quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A lógica invertida dos ricaços que comandam a cidade

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POR FELIPE SILVEIRA

A página de humor e informação ÉÉÉguaaa postou recentemente que os cidadãos de Porto Alegre, capital do vizinho Rio Grande do Sul, podem pedir para os ônibus do transporte coletivo pararem a qualquer momento durante a madrugada, chamando atenção para o fato de que as linhas da madrugada mal existem em Joinville, e o que existe ainda será cortado. Aí alguém que cuida das redes sociais de uma das empresas de transporte público da cidade teve a brilhante ideia de responder o seguinte: “Que ótimo para Porto Alegre, necessário, para toda cidade que tem ‘vida noturna.’”

A imagem foi apagada, mas o tiro no pé já havia sido dado. A popular página fez outra postagem, agora com o print da resposta, que tem gerado bem mais repercussão e crítica do que o post original. Além disso, o fato nos leva à reflexão deste texto.

O comentário é uma amostra do modo de pensar da elite econômica sobre a cidade. Outro exemplo é a campanha do então candidato a prefeito Udo Döhler, que, perguntado sobre mobilidade urbana, prometeu fazer 300 quilômetros de asfalto. A promessa ainda não foi cumprida, mas, mesmo que fosse, o asfalto é mais uma questão de saúde pública do que de mobilidade. Nesse quesito, poderia ser chamada de anti-mobilidade.

Voltando ao caso das linhas da madrugada, conto minha experiência pessoal para ilustrar, mas tenho certeza que a maior parte dos leitores passou por isso ou conhece alguma história. Como fui universitário até pouco tempo atrás, e ainda convivo no meio, fui inúmeras vezes ao bar com os amigos e também a inúmeras festas. Infelizmente, como as aulas acabam às 22h30, aos amigos que dependiam do transporte público sempre precisavam sair cedo, ficando, no máximo, meia hora com a gente. Já nas festas, houve inúmeras situações de gente que não pode ir ou teve que se virar pra voltar por causa da falta de ônibus. São apenas dois exemplos de como faz falta o coletivo na madrugada.

Mas há outros exemplos mais graves. No tempo que morei no bairro Paranaguamirim, soube de vários casos de pessoas que não tinham como levar seus filhos ao hospital por causa da falta de ônibus. Sem contar nas vezes que as pessoas chegam cansadas de um dia de trabalho e perdem o último ônibus, sendo obrigadas a ir a pé, pagar um moto-táxi, arrumar uma carona...

Em suas mansões ou no conforto de seus carros de luxo importados, os ricaços que comandam a cidade e o transporte coletivo não fazem ideia do perrengue que passa o trabalhador e o estudante para simplesmente viver o cotidiano. Eles não sabem, ou fingem, que uma uma simples corrida de táxi pode custar 1/5 do salário de um trabalhador. Na cabeça desses caras, todo mundo vai ter carro, então a cidade deve ser feita para carros. Se não me engano, o prefeito disse algo parecido na campanha, quando falou nos 300 km de asfalto.

A lógica dos caras está tão invertida que eles não sabem que, se as pessoas não tiverem como chegar e sair dos lugares, as pessoas não vão aos lugares. Aí não tem como ter vida noturna mesmo. Se os lugares não têm clientes, é claro que eles vão fechar mais cedo.

A mesma lógica vale para as ciclovias. Algumas pessoas criticam o investimento em ciclovias, dizendo que há poucos ciclistas. É claro que apenas um número baixo de pessoas vai pedalar enquanto as condições forem tão ruins. A partir do momento que as ruas se tornarem mais seguras, mais gente vai pedalar e possivelmente mudar de vida com isso.

Nesta quarta-feira, 26 de agosto, vai rolar um Catracaço contra a extinção das linhas da madrugada. O ato é chamado pelo MPL, que há anos luta contra os malucos que comandam o transporte coletivo. Compareça, se manifeste contra a extinção das linhas e contra a exploração dos trabalhadores e estudantes.

35 comentários:

  1. Eu sou a favor que a Gidion, Transtusa ou qualquer outra empresa de transporte, coloque seus carros a disposição de alguns gatos pingados na madrugada, com circulação a cada 15 minutos. Sério!

    Ah, e podem aumentar a passagem dos demais usuários para satisfazer os “baladeiros” de semana.

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    1. lucram pouco as empresas, né...
      coitados

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    2. Inflação próxima da casa dos dois dígitos, aumento de 30% no combustível e você quer ônibus na madrugada?

      Existe uma planilha de preço a ser apresentada todos os anos aos órgãos públicos com os aumentos e a solicitação na alteração dos preços da passagem. Quem vai pagar a conta de combustível, salários e os impostos abusivos para colocar em funcionamento um serviço subaproveitado nos horários da madrugada?

      As empresas precisam lucrar, isso aqui não Matrix, camarada!

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    3. Eduardo da Silva Jr.26 de agosto de 2015 às 18:43

      Nem te conheço anônimo, sequer sei seu nome, mas já sinto nojo de vc.

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    4. Se as empresas estão no prejuízo, porque não vão embora e deixem outras virem pra cá? Além disso, essa planilha é adulterada.

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  2. Ótimo texto, só uma pequena ponderação (acho que posso chamar assim) Felipe, com relação ao "Transporte Público" lá no primeiro parágrafo. De público não tem nada, deveria ser, mas não é!

    Importante essa reflexão que tu traz sobre a vida noturna. Ora, na cabeça dos empresários e industriais da cidade Jacu, vida noturna é coisa da capital, dai a eterna reprodução dos bordões, que alguns chamam de título "Cidade do Trabalho" (não é do trabalhador), "Cidade Ordeira e Trabalhadora" - vai ver a cidade trabalha no lugar das pessoas, mas sabemos que funciona justamente ao contrário, as pessoas trabalham nela e pra ela e, pra piorar não tem direito de escolher como ou por quem deve ser gerido o transporte.

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  3. Ora, se as empresas de transporte estão pensando em tirar o "madrugadão" é porque não tem usuário suficiente nesse período, logo é uma cidade com pouca vida noturna. Ou usufruem-se da vida noturna apenas aqueles que têm transporte individual.

    (Não tenho carro, mas se o meu filho ficar doente na madrugada, não vou sair com ele para o ponto de ônibus. Tem vizinho, tio, avô e padrinho com automóvel pra quê? Não vivemos mais na década de oitenta!)

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  4. Usa o uber, pinguço. Ônibus de madrugada pra ficar no boteco. Teu zoo...

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  5. Minha cachaça minha vida. Larga a maldita pelo menos de madrugada.

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  6. O cara trabalha enriquece e se não da um emprego prum Zé desses ainda eh criticado. vai pra Cuba.

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  7. Gente que não quer o desenvolvimento da cidade, a gente vê por aqui. Seus bandos de esperto, se existisse ônibus de madrugada pro entretenimento (que todos têm direito,
    inclusive nós trabalhadores e universitários), os bares ficaram abertos até mais tarde com mais consumidores e teriam mais lucro. Vixe, parece que tem gente que não raciocina. E a outra ali acha que o mundo inteiro é igual ao dela que vizinho, tio, avô, padrinho tem carro. O povo brasileiro adora reclamar que isso ou aquilo que é feito pro povo é comunismo, mas depois que reclama que o país não se compara aos países desenvolvidos, va ver nos paises desenvolvidos como os transportes tem a noite. Joinville é a maior cidade do Estado e nunca se desenvolverá com esse pensamento primitivo.

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  8. essa corrida de taxi de 20% do salário minímo ficou meio forçado em...
    divide aí o salário por 5.

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    1. Cara, eu sei quanto é 20%.
      E sei qual é um salário bem baixo de trabalhador.
      E sei a facada que é uma corrida de táxi na madrugada.
      Você sabe?

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    2. UBER
      E ainda tem balinha e água fresca

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  9. Não me acredito no que leio nos comentários! Ah, populaçãozinha guiada no cabresto, não? Não é à toa que titio Udo pinta e borda na cidade. Isso, vão apoiando a máfia gidion/transtusa. Vão deixando eles mais ricos, claro!

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    1. Não quero saber se estão ficando mais rico ou mais pobres, quero saber de um serviço satisfatório e preços dentro da média.
      Serviço subaproveitado não é bom para ninguém, nem para a empresa prestadora, nem pra população que vai pagar direta ou indiretamente a conta. São regras básicas de mercado.

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    2. Regra de mercado é concorrência. As companhias de Joinville concorrem com quem mesmo?????

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    3. Esse comentário foi do funcionário ou dono da empresa de transporte?

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  10. Eu não deixo eles mais ricos porque tenho carro. Que trabalhei, comprei e paguei. Se o cara quer perder dinheiro pra boteco de madrugada então ande a pé e não encha o saco, vai de bici. No zóio...

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  11. Mário Cezar da Silveira26 de agosto de 2015 às 18:00

    Felipe, você cometeu um erro crasso no seu texto. Não deveria ser as empresas a decidir sobre o transporte coletivo, pois eles só prestam um serviço público, cujo poder concedente é a PMJ. Ela é que deveria determinar as regras e exigir que fossem cumpridas. A culpa no meu ponto de vista não é das empresas. Empresa existe parar ter lucro. Se cortar custos significa penalizar os usuários, é a PMJ que tem que cobrar que o serviço seja prestado de acordo com a necessidade do usuário e não das empresas.

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    1. Mário se possível gostaria de adicionar a sua ideia um conselho municipal de mobilidade, constituído de forma paritária entre sociedade civil e prefeitura.

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    2. Sei que difícil para vocês, esquerdistas avessos às instituições, entenderem, mas existe um contrato firmado com a PMJ que consta os serviços a serem prestados à população. Se as prestadoras pretendem não mais ofertar o serviço no período da madrugada é porque existe um item no contrato que as possibilitam fazer isto. Talvez, se saíssem mais das madrugadas e usassem mais os serviços de transporte, as prestadoras mantivessem os ônibus nesse período. Pensem nisso!

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    3. Contrato firmado com a prefeitura sem licitação????
      A questão não é se o contrato permite a questão é que o Transporte PÚBLICO só o é no nome. E as empresas atuais estão defendendo o lucro delas, o que não é errado, mas nessa disputa de interesses QUEM está defendendo os interesses da POPULAÇÃO?
      Não é uma questão de esquerda ou direita de bem ou mal. É uma questão de vida em sociedade, prestação de serviços, bem estar comum.
      Não adianta tentar desmerecer a discussão dizendo que ônibus noturno é só pra baladeiro, bebum etc. O fato é que a empresa está tomando uma decisão que beneficia a ela e somente a ela, só que ela opera numa concessão PúBLICA. E como fica o povo nessa situação?
      O anonimo lá de cima vai oferecer o carro dele e seus serviços de motorista toda vez que alguém ficar doente? Até vejo os vizinhos levando alguém a um P.A no meio da madrugada o que acho estúpido é a pessoa não ter transporte publico pra retornar ao lar caso ela tenha alta durante a madrugada.
      Ou na visita a amigos você encerrar as 23:00 porque depois não tem mais ônibus.
      São muitas coisas, mas o mais importante de tudo seria a liberdade de saber que pelo menos de hora em hora vai passar um ônibus e eu não preciso ficar ao relento até a primeira linha, ou dormir na casa de alguém por que perdi o ônibus, ou me aflingir com o preço do taxi na volta pra casa depois de um atendimento urgente...

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  12. O Udo deve ser louco de largar a vida dele pra atender gente como esse cara ai. Tem muita gente *de bem* que faria politica se não fosse por criticas de pinguço como essa. Então , os que se sujeitam acabam cobrando seu preço... né João? o Peter Pan sem partido não te leva pra casa? Vai de Zica manooooooo.

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    1. Sempre fui. Durante quase toda a faculdade eu andei de bike todos os dias. Abraço, manooooooo.

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  13. Por acaso vc quer mandar? Se candidata seu Zé Pinguela.

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    1. Mandar? Eu não.
      Quero participar da construção de uma cidade democrática e justa.
      Não esquece de votar em mim, bele?

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  14. Explica este trecho do seu texto :

    "Outro exemplo é a campanha do então candidato a prefeito Udo Döhler, que, perguntado sobre mobilidade urbana, prometeu fazer 300 quilômetros de asfalto. A promessa ainda não foi cumprida, mas, mesmo que fosse, o asfalto é mais uma questão de saúde pública do que de mobilidade. Nesse quesito, poderia ser chamada de anti-mobilidade."

    Como assim "saúde pública" ?

    É anti-mobilidade porque você vê rua asfaltada como algo intrinsecamente ruim ou porque o prefeito não fez o prometido ?

    O que você faria (ou priorizaria) se estivesse na posição de prefeito?

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    1. Malamute, se o asfalto é feito apenas pensando em priorizar o modal carro, é anti-mobilidade. Morar em rua de barro é ruim, a casa enche de areia quando não chove e quando chove é um lamaçal. Isso afeta a saúde e o bem-estar da população, por isso é uma questão de saúde pública.

      O que eu faria? Chamaria a comunidade para discutir políticas públicas e ações de mobilidade urbana, e proporia que desenvolvessemos ideias e projeto que priorizassem o transporte coletivo, de bicicleta e a pé. Há inúmeros exemplos e alguns já citei aqui no site.

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    2. Ha! E se a comunidade escolher o carro ?

      Só porque ônibus é "público" e bicicleta não polui, isso não é garantia que eles sejam as melhores soluções de mobilidade em todos os casos.

      Ainda dá para perceber o viés de que o carro é o "inimigo a ser combatido" e isso está errado.

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  15. Cara, tanta gente que veio jogar pedra "porque é pagar pra pinguço". Devem ser esses mesmos cheios de si que enchem a cara e vem fazer merda de carro na rua. Cansada de ver gente batendo carro, colocando pessoas em risco e destruindo o patrimônio público com seu carrinho "batalhado". Se vocês não querem dar transporte para pessoas que estão na rua por N motivos (que não são da sua conta), ao menos pense nos trabalhadores que precisam ficar até tarde em vários setores. Inclusive atendendo no bar e restaurante que você quer ir e não quer deixar que as pessoas de bem, que não querem ter uma máquina de poluição e destruição. As pessoas tem direito de ir e vir, a retirada de.um serviço básico (e caríssimo hoje) vai contra esse direito. Ninguém deve ter mais direito que o outro só porque é mais privilegiado.

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