quinta-feira, 29 de novembro de 2018

A “ideologia de gênero” e a legitimação da violência

POR CLÓVIS GRUNER
A América Latina, de acordo com relatório da ONU Mujeres, é o local mais perigoso para as mulheres fora de uma zona de guerra: em 2017 foram cerca de 2,5 mil mortes causadas por violência de gênero. Com 1.133 assassinatos – uma média de três por dia – o Brasil contribuiu com quase metade dessa cifra. Poucos desses crimes mereceram alguma cobertura midiática; a maioria ficou relegada às estatísticas.

O mesmo levantamento reitera o que já é de conhecimento mais ou menos comum: na maioria dos casos de violência física ou sexual contra mulheres, o responsável é alguém conhecido ou mesmo íntimo – vizinho, namorado, noivo, marido, padrasto, pai – e o abuso acontece dentro de casa ou em ambientes familiares, não raro com a conivência de pessoas próximas.

É o caso, por exemplo, do estupro. No Brasil, foram mais de 60 mil registrados no ano passado, uma média de 164 por dia, um a cada dez minutos. Mas é bastante provável que a incidência seja maior porque, por diferentes razões, o estupro é um dos crimes com o maior índice de subnotificações, e boa parte deles nem mesmo chega ao conhecimento das autoridades policiais.

Não é muito diferente quando o assunto é pedofilia. Em 2016, cerca de 13 mil menores foram vítimas de abuso sexual, a maioria, como nos casos de estupro, dentro de casa ou em ambientes conhecidos, perpetrados por familiares ou pessoas próximas. Apesar da campanha de difamação promovida pelos milicianos do MBL, o senador Magno Malta e por pastores fundamentalistas, não há registros de pedofilia em exposições, performances artísticas e em museus.

As violências homofóbicas – Além disso, seguimos sendo, entre os países considerados democráticos, um dos que mais mata sua população LGBT. Segundo dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em 2011 – ano do último levantamento do órgão federal – cerca de 19 violações aconteceram diariamente em todo o pais. As estatísticas se referem às agressões notificadas, mas é provável que a incidência seja maior.

Os números são também assustadores no que se refere ao assassinato de LGBTs: em 2011, foram registradas 266 mortes; levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia para 2014, registra um aumento significativo, totalizando 326 assassinatos. No ano passado, esse número saltou para 445 vítimas. O número é maior entre a população gay masculina, seguida de perto pelos travestis. Confundidos com gays, nos últimos anos cerca de 20 homens heteros foram assassinados.

Apesar da posição oficial de entidades como a OMS e o Conselho Federal de Psicologia, a homossexualidade ainda é vista e tratada como doença por alguns profissionais de saúde, e não é tão incomum encontrarmos quem faça carreira alardeando e vendendo a “cura gay” em consultórios e clínicas particulares. Não me parece despropositado afirmar que o índice desalentador de suicídios entre jovens gays seja, em parte, resultado dessas muitas formas de violência simbólica.

E elas são, de fato, muitas: LGBTs são preteridos ou demitidos de empregos; constrangidos em lugares públicos e hostilizados quando demonstram afeto; expulsos do convívio familiar e de amigos; ridicularizados por programas de humor e humoristas politicamente incorretos; desrespeitados em ambientes públicos. Pesquisas recentes mostram que o bullying homofóbico nas escolas colabora para elevar os índices de repetência, evasão escolar e suicídio entre adolescentes.

Problemas de gênero – Diminuir essas estatísticas não é tarefa fácil, e demanda um esforço coordenado e articulado de diferentes grupos e instituições, a começar pelo Estado. Um ambiente onde discussões sobre gênero vicejassem de forma aberta e em espaços públicos como as escolas, deveria ser condição fundamental. Mas se avançamos muito pouco mesmo em governos considerados progressistas, com a eleição de Bolsonaro e o fortalecimento de movimentos reacionários como a “Escola sem Partido”, estamos a trilhar o caminho de volta.

Na semana passada, um deputado federal eleito pelo Rio de Janeiro – o mesmo que, nas eleições, rasgou uma placa em homenagem a Marielle Franco – invadiu uma escola em Petrópolis e ameaçou sua diretora. Em Minas Gerais, a Promotoria de Defesa dos Direitos das Crianças entrou com um processo contra o Colégio Santo Agostinho, de Belo Horizonte, por suposta adoção da “ideologia de gênero” no currículo escolar. Na segunda (26), o MP pediu a suspensão da ação, sob a justificativa de que a atribuição caberia à Promotoria de Defesa do Direito à Educação.

Na prática, a suspensão é provisória, válida até que a Procuradoria-Geral decida se a ação deve ou não ser objeto de intervenção do MP e, se for o caso, qual promotoria será responsável por ela. O texto da PDDC, uma peça em que o obscurantismo e a ignorância caminham juntos, serve apenas como o exemplo mais recente de uma sequência de ataques desferidos contra a escola, a educação e os docentes; mas não será o último.

Contra direitos e liberdades – Mentiras repetidas inúmeras vezes não viram verdade, mas atendem e cumprem propósitos e objetivos perversos. Com a “ideologia de gênero” não é diferente. Ela é o pretexto para desviar a atenção de problemas que de fato afetam a educação e demandam medidas e investimentos urgentes. Com professores equiparados a abusadores e estupradores – a analogia é de Miguel Nagib, criador e ideólogo da “Escola sem Partido” –, não é preciso encontrar outras razões, que não os próprios docentes, para explicar a suposta falência de nosso modelo de ensino.

Mas há outras razões além dessa mais imediata. Surfando na onde do anti-intelectualismo mais grosseiro, e desconsiderando e depreciando estudos científicos e acadêmicos sobre o tema, a propagação da “ideologia de gênero” funciona como uma espécie de slogan que catalisa manifestações contrárias a ações pedagógicas de promoção dos direitos sexuais, ao enfrentamento dos preconceitos, a prevenção de violências e o combate à discriminação de gênero.

Um dos objetivos é recuperar o espaço e o poder das igrejas em sociedades que atravessam processos de secularização, e ao mesmo tempo conter o avanço de políticas de garantia ou ampliação de direitos e buscando restaurar, por um discurso que os naturalizam, os modelos ditos tradicionais de família e sexualidade. Que isso seja feito tendo como base um pânico moral que recrudesce a violência contra grupos socialmente marginalizados, pouco importa. A ordem, afinal, é que eles se submetam à maioria. Ou desapareçam.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

O que pensa Olavo de Carvalho, ideólogo do governo Bolsonaro?


-> Olavo de Carvalho é o ideólogo do governo de Jair Bolsonaro e até já indicou dois ministros. É uma figura que provoca divisões. Os seus seguidores acham que ele é um dos maiores filósofos vivos. Outros acham que é apenas um astrólogo. E é para esclarecer essa dúvida que hoje publicamos um texto do "pensador" que vai influenciar o próximo governo do Brasil. Diz Olavo de Carvalho, num texto disponível na internet: 

"Já que alguém falou de astrologia, minha teoria concernente aos horóscopos, até o ponto em que a desenvolvi tempos atrás, pode se resumir assim: O horóscopo é uma figura fixa, e os trânsitos e progressões dos planetas obedecem a um algoritmo também fixo dado de antemão. Logo, o horóscopo de nascimento, ao contrário do que dizem os astrólogos, não pode corresponder a uma entidade tão instável a cambiante como a "personalidade" humana.

Ou o horóscopo não corresponde a nada, ou só pode corresponder a algum elemento fixo por baixo da personalidade em mutação. Qualquer "estudo estatístico" que não levasse essa distinção em conta só criaria mais problemas em vez de resolvê-los. A única entidade a que o horóscopo poderia corresponder, e ainda assim muito esquematicamente, seria àquilo que Kant chamava "caráter inteligível", a estrutura supratemporal da individualidade. Mas, como observava o próprio Kant, o caráter inteligível não pode ser conhecido por meios humanos, apenas vagamente entrevisto por partes isoladas.

Para que um estudo científico da questão astrológica (não da "astrologia" socialmente existente como prática profissional) fosse possível, seria preciso primeiro operar, pelo método fenomenológico, a redução da personalidade real aos seus elementos imutáveis (o que colocava problemas de expressão verbal quase insolúveis), para depois conceber um método comparativo que permitisse averiguar se existia ou não alguma correspondência estrutural com os horóscopos, interpretados não segundo técnicas astrológicas usuais, mas segundo uma reformulação fenomenológica igualmente difícil e problemática.

Foi esse o projeto que denominei, numa clara alusão kantiana, 'O Caráter como Forma Pura da Personalidade'”.

-> Entendeu?

domingo, 25 de novembro de 2018

Olavo, Bolsonaro e o governo dos idiotas

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
“Muito, mas muito mais grave que a corrupção é a questão ideológica”. A frase foi proferida por Jair Bolsonaro, há poucos dias, numa reunião partidária. É um evidente contrassenso, uma vez que ele foi eleito graças ao discurso contra a corrupção e a proposta de “mudar isso daí”. Por enquanto, os eleitores do futuro presidente estão caladinhos como ratos. Afinal, a maioria deles já percebeu que foi engabelada.

No entanto, a afirmação merece uma análise mais detida. Porque Jair Bolsonaro parece estar mesmo preocupado com as questões “ideológicas”. Em aspas porque é evidente que ele não domina o conceito de ideologia. O presidente eleito - assim como os seus eleitores - não é amigo dos livros. Tomo a liberdade de ficar pelo conceito marxiano de ideologia, que, grosso modo, afirma que ideologia é uma distorção da realidade. 

Jair Bolsonaro vive numa realidade distorcida e nem se dá conta. É por isso que pretende  substituir o que julga ser um conjunto de ideias (aquilo a que chama ideologia) pela mais obtusa das ignorâncias. E é aí que surge o nome de Olavo de Carvalho, um astrólogo charlatão que nas horas vagas vive a farsa de ser “filósofo”. O fato é que o astrólogo emplacou dois ministros no futuro governo: Ricardo Vélez Rodríguez (Educação) e Ernesto Araújo (Itamaraty).

O Brasil está entregue à distopia dos ignorantes. Bernardo Mello Franco, colunista de política do jornal “O Globo”, estabeleceu uma boa definição para o que o país está a passar: “o olavismo passou de piada a doutrina oficial de governo”. É isso. Olavo de Carvalho passou de situação de apenas ridículo para mentor dos homens do futuro governo. É impossível sair algo de bom “disso daí”.

E por falar em ridículo, deixo aqui um vídeo do Youtube onde a mente mais brilhante do futuro governo expressa a sua “sabedoria”. É apenas ridículo. O futuro do Brasil passa por um bando de idiotas a governar. E tudo seria muito cômico se não fosse trágico. Pobre Brasil! 


sexta-feira, 23 de novembro de 2018

“Escola sem Partido”, uma ideologia de classe

POR CLÓVIS GRUNER
Por sugestão de um amigo, visitei o site de uma escola particular, fundada originalmente em New York e que, ano passado, abriu sua primeira unidade brasileira, em São Paulo. Com mensalidades na casa dos oito mil reais, a instituição é obviamente voltada a um público de elite, a quem oferece uma educação integrada, concebida para desenvolver, em seus alunos, diferentes competências. Pedagogicamente, nada muito diferente de outras escolas privadas, mas com estrutura e corte de classe mais “exclusivos”.

Na apresentação, lê-se que “todos os alunos participam do programa World Course, uma combinação de estudos de História, Geografia e Temas Globais, que ultrapassa as perspectivas ocidentais”. E segue: “a História é introduzida, não como uma sequência interminável de fatos e datas, mas como uma longa história de acontecimentos inter-relacionados, porque esse é o conceito de historicidade”. O objetivo é que crianças e adolescentes tenham “uma síntese integrada de Geografia Global, História, Economia e Futurismo”.

O programa é complementado com condicionamento físico e a oferta de diferentes práticas esportivas; a sensibilização artística; a aproximação às linguagens tecnológicas e um cardápio equilibrado que privilegia opções orgânicas. Além disso, desde o início da adolescência alunos são orientados à vida universitária; um dos objetivos é garantir que possam cursar o ensino superior em qualquer universidade brasileira ou norte-americana, independente da área e carreira escolhidas.

Os valores institucionais, aplicados no cotidiano escolar, são sustentados em três princípios: acolhimento, segurança e respeito. Basicamente, “cada membro (...) é valorizado como um indivíduo único e (...) ninguém deve ser excluído; todas as pessoas são iguais”. A intenção é que “tanto os alunos, quanto o corpo docente têm a responsabilidade de assegurar suas integridades físicas e emocionais durante todas as atividades escolares”. E enfim: “(...) no convívio com os colegas deve prevalecer a dignidade e a honra de ser membro de uma comunidade educacional íntegra”.

Além de assegurar uma formação conteudística ampla e sólida, e o respeito à diversidade, a escola pretende preparar discentes para que consigam pensar o futuro e verem-se como parte integrante dele. Em resumo, e em se tratando de uma instituição voltada à formação das futuras elites dirigentes, a intenção é que crianças e adolescentes percebam o mundo a sua volta não apenas a partir do imediatismo presente – escolher entre continuar os estudos ou encontrar um emprego, por exemplo –, mas como um constante devir, aberto a mudanças e inovações. 

Escola e reprodução social – Publicado nos anos de 1970, “A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino”, dos sociólogos franceses Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, argumentava a respeito do papel da escola e da educação na reprodução das hierarquias sociais. Grosso modo, Bourdieu e Passeron mostravam como, por meio de políticas supostamente meritocráticas, se reproduziam na escola as condições que favoreciam a manutenção dos desequilíbrios e desigualdades sociais e de classe, naturalizando-as.

O diagnóstico não era exatamente novo: anarquistas como Sébastien Faure e Ferrer i Guàrdia (executado pelo Estado espanhol) já o haviam feito décadas antes. Sugeriam, como alternativa, uma educação integral que abordasse diferentes habilidades – físicas, técnicas, humanísticas e estéticas –, em um ambiente baseado na gestão compartilhada não apenas de conteúdos e programas, mas também das decisões políticas e econômicas. No Brasil, Paulo Freire propôs algo semelhante. No horizonte, uma escola responsável não apenas pela transmissão de conteúdos formais, mas capaz de formar indivíduos intelectual, ética e politicamente autônomos.

Nada mais distante dos projetos para a educação pública brasileira, agora mais que nunca à mercê das pressões políticas da bancada evangélica, aliada de primeira hora do governo Bolsonaro. Foi ela a responsável por vetar, para o Ministério da Educação, um nome considerado moderado por educadores, e pela indicação, em seu lugar, de um ministro cujas principais credenciais para o cargo são seus delírios anti-marxistas, seus discursos contra a “ideologia de gênero” e a “doutrinação cientificista” nas escolas, e sua afinidade com o movimento “Escola sem Partido”.

Volto à escola de elite cuja descrição abre esse texto. Há uma contradição perversa e flagrante no modo como nossa educação se constitui. De um lado, o ensino público, responsável pela esmagadora maioria dos estudantes (cerca de 73%), sucumbe cada vez mais ao discurso e às políticas conservadoras e reacionárias, que limitam o acesso a uma educação mais ampla, integral e autônoma, subtraindo conteúdos, atacando e desqualificando escolas e docentes.

Em um universo à parte, a educação privada, que atende estratos da classe média e as elites, aposta em um ensino integral, valorizando disciplinas humanísticas e um ambiente de respeito às diferenças. Não é difícil imaginar de quais escolas sairão adultos mais capazes e bem formados, inclusive para disputar as melhores vagas no mercado de trabalho. BNCC, reforma do Ensino Médio, “ideologia de gênero” e “Escola sem Partido”? Não nas salas de aula dos filhos das elites.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Futuro


POR SANDRO SCHMIDT

Os "importantões" que ligam o giroflex para se sentirem poderosos...


POR JORDI CASTAN
O giroflex está na lista de privilégios que não têm amparo legal e que devemos denunciar. Ou, melhor dizendo, essa turminha que faz uso indiscriminado do giroflex a toda hora, em todo momento e, principalmente, quando nem estão atendendo a uma emergência ou a um chamado.

Giroflex nem está no dicionário, mas em linguagem coloquial serve para identificar as luzes intermitentes, normalmente de cor vermelha. Aquelas luzes que veículos, em situações de  emergência, utilizam para chamar a atenção e alertar os demais motoristas para que cedam a passagem e possam chegar mais rapidamente ao seu destino. Inclui este grupo as ambulâncias, o corpo de bombeiros e a polícia.

A este último grupo têm-se incorporado as guardas municipais e os agentes de trânsito. Aqui na vila é raro que os “azulzinhos” saiam da toca sem ligar o giroflex. É uma das formas que acharam de chamar a atenção, de se sentir mais importantes. Por isso é tão comum encontrá-los passeando a passo de cagado manco com o giroflex ligado. Querem ser notados. Seria compreensível em casos de policiamento ostensivo ou se a sua função fosse a de policiamento. Mas é bom lembrar que não é.  


O giroflex ligado é, na realidade, um salvo-conduto para poder parar onde quiserem, sem respeitar as normas de trânsito, usando o subterfúgio de que os agentes estão atendendo uma emergência, o que lhes permite desrespeitar as normas de trânsito. Ligar o giroflex para chegar mais cedo ao Detrans é um privilegio ilegal, como usá-lo quando não estão atendendo qualquer emergência.

Já houve casos em que ambulâncias com sirene e giroflex ligadas eram usadas por funcionários administrativos para chegar mais rápido a reuniões ou ao trabalho. E quando estes abusos são identificados, os responsáveis devem ser punidos. Aqui na Vila como não há gestão, nem autoridade: cada um faz o que bem entende e ninguém respeita ninguém. Virou tudo uma casa da mãe Joana.

É bom ficar atento. Ceder rapidamente a passagem aos veículos de emergência, como ambulâncias, bombeiros e policiais em cumprimento do seu dever. Mas também estar atentos aos que usam o giroflex exclusivamente para se sentirem importantes, para chamar a atenção ou principalmente para poder descumprir as leis e normas do trânsito.

São os mesmos que se escondem nas esquinas com um bloquinho na mão. Os mesmos que somem quando o trânsito complica ou quando há qualquer problema maior. São eles os que passeiam faceiros com o giroflex ligado para se sentirem poderosos. Vai que esse prazer pelo piscar do giroflex é parte dos arroubos autoritários do gestor municipal que acaba permeando toda a estrutura. 

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Um dos filmes mais vistos em toda a história

POR ET BARTHES
"Dumb Ways to Die" é uma campanha de publicidade lançada pela Metro Trains, de Melbourne, na Austrália para divulgar a segurança ferroviária. O certo é que o trabalho extrapolou as fronteiras do país e hoje é uma das campanhas mais vistas em todo o mundo, com cerca de 200 milhões de visualizações. A música ainda hoje é cantada por muita gente em todas as partes do planeta.


Cão


terça-feira, 20 de novembro de 2018

"Médicos cubanos" ou tráfico de pessoas?


POR JORDI CASTAN
Quando chegaram ao Brasil milhares de “médicos” cubanos, vestindo jalecos brancos, portando bandeiras cubanas e brasileiras. Gente que no marco do projeto “Mais Médicos” chegou para contribuir a reduzir o grave problema da saúde no país. Só alguém muito maldoso para enxergar nesse programa do governo Dilma Roussef, outro objetivo que não fosse o de melhorar o atendimento a essa boa parte da população que hoje está desatendida. Como alguém poderia identificar como sendo tráfico de pessoas o que é resultado de um convenio entre o governo brasileiro e o governo cubano, com a intermediação da OPS (Organização Panamericana da Saúde)?

É difícil estabelecer um grau de maldade ou de gravidade entre os diversos crimes que se cometem. Afirmar que um dos piores crimes é o tráfico de pessoas é arriscado, alguns dirão que o sequestro, o latrocínio ou o tráfico de drogas e será difícil discordar ou estabelecer critérios lógicos e objetivos para medir brutalidade, perversidade, premeditação ou aleivosia. Há no tráfico de pessoas, essa versão atual da milenar escravidão, extrema perversidade. As imagens de escravos sendo comercializados nas ruas de Trípoli ou Benghazi, são brutais. Como são brutais as imagens das meninas comercializadas como escravas sexuais, por poucos dólares, pelo Boko Haram no Níger, ou pelo Isis no Iraque.

Há no Brasil 2 médicos para cada 1.000 habitantes, pelas estatísticas o indicador não é ruim, seria o mesmo que tem o Japão, pero dos 1,9 da Coreia do Sul e não tão longe dos 2,6 do Estados Unidos. O problema era e continua a ser a péssima distribuição destes médicos pelo território nacional o que faz que muitas regiões remotas e no Brasil há muitas não tenham médicos na proporção necessária.

Importar profissionais para suprir uma carência é uma solução logica e praticada por muitos países ao longo da história. Canada, Austrália, Alemanha, entre outros, tem programas que estimulam esse tipo de imigração. Quando trabalhei em Sri Lanka tive oportunidade de conhecer a existência do Ministério para o Trabalho no exterior, com o objetivo de permitir a “exportação” de profissionais daquele país para outros países, principalmente nos EAU (Emirados Árabes Unidos), o objetivo do ministério era que não fossem explorados, que só partissem a trabalhar no exterior com contratos assinados e que lhes fossem garantidos seus direitos e condições de trabalho iguais ou equivalentes as do seu país. Em troca o país se beneficiava de um fluxo estável e regular de divisas para manter as famílias que ficavam em Sri Lanka.

“Importar médicos” tem, por tanto a sua lógica. O brasileiro em geral e os políticos em particular não fazem muitas perguntas, não gostam de fazer muitas perguntas, fazer perguntas expõe a sua ignorância, mostra o que não sabem e isso amedronta, mas fazer perguntas também quer dizer buscar respostas que não querem ser dadas. Questionar não é bem visto, cria incômodos, gera até conflitos. Se não houvesse havido um grande acordão entre a maioria dos políticos, para aprovar com rapidez e sem questionamentos o programa “Mais médicos” poderíamos saber:

- Por que não se exigiu que a titulação de médico fosse comprovada com proficiência? Alias o mesmo que já se exige a milhares de brasileiros que se formam na Bolívia, na Argentina ou em outros países.

- Por que o salário dos “médicos cubanos” não se pagava integralmente ao próprio médico e sim ao governo cubano, que acaba agindo como intermediador ou “gigolô” dos próprios médicos.

- Por que a situação legal dos “médicos cubanos” é a de intercambistas e com isso não podem ser contratados e sua relação de trabalho não se rege pela CLT?

- Por que os “médicos cubanos” não poderiam trazer as suas famílias? Ou permanecer no Brasil?

- Por que para os “médicos cubanos” se estabeleceram critérios laborais, profissionais diferentes dos demais profissionais?

- Por que o Brasil prefere pagar R$ 7 bilhões para Cuba e não desenvolve uma proposta para que os médicos formados nas universidades públicas prestem serviços “voluntários” para devolver ao país o custo ou parte do custo da sua formação?

É importante saber que dos mais de 85 mil médicos cubanos, 15 mil estão em missões espalhados por 60 países. Lá, geralmente fazem o trabalho em áreas onde médicos locais não vão. Em retorno, trazem para Cuba um valor estimado em US$ 5 bilhões por ano. É muito: dá duas vezes o que Cuba ganha com exportações. E representa 7% do PIB da ilha – de US$ 70 bilhões. Para comparar: o Brasil exportou US$ 243 bilhões em 2012. Dá 11% do nosso PIB. Ou seja: proporcionalmente ao PIB, Cuba fatura quase tanto com seus médicos quanto o Brasil levanta exportando petróleo, soja, minério de ferro, carros e aviões. O Mais Médicos é uma importante fonte de divisas para a ditadura cubana.

Aliás bom lembrar que a decisão irrevogável de retirar os “médicos cubanos” a partir do dia 25 de novembro, foi uma decisão unilateral do governo cubano, tomada antes mesmo que o novo governo assuma em janeiro, e que surpreendentemente 196 já tinham retornado a ilha. Atitude que reforça o caráter eminentemente político da decisão.

(*) em quanto a titulação dos “Médicos cubanos” não seja validada por uma revalida igual a dos médicos brasileiros ou de outras nacionalidades formados no exterior, devemos olhar com suspeição a capacidade profissional dos ditos “Médicos cubanos”.

domingo, 18 de novembro de 2018

Médicos no Brasil: não vá errar o alvo

POR CLÓVIS MONTENEGRO
No meio desta insanidade produzida pelo capitão reformado, com a retirada de oito mil médicos cubanos das equipes do Saúde da Família, estão mirando no que não se deve: os profissionais médicos brasileiros.

O Brasil tem atualmente 400 mil médicos. 40 mil deles trabalham no Saúde da Família. 100 mil deles trabalham apenas na iniciativa privada. Os outros 300 mil trabalham no SUS, sendo que 100 mil deles com exclusividade. 
Assim sendo, é uma tolice dizer que os médicos brasileiros não cuidam da saúde da maioria dos brasileiros através do sistema único.

Pode-se questionar a qualidade do trabalho médico no Brasil, mas o erro médico certamente é menor do que em qualquer outra atividade produtiva. Quem diz isto são administradores especialistas, e não médicos.  Em tempo: os EUA investem 1500 dólares per capita/ano no seu sistema de saúde, que exclui 40 milhões de pessoas. Nossos médicos usam a mesma tecnologia dos EUA, mas investimos apenas 100 dólares per capita/ano. É quase como tirar leite de pedra.

Pode-se questionar o ideário político dos médicos, mas eu mesmo participei de um grupo "Médicos contra o fascismo" em uma rede social na época das últimas eleições com dezenas de milhares de membros. O elitismo entre médicos não difere daquele entre advogados, engenheiros, etc. Aliás, 55 milhões votaram no capitão reformado. Vai faltar dedo para tantas caras.

É verdade que algumas entidades médicas estão fazendo papel ridículo de indicar um ministro da saúde para Jair Bolsonaro. Isto representa a vontade das elites médicas, com interesses não muito diferentes de ruralistas, comerciantes ricos e industriais.  Digo isto tudo apenas para fazer um apelo: vamos nos opor a Bolsonaro, vamos criticar a saída intempestiva dos médicos cubanos, vamos defender o SUS, mas não devemos generalizar críticas rasteiras ao profissionais médicos. 

Sou médico, filho de médico, irmão de médico, fui casado com uma médica e todos trabalharam e trabalham com muita dignidade no serviço público. Fui coordenador de residência em medicina comunitária, um dos idealizadores do Saúde da Família, secretário de um dos 20 municípios pioneiros, coordenador da implantação em Santa Catarina e fundador da Associação Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.

Nesta hora tão difícil para todos os brasileiros, meu apelo é simples: sejamos racionais.

sábado, 17 de novembro de 2018

Uma história sobre medicina e humanidade...

POR ET BARTHES
Num momento em que no Brasil o tema "médicos  está na ordem do dia, é a hora certa para resgatar este filme que mostra a humanidade na medicina.




sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Retorno.


POR SANDRO SCHIMDT

Medicina sem partido


POR CLÓVIS GRUNER
Em 1999, na gestão FHC, eles eram “o milagre que veio de Cuba”. Em 2013, no governo Dilma, conheceram bem de perto do que é possível a cordialidade brasileira. Apesar do preconceito, médicos cubanos seguiram atuando no Brasil nos últimos cinco anos, especialmente nas periferias urbanas ou em regiões do interior, cuidando especialmente do que se chama “medicina primária”, uma das nossas principais carências.

Na quarta (14), o governo cubano anunciou que deixará o “Mais Médicos” depois das declarações e das condições anunciadas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro. O resultado dessa “medicina sem partido” preconizada pelo fascista serão cerca de nove mil médicos a menos, justamente naqueles lugares onde sua presença é fundamental.

Para se ter uma ideia do impacto da decisão, são 2.885 municípios no país atendidos pelo programa, a maioria em áreas vulneráveis: no Norte e no semiárido nordestino, cidades com baixo IDH, reservas indígenas e periferias dos grandes centros urbanos. Desse total, pelo menos 1.575 municípios só possuem médicos cubanos do Programa.

Os inúmeros especialistas em Cuba e no “Programa Mais Médicos” que surgiram nas redes sociais desde a quarta, defendem Bolsonaro argumentando que os cubanos trabalhavam sob um regime escravo e que o presidente eleito não fez mais que confrontar Cuba, exigindo do regime que respeitasse os profissionais que atuam aqui.

A imaginação é o limite - Sabemos que não é o caso, mas vamos admitir como verdade por um minuto (pra deixar fluir a conversa), que Bolsonaro estivesse mesmo preocupado com a situação talvez precária dos médicos cubanos no Brasil. Vamos fazer de conta que o presidente que prometeu eliminar opositores na Ponta da Praia e tem como referência um estuprador, torturador e assassino, de repente se preocupou com os Direitos Humanos, que sempre desprezou.

Vamos supor ainda que o presidente disposto a retirar direitos de trabalhadores brasileiros queira, algo contraditoriamente, garantir os mesmos direitos a trabalhadores de outro país. E enfim, vamos imaginar que Bolsonaro, depois de prometer em uma canetada mandar 14 mil "médicos" (as aspas são dele) para Guantánamo cuidar dos petistas (os que não morrerem na Ponta da Praia), reconhece a importância dos de nove mil (não 14) cubanos que atuam no Brasil.

Combinados? Então, como presidente eleito, o que ele deveria ter feito era chamar os representantes do governo cubano para uma rodada de negociações oficiais, expor suas preocupações e tentar construir um novo acordo, algo mais próximo do que considerasse razoável. E o que ela fez? Tripudia e desqualifica os profissionais, e ameaça um país, independente do que se pense dele, soberano. E tudo, basicamente, pelo Twitter. Esse é o presidente que elegemos e nosso pesadelo pelos próximos quatro anos.

Um começo seria ele entender que, agora, qualquer declaração sua não repercute mais apenas entre seus eleitores. Não estamos mais falando de kit gay e mamadeira com bico de piroca, mas de políticas de governo. Alguém precisa explicar a Bolsonaro a diferença. Mas não contem pra isso com seu futuro Ministro das Relações Exteriores.

Bolsonaro e os médicos cubanos. Pura diplomacia...

POR ET BARTHES












quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Quando você pensa que já viu tudo... eis o Trumpy Bear

POR ET BARTHES
Quando você pensa que já viu tudo… eis que surge algo impensado (mesmo impensável). Um ursino de pelúcia inspirado no presidente norte-americano Donald Trump. E o produto está tendo uma campanha de lançamento de fazer inveja a muitas das grandes marcas. Tem filmes com realização de qualidade e parece não ter faltado dinheiro para a produção. Tudo como o capitalismo manda.

O boneco é um modelo de edição limitada da coleção Teddy Bear e a razão é a razão do lançamento é muito simples: “comemorar os Estados Unidos”. Seja lá isso o que for. O patriotismo é o toque de caixa do novo produto, que até traz uma bandeira dos EUA dentro do ventre. Você abre e puxa a bandeira para fora para, como mostra o vídeo, é está pronto para mostrar “o seu patriotismo com o novo Trumpy Bear”.

Ah… e qual a marca da “personalidade” do ursinho? O cabelo e as sombrancelhas laranjas, como as do próprio Donald Trump. O boneco, que custa US$ 39,90 e nasceu no “dica da bandeira”, vem com certificado de autenticidade e pode ser levado a todos os lugares, como o filme mostra. Destaque para o golfe, esporte favorito do presidente norte-americano (ou serão os banhos dourados?).s



quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Agora que elegeram "isso"...

POR MÁRIO PAGANINI
Há pessoas que pedem a adesão a uma causa e a coisa até faz sentido. Mas fica estranho quando é Maitê Proença a pedir qualquer espécie de apoio a uma ideia (ainda mais quando essa causa é Bolsonaro). Todos sabemos que ela não é exatamente uma referência em termos de desprendimento das coisas materiais, uma vez que nada a faz desistir da pensão vitalícia que, segundo a imprensa, anda por volta de 20 mil reais. É grana. 

É uma questão que tem passado batida, porque ninguém ousa mexer no vespeiro. Segundo recente matéria da revista Época, a pensões das filhas solteiras de funcionários públicos consomem cerca de R$ 4,35 bilhões do contribuinte. Atenção… bilhões. E, como todos sabemos, muitas delas já tiveram - ou têm - relações duradouras, mesmo com filhos. Mas sem abrir mão da solterice, para não perderem direito à grana.

Seria interessante ver Bolsonaro, o moralizador, acabar com a teta. É claro que não pode e nem quer. Seria divertido ver Bolsonaro a caçar solteiras de araque como Maitê Proença. Mas, ao contrário, dizem por aí que ele até pode convidar a moça para ministra. Ora, tudo é possível no Brasil destes dias. Com um quadro desses, nem ficou estranho o filme divulgado pela atriz a pedir apoio ao futuro presidente.

Só que tem um ou dois detalhes interessantes. O primeiro é o ato falho, quando ela diz: “elegemos isso”, numa referência a Bolsonaro, talvez o seu futuro patrão. Mais adiante, a putativa ministra diz que as  pessoas abriram mão dos “direitos humanos” para ter emprego e comida na mesa. O que só prova a baixa qualidade intelectual dos ministeriáveis do “mito”. Porque emprego e comida são exatamente isso: direitos humanos. 

Cão Tarado - O retorno do Jedi


terça-feira, 13 de novembro de 2018

Direitos e privilégios: a hora do fim?


POR JORDI CASTAN
Devemos defender os direitos e atacar com veemência os privilégios. O Brasil é um país de privilégios e privilegiados. Um país que durante décadas concentrou favores e vantagens, numa casta privilegiada que continua abocanhando uma porção desproporcional de riqueza e poder. E fez isso às custas da maioria da população, essa mesma que hoje está duramente castigada pela crise e que saiu as ruas para eleger o candidato que melhor soube capitalizar seus desejos e frustrações. Ou seja, aquele que identificou com o perfil necessário para mudar tudo aquilo que precisaria ser mudado.

Os direitos são universais, justos e beneficiam a toda a sociedade. Não há um beneficiário direto. Não pode haver “direitos” só de alguns, nem podem haver direitos injustos, tampouco podemos considerar direitos aqueles que só beneficiam aos que os conquistaram.
O país está na encruzilhada de ter que separar privilégios de direitos. Não dá mais para manter castas de privilegiados às custas da maioria da população. Enquanto os direitos são sagrados e devem ser preservados, os privilégios devem ser extintos imediatamente. O brasileiro não consegue mais manter uma elite de privilegiados cada vez mais privilegiados, cada vez mais ousados e desavergonhados.

O vergonhoso aumento de 16,3% concedido pelo senado aos ministros do STF e a PGR é um privilégio. O aumento do salário mínimo em 1,81% é um direito: podemos até convir que seja pouco, mas é igual para todos. A diferença entre direito e privilegio deve ser a primeira iniciativa do novo governo. O resultado das urnas é a resposta dos sem privilégios aos privilegiados. A lista de privilégios e dos setores da sociedade beneficiados com privilégios vergonhosos e inaceitáveis é extensa é não conhece limites.

Começa, numa lista que não pretende ser completa, nem exaustiva e que tampouco tem ordem ou sequência de valor ou gravidade, com alguns casos. As filhas solteiras dos militares, os funcionários públicos que “trabalham” 6 horas ou menos e recebem por 8 horas. Os deputados e senadores que recebem aposentadoria aos 60 anos de idade. Ou os policiais militares, bombeiros e assemelhados que aposentam em geral com menos de 50 anos de idade e antes são reformados para a patente imediatamente superior.
Privilégios são os anos sabáticos pagos com recursos públicos, são os carros, motoristas, as cotas de combustível e as prestações de contas sem comprovação. Privilégios são o auxilio paletó, receber pagamento adicional por periculosidade exercendo função administrativa. Privilégios são também os cartões corporativos, os engraxates, os almoços gratuitos, o DEMED (Departamento Médico da Câmara) para ex-deputados, os planos de saúde ilimitados fora do SUS, quando custeados com recursos públicos.

São privilegiados os que recebem sem trabalhar, sem assinar o ponto, o sem cumprir horário. São privilégios inaceitáveis motoristas, veículos a disposição e funcionários administrativos para ex-presidentes, mais ainda se estiverem presos e condenados em segunda instância. Tampouco podem ser considerados direitos as férias forenses superiores aos 30 dias por ano, como estabelece a CLT, nem receber salários acima do teto constitucional, por muito que todos estes privilégios sejam legais, amparados por leis, resoluções, normas e tenham amparo legal. São legais, mas são imorais e injustos.
No caso do aumento concedido pela maioria dos senadores aos ministros do STF, que são os magistrados que julgam as 55 mil autoridades de 40 cargos diferentes, entre os que se encontram os senadores que aprovaram os 16,3% de aumento. Em tempo, o foro privilegiado é também um privilégio que não deveria existir.

Para pôr de volta o Brasil nos trilhos da moralidade e da justiça é preciso enfrentar de frente as castas de privilegiados, essas mesmas que estão espalhadas por todos e cada um dos elementos que compõem o tripé republicano. Ou se combatem e se extirpam estes privilégios - e os privilegiados que os defendem e representam - ou a república estará definitivamente perdida. O eleitor votou no Brasil dos direitos e votou também contra o dos privilégios. Responder a este anseio exigirá coragem, firmeza e persistência. E a mobilização para defender privilégios começou antes mesmo que o novo governo assuma.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

É assim que nascem os bolsonaros

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A coisa virou uma espécie de piada em Portugal, nos últimos dias. Sempre que você tem uma atitude que cheira a “intolerância”, a pessoa dispara:

- “É assim que nascem os bolsonaros”.

Faz sentido. Tudo isso é reflexo da forma como todo o mundo está a ver a eleição de um personagem como Jair Bolsonaro para a presidência: como uma piada perigosa.

O Brasil parece ter entrado em transe. Mas o mundo não. Talvez Donald Trump seja o único presidente feliz com a ascensão de um brucutu o Planalto. Não por identificação - mesmo um doidivanas como Trump conhece certos limites - mas porque ele está de olho no butim e as coisas parecem estar bem encaminhadas. Os interesses dos EUA na região estão acautelados e nem foi preciso disparar um único tiro.

Os governantes das nações democráticas estão reticentes acerca do futuro das relações com o Brasil. É só lembrar que o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, só enviaram os cumprimentos uma semana depois da eleição. Parece que foi difícil engolir o sapo lá para os lados de Bruxelas. Aliás, as mensagens de alguns líderes mundiais tinham a carga emocional de uma boneca de silicone.

No entanto, o arco-íris é a cor preferida da diplomacia. E é óbvio que as relações entre os países vão continuar. O problema é que Bolsonaro será sempre uma figura contagiosa para qualquer democrata. Ninguém quer ser visto ao seu lado. O que levanta uma questão: isso vai interferir nas relações internacionais? É provável. Ninguém vai abandonar as transações comerciais, mas o crivo ideológico será evidente. Todos querem distância de Jair Bolsonaro.

O problema é que ele dificilmente poderá sair às ruas num país democrático. Porque o ambiente é de rejeição e ele vai enfrentar reações dos grupos ligados à causa dos direitos civis. Mas, por outro lado, poderá contar com apoio dos grupos neonazistas (o que não o incomoda, claro). Aliás, em Portugal um partido de extrema-direita - que no espectro político está entre os malucos e os doidos - já fez a sua homenagem ao futuro presidente, com a exibição de um outdoor (ver abaixo).

O PNR - Partido Nacional Renovador quer que o estilo Bolsonaro atravesse o Atlântico e chegue a Portugal. A ironia é que o mesmo partido em tempos publicou outro cartaz a pedir que o governo feche as portas aos imigrantes. Se tivermos em consideração que os brasileiros formam o maior contigente de imigrantes em Portugal, então a piada está pronta. Enfim, “é assim que nascem os bolsonaros”.

É a dança da chuva. 


MEMEZEIRO: Tem que pedir desculpas


sexta-feira, 9 de novembro de 2018

A escola e os docentes são os novos inimigos

POR CLÓVIS GRUNER
No começo de outubro, livros sobre direitos humanos apareceram rasgados em biblioteca da UnB. Naquela mesma semana, pais e mães de um colégio particular no Rio de Janeiro solicitaram a censura, e a direção acatou, de um livro sobre a ditadura militar, “Meninos sem pátria”, de Luiz Puntel. No pedido, a alegação de que o título, publicado originalmente em 1981 na coleção “Vaga Lume”, “doutrina crianças com ideologia comunista” e promove um “discurso esquerdopata”.

Os casos de docentes intimidados aumentam a cada dia. Em um dos episódios mais recentes, um vereador invadiu uma escola em São Carlos, interior de São Paulo, e arrancou cartazes de uma atividade sobre intolerância religiosa. No Paraná, uma professora e o diretor de um colégio estadual em Cambé, chegaram a ser afastados de suas funções após a repercussão de uma exposição realizada por turmas do Ensino Médio, que abordava temas como o aborto, o estupro e o suicídio.

Não chegamos a isso por acaso. São anos de agressões à atividade docente, usando professoras e professores como bodes expiatórios, espalhando mentiras, destruindo reputações e desqualificando anos de trabalho. A eleição de um fascista para ocupar a presidência da República é, a um só tempo, resultado e salvo conduto para que a violência, simbólica ou não, contra livros, bibliotecas, museus, escolas, universidades, artistas, professoras e professores aumente.

A cruzada moralista começou antes das eleições. Bolsonaro não era candidato quando, em vídeo, citou nominalmente, em tom entre a ameaça e o deboche, professoras e professores da Fundação João Pinheiro. Já eleito, publicou outro, em que estimula discentes a gravarem seus professores, a quem ameaça com uma “surpresinha”. Alguns dias antes, a deputada eleita Ana Caroline Campagnolo, que em suas aulas envergava orgulhosamente camisetas de Bolsonaro, fez o mesmo em suas redes.

No Brasil, cerca de 56 milhões de crianças e adolescentes frequentam a educação básica. São aproximadamente 180 mil escolas, mais da metade (79%), públicas. O número de docentes ultrapassa os 2,2 milhões. No ensino superior, são cerca de 2,4 mil instituições, 34 mil cursos de graduação, aproximadamente oito milhões de estudantes e 384 mil docentes, considerando instituições publicas e privadas.

Ao eleger a educação e os docentes como inimigos, Bolsonaro sugere estarmos a enfrentar militantes empenhados no que chama de “doutrinação ideológica”, seja ela política (o tal “marxismo cultural”) ou de gênero. O bom senso deveria ser suficiente para jogar na vala comum do ridículo suposições como essa. Afinal, estamos a falar de dois espantalhos retóricos: o “marxismo cultural” não é mais que um amontado de citações desconexas, e “ideologia de gênero” simplesmente não existe.

Desonestidade e ignorância – Mas mesmo o bom senso é mercadoria rara, e não por acaso, além do próprio Bolsonaro, governadores e deputados estaduais e federais foram eleitos surfando na onda da “Escola sem Partido”. Cortejado por inúmeros políticos, o movimento saiu das eleições ainda mais fortalecido, e não surpreenderá ninguém se, a partir do próximo ano, a ideologia conservadora e a sanha persecutória que o caracterizam avancem ainda mais dentro das escolas e universidades.

Criado em 2004 pelo advogado Miguel Nagib, a principal estratégia da EsP é apostar na ignorância não apenas intelectual de seu público – a esmagadora maioria dos que denunciam a “doutrinação ideológica” ou vociferam contra Paulo Freire não fazem a mais pálida ideia do que dizem –, mas também empírica. Não há, da parte dos seus ideólogos, a preocupação em mostrar dados que corroborem afirmações como “um exército organizado de militantes travestidos de professores prevalece-se da liberdade de cátedra (...) para impingir-lhes [aos alunos] a sua própria visão de mundo”.

Tampouco há evidências de que a “instrumentalização do ensino para fins políticos, ideológicos e partidários” é um “problema gravíssimo que atinge a imensa maioria das escolas e universidades brasileiras”. As “provas” apresentadas são sempre fragmentos descontextualizados: um recorte de revista utilizada em uma aula; uma ementa, unidade ou tópico de um programa disciplinar; o depoimento de um ou uma estudante que se sentiu prejudicado.

Não há contexto, verificação, acompanhamento, tampouco diálogo. A EsP não é apenas desonesta, mas perversa: ela fabrica a exceção que tratará, em seguida, de apresentar como regra; regra que servirá de evidência a justificar e sustentar seu empreendimento policialesco, moralizante e ideológico. Trata-se de criar um clima generalizado de paranoia, insegurança e medo. E nesse caso, quanto mais genérica a afirmação, mais eficiente ela será.

Os argumentos brandidos são igualmente espúrios: na tentativa de defender que discentes são reféns de seus docentes, por exemplo, Nagib chegou a compará-los a estupradores; no site do movimento, um longo texto sobre “Síndrome de Estocolmo” apresenta estudantes como vítimas de um “sequestro intelectual”. Como desenvolvem “em relação ao professor/doutrinador, uma intensa ligação afetiva”, eles não apenas negam que são manipulados, como defendem seus sequestradores, os professores.

A cidadania não é neutra – Esse tipo de discurso, que contribui diretamente para a onda de violência contra professores que grassa nas escolas, e que coloca o Brasil na vergonhosa posição de lanterna em um ranking que avalia o status de profissionais da educação em diferentes países, encontra respaldo no temor, alimentado especialmente entre grupos e indivíduos religiosos e conservadores, de que a escola desvie seus alunos das condutas e educação familiares.

De acordo com essa argumentação, estimulada pela EsP e que repercute nos discursos de partidos e políticos oportunistas e de extrema direita, pais e mães têm o direito de exigir que docentes não ensinem aos discentes nada que contrarie os valores ditos familiares. Mas eles não têm. Pais e mães têm o direito de exigir o acesso universal à sala de aula e de que a educação seja, de fato, um direito de todos e todas, por exemplo.

Eles têm, igualmente, o direito de reivindicar e exigir escolas equipadas e habitáveis; profissionais (professores, pedagogos, técnicos, pessoal administrativo e de apoio) valorizados e bem pagos; uniforme, material escolar e merenda garantidos pelos governos; esportes e atividades culturais; escolas em período integral e abertas à comunidade nos finais de semana, etc... Mas pais e mães não têm o direito de exigir que a sala de aula seja uma extensão do espaço doméstico, e principalmente por uma razão.

Escolas são parte da esfera pública, e seu papel, além de apresentar o aluno ao chamado saber formal, é ampliar o conhecimento e a compreensão que ele tem do mundo, complexificar e não simplificar a sua existência. O convívio no espaço público favorece e estimula a interação e a sociabilidade com indivíduos, grupos, valores e crenças que não os familiares, e isso é fundamental para o amadurecimento ético, o desenvolvimento intelectual e a um exercício mais pleno, livre e crítico da cidadania.

A EsP e seus ideólogos sabem disso, e é isso que combatem: em um país de cultura democrática tão débil como o Brasil, a educação se tornou uma trincheira de resistência às muitas formas de autoritarismo e violência. A precarização da escola e do ensino nunca foi um problema a ser denunciado e combatido, mas a ampliação dos direitos, liberdades e igualdade civis, sim.

Eles temem uma sociedade mais plural e sensível às diferenças e a diversidade, sejam elas étnicas, religiosas, de classe ou gênero, e sabem que uma escola e uma educação de qualidade são condições imprescindíveis para a construirmos. Por isso a “Escola sem Partido”, seus ideólogos e defensores, querem uma escola precarizada, sucateada, abandonada e “neutra”. A ideologia por trás desse discurso é perversa, autoritária e violenta. A quem preza e deseja a democracia e a liberdade, resta resistir a ela.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

O aumento da taxa de esgoto fede. E fede muito...


POR JORDI CASTAN
Fede e fede muito a proposta do Executivo de aumentar a taxa de esgoto. Há muitas razões pelas que esta ideia cheira mal e, antes que seja aprovada, é necessário lembrar alguns pontos importantes que mostram o porquê da sua inconveniência e descabimento.

Primeiro é oportuno lembrar os motivos. O rompimento do contrato entre a cidade de Joinville e a CASAN foi resultado da exploração a que os joinvilenses eram submetidos pela companhia estadual de água e saneamento. O subsídio cruzado fazia que as cidades nas quais o serviço era mais rentável, como é o caso de Joinville, tivessem que subsidiar os municípios com serviços menos rentáveis. E isso fazia que a conta de água do joinvilense fosse maior do que de fato custava o serviço. 

Alguns acreditaram até que com a municipalização o custo cairia e o serviço melhoraria. Isso só prova que os cidadãos da vila são otários praticamente desde sempre. Não é preciso lembrar que a tarifa não caiu, como anunciado. Mais que isso, ela se manteve elevada, por conta dos futuros investimentos a serem feitos em melhora da oferta e principalmente no saneamento básico.

O que é oportuno lembrar é que faz anos que Joinville não aumenta a sua rede de esgotos e que os últimos investimentos feitos no governo do PT foram feitos graças aos recursos federais. E a tarifa continuou alta, como continua sendo hoje. No ranking do saneamento, montado pelo Trata Brasil, Joinville aparece no 73º lugar em um conjunto de 100 cidades.

O serviço não melhorou. A falta de água é uma constante. E a infraestrutura está cada vez mais sucateada, com vazamentos, roturas, estouros de linhas e bairros inteiros sem água por dias a fio. Se a praça Dario Sales não estivesse abandonada, estaria mais que na hora de usar os espelhos d´água para lavar a roupa, em protesto pelo péssimo serviço.

A CAJ (Companhia Águas de Joinville) desperdiça 46,5% da água tratada na distribuição. Mas o dado mais grave é o da falta de tratamento de esgoto. Em Joinville, só 31,5% da população tem tratamento de esgoto, enquanto no Brasil 48,6 % da população tem acesso ao sistema. Joinville está abaixo da média nacional.

Antes que o Prefeito venha a dizer que o aumento da taxa de esgoto é necessário para cobrir custos e aumentar o sistema, há que relembrar que em dez anos a Águas de Joinville rendeu mais de R$ 160 milhões à Prefeitura, em pagamentos por dividendos (juros sobre o capital próprio). O município tem mais de 99% da companhia de saneamento básico, portanto, tem direito ao repasse. Em valores nominais, foram repassados R$ 160,7 milhões desde 2008. Se atualizados pelo IPCA, com base no índice de dezembro de cada ano, o montante sobe para R$ 209,2 milhões. É nítido e transparente que não há falta de dinheiro. Joinville segue pagando o elevado preço da falta de gestão.

Uma empresa que desperdiça 46,5 do seu produto deixa de atender a 68,5% da população com esgoto tratado, posterga regularmente suas metas e planos. Por exemplo, a atual gestão tinha previsto, para final de 2018, atender com esgoto tratado a 50% da população. Mas agora a meta foi transferida para 2022, quando teremos em Joinville uma nova gestão. A CAJ tem problemas constantes de fornecimento e, por tudo isso, não tem moral, nem credibilidade para pedir que a população faça mais um sacrifício e concorde com este aumento.

O que é preciso, com urgência, é de uma intervenção para frear a sua péssima gestão. O ideal seria que fosse privatizada e que o novo gestor tivesse que cumprir as metas que a CAJ não consegue atender, que os lucros fossem revertidos em tarifas menores, em serviços melhores e na cobertura universal do esgoto e de água de qualidade e com regularidade, obrigações básicas que a empresa não tem conseguido cumprir. 

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Magno Malta e Olavão


O Brasil caminhando firme rumo a 1964

POR ET BARTHES
Nesta semana, o Brasil foi surpreendido - ou talvez não - pela ação do SBT, que veiculou vinhetas de tom nacionalista dos tempos da ditadura militar. Segundo a imprensa, era uma homenagem à chegada de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto. A primeira peça exibia o famoso slogan da ditadura: “Brasil, ame-o ou deixe-o”, com o hino nacional ao fundo.

A coisa pegou muito mal e a avalanche de críticas na internet - provenientes de todos os setores da sociedade, mesmo os mais conservadores - fez com que a emissora de Sílvio Santos  tirasse as mensagens do ar. Mas, de certa forma, a iniciativa da televisão pode ser tomada como um prenúncio do que vem aí. O Brasil evoluindo a passos firmes rumo a 1964.

Aliás, vale lembrar que no tempo da ditadura, o povo respondia a mensagem do "ame-o ou deixe-o"  à boca miúda: “o último a sair apaga a luz”. E hoje, num clima de revivalismo, mas numa perspectiva meramente histórica, trazemos algumas das peças da época. Um filme, slogans e cartazes. Sem nenhuma saudade, claro.



terça-feira, 6 de novembro de 2018

Eu avisei (na sexta-feira)

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O último texto (logo abaixo) dizia que política externa não é para amadores. E alertava para o fato de que transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém não era boa ideia. Nem foi preciso esperar muito. O governo do Egito cancelou o encontro com o atual ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, pouco tempo antes da data marcada.

A alegação foi de que havia problemas de agenda, mas essa, todos sabemos, é a explicação diplomática. De fato, a ideia do futuro presidente Jair Bolsonaro acabou por mexer no formigueiro e levantou uma forte reação nos países árabes. Em resumo, em tempos de diplomacia comercial, as decisões econômicas não podem ficar na mão e uma pessoa de baixa cultura como o presidente Jair Bolsonaro.

Não é estranho? O sujeito é a favor do agronegócio, mas põe em risco o mercado comprador de carne halal. E para que não venham com os argumentos tão comuns nos dias de hoje, como "foi a imprensa que falseou" ou "não foi bem isso que ele quis dizer", deixo aqui abaixo o recorte de uma reportagem da revista "Veja", insuspeita de "esquerdismo".




sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Parece uma pequena besteira de Bolsonaro, mas é grande...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Jair Bolsonaro anunciou que vai transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. É um erro. Sabe aquela expressão “deixar quieto”? Era o melhor. Mas Bolsonaro é um homem intelectualmente limitado e entende muito pouco ou nada de política externa. O novo presidente parece não saber que nas relações internacionais atuais a linguagem é a da diplomacia comercial.  

A explicação é de que estava no seu programa de governo. É bem provável que tenha sido aconselhado por um desses líderes políticos de baixa estatura moral que pululam no Brasil. Porque essa decisão  só pode ser uma questão de fé. O leitor e a leitora podem até achar um fator menos relevante, mas não é. Com a decisão, o novo governo está a pôr em risco uma parceria comercial estratégica para o país, porque os países da região do Oriente Médio são importantes parceiros comerciais do Brasil.

Eis alguns números de 2016, a mostrar três exemplos de exportações para a região.

Arábia Saudita (25%) US$ 2,49 bilhões
Alguns exemplos dos produtos exportados:   Carne de frango (46%), açúcar (14%), soja (6%), carne bovina (4,4%), milho (4,3%), Automóveis de passageiros (4,2%), Munição de caça e esporte (2,6%), tubos de ferro fundido, ferro, aço e acessórios (2,1%).

Emirados Árabes Unidos (22%) US$ 2,24 bilhões*
Alguns exemplos dos produtos exportados: Carnes de frango (21%), açúcar refinado (16%), óxidos e hidróxidos de alumínio (11%), Tubos de ferro fundido, ferro, aço e acessórios (7,3%), carne de bovino (3,4%), calçados (0,74%).

Irã (22%) US$ 2,23 bilhões*
Alguns exemplos dos produtos exportados: Milho em grãos (36%), soja (21%), carne de bovino (17%), resíduos de óleo de soja (11%), açúcar (9,2%), chassis com motor para veículos e automóveis (3,2%), veículos de carga (0,15%), suco de laranja (0,12%). 

Mas não é só na economia que a decisão cria riscos. O Brasil será o terceiro país do mundo a mudar a embaixada, depois de Estados Unidos e Guatemala. Parece que o futuro presidente do Brasil encontrou em Donald Trump o seu "role model". Mas o Brasil não é os EUA. O fato é que consequências podem ir além das comerciais e ter efeitos políticos. O Brasil pode acabar entre os países considerados inimigos do islão. E, por extensão, pode entrar na rota dos grupos terroristas religiosos que perpetram ataques terroristas pelo mundo. É um risco desnecessário.

É a dança da chuva.

*Dados disponíveis em: http://www.mdic.gov.br/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior/comex-vis/frame-bloco?bloco=oriente_medio s