segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Nada mudou. Tudo segue igual



Jordi Castan

Depois de uns dias de férias, volto a Joinville. Feita uma leitura rápida de como reencontrei a vila, constato que pouco mudou. Vejamos:

- Há no governo, em todos os níveis, a certeza que "eles" estão certos e todos os "outros" estão errados. Este tipo de "autismo" se origina no líder do executivo e se espalha como um cancro a todos os níveis, os resultados até agora tem sido devastadores. 

- A obra da Santos Dumont se apequena a cada dia. O que era para ser uma duplicação está ficando mais para um remendo, com direito a binário, recapada e um alargamento. Ah! Outro ponto importante é que tampouco será concluída no prazo previsto. No que se diga de passo já tem se convertido em rotina.

- O Secretário da Fazenda informou, em entrevista ao jornal local, que enfrenta dificuldades para pagar as contas em dia. O discurso que não faltava dinheiro e que o problema de Joinville é ou era de gestão se esfarela como um punhado de sal em dia de chuva. Os problemas econômicos não podem ser usados como escusa. As ideias são de graça, saber aproveitá-las é a saída. O bom senso diz que além de gestão estariam faltando também ideias. A administração municipal é um deserto ermo em que a criatividade e a iniciativa foram completamente extintas.

- A ideia de que os funcionários públicos municipais trabalhem em jornada completa voltou à pauta. Uma iniciativa louvável que, lamentavelmente, não tem a menor possibilidade de prosperar. Alguém poderia perguntar o que o joinvilense acha? Seria interessante ouvir como o contribuinte, que paga os salários, opina. A administração pública fica à margem de seguir quaisquer critérios razoáveis de produtividade, eficiência e economicidade. 

- Sem chance que algum órgão da administração municipal seja certificado com alguma norma técnica internacional. Alguém imaginou um IPPUJ sendo certificado com uma norma ISO? E imaginar que nesta gestão presenciaríamos um choque de transparência, eficiência e de boa gestão. Ou seja, é uma utopia que algum órgão público municipal possa ser avaliado pelo cidadão contribuinte por critérios objetivos de excelência. O choque de gestão foi só um espasmo curto e intenso, que durou o tempo do discurso de posse. A gestão acabara sem muito de que lembrar, sem nenhuma marca importante. 

- Parques? Mais verde? Mais lazer? Nem rastro.

- Surgem denúncias sobre a existência de um “mensalinho” na Câmara de vereadores. Entre os nomes citados há quem tem mostrado recalcitrância em flertar com o lado escuro da moral. O risco de que haja mais envolvidos não é pequeno e denúncias anônimas recentes passam a fazer mais sentido e ganham credibilidade.

- Apareceram as primeiras emendas a LOT e em breve devem ser divulgados os nomes dos maiores beneficiados com as mudanças de zoneamento que o prefeito defende com tanto afinco. Não seria surpresa se alguns nomes muito conhecidos surgissem entre os proprietários de áreas rurais que teriam o seu valor decuplicado em questão de meses.

- A ouvidoria segue sem entender que o seu papel é ouvir e defender o cidadão e não a administração pública. As respostas que a ouvidoria tem dado e que pipocam nas redes sociais provam que todos os problemas de Joinville são culpa dos joinvilenses que insistem em não entender a maravilhosa administração que tem. Em tempo: não há administrador ou comissionado que não se deixe picar pela mosca do poder. A perda do contato com a realidade é uma doença comum entre quem durante um tempo confunde “ser” com “estar”.

- A ponte que seria a grande obra desta administração sumiu do discurso, assim como tantas outras promessas eleitorais das que não se tem mais constância.

- Um ataque de lagartas cancelou a “Joinville em Movimento”. A administração municipal vencida por um punhado de futuras borboletas.  Alias é bom lembrar que lagartas, embiras e borboletas são comuns em primavera. 

- A primavera se apresenta linda e cheia de cor.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Barulho da Chuva #11


Meritocracia... o tanas!


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Quando entrei para a Faculdade de Engenharia havia um único calouro vindo do ensino público (não tenho certeza, mas acho que era também o único de Joinville). O cara era bom. Dominava os temas com muita facilidade e as suas notas eram sempre exemplares, mesmo naquelas cadeiras em que a maioria vivia a patinar. Fazer certas disciplinas era um pesadelo. Mas não para ele, que parecia talhado para a coisa.

No entanto, era notório que o cara não tinha dinheiro. Pelas roupas que vestia, pelo transporte que usava (busão, claro) ou pelo lazer de que não podia desfrutar. Muito diferente dos outros alunos, quase todos vindos de outras cidades e de famílias com alguma grana. Um bom número de colegas de sala usava roupas de marca, tinha carro próprio e não economizava na hora das festas.

Não sei quanto tempo o tal estudante permaneceu na faculdade (não digo o nome, mas lembro). Mas sei que a certa altura as suas aparições tornaram-se escassas e um dia deixei de vê-lo. Lembro de ter ouvido que tinha arranjado emprego, porque precisava sustentar a família. E a faculdade, com aulas o dia inteiro (e por vezes à noite) impossibilitava qualquer projeto nesse sentido.

Por que trazer essa história? Ora, porque tem muita gente a insistir na meritocracia como a panaceia capaz de produzir uma sociedade justa. Aliás, antes de continuar quero deixar claro: não nego o mérito, porque ele existe. O que rejeito é a desigualdade e as injustiças sociais. Porque a meritocracia só faz sentido se todos partirem em igualdade de condições. Não é o que acontece.

A meritocracia só existe quando todos são iguais à partida
O fato é que eu, sendo um péssimo projeto de engenheiro (tanto que desisti, depois de algum tempo), podia continuar na faculdade. O cara não. E eu pergunto: onde está a meritocracia? Não está. O discurso do mérito, repetido à exaustão pelos “homens de bem” (os que estão por cima da carne seca) serve apenas para a reforçar a elisão das diferenças de classe.

O leitor e a leitora podem contra-argumentar com o exemplo dos self-made man, mas o fato é que são uma minoria. Aliás, ninguém fala das self-made woman, o que apenas denota outra injustiça: no plano do gênero, a meritocracia também é coxa, tanto que as mulheres ganham menos que os homens no desempenho das mesmas funções. Na maioria dos casos, o mérito parece ser apenas para homens brancos e com alguma linhagem familiar.


Mérito sem igualdade de oportunidades é simples palavrório para inocentar as diferenças de classe. Enquanto houver potenciais Einsteins perdidos ali no Itaum não venham com essa treta de meritocracia. Porque é apenas conversa para boi dormir. Meritocracia... o tanas!

É a dança da chuva.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A rua


VALDETE DAUFEMBACK

A rua, com sua dinâmica, com seu movimento, é o melhor lugar para se ler a sociedade. A rua é o lugar da expressão, da liberdade literária, da aventura artística. É na rua que nos surpreendemos com situações inusitadas, que nos descobrimos e descobrimos os outros, que nos encantamos e desencantamos. Em poucos minutos a rua pode ser testemunha de muitas histórias


Em um órgão público esperava para ser atendida quando adentrou no recinto uma pessoa cheia de espontaneidade e solicitou um documento que havia encaminhado fazia uma semana. Naquele momento minha intuição dizia que se tratava de alguém que não conhecia a cultura ordeira e disciplinadora de Joinville.


 Ao sair do prédio, a pessoa já estava na calçada tentando se achar pelos pontos cardeais. Percebi que falava aos seus botões na tentativa de buscar na memória pontos que indicassem o caminho da localização para chegar a um destino pretendido. Ao perceber a cena me remeti ao passado quando nesta cidade cheguei, sem conhecê-la, tentava me localizar por meio de pontos de referência, desejando ter em mãos o novelo de fio de Ariadne para sair do labirinto de pedra e cimento. 


Perguntei à pessoa se precisava de ajuda para encontrar tal endereço. 


- “Eu estou em Joinville faz três semanas e ainda não decorei a cidade”. Assim foi o início de uma conversa que durou quinze minutos enquanto caminhávamos até o local pretendido. 


- “Agora estou feliz, tenho minha Carteira de Trabalho assinada, consegui emprego na construção civil graças ao curso de eletricista que fiz pelo PRONATEC. No Paraná eu trabalhei durante vinte anos na informalidade, mas depois que fiz o curso, vim pra cá e já arrumei emprego”. 


Na conversa mencionou que já havia matriculado os filhos na escola. E pelo entusiasmo com que se expressava, parecia mesmo estar satisfeito com o trabalho e com a cidade que acabara de conhecer.  


- “Tem gente que diz que eu vou trabalhar quatro meses para o governo. É o que vou pagar de imposto. Mas se não for assim, como é que o governo vai conseguir prestar à população serviços públicos? Olha, vai ver se nos Estados Unidos tem Sistema Único de Saúde? Vai ver como está a saúde da população no Paraguai?”.


Fiquei curiosa sobre a pessoa que estava caminhando ao meu lado e que espontaneamente foi revelando seus tesouros sem que eu tivesse feito uma só pergunta sobre a sua vida pessoal.  


- “Sabe, estas pessoas que foram às ruas no domingo (dia 16 de agosto), não sabem o que estão dizendo, não conhecem a história, não conhecem as necessidades dos pobres, não fazem ideia do quanto a presidente contribuiu para ajudar as pessoas a saírem da pobreza. Eu sou prova disso. Não sabem o que é ditadura militar, não sabem o que aconteceu naquela época. Meu pai, um agricultor, foi preso...”. 


Chegamos ao destino. Fim da caminhada sociológica em que assumi uma postura de ouvinte. A pessoa agradeceu e nos despedimos. 


- “A gente se vê por aí”. 


Sorri e segui em frente observando as pessoas em movimento, imaginando as suas histórias, suas vidas, seus encantos e desencantos. Pensei na liberdade de expressão do artista “palhaço” que foi preso na rua durante apresentação em festival infantil, em Cascavel, no Paraná, por usar a arte como instrumento político, tal como na época da ditadura militar. Pensei na polifonia e nas vozes que foram silenciadas ao levantar a bandeira da justiça social. Pensei no apagamento da memória e na alienação da história. Pensei nas cabeças tresloucadas que clamam por intervenção militar. Pensei no esvaziamento da política nos protestos de rua.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Pobre...


A lógica invertida dos ricaços que comandam a cidade

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POR FELIPE SILVEIRA

A página de humor e informação ÉÉÉguaaa postou recentemente que os cidadãos de Porto Alegre, capital do vizinho Rio Grande do Sul, podem pedir para os ônibus do transporte coletivo pararem a qualquer momento durante a madrugada, chamando atenção para o fato de que as linhas da madrugada mal existem em Joinville, e o que existe ainda será cortado. Aí alguém que cuida das redes sociais de uma das empresas de transporte público da cidade teve a brilhante ideia de responder o seguinte: “Que ótimo para Porto Alegre, necessário, para toda cidade que tem ‘vida noturna.’”

A imagem foi apagada, mas o tiro no pé já havia sido dado. A popular página fez outra postagem, agora com o print da resposta, que tem gerado bem mais repercussão e crítica do que o post original. Além disso, o fato nos leva à reflexão deste texto.

O comentário é uma amostra do modo de pensar da elite econômica sobre a cidade. Outro exemplo é a campanha do então candidato a prefeito Udo Döhler, que, perguntado sobre mobilidade urbana, prometeu fazer 300 quilômetros de asfalto. A promessa ainda não foi cumprida, mas, mesmo que fosse, o asfalto é mais uma questão de saúde pública do que de mobilidade. Nesse quesito, poderia ser chamada de anti-mobilidade.

Voltando ao caso das linhas da madrugada, conto minha experiência pessoal para ilustrar, mas tenho certeza que a maior parte dos leitores passou por isso ou conhece alguma história. Como fui universitário até pouco tempo atrás, e ainda convivo no meio, fui inúmeras vezes ao bar com os amigos e também a inúmeras festas. Infelizmente, como as aulas acabam às 22h30, aos amigos que dependiam do transporte público sempre precisavam sair cedo, ficando, no máximo, meia hora com a gente. Já nas festas, houve inúmeras situações de gente que não pode ir ou teve que se virar pra voltar por causa da falta de ônibus. São apenas dois exemplos de como faz falta o coletivo na madrugada.

Mas há outros exemplos mais graves. No tempo que morei no bairro Paranaguamirim, soube de vários casos de pessoas que não tinham como levar seus filhos ao hospital por causa da falta de ônibus. Sem contar nas vezes que as pessoas chegam cansadas de um dia de trabalho e perdem o último ônibus, sendo obrigadas a ir a pé, pagar um moto-táxi, arrumar uma carona...

Em suas mansões ou no conforto de seus carros de luxo importados, os ricaços que comandam a cidade e o transporte coletivo não fazem ideia do perrengue que passa o trabalhador e o estudante para simplesmente viver o cotidiano. Eles não sabem, ou fingem, que uma uma simples corrida de táxi pode custar 1/5 do salário de um trabalhador. Na cabeça desses caras, todo mundo vai ter carro, então a cidade deve ser feita para carros. Se não me engano, o prefeito disse algo parecido na campanha, quando falou nos 300 km de asfalto.

A lógica dos caras está tão invertida que eles não sabem que, se as pessoas não tiverem como chegar e sair dos lugares, as pessoas não vão aos lugares. Aí não tem como ter vida noturna mesmo. Se os lugares não têm clientes, é claro que eles vão fechar mais cedo.

A mesma lógica vale para as ciclovias. Algumas pessoas criticam o investimento em ciclovias, dizendo que há poucos ciclistas. É claro que apenas um número baixo de pessoas vai pedalar enquanto as condições forem tão ruins. A partir do momento que as ruas se tornarem mais seguras, mais gente vai pedalar e possivelmente mudar de vida com isso.

Nesta quarta-feira, 26 de agosto, vai rolar um Catracaço contra a extinção das linhas da madrugada. O ato é chamado pelo MPL, que há anos luta contra os malucos que comandam o transporte coletivo. Compareça, se manifeste contra a extinção das linhas e contra a exploração dos trabalhadores e estudantes.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

"Perdoa o meu vice, ele não sabe o que faz"

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

A imagem circulou um dia destes dias nas redes sociais. A foto (abaixo) mostra o momento em que o prefeito Udo Dohler tuteia a presidente Dilma Rousseff, durante um evento em Brasília. Mas alguém se lembrou de acrescentar uma legenda irônica, na qual o prefeito estaria a pedir desculpas à presidente: “perdoa o meu vice, ele não sabe o que faz”. É uma piada, claro. Mas nem por isso deixa de ter fundamento. Até porque muita gente (incluindo este escriba) concordou com a chalaça.

Todos sabemos que o vice-prefeito é um crítico do Governo Federal e demonstra especial entusiasmo ao vestir camisas amarelas e ir às ruas para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ora, ninguém pode questionar esse seu direito enquanto cidadão. Mas eis o problema: neste momento ele não é um cidadão qualquer. É o vice-prefeito da maior cidade do Estado e enquanto permanecer no cargo representa a instituição Prefeitura e a população de Joinville. Não é um liga-desliga: agora sou vice, agora não sou.

O problema é que o vice-prefeito de Joinville parece ter dificuldades em entender o conceito de “sentido de Estado”. Então, vamos tentar trazer uma luz sobre a questão: quem exerce cargos com responsabilidades públicas deve fazer escolhas em função do interesse público e não de interesses pessoais ou políticos. É o que fazem os estadistas. Até porque uma boa relação com o poder central pode ser útil para um município que, bem sabemos, anda carente de recursos. Se não fizer bem, mal também não faz.

Um político eleito não governa apenas para os seus eleitores. Manda o sentido de Estado que governe para todos os cidadãos, sejam eles seus eleitores ou não. O prefeito ou o vice podem não gostar dos seus críticos ou desafetos, mas têm que governar também para eles. É para isso que são eleitos e pagos (mesmo que abram mão do salário). O nome do jogo é democracia. Não há cidadãos de primeira e cidadãos de segunda. E há cidadãos joinvilenses que não se reveem nas camisas amarelas do vice-prefeito.

Não se sabe de manifestações públicas de Udo Dohler sobre o comportamento pouco republicano do seu vice, mas é fácil imaginar algum incômodo. É natural que o prefeito de uma cidade como Joinville precise de uma boa relação com o Governo Federal, porque isso cria facilidades. Ou seja, Udo Dohler precisa do goodwill das autoridades de Brasília. Mas o vice aparece como macaco em loja de porcelana. Alguém duvida que os acontecimentos da maior cidade de Santa Catarina chegam a Brasília? É óbvio que sim. Mau seria se as notícias não chegassem.

É difícil entender a lógica do vice-prefeito ao negligenciar o sentido de Estado a que o cargo obriga. Pior ainda é ver um político - que, por definição, depende do voto - alinhar ao lado de movimentos claramente antidemocráticos que pregam o desrespeito pelo resultado de eleições livres e legítimas, como as que elegeram Dilma Rousseff. É preciso decoro e uma postura republicana. Mas o vice parece importar-se muito pouco com o republicanismo, o respeito pelo voto e a própria democracia. 

Uma coisa é clara: aponte para onde apontar, a estratégia é errada. Se for por voluntarismo, recomenda-se que contrate uma assessoria para tratar da sua imagem. Se for uma ideia de assessores, o conselho é que trate que procurar gente mais gabaritada, porque não é assim que se constrói uma imagem. Ou melhor... até é. Só que a imagem errada.


É a dança da chuva.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Pra quê serve?


João da Caixinha, tocando o terror na CVJ


Eleições 2016 em Joinville


POR VANDERSON SOARES

Publiquei um texto alguns dias atrás, no qual eu fazia uma rápida análise sobre os protagonistas que farão parte do jogo político de ano que vem, para a Prefeitura de Joinville (ler aqui).

Fui questionado, por vários representantes dos movimentos de esquerda sobre a ausência destes em minha breve e leiga análise. Achei justa a “reclamação” e vou falar abaixo dos dois principais representantes da esquerda: PT e PSOL. Outrossim, quero fazer uma retificação de uma análise que, à data do primeiro texto, fugiu-me da lembrança.

O PT, se é que podemos chamá-lo de esquerda ainda, tem como principal pré-candidato a prefeito o nosso velho conhecido Carlito Merss. Carlito pode até se candidatar, mas o objetivo não será ser eleito. Será reciclar a sua imagem, que hoje encontra-se apagada, para futuros pleitos.

Na minha concepção, o maior erro político de Carlito foi se enveredar pelo Poder Executivo. Ele é ótimo legislador, tem perfil e competência para isso, mas não para o executivo. Mostrou pouco traquejo na condução dos trabalhos, nas articulações na Câmara, enfim, não mostrou-se um bom executor. Soma-se a essa falta de habilidade executiva as más escolhas na sua assessoria e deu no que deu.

Não creio que o PT, atualmente, continue firme com seus propósitos como esteve outrora. Adilson Mariano, vereador que está a sair do partido diz que “o PT não representa mais o trabalhador”. E eu concordo com o vereador.

O PSOL, a meu ver, é um dos mais fiéis ao que defende e o mais coerente com suas atitudes e palavras. O nome que vem ganhando relevo em Joinville neste partido é o jovem Leonel Camasão, cara gente boa, simples, e que ainda não tem os vícios nefastos da política. Embora não seja dele o meu voto, por motivos de ideologia, torço para que pessoas como ele cresçam na política e se mantenham leais às ideias que defendem quando em campanha. Sobre ele, ainda, devo comentar que me parece que ele e sua família sofreram decepções recentes no partido, gente em quem confiavam, ao que tudo indica, viraram as costas. Esta percepção se dá devido à algumas publicações no Facebook.

A correção que gostaria de fazer é sobre o PSDB. Comentei, no primeiro texto, que acreditava que se montaria todo o espetáculo a dizer que Ivandro de Souza seria o candidato, mas que no frigir dos ovos, Tebaldi seria o verdadeiro candidato. Pois, esqueci-me de um fato ao conceber o texto. Não é segredo que o Senador Paulo Bauer está reabrindo um escritório regional aqui em Joinville. A intenção, como pode-se deduzir, é adentrar politicamente na cidade.

Muito embora tenha de “pedir” o apoio de Tebaldi, creio que ele deverá pôr muito medo nos demais candidatos. É um nome forte. E quando falo em pedir apoio, penso que é impossível não pedir “benção” ao maior líder do partido em Joinville tendo a intenção de vir montar seu nome aqui.

Ainda, parece-me que, mesmo Udo tendo intenção de ser reeleito, o partido o abandonará para que ele possa morrer politicamente. Era o desejo de LHS, segundo alguns, pois Udo virou as costas ao padrinho após se eleger, demitindo alguns apadrinhados do falecido senador.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Operários digitais e o poder

POR SALVADOR NETO
A moda agora é ler rápido, textos curtos, não pensar, pesquisar no google e outras ferramentas, tudo em uma espécie de fast food intelectual. O resultado? Uma sociedade crescentemente mal informada, mal formada, e por consequência, facilmente arrebanhada por ferramentas de marketing.

Bom, você deve estar questionando, quando ele vai falar sobre o tema do artigo! Calma.
Esta semana estive em uma escola estadual da zona oeste de Joinville (SC), a convite de um professor amigo. Falei, e interagi, com cerca de 120 alunos do ensino médio. Na grande maioria haviam saído do trabalho e ali estavam para estudar.

Aos questionamentos que sempre faço, para ilustrar a fala, sobre quem tem celulares inteligentes, tablets, notebooks, e outros, também a grande maioria afirma os ter. Quando pergunto quantos gostam de ler livros, físicos, ou até digitais, a resposta também amplamente majoritária: não lemos.

No jogo que tracei em nossa conversa – três turmas individualmente, e depois as três mais uma em um auditório – falava sobre o jornalismo, a profissão, a importância da formação profissional para ocupar e compreender o seu espaço no mundo. Com minhas obras "Gente Nossa" e "Na Teia da Mídia", provocava-os a entender o processo que é ter poder sobre o que se pensa, e não pensar somente sobre o que a grande mídia espalha por todos os meios disponíveis. 

Ao final, arrematava que ou eles estudam, lendo muito e muitas obras importantes, e também jornais e blogs alternativos de notícias, ou eles e mais jovens que virão depois deles, até filhos deles mesmos, se tornarão operários digitais.

Não trabalharão mais em fábricas sujas, engraxados, empoeirados talvez, mas ganharão o mesmo tocando telinhas mágicas, arrastando dedos por sobre tablets. E comprando tudo a um toque. Sem pensar, sem tocar o que compra. Simples massa de manobra, modernas, equipados com tecnologia de ponta. Mas apenas operários a serviço do poder.

Em quase todas as palestras que faço em escolas, faculdades, entidades de classe e outros, tenho abordado o tema da comunicação e literatura em tempos digitais. Minha experiência ao longo do tempo tem mostrado que a quantidade/qualidade da leitura dos jovens tem caído muito.

Com a curiosidade aguçada – afinal, operários digitais? – ilustrei o futuro com base neste cenário de avanço geométrico do digital, da tecnologia.

Afirmei: neste caminho vocês não passarão de operários digitais, idênticos aos operários criados pela Revolução Industrial, de chão de fábrica, que por falta de oportunidade, estudo e condições de vida, ficavam somente no pesado, depois apertando botões de maquinas, robôs, até se tornarem obsoletos ao meio capitalista que vivemos.


Claro, tudo isso causou um debate acalorado. Questionaram-me sobre o impeachment da Dilma. Respondi. Burrice e luta pelo poder. Mas tem de mudar tudo que está aí! Respondi: mudar o que? Não sabemos! Respondi. Mudar o combate à corrupção após décadas de roubo escondido por ditaduras e elites arraigadas ao dinheiro do Estado?

Falta comida, falta oportunidade de estudo a vocês? Não. Afirmei que é preciso pensar, pensar e se informar, ler, ler, ler, mas não posts curtíssimos. Ler, ler muito, mas não 170 toques de WhatsApp e se achar informado adequadamente. Ler, ler, mas obras que fazem queimar neurônios, como "O Tempo e o Vento", "Cem Anos de Solidão", "Os Miseráveis", "Grande Sertão Veredas", "Vidas Secas"... Claro que não foi a maioria, mas uma amostra significativa não soube dizer, afinal, o que devia mudar. Pensam como as mensagens bombardeadas pelo concentrado poder da mídia em poucas famílias brasileiras, desejam.


Constato, ao longo de vários anos e palestras que fiz, esse avanço da tecnologia sendo vendida como o Santo Graal da humanidade, a libertação dos povos mais longínquos pelo acesso fácil aos smartfones, televisões, tablets, redes sociais, e muito mais que virá.

O poder, econômico, entrelaçado ao de estado, conduz nossa sociedade a um corredor que nos conduz apenas para um fim: o consumo sem questionar, seja ele de produtos, ideias, ideologias ou culturas. Produzem-se ao longo de alguns anos já milhões de operários digitais. E por outro lado, promovem a redução gradativa dos formadores de boas cabeças pensantes. Professores, filósofos, educadores.


Eles nos querem simples operários digitais para nos mobilizar por causas que são somente deles, os poderosos. Nos empoderam de produtos mágicos que nos comunicam (?) instantaneamente, falseando em nossa mente que somos seres de primeira grandeza. Não. Somos consumidores de primeira grandeza. Sem pensar. Sem questionar. 


Apenas, digitar, clicar, comprar, inclusive ideias absurdas, burras, inconsequentes, como pedir a volta da ditadura militar, a demonização de pessoas por pensarem diferente, serem diferentes. Ou promovemos um retorno à luz do pensar, ou vamos inexoravelmente, como os bois que vão ao matadouro, para o corredor da morte como seres humanos. Pensemos, pois.


É assim, nas teias do poder....

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Se não mora em Joinville, não pode dar palpite








POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Se não mora aqui, não pode dar palpite”. É uma crítica recorrente aqui no blog (e era também no AN enquanto lá estive), feita por pessoas não se cansam de usar o argumentum ad hominem. Ou seja, em vez de rebaterem um argumento com outro argumento preferem desqualificar o autor, no meu caso por morar em outro país. O provincianismo não surpreende, porque vem de gente que vive mentalmente aprisionada entre Garuva e Barra Velha.

Ora, num mundo onde as fronteiras se esfumaram, a experiência do “estrangeiro” deve ser absorvida e aproveitada. É o que os povos civilizados fazem. Mas não é algo que aconteça em Joinville, uma cidade que em termos culturais (e estou a falar da “cultura alma coletiva” de Guattari) prefere viver orgulhosamente isolada e atrasada (é só ver tudo o que envolveu o Plano Municipal de Educação para perceber essa opção).

A questão das latitudes nunca pareceu importante e por isso sempre evitei discuti-la. Mas a divulgação do HFI - Human Freedom Index (Índice de Liberdade Humana), no início desta semana, abre caminho para uma discussão. A liberdade humana está intimamente relacionada com a vivência democrática. É o que permite entender as diferenças de mindset entre pessoas que vivem no Brasil e pessoas que vivem em outros países.

Posições de Brasil e Portugal no Índice de Liberdade Humana
A arte apresentada neste texto mostra as posições de Portugal (onde vivo) e do Brasil (onde passo apenas um mês por ano). O estudo considera inúmeros fatores que, no final, permitem estabelecer os coeficientes de liberdade pessoal e de liberdade econômica dos países analisados. A diferença é abissal: Portugal está em 25ª e o Brasil em 82º.

O que isso permite inferir? Ora, nos países mais desenvolvidos o ideário da democracia é respeitado, introjetado e projetado para a sociedade. Nas democracias já consolidadas, os valores tendem a ser sempre afirmativos. No Brasil isso demora a acontecer, porque há muitas forças retrógradas a negar os valores democráticos. É só ver o que se passou no último domingo: as pessoas saíram às ruas contra alguma coisa (a negação) e não por uma proposta construtiva (a afirmação).

E Joinville? Um dia desses o arquiteto e cartunista Sandro Schmidt, integrante do coletivo Chuva Ácida, escreveu na sua página de Facebook que “Joinville está se tornando uma das cidades mais conservadoras, reacionárias, hipócritas e moralistas do Sul do Brasil”. E foi corrigido nos comentários, porque as pessoas não concordam com o “está se tornando”. O fato é que a cidade vive um histórico déficit de democracia e de liberdade humana.

Ah... desculpem pela opinião. Afinal, se não vive em Joinville não pode dar pitaco.


É a dança da chuva.