma apaziguada com a expressão “rouba, mas faz”. A recente
pesquisa do Ibope permite interessantes conclusões a esse respeito. Outra coisa para deixar com um elefante atrás da orelha: Darci de Matos não entrou na equação?
Um olhar panorâmico pelas campanhas até agora permite ver que nenhum candidato traz propostas disruptivas. Os compromissos são todos muito iguais. Aliás, é de salientar candidatos que andam de pires na mão e a fazer campanhas modestas. Udo Dohler é, disparado, quem apresenta uma campanha com maiores maiores recursos técnicos. Mas algo não cola. A
campanha do atual prefeito parece propor uma espécie de “slogancracia” (um governo de
slogans).
Pode funcionar, mas há riscos. Mãos limpas, honesto, incorruptível... fica aparecer que Udo Dohler é candidato a Madre Teresa de Calcutá. Mas será ele o prefeito que Joinville deseja? E já que falamos em slogans, não custa lembrar a assinatura da marca AXE: “a
primeira impressão é a que fica”. De propósito fecho o texto com alguns slogans clássicos que, reunidos numa proposta, poderiam servir como linhas orientadoras de um programa de governo:
- Think different (Apple).
- Expand your mind, change your world
(NewStatesman).
- Imagination at work (GE).
- Innovation (3M).
- Impossible is nothing (Adidas).
É a dança da chuva.