terça-feira, 31 de outubro de 2017

Fodão



POR SANDRO SCHMIDT

Pré-sal: Temer amputa o Brasil e hipoteca o futuro dos brasileiros

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Michel Temer comemorou o resultado dos leilões para a exploração dos campos de petróleo do pré-sal, realizados na semana passada. O presidente disse que o país agora entra num novo ciclo de crescimento econômico e, ao mesmo tempo, acenou com a criação de 500 mil novos empregos. O negócio garantiu ao governo uma arrecadação de 6,15 bilhões de reais em bônus (abaixo do esperado). Michel Temer tenta passar a ideia de que a entrega do pré-sal aos estrangeiros foi um negocião.

Só que logo a seguir a revista “Exame” tratou de jogar água no chope de Temer, com uma manchete até irônica: “pré-sal arrecada 1/5 do que Temer gastou para escapar de denúncia”. Segundo a revista, a grana que entra para os cofres públicos cobre parte ínfima do buraco financeiro. Não dá para comemorar, claro. Mas o que está em jogo não são os números. É o entreguismo. A corja do golpe está a entregar o Brasil de bandeja. E os brasileiros permanecem em estado de catatonia. 

Entreguismo é a palavra do momento. É possível que muitos não saibam, mas há muito tempo a expressão é vista como um conceito ideológico, com repercussões nos planos político, social e econômico. O entreguismo é um mal do tal terceiro mundo e consiste na entrega das riquezas nacionais para a exploração de outros países. Gente com outros interesses. A desnacionalização de certos setores estratégicos para as economias nacionais faz parte da estratégia. É a tragédia de um passado colonial que nunca acaba.

A entrega do pré-sal põe a nu a lógica do entreguismo. Deixa claro que as elites lesa-pátria estão do lado dos estrangeiros. Temer e a sua catrefa podem insistir nessa tecla, mas nenhum negócio é aceitável se representa um golpe na soberania nacional. E quem ainda tem na memória o escandaloso processo de privatização da Vale do Rio Doce sabe do que estamos a tratar: uma das empresas mais valiosas do patrimônio público é vendida a preço de banana. Mas logo a seguir não pára de dar lucro aos compradores.

Mas não se ouve uma única panela. Porque muitos brasileiros, em especial a classe média, vivem o delírio de um estado mínimo e um pretenso liberalismo. O problema é que a maioria não faz a mínima ideia do que está a falar. E nem percebe que está a ser envolvida por um tipo de “ideologia”. Por quê? Porque o discurso, feito a partir da colagem de clichês surrados, é fácil de absorver. Tão fácil que até os analfabetos mirins do MBL, por exemplo, conseguem passar por inteligentes.

O país está nas mãos de gente disposta a entregar os anéis, mas também os dedos. Não se iludam, porque não estamos a falar de estratégias políticas ou econômicas. Estamos, isto sim, a tratar de simples entreguismo, autênticos crimes de lesa-pátria. Há quem não consiga enxergar, mas quando o “gigante acordar” a sério vai ver um Brasil amputado nas suas riquezas. E com o futuro dos brasileiros hipotecado. Eis a ironia: quem alertou para a sacanagem foi tachado de “petralha, bolivariano, esquerdopata”. Mas quem avisa...

É a dança da chuva.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Economizar? Ah ah ah. O pessoal da "gestón" está de brincadeira...



POR JORDI CASTAN
Dizem que uma imagem vale por mil palavras. Então, hoje temos aqui um texto quase do tamanho de "Os Lusíadas". Sei que a leitura pode ficar enfadonha para alguns, mas escutar as queixas constantes sobre a falta de dinheiro e a falta de gestão já ficou chato. Assim, nada melhor para mostrar que não há mesmo é gestão, porque há dinheiro para jogar fora. Podem até achar que não há vergonha. Eu acho que há. Mas esses que ai estão nunca a usaram. 



Ah! Não esqueça de pagar todos seus impostos e taxas direitinho, porque o "bicho" está sempre esfomeado e quer mais dinheiro para seguir gastando. Da maneira que você viu nestas imagens...


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Canal 100 era nota 10

POR ALEXANDRE CAMARGO
“Que bonito é/as bandeiras tremulando/a torcida delirando/vendo a rede balançar”. O pessoal com mais tempo de janela já sacou que estou falando do Canal 100, de Carlos Niemeyer. Era uma atração à parte no cinema. Antes de começar o filme, vinha uma espécie de telejornal. O Canal 100 também falava de outros temas, mas a galera queria ver eram as crônicas de futebol, quase sempre jogos de Rio de Janeiro ou São Paulo.

Uma coisa era certa. Mesmo que o filme em cartaz fosse uma porcaria, só ver o Canal 100 era a garantia de que o espectador não tinha jogado dinheiro fora. Quando aparecia a vinheta do programa e a tela ficava cheia com aquelas luzes “estouradas”, parecendo fogos de artifício, era sinal de que vinha coisa boa.

No ar desde os anos 50, o Canal 100 teve os seus momentos altos nas décadas seguintes e desapareceu no início deste século. Foi tempo suficiente para moldar as referências visuais de gerações – em especial cinquentões como eu – que aprenderam a ver os jogos em película de cinema, com a câmara ao nível do gramado e com os jogadores em planos fechados. Um leve slow motion era a marca do programa.

E quem não lembra do “tananan nananan nananan nananan”, a música que acompanhava as jogadas? O autor foi Luiz Bandeira, mas quando foi lançada, em 1956, com o nome de “Na Cadência do Samba”, a música não teve sucesso. Mas tudo mudou quando o tema foi escolhido por Carlinhos Niemeyer para prefixo e fundo musical do Canal 100. O sucesso foi estrondoso. E a música foi rebatizada para “Que Bonito É”.

Tudo passa. E o Canal 100 passou. Mas não sem deixar marcas na vida de gerações e gerações, que viram, nas telas dos cinemas, alguns dos momentos mais bonitos da história do futebol brasileiro. E não podemos esquecer dos locutores que narravam os resumos dos jogos. Só tinha fera. Destaque para o conhecido Cid Moreira, então em começo de carreira. Bons tempos.

Alexandre Camargo é especialista em Gestão de Qualidade, vive em Florianópolis e torce pelo Flamengo

500 anos de Lutero. E o mundo ainda necessita de uma nova Reforma

POR DOMINGOS MIRANDA
Há 500 anos, um monge agostiniano pregou 95 teses contra a venda de indulgências pelo papa na porta da igreja do castelo de Wittenberg, na Alemanha. Com isso deu  início a uma transformação que mexeu com o mundo ocidental, da mesma maneira que aconteceu com a Revolução Francesa e a Revolução Russa séculos mais tarde.

A Reforma Protestante, iniciada por Martinho Lutero, causou uma fratura no poder da Igreja Católica, até então a autocracia mais poderosa do mundo, capaz de destituir reis e executar quem discordasse de seus cânones. A fagulha que causou este incêndio começou com um protesto contra a corrupção na Igreja, mas em pouco tempo se alastrou para os campos políticos tendo como bandeira a reforma da fé.

A corrupção é uma praga que sempre existiu na sociedade e infectou enormemente a Igreja Católica nos séculos 15 e 16. Os papas criaram a venda de indulgências para arrecadar fundos para a construção da Basílica de São Pedro. Quem pagasse uma certa quantia em dinheiro ficaria perdoado de seus pecados. Isso gerou abusos e revolta e levou o monge Martinho Lutero a contestar esta prática baseado em textos bíblicos.

Como era de esperar, o papa Leão X determinou a ida de Lutero até o Vaticano, de onde teria poucas chances de voltar vivo. No entanto, os príncipes alemães, que também estavam descontentes com a intervenção da cúpula do Vaticano em seus territórios, deram proteção ao reformador. A partir daí o movimento se espalhou por quase toda a Europa, gerando guerras fratricidas.

A nova fé, que lutava contra os abusos da Igreja Católica, mais tarde também entraria para o caminho da intolerância. Um caso bem emblemático foi o do médico e teólogo espanhol Miguel Servet. Ele fugiu da Espanha porque havia sido condenado à morte pela Inquisição e se refugiou em Genebra, reduto de um outro líder reformador, Calvino. Mas os escritos de Servet também enfureceram os calvinistas, que o mandaram para a fogueira, em 27 de outubro de 1553. Depois de carnificinas praticadas por católicos e protestantes, os dois lados decidiram manter uma convivência mais harmônica.

A Reforma obrigou a Igreja Católica a alterar suas práticas mais abusivas para evitar a perda de fiéis. Nos países sob domínio dos protestantes havia maior tolerância e era possível a divergência de ideias sem o risco de acabar no cárcere. Os Estados Unidos, colonizados por evangélicos puritanos, deram um passo inimaginável na época da independência: criaram o primeiro Estado laico. Tal medida, ao invés de enfraquecer a religião, permitiu o desabrochar de diferentes igrejas por todo o território.

Joinville é uma cidade colonizada por luteranos e, diferentemente do restante do Brasil, a Igreja Católica não conseguiu impor na região a sua dura legislação canônica. Por isso, aqui havia um espírito tolerante entre as religiões cristãs. O ecumenismo, apregoado pelo Concílio Vaticano II, na década de 60,  foi colocado em prática na Cidade das Flores desde o século 19.

O pastor Gottfried Brakemeier, ex-presidente da Federação Luterana Mundial, afirma que a “reforma” é uma necessidade global: “Há fenômenos angustiantes exigindo uma radical mudança de rumo. Sem incisivas reformas na economia, na política, na mentalidade da era dita pós-moderna está ameaçado o futuro da humanidade”. Diferentemente do que pensam muitos pastores atualmente, a rebeldia continua sendo necessária para que as injustiças e abusos sejam abolidos. Lutero deu um exemplo para a humanidade.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Milhões de brasileiros voltam à pobreza. E o que diz a imprensa?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
“Milhões retornam à pobreza no Brasil, destruindo uma década do ‘boom’”. O título é de uma matéria publicada esta semana pelo jornal norte-americano The Washington Post. O texto faz um relato do Brasil atual e destaca algumas histórias de miséria. É o caso de Simone Batista, que deixou de receber o Bolsa Família e não consegue pedir uma revisão do processo por falta de dinheiro para o ônibus. Simone aparece na foto com o filho de colo.

A imprensa internacional tem sido crítica com o Brasil. O governo de Michel Temer é visto pelo mundo como golpista e os políticos brasileiros são apresentados como aberrantes, meios apalhaçados. Aliás, quem viu o espetáculo grotesco da votação do impeachment não pode pensar outra coisa. No texto desta semana, o The Washington Post fala do desperdício de uma década de crescimento, o “boom” da economia entre 2004 e 2014.

Qual a diferença entre a imprensa nacional e internacional? Há muito a analisar, mas fiquemos pelo mais evidente. Os meios de comunicação estrangeiros fazem jornalismo e trabalham para ser projetos editoriais de sucesso. Os meios brasileiros apostam em ser um poder capaz de interferir nos destinos do país. E, a partir daí, obter os dividendos necessários à sobrevivência financeira.

Muito é dito, pouco é lido. A imprensa internacional publica em outras línguas e, como a maioria dos brasileiros é monoglota, a mensagem acaba por passar batida. Quer dizer, o povo brasileiro fica refém da informação prestada pelos meios nacionais, quem vivem sob a lógica de, sempre que possível, dar uma forcinha para a canalha que se apropriou do poder em Brasília (com o supremo, com tudo). Querem uma comparação?

Diz o Washington Post. “O Banco Mundial estima que cerca de 28,6 milhões de brasileiros saíram da pobreza entre 2004 e 2014. Mas o banco estima que, desde o início de 2016 até ao final deste ano, de 2,5 a 3,6 milhões caíram abaixo da linha de pobreza, o que representa 140 brasileiros reais por mês, cerca de US$ 44 às taxas de câmbio atuais”. O jornal usa uma fonte declarada e credível: o Banco Mundial.

Diz o Estadão. “A ausência de manifestações, como as contra Dilma, pode ser entendida como sinal de que o processo de recuperação já é sentido pela população”. Como? O texto, é óbvio, resulta de um achismo proposital (o condicional “pode”). Ora, a intenção é passar a ideia de que as coisas estão no caminho certo. Enquanto isso, milhões de miseráveis como Simone Batista parecem não existir. Os miseráveis simplesmente não importam...

É a dança da chuva.

À esquerda, o The Washington Post. À direita, o Estadão. Formas diferentes de ver os fatos

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Pessoas com dedos grandes e cabeça pequena. Pirou?


POR LEO VORTIS
Quando era pequeno, olhava com muita admiração para as pessoas que tinham o tal “conhecimento enciclopédico”. Você já imaginou quanta informação é preciso armazenar no cérebro para chegar a ter tanto conhecimento? Quando olhava para a velhinha enciclopédia que os meus pais insistiam em manter na estante, a minha admiração aumentava ainda mais. Eita! Era muita coisa para memorizar.

Naqueles tempos não sabia da expressão homo encyclopedie (que só conheci depois de adulto, ao ler um texto sobre memória eidética). Meu, no meu olhar de moleque, era difícil imaginar que uma pessoa pudesse tantos livros dentro da cabeça. O cara devia saber tudo sobre tudo. Sobre o universo e arredores. Um cara assim devia ser imbatível num debate. Mas será que teria lugar no mundo de hoje, em que tudo cabe num simples chip e a ideia de debate caiu em desuso?

Hoje o cara não teria serventia. É uma pena. Porque essa pessoa certamente era capaz de interpretar a informação. Bem ao contrário do que acontece neste tempo, quando temos o fenômeno da “overload information”: a pessoa é sobrecarregada informação mas não sabe o que fazer com ela. Talvez fosse necessário atualizar o conceito para “conhecimento wikipédico”. Só que não é preciso armazenar coisa alguma, porque basta usar os dedos para pesquisar. 

Há uma clara diferença entre o homo encyclopedie e o homo wikipedie (se é permitira a analogia). Porque hoje em dia está tudo na Wikipedia. As pessoas estão a trocar o cérebro pelos dedos. Há uma enorme incapacidade de interpretar informação, pois a internet funciona com uma espécie de extensão da memória. E a cada dia a gente vai se tornando ainda mais incapaz de gerir a vastíssima informação disponível na rede.

Um dia destes li um artigo científico que era meio darwiniano, porque falava em evolução. O texto tinha um palpite meio maluco. A evolução para o homo wikipedie pode produzir mudanças físicas nos seres humanos: gente com cabeça pequena, porque não precisa do cérebro, mas com dedos enormes, para poder manipular os dispositivos eletrônicos. Caraca! Não riam... Aliás, o texto, apesar de estranho, estava bom construído. 

Fala sério. Por essa linha,  é possível um futuro orwelliano, do ponto de vista político. Uma sociedade dividida entre senhores, no topo, e tecnodependentes, na base da sociedade. Na torre de marfim do poder, um grupo reduzido de seres que ainda sabem pensar e produzem as evoluções tecnológicas. Na base da sociedade, uma massa ignara formada por consumidores de tecnologia e cuja vida gira em torno de coisas como o smartphone.

Pirou na batatinha? Talvez. Nem parece estar tão longe assim. Não vamos esquecer que a ficção é apenas a antessala da realidade.






segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Cercar o jardim do MAJ é a solução?

POR JORDI CASTAN
Há um movimento a favor de fechar, com grade, o jardim do MAJ - Museu de Arte de Joinville. Um grupo de vizinhos do museu tem se manifestado abertamente contrário à forma como o jardim está sendo usado por grupos de jovens. Há, inclusive, acusações fortes de uso e comercialização de drogas e de consumo de bebidas alcoólicas. A única proposta apresentada até agora é a de fechar o jardim com uma grade. Em outras palavras, empurrar o problema para outro lado. Ou seja, esconder o problema em baixo do tapete.
O mau uso dos espaços públicos é um problema mais complexo e mais profundo do que poderia parecer à primeira vista. A coisa vai além, muito além da gestão destes espaços, da sua manutenção ou do seu fechamento. Espaços públicos são um problema de educação, de segurança, de cultura, de saúde pública e, principalmente, de gestão. Problemas complexos não se resolvem de forma simplória. Exigem uma abordagem multidisciplinar e o diagnóstico correto. Só assim será possível identificar corretamente o problema central e poder avaliar as causas e os efeitos.
A proposta de gradear, colocar concertinas e câmaras de monitoramento, como a forma de resolver os problemas de segurança, mostra uma superficialidade estulta dos que a defendem. Na verdade, os problemas quando não se resolvem ou pioram ou mudam de lugar. Se não houver uma ação articulada, estruturada e bem planejada para a resolução, o problema do MAJ se transferirá para outras áreas próximas, como o Parque das Aguas, o Cemitério do Imigrante ou para a Rua das Palmeiras, para citar outras áreas centrais que poderiam ser ocupadas.
Não é possível aplicar em toda Joinville a lógica que o cidadão individual aplica na sua residência. Não há como gradear todos os espaços públicos, porque os espaços públicos devem ser geridos de forma democrática. E, claro, devem estar abertos a todos. Esta é a obrigação e responsabilidade do poder público. O desafio é olhar o problema de forma global, fugir das soluções fáceis, resultado de análises superficiais. E para isso é preciso enxergar toda a cidade de forma holística, envolvendo a todos e não só construir grades que nada resolvem. 
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sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Maledetto Rossi!!!!!!!

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Dizem que todo ser humano tem direito ao perdão. Todos, menos o Paolo Rossi. Para mim ele merecia ser julgado – e condenado – pelo crime de lesa-beleza do futebol. E vou mais longe. A punição devia ser uma tortura inspirada nestes novos tempos: o cara fechado num quarto escuro onde, a cada 30 segundos, era forçado a ouvir um coro de vuvuzelas.

O leitor que gosta do futebol bonito sabe do que estou a falar. Tudo aconteceu no dia 5 de Julho de 1982, no Estádio de Sarriá, num verão de Barcelona. A seleção brasileira, dirigida por Telê Santana, era a sensação da Copa do Mundo. E tinha uma qualidade rara. Além de ganhar os jogos de forma irretocável, ainda dava autênticos recitais de futebol.

O time brasileiro jogava por música (a gente nem ligava se o Serginho Chulapa e o Valdir Peres destoavam). E de forma tão afinada que mesmo os torcedores dos outros países pensavam que o campeão já estava encontrado. Quando, naquele dia quente, as equipes do Brasil e da Itália entraram em campo, ninguém tinha dúvidas de que seria apenas para cumprir tabela. Os italianos, mal das pernas, não eram páreo para aquele timaço.

E eis que surge esse Paolo Rossi para rasgar o script. O cara fez três gols e a Itália venceu por 3 a 2. Deve ter sido um dos dias mais tristes que eu vi no Brasil. Quem viveu o momento sabe como doeu. Não por acaso, no jogo seguinte da Itália, apareceu na torcida italiana uma faixa a dizer algo assim: “Rapazes, vocês destruíram um mito”.

Tenho uma memória firme desse dia porque fazia dois meses que era repórter de A Notícia (ainda estudante de engenharia) e lembro que a redação parecia um sepulcro. Havia muitos marmanjos, jornalistas com longa experiência, com os olhos vermelhos e marejados. E ninguém com disposição para trabalhar. Então, coube a mim fazer a “repercussão” da derrota nas ruas de Joinville. Mas, como diz a música, naquele dia “a cidade apavorada, se quedou paralisada”.

Maledetto Rossi.




Professor, um herói desprezado pela sociedade

POR DOMINGOS MIRANDA
O poeta e dramaturgo alemão Brecht, escreveu em sua peça Galileu Galilei: “Pobre do povo que precisa de herói”. E, no início de outubro, mês das crianças e dos professores, morreu heroicamente, na cidade mineira de Janaúba, a professora Helley Abreu Batista, de 43 anos. Ela lecionava numa creche municipal e lutou bravamente com o vigia que colocou fogo em uma sala de aula lotada de crianças. Mesmo com o corpo em chamas, a professora se esforçou para tirar as vítimas do meio do incêndio. Helley teve 90% do corpo queimado e dez horas depois morreu no hospital. Era casada e deixou três filhos: de um, 11 e 13 anos.

Como sempre acontece nestas horas, a tragédia fez com que as autoridades enaltecessem, com razão, aquela professora reconhecida por suas qualidades profissionais e com uma coragem e solidariedade inimagináveis. Mas, neste país onde o que mais se destaca é o farisaísmo e a hipocrisia, há muito discurso e poucas medidas práticas. Basta ver que o piso nacional dos professores, em torno de R$ 2 mil, não é respeitado na maioria dos Estados. Por outro lado, juízes e procuradores formam uma casta de marajás que recebem até R$ 100 mil por mês, muito acima do piso constitucional. Utilizam os célebres penduricalhos para burlar a lei.

A sociedade, em grande parte formada por zumbis que não sabem fazer respeitar a cidadania, permite que tais aberrações continuem existindo como se não houvesse nada de anormal. Os mesmos governantes que alegam não ter recursos para pagar o piso dos professores, se calam diante dos salários estratosféricos dos juízes. O presidente Temer, no ano passado, sancionou um reajuste de 57% para o judiciário, uma categoria com os melhores salários do país. Quando há vontade política a coisa muda de figura. O Maranhão, um dos Estados mais pobres do Brasil e administrado por um governador comunista, decidiu pagar os melhores salários para os professores da rede estadual de ensino, com piso de R$ 5 mil.

Em outros países os professores são respeitados e valorizados, mas aqui, seguindo uma tradição histórica de nunca dar destaque à educação, eles são tratados como profissionais de segunda classe. Os mestres são desrespeitados pelo governo, pelos pais e pelos alunos. Inúmeras vezes os estudantes agridem os mestres e fica tudo por isso mesmo, em um silêncio vergonhoso do restante da população.

O médico e escritor Augusto Cury botou o dedo nesta ferida. Escreveu: “Os professores são heróis anônimos, fazem um trabalho clandestino. Eles semeiam onde ninguém vê, nos bastidores da mente. Aqueles que colhem os frutos dessas sementes raramente se lembram da sua origem, do labor dos que as plantaram. Ser um mestre é exercer um dos mais dignos papéis intelectuais da sociedade, embora um dos menos reconhecidos. Os alunos que não conseguem avaliar a importância dos seus mestres na construção da inteligência nunca conseguirão ser mestres na sinuosa arte de viver”.

Se a sociedade quer valorizar os professores, cobre dos seus governantes mais respeito a estes profissionais e exijam salários dignos para eles. Este será o primeiro passo para sairmos da indigência moral em que nos encontramos. Palavras duras, mas necessárias.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Temer, o escravo de 594 almas

POR CHARLES HENRIQUE VOOS
Com a infeliz declaração de que "só temos a comemorar", o atual Ministro da Agricultura e empresário do setor de agrotóxicos, Blairo Maggi, explicou o sentimento do governo federal sobre as novas regras que definem a fiscalização do trabalho escravo no Brasil. Mesmo que a Secretária Nacional de Cidadania, Flávia Piovesan, diga que é um "retrocesso inaceitável", não há como negar que o Brasil acabou por regularizar o trabalho escravo. As novas burocracias impostas, e comemoradas pelos grandes empresários urbanos e agrários, praticamente impedem qualquer investigação isenta ou denúncias frutíferas. Trabalhadores nacionais e estrangeiros, do campo e da cidade, especialmente pobres e crianças (crianças!), são os mais atingidos. Estamos pagando um preço quase inimaginável para o sustento de Temer no poder.

O nosso país ainda mantém muitas heranças do período colonial, e a escravidão é uma delas. Os negros possuem um passivo social gigantesco por causa disso, apesar de grande parcela da população negar e ainda acreditar no falso discurso da meritocracia. Ainda sustentamos nossos privilégios nesta lógica de séculos atrás. Por outro lado, os dados sobre trabalho mostram algo que pouco enxergamos: nos últimos dez anos, mais de 1.500 pessoas foram libertadas de condições assim, por todo o Brasil, em média. Para piorar, agora está tudo muito bem regulamentado, mesmo que o governo fale em "novas regras para a fiscalização".



Ocorre que a deturpação de direitos sociais pelo atual governo está virando rotina, especialmente como moeda de troca para o chefe do executivo se livrar de acusações contra o seu nome. Para se livrar do primeiro pedido de Impeachment, patrocinou o Congresso com emendas e medidas provisórias que beneficiaram os representantes setores do agronegócio, das igrejas e outros setores conservadores. Não por acaso, visto que a bancada desses ramos tem uma grande relevância na composição do Congresso. A regularização do trabalho escravo, lembremos, é uma estratégia para compor com a segunda acusação, a qual já tramita pela Câmara.

Sendo assim, temos um presidente que é o verdadeiro escravo, mas de 513 deputados e 81 senadores. Para se manter no poder, atende a todos os interesses de seus donos, nem que, para isso, tenha que cortar os nossos direitos. É uma luta desenfreada para realinhar conservadoramente o país. E ainda faltam a Previdência, bem como outras surpresas desagradáveis que logo virão. Com Supremo, com tudo.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

O que fazer com o golpe?


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Um olhar mais curto permite dizer que o golpe foi um sucesso. Afinal, o objetivo foi alcançado: derrubar Dilma Rousseff e levar os golpistas ao poder. Mas parece que não foi suficiente. Se é fácil tomar o poder, mais difícil é mantê-lo. E é aí que o sol queima o vampiro. Porque vai ficando evidente para os brasileiros, cada vez mais, que o golpe tinha o objetivo de proteger os corruptos. E não o contrário, como foi o discurso da época.

Em pouco mais de um ano, a ideia de que “não foi golpe” caiu de podre. Os “negacionistas” são cada vez mais raros e resumem-se aos amblíopes políticos. Diz a frase surrada que contra os fatos não há argumentos. E os fatos confirmam, no dia a dia, o que qualquer pessoa com dois dedos de testa já sabia e que, aliás, havia sido antecipado na frase do senador Romero Jucá: “tem que mudar o governo para estancar essa sangria”.

Os fatos vêm em catadupa. O mais recente foi protagonizado pelo operador financeiro Lúcio Funaro, que entregou Eduardo Cunha. Segundo a delação premiada, o ex-deputado teria recebido uma verba de R$ 1 milhão para comprar votos pela destituição de Dilma Rousseff. Alguém duvida? A patranha é tão evidente que que os advogados da ex-presidente já anunciaram o pedido de nulidade do processo de impeachment. Deve dar em nada, claro.

O golpe está a está a se esboroar e o atual Executivo é um bom retrato disso. O presidente está refém do próprio golpismo e dos fatos que isso acarreta: enfrenta a falta de credibilidade, é incapaz de convencer da sua legitimidade e, acossado por sérias denúncias de corrupção, tenta negociar a própria sobrevivência. Parece uma comédia, mas na realidade o país vive uma tragédia: o entreguismo tem sido uma marca destes tempos.

O Congresso Nacional, formado em sua maioria por corruptos dispostos a tudo, inclusive salvar o couro de Michel Temer, demonstra não ter escrúpulos. Mas tudo tem um preço, claro. Nem é preciso ir longe. Lembram das denúncias de corrupção no caso das propinas pagas pela JBS? Diz a imprensa que a operação “salva Temer” exigiu cerca de R$ 17 bilhões, em emendas e perdões de dívidas. Dinheiro do bolso de quem?

E por fim temos o Judiciário no fundo do poço. O poder de onde deviam emanar as garantias do estado de direito tornou-se um sorvedouro de dinheiro, um mundo à parte que flutua acima dos cidadãos comuns. O STF, por exemplo, é formado por deuses num Olimpo próprio. Não por acaso perdeu o respeito da população. E o pior: não consegue se livrar do estigma de estar superpolitizado (superpartidarizado, mesmo).

Mas há quem ainda espere pela estocada final: tirar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do caminho das eleições em 2018. Essa seria a segunda parte do golpe: evitar Lula e acabar com o PT. E mesmo que isso viesse a acontecer, ainda assim o golpe seria um fracasso. Porque os golpistas não conseguiram se tornar alternativa para ocupar esse vazio. Foram com muita sede à jugular da nação e com isso fecharam a tampa do próprio caixão.

Enfim, o que o golpe conseguiu foi transformar o país numa imensa distopia. Pobre Brasil.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Hackathon. Ou como a montanha vai parir um rato

POR JORDI CASTAN
A Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável promoveu o encontro "Hackathon Desenhos Urbanos Colaborativos - Desafio Join.Valle". Foi um momento para mostrar ideias criativas que permitam tornar a região central de Joinville mais interessante e humana. Os resultados devem ser apresentados ao prefeito Udo Döhler, em novembro.

O que parecia algo promissor, deu poucos frutos. Não há como não se decepcionar com as propostas apresentadas para revitalizar o centro da cidade. Falta ousadia, criatividade e coragem. Nenhuma das propostas é capaz de olhar para além da mesmice e da mediocridade instaladas no espírito desta Joinville que já foi e não é mais.

Gostaria de discorrer aqui sobre esse lindo exercício de diletantismo, de resultado mais que duvidoso. Propor ideias sem compromisso com a sua execução, sem envolver os atores e sem outro objetivo que discorrer sobre utopias desvinculadas de uma análise metodológica ou de um diagnóstico detalhado é pura perda de tempo.

As propostas divulgadas não passam de uma repetição dos belos projetos policromos e fantasiosos que têm sido apresentados ao longo dos anos. E que nunca tem saído do papel. Aliás, quando eventualmente são implantados se tornam uma caricatura do que tinha sido projetado. Há muitos casos que ajudam a comprovar este fato.

Os parques do Fonplata ou as obras do Rio Morro Alto são dois exemplos. A duplicação da avenida Santos Dumont e as obras de contenção das cheias do Ribeirão Mathias são exemplos mais recentes aos quais poderíamos acrescentar muitos outros, como as intermináveis obras das Ruas São Paulo ou Piratuba.

O estado de abandono de Joinville - e especialmente do centro - é não é o resultado das decisões equivocadas tomadas no passado. Pelo contrário, é mais  resultado das decisões não tomadas ao longo do tempo. Pagamos um preço cada vez mais alto pela inação, pela falta de ação que nesta gestão esta vivendo o seu ápice. A mediocridade é contagiosa. 

Vivemos numa época denominada VICA. Uma época que se caracteriza pela volatilidade de conceitos e valores, pela incerteza e pela complexidade. Uma época em que não há espaço para gestores com uma visão simplória, um tempo em que predomina a ambiguidade. Não ha espaço neste tempo para lideres autoritários, lineares, que se aferram a certezas e ainda acreditam que a terra seja plana.

A incapacidade de pensar a cidade de maneira consistente é a raiz dos males que assolam a Joinville destes tempos. Não espanta, portanto, que isso se reflita em eventos como o Hackathon. É um caso para lembrar o velho adágio: "a montanha vai parir um rato".

Quem tiver interesse em conhecer algumas propostas, clique (aqui) para ler no AN.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Jogar com a camisa 13. Dá sorte ou azar?

POR MARCO CASAGRANDE
Jogador de futebol é supersticioso? Uns dizem que sim, outros que não? Mas o que dizer de uns caras que, sempre que entram em campo, fazem questão de usar o pé direito? Vestir a camisa número 13, então, é motivo de desconfiança. Nos países mais assustadiços com as coisas do outro mundo, os jogadores evitam. Em outras culturas mais racionais, nem tanto.

No Brasil, tem muita gente jurando que o 13 dá azar. Mas também houve quem invertesse essa lógica para dizer que o número dá sorte. Ninguém melhor que Mário Jorge Lobo Zagallo, o ex-jogador e treinador da seleção brasileira, para afirmar que não há azar. Afinal, como jogador ele foi campeão mundial em 1958 e 1962, vestindo a camisa 13.

E temos Pelé. O maior craque brasileiro de todos os tempos tornou a camisa 10 um símbolo. Tanto que durante muito tempo o número era reservado aos craques de qualquer time. O que poucos sabem é que quando estreou pela seleção nacional, em 1957 (um ano antes de ser campeão mundial), Pelé tinha o número 13 às costas. Seria um amuleto?

Aliás, o “rei” Pelé tinha uma admiração especial pelo craque português Eusébio, que sempre considerou um dos maiores jogadores de todos os tempos. O “Pantera Negra”, como era conhecido o moçambicano de nacionalidade portuguesa, foi dono da camisa 10 no seu clube, o Benfica, mas na seleção imortalizou a camisa número 13.

Uma história parecida é a do argentino Mario Kempes. O atacante começou a jogar pela seleção do país vizinho com o número 13. Mas em 1978, quando os argentinos conquistaram a primeira Copa do Mundo, Kempes já usava a mítica camisa 10 alviceleste, a mesma que tempos depois viria a ser de Maradona e Messi.

A lista de jogadores que fizeram sucesso com a camisa 13 é extensa. Entre os casos mais recentes está o brasileiro Maicon, que brilhou na Internazionale de Milão. E o número 13 não é estranho a Daniel Alves, seu contemporâneo de seleção. Outro é o craque alemão Michael Ballack, que usou a camisa nos clubes e na seleção da Alemanha.

E para terminar, uma curiosidade. Na Espanha o número parece ser destinado aos goleiros. É só conferir: Bravo (Barcelona), Oblak (Atlético de Madrid), Keylor Navas (Real Madrid). Podemos lembrar o goleirão Courtois, do Chelsea e da seleção belga, que jogou no Atlético. Outro é o português Beto, que jogou no Sevilha e hoje está na Turquia.

Sorte ou azar? É para quem quiser acreditar.

Pelé, Kempes, Zagallo e Eusébio: todos têm uma história com a camisa 13







Marco Casagrande é estudante de geologia em Rio Claro,
torce pelo São Paulo e é a favor
de entrar com o pé direito em campo.


A mídia ajudou no linchamento público de Cancellier

POR DOMINGOS MIRANDA
A morte do reitor Luiz Carlos Cancellier, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no dia 2 de outubro, causou repercussão em toda a sociedade e por isso merece um novo comentário. A imprensa, que teve papel de destaque no linchamento público, sente-se incomodada e começa a fazer uma autocrítica. Como é de conhecimento geral, Cancellier foi levado preso pelos policiais federais, despido, invadido em suas partes íntimas e algemado nos pés e mãos numa cela junto com presos comuns. Ele não era acusado, nem sentenciado, mas apenas investigado por um suposto desvio de dinheiro na UFSC na gestão passada. Mas a mídia vendeu a notícia repassada pela polícia e destruiu a reputação do reitor, adquirida ao longo de quatro décadas.

No dia 8 de outubro a Folha de S. Paulo publicou artigo da ombudsman Paula Cesarino Costa, sob o título “Jornalismo de ouvidos moucos”, criticando a cobertura da prisão e morte  de Cancellier. São suas palavras: “Em uma versão eletrônica, a reportagem de setembro tem hoje um sinal de Erramos, produzido 23 dias depois de sua publicação: ‘A reportagem deixou de informar que o reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, era investigado por suspeita de interferir na apuração sobre o desvio de recursos na universidade, e não pelo desvio em si’. A admissão do erro foi direto, mas insuficiente e demorada”.

A ombudsman revela que o jornal não tem correspondente em Florianópolis e por isso que as informações da primeira reportagem foram apuradas por telefone e e-mail da polícia. E ressalta: “O que interessa é refletir sobre a maneira como a mídia tem lidado com operações policiais que buscam holofotes em investigações ainda em andamento. (...) Em alguns momentos, é preciso ter coragem para publicar. Em outros, a ousadia de não publicar”.

No mesmo dia e no mesmo jornal, o experiente jornalista Elio Gaspari, autor de cinco livros sobre a ditadura militar, abordava em sua coluna dominical o caso Cancellier, com pesadas críticas. “Nos dias de hoje, proibir um reitor afastado de pisar na universidade serve apenas para humilhá-lo. Vale lembrar que a ditadura nunca proibiu os professores que cassou de entrar nas escolas.” Dias depois veio à tona mais uma arbitrariedade: a justiça proibiu, por quatro vezes, o reitor de receber ajuda espiritual. Gaspari termina seu artigo dizendo: “O reitor Cancellier tornou-se um desencanto para o Brasil da Lava Jato”.

Outro ícone do jornalismo, Kennedy Alencar, comentou em seu programa da CBN: “Esses funcionários públicos têm poder demais para usá-lo sem questionamento da sociedade. Não gostam de controle externo, algo necessário numa democracia. A imprensa, que tem o dever de ser crítica do poder, de fiscalizar os políticos, precisa ter a mesma atitude em relação a policiais, promotores e juízes. O jornalismo não pode ser correia de transmissão da polícia nem do Ministério Público. Tampouco do Judiciário”.

O direito à dignidade foi uma conquista da democracia. Autoridades não podem agir ao seu próprio arbítrio, desrespeitando normas, quando fazem suas investigações. Com a Lava Jato, por causa de uma popularidade adquirida e que começa a declinar, muitos juízes, procuradores e delegados começaram a atuar como verdadeiros déspotas, sem prestar contas a ninguém. A nota que as associações de servidores públicos que atuaram neste caso deram à sociedade foi um escárnio à população.

Diante de tantos abusos, há urgência na aprovação do  Projeto de Lei 7596/17, que tramita na Câmara desde 10 de maio e já foi aprovado pelo Senado e que define os crimes de abuso de autoridade cometidos por juízes e procuradores. O senador Roberto Requião batizou a lei que deverá entrar em vigor de Luiz Carlos Cancellier. Em discurso, Requião falou: “Deus meu, que a morte do reitor Cancellier seja o freio das arbitrariedades e do excesso das corporações que agem à margem da lei. Amém!”.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Dove tira campanha do ar. Foi racismo?

POR LEO VORTIS
O mundo digital facilita o cotidiano. Mas também complica a vida para as marcas, que precisam estar cada vez mais atentas ao que publicam. Com a internet, tudo tem maior visibilidade. A semana foi marcada pelos protestos e acusações de racismo contra a Dove por causa de um filme exibido no Facebook, nos Estados Unidos. 

Numa pela feita para as redes sociais, uma mulher negra tira uma camiseta marrom e, no seu lugar, aparece outra mulher, de pele e camisa claras. O filme não a acaba aqui, mas a confusão é apenas sobre esta parte. Porque há um outro take em que a mulher branca tira a camisa e, no seu lugar, aparece outra mulher, mas de traços asiáticos.

Algumas pessoas não veem racismo. Dizem que os publicitários apenas marcaram touca na  montagem do filme. E contra-argumentam. Uma mulher de pele escura sendo substituída por outra de pele clara é racismo, mas uma mulher de pele clara substituída por outra de pele asiática (mais escura) não gera controvérsia.

O fato é que as reações negativas dominaram as redes sociais. Os mais exaltados dizem que é claramente um anúncio racista, uma vez que a mulher negra estaria sendo “branqueada”. As críticas ganharam tamanho eco que a marca foi obrigada a emitir uma nota pedindo desculpas por ofensas causadas. E retirou o post da sua timeline.

O problema é que o fabricante tem um historial nesse campo. Há poucos anos, a marca passou por situação semelhante, quando publicou um anúncio com três mulheres, mas posicionou a mulher de pele escura sob a palavra “antes” e a de pele clara sob a palavra “depois”. Deu rolo. E a marca também teve que pedir desculpas.

E se fosse num país pobre, será que isso aconteceria? Há anos o mesmo fabricante tem um produto chamado Fair & Lovely, comercializado na Índia, que branqueia a pele. Na comunicação, a marca associa o sucesso à cor da pele. Quanto mais clara, melhor. O Fair & Lovely existe há anos e até hoje os países ocidentais nunca se queixaram. O segundo filme (abaixo) é bem claro.



terça-feira, 10 de outubro de 2017

Quem é o dono do "movimento das bichinhas livres"?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Fernando Holiday: “Agora tem o tarado por travesti achando que é dono do MBL. Pelo amor de Deus! Volta lá para o seu filme pornô. O que que é isso? Falta de vergonha na cara, Frota”.
Alexandre Frota: “Tarado eu sou, sim. Mas não por essa sua bundinha. Entendeu, essa sua bundinha é seca. Fraca. Se boto você de quatro, você não aguenta. Você morre ali mesmo”.

É oficial. O Brasil está mesmo no fundo do poço. Não sei se esse era o plano dos golpistas, que não mediram esforços para levar essa gente para o círculo do poder. Mas o certo é que  a democracia sangra de morte no Brasil destes dias. Já não estamos a falar apenas de obscurantismo, mas no mais nefasto momento da história recente do país. A diatribe entre esses dois nomes “relevantes” da direita brasileira é a prova dessa agonia.

É fácil perceber do que se trata, mas se o leitor e a leitora ainda não sabem a origem dessa baixaria, estamos em meio a uma disputa para ver quem é o dono do MBL - Movimento Brasil Livre. O nível do debate - lembremos que Frota ameaça matar Holiday à pirocada - nem pode ser considerado rasteiro. É inqualificável. É indizível. É vexatório. Pobre Brasil, que sangra lentamente nas mãos destes boçais.

Qual é o butim em causa? O MBL é identificado por ser uma fábrica de mentiras (as mais escabrosas), por ter sustentação financeira a partir de fontes duvidosas e por estar ligado a partidos de direita, de forma dissimulada. No entanto, o maior problema para a sociedade é o fato de ser uma pandilha de analfabetos mirins que consegue ser seguida por analfabetos políticos adultos. É o retrato da sanidade mental do país. 

E a gritaria continua. De um lado temos um bando de moleques desvairados e ignorantes que dizem ser os donos do MBL. Do outro temos um ator pornô desvairado e ignorante que diz ser o dono do MBL (“movimento das bichinhas livres”, nas palavras do próprio Frota). A assistir tudo isso está um país abúlico, uma sociedade tão habituada à lama que já nem se revolta por ser emporcalhada.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Poder branco.


A fábrica de multas está de olho no seu bolso


POR JORDI CASTAN
As informações mais recentes mostram que a receita com as infrações de trânsito continua aumentando. Joinville quebra recordes de arrecadação e o trânsito segue ruim e inseguro. As ações de prevenção, sinalização e educação são praticamente inexistentes. O dinheiro some.

Provavelmente, o bando de estultos e áulicos de sempre já vai retomar o discurso que não há fábrica de multas, que a culpa é unicamente dos motoristas que não cumprem a legislação. Esse é um discurso fácil e tendencioso, mas um discurso que, no caso de Joinville, é fácil de desconstruir.

Que tal começar pelos agentes de trânsito? Primeiro para lembrar que, como não há um orçamento específico para pagar os salários, é necessário contar com os recursos provenientes das infrações para cobrir a folha. Desta forma, os agentes precisam multar para assegurar os próprios salários ao final de mês. E se estabelece um vínculo perverso que penaliza o motorista.


Semana passada, por exemplo, presenciei um fato surpreendente em Balneário Camboriú. Agentes de trânsito no meio da rua, com apito na boca dirigindo o trânsito. O fato aqui em Joinville seria inédito aqui agentes só são vistos escondidos e com um bloco na mão. Fazer fluir o trânsito em horários de pico nos gargalos de sempre não parece estar entre suas atribuições.

Lombadas eletrônicas não melhoram a segurança e só servem para multar. Vamos a outro exemplo. Na rua Prefeito Helmut Fallgatter há dois sinaleiros acionados por botoeira e duas lombadas eletrônicas de 40 km/h, mais um pardal de 60 km/h. Poderíamos iniciar uma discussão sobre os estudos técnicos, 
sobre função e utilidade, que embasaram a decisão de instalar estes equipamentos todos. Para começar, em nenhum momento a Prefeitura apresentou os pontos críticos, aqueles em que há um maior numero de acidentes e de acidentes mais graves. Nem para esta rua nem para nenhuma outra.

Apresentar esta informação inexistente com a localização de radares, lombadas eletrônicas e outros equipamentos de fiscalização e controle permitiria uma maior transparência e controle da sociedade. Publicar regularmente dados estatísticos, mostrando a redução do número de acidentes com mortes ou feridos e evidenciar a relação entre os equipamentos instalados e a melhoria da segurança, também seria uma informação relevante. Lamentavelmente tampouco está disponível. Faltando a primeira, a segunda é puro achismo. A única informação verificável é o aumento da arrecadação.

Mas voltemos à rua Helmut Fallgatter. É o caso que usarei como referência para mostrar que o objetivo do poder público é unicamente o de arrecadar. Iludem-se o que pensam que é  para aumentar a segurança, principalmente dos pedestres, que são o elemento mais vulnerável quando o tema é trânsito.

Em frente ao terminal urbano Tupy e a Escola Bahkita, foram instalados sinaleiros de botoeira. Bom lembrar que ambos têm mais de 20 anos de instalados e o seu funcionamento é simples. Tão simples que tanto uma criança de 5 anos como um agente de trânsito conseguem compreender. O sinaleiro está permanentemente em verde e quando um pedestre precisa atravessar a rua, basta premir a botoeira, que o sinal fica vermelho para os veículos e verde para os pedestres.


Simples de vez, os veículos detêm-se completamente e os pedestres atravessam. O resto do tempo, fora dos horários de escola, nos feriados, a noite, não atrapalham o fluxo normal de veículos que podem manter a velocidade estabelecida para essa rua de 60 km/h. Evidentemente que se algum motorista furar o sinal vermelho deve ser multado e essa é uma infração gravíssima.

Frente a Escola Presidente Medici e a Igreja do Evangelho Quadrangular foram instaladas duas lombadas eletrônicas de 40 km/h. Os veículos não precisam deter-se como no caso dos sinaleiros de botoeira e elas ficam la multando dia e noite, haja culto ou não, haja aula ou seja período de ferias escolares. Penalizando quem passa a mais de 40 km/h numa rua que tem velocidade prevista de 60 km/h.


Definir velocidades diferentes para uma mesma rua é uma forma de confundir o motorista. Instalar lombadas eletrônicas em lugar de optar por sinaleiros de botoeira tem um único objetivo: arrecadar mais. Porque lombadas não são mais seguras para os pedestres.


Ainda é oportuno lembrar que as faixas de pedestres frente aos quatro pontos da rua mantêm o padrão da maioria das ruas de Joinville. Ou seja, desapareceram e, quando pintadas, não duram mais de 4 ou 5 meses, mas isso tampouco importa.

Mas haverá ainda quem insistira no discurso de que não há fábrica de multas?

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Raul, Jorge Campos e as camisas coloridas dos goleiros

POR MARCELA DOMINGUES
Quando ainda estava na faculdade, um professor de design lançou um desafio para os alunos. Um trabalho sobre os uniformes de futebol. Comecei a fazer a pesquisa e, por acaso, deparei com casos interessantes. Um deles era a figura do goleiro mexicano Jorge Campos, que jogava com uniformes extravagantes. E achei que o tema podia ficar apenas nos goleiros, porque havia muita coisa interessante.

Mesmo estudando na Espanha, decidi começar a pesquisa pelo Brasil. Não havia muitos dados, mas o caso do goleiro Raul Plassmann pareceu merecer uma análise. Conta a história que, quando foi para o Cruzeiro, o jogador não tinha uma camisa que lhe servisse. Como não queria ficar desconfortável (e nem com a barriga de fora) pediu emprestada uma camisa qualquer. E só havia uma amarela.

Parece que deu sorte no jogo e então ele passou a jogar sempre com camisas dessa cor. Não sem enfrentar a gozação das torcidas, que, num tempo de machismo ainda mais evidente, viam algo de “efeminado” na escolha. Naqueles tempos havia uma cor padrão e todos os goleiros jogavam de preto. Mas Raul Plassmann não se importou com a polêmica e permaneceu no clube por 13 anos, sempre conquistando títulos com a camisa amarela.

A história de Raul vem dos anos 60 e 70 e foi um marco. Parece que depois disso nada de “revolucionário” aconteceu. Foi preciso muitos anos até surgir, no México, um outro goleiro capaz de fazer história. Não exatamente pelo bom gosto, mas pelo exotismo dos seus uniformes: o baixinho goleiro Jorge Campos. Diz quem lembra que também jogava na linha e marcava gols. Mas foram as suas camisas coloridas e largas que entraram para a história.

Houve jogos em que jogava com camisas discretas. Mas entrou para a história pela qualidade do futebol e pelos uniformes espalhafatosos. Jorge Campos era o centro das atenções. Mais do que falar, deixo aqui algumas imagens de uniformes usados pelo ídolo mexicano. Quanto a mim, tive muito gosto em fazer a pesquisa e escrever sobre o tema.

P.S. Não posso deixar de falar do goleiro da seleção da Inglaterra, David Seaman, que usou uma das camisas mais feias que já vi.

Raul, Seaman e Campos: camisas que marcaram





Marcela Domingues é designer de comunicação, graduada em Belas Artes pela Universidade de Granada (Espanha), vive no Rio de Janeiro e é torcedora do Vasco.