quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
domingo, 28 de dezembro de 2014
sábado, 27 de dezembro de 2014
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
sábado, 20 de dezembro de 2014
Tacada de mestre
POR JORDI CASTAN
Quem acha que o prefeito Udo Dohler não domina a articulação política, a arte da dissimulação e da enganação errou feio. A eleição do presidente da Câmara de Vereadores de Joinville
foi uma tacada de mestre. Um jogo de xadrez político em que houve vencedores e
vencidos, mas que merece ser analisada como o que foi: uma jogada de pôquer político
em que o prefeito Udo Dohler mostrou a sua capacidade de articulação política e
o seu protagonismo como liderança.
O primeiro ponto importante foi aglutinar a maioria de
vereadores em torno de um mesmo nome. Para o executivo manter a maioria no
legislativo é determinante para poder aprovar todos os projetos de interesse do
governo sem muito debate, sem questionamentos e sem excessivas negociações. O
objetivo pretendido foi alcançado com louvor. Praticamente todos os vereadores
apoiaram o mesmo candidato.
Segundo objetivo. Neutralizar a candidatura independente do vereador Adilson Mariano, pois um risco evidente era o crescimento da candidatura
do vereador do PT. Para isso, era importante que a candidatura não recebesse sequer os votos dos vereadores do seu partido. Sem os votos do PT, esta candidatura só
recebeu um único voto, o do próprio candidato. O perigo que representava foi
neutralizado, graças à forte intervenção dos negociadores envolvidos no
processo.
Terceiro objetivo. Criar uma manobra de diversão,
uma cortina de fumaça. Enquanto o prefeito pretendia apoiar a candidatura do vereador Maurício Peixer, na realidade estava apoiando a candidatura do seu partido, o PMDB, deste modo deixando confusos gregos e troianos. Quanto maior e mais entusiástico
o apoio do prefeito à candidatura do PSDB, mais votos ganhava o candidato
vencedor.
Uma verdadeira tacada de mestre. Sinalizar um objetivo, quando o objetivo é outro. Brilhante ação de dissimulo e estratégia. Deixando acreditar que o seu candidato era um, conseguiu canalizar a maioria dos votos para o candidato Rodrigo Fachini. Todos aqueles vereadores que acreditavam estar votando “contra” o candidato do prefeito, foram iludidos e acabaram votando no objetivo oculto e no objeto do desejo do prefeito.
Uma verdadeira tacada de mestre. Sinalizar um objetivo, quando o objetivo é outro. Brilhante ação de dissimulo e estratégia. Deixando acreditar que o seu candidato era um, conseguiu canalizar a maioria dos votos para o candidato Rodrigo Fachini. Todos aqueles vereadores que acreditavam estar votando “contra” o candidato do prefeito, foram iludidos e acabaram votando no objetivo oculto e no objeto do desejo do prefeito.
O melhor de tudo é que não foi necessário oferecer cargos nem benesses adicionais, para além das que já recebem os vereadores e seus apaniguados para que votem no candidato vencedor. Foi uma eleição que não teve muita
emoção. Talvez só foi emocionante para o candidato que acreditou que o apoio
do executivo seria determinante para a sua vitória. Estranho que um mestre do
dissimulo, com cinco mandatos nas costas, tenha caído tão facilmente numa
jogada de manual.
Um pequeno detalhe ficou no ar. Se o atual presidente da Câmara
recebeu a maioria dos votos dos vereadores que acreditavam estar votando “contra”
o candidato do prefeito, qual será o comportamento e a disciplina na hora de
votar? Quem viver verá.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
Que tal uma Bolsa Camisa-de-Força?
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Sabe
aquelas notícias que você tem que coçar os olhos para ver se não leu errado?
Aconteceu ontem. Estava a dar uma passada de olhos pelos jornais online quando me
deparei com o headline: “PSDB pede cassação de Dilma e a diplomação de Aécio
como presidente”. Hã? Pensei com os meus botões: deve ser uma piada. Mas não.
Uma
pesquisa em outros títulos permitiu confirmar. A notícia estava a se espalhar,
apesar de não ter muita repercussão. Talvez os comentadores (da imprensa,
blogosfera ou redes sociais) tenham sido apanhados de surpresa. A coisa era tão
apatetada que ninguém deve ter levado a sério. É provável que hoje, com mais
calma, falem no tema.
O
que pensar de uma situação dessas? Ora, que o mundo endoideceu e que esse pessoal
da oposição perdeu totalmente a noção de ridículo. Poderia ser apenas mais um
episódio para o bestialógico da política nacional, mas um olhar mais atento faz
perceber uma questão de fundo muito grave. É a total desconsideração da norma
democrática.
O
documento apresentado – a imprensa reproduziu excertos – tem passagens tristes.
Deixemos passar barato a acusação de uso da máquina pública ou abuso de poder
econômico. Mas a decência vai pelo ralo quando um candidato instrui os seus
advogados a alegar “legitimidade” porque a diferença do resultado das eleições
foi curta.
Em
que democracia um candidato derrotado se sente no direito de, por artimanhas de
tapetão, ganhar a presidência de um país? E com a justificação de que apenas
2,28% dos votos – uma “pífia vitória” – é uma diferença tangencial, podendo
simplesmente ser ignorada. Em que república das bananas esses caras querem
transformar o Brasil?
Podemos
achar pitoresco, divertido ou exótico. Mas é melhor ter cuidado. Sozinho, um
antidemocrata insano pode causar apenas riso. Mas um antidemocrata insano seguido
por outros iguais pode ser um perigo para a sociedade. Talvez alguém tenha que
criar o Bolsa Camisa-de-Força para trazer essa gente de volta à realidade.
É
como diz o velho deitado: “existe um prazer em ser louco que apenas os loucos
conhecem”.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
Vai pra Cuba!
Barack “Che” Obama, um indisfarçável espião lulo-petralha da KGB infiltrado no governo americano, ouviu as vozes de milhares de reaças brasileiros e deu um passo para permitir que milhões de “bolivamericanos” possam visitar quase que livremente a ilha comunista caribenha.
Assim, é provável que jorre dinheiro pelas bandas de Havana, que vai se beneficiar, sobretudo, do novo mercado para sua indústria de charutos e de bebidas, do novo público para o seu fortíssimo setor turístico e também de sua ótima localização que interessa à logística de empresas de todo mundo. Opa, parece que o Brasil já se adiantou e investiu em um pequeno porto por lá.
Só para ter uma ideia, estimativas do governo cubano apontam que Cuba deixou de ganhar 108 bilhões de dólares até 2011 por causa do embargo estadunidense, que impede não somente os americanos de negociar por lá, como pune empresas de todo o mundo por relações comerciais com os caribenhos.
Com isso, uma nova etapa da experiência socialista será posta à prova. Sobreviverá o socialismo aos encantos do capital? Ou avançará ainda mais, com a multiplicação da bufunfa, nos princípios de igualdade? É muito cedo pra saber.
A pergunta que não quer calar, no entanto, é outra: seriam visionários os reaças brasileiros? Ou analistas políticos de grosso calibre? Afinal, o “vai pra Cuba” é o conselho primordial de dez a cada dez sujeitos de direita no Brasil. E sempre foi de graça, contrariando a velha máxima de que se conselho fosse bom não se dava, se vendia.
De todo modo, é preciso estar atento ao que vai acontecer em Cuba. A tese dos defensores, eu incluso, é a de que o embargo imposto pelos EUA sempre foi o principal causador dos problemas econômicos de Cuba. Finalmente, o embargo vai cair (ainda não caiu) e a tese será posta à prova.
Por outro lado, o setor privado e o Capital tendem a crescer na ilha diante das brechas que se abrem com cada vez mais frequência. Brechas para a avanço da desigualdade? Talvez...
O jeito é esperar.
E, numa dessa, a gente segue o conselho e vai até lá pra ver
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
Joinville paga o preço do crescimento a todo custo
POR CHARLES HENRIQUE VOOS
Os números divulgados pelo IBGE na semana passada referentes ao PIB (Produto Interno Bruto) dos municípios brasileiros revelaram algo que muita gente nunca sonhou em presenciar: Joinville perdeu o posto de cidade mais rica do estado para Itajaí. Uma hegemonia que durava várias décadas caiu. Por mais que tenha sido, para alguns setores econômicos e políticos locais, um "desastre" perder na quantidade, parece não alarmar o fato de que Joinville há muito tempo perdeu o posto de melhor cidade para se viver e os números são meras consequências.
O enfoque qualitativo é difícil para alguns, principalmente políticos e demais gestores públicos. Até pouco tempo atrás as desculpas de "maior cidade" e "terceiro maior PIB da região sul" ainda eram utilizadas para refutar análises qualitativas, quando algumas surgiam. Agora não dá mais, porque os números mostram a crua realidade que há anos alguns "teimosos" já mostravam.
A cidade sempre careceu de cuidados que quase nunca existiram. Jamais tantas pessoas morreram de formas socialmente construídas como nestes últimos anos: os homicídios batem recordes atrás de recordes e os acidentes de trânsito com vítimas fatais também. As periferias se desenvolveram de forma descontrolada e os sucessivos governos, por décadas, não conseguiram organizar a cidade para as pessoas, apenas para o crescimento econômico a todo custo. Graças a este cenário, os "anos gloriosos" de Joinville acabaram.
O desenvolvimento econômico de qualquer cidade, principalmente neste século 21 mundializado, requer um equilíbrio da economia com o social e a cidade é o "palco" onde isso é efetivado. O crescimento dos índices econômicos devem vir acompanhados de qualidade de vida, lazer, cultura e sustentabilidade (apesar deste último termo ter sua concepção muito abrangente e, certas vezes, deturpada). Pelo que percebemos, nos tornamos a "Manchester Catarinense" e esquecemos de melhorar a qualidade da vida destes que a fazem diariamente. Não temos parques, áreas públicas qualificadas, equipamentos públicos em bom estado de funcionamento e nenhum atrativo diferenciado. Somos uma cidade bem comum que tinha em seus indicadores o grande trunfo. Não tem mais, e se sobrou alguma coisa irá perder em breve - basta continuar neste ritmo.
Precisamos lembrar que a política econômica monolítica apoiada pelos governos gerou uma instabilidade perigosa para a cidade. Uma economia pautada no setor secundário como a nossa podia sucumbir com qualquer crise alojada no setor. Em 2014 tivemos pequenas amostras de como é prejudicial o incentivo a apenas uma forma de construir riqueza. Com a pequena crise no setor industrial brasileiro, o PIB de Joinville diminuiu, a cidade não gerou tantos empregos como antes e a qualidade de vida despencou mais ainda.
É fácil e cômodo para alguns irem aos jornais e rádios locais e dizer que perdemos a liderança por questões circunstanciais das outras cidades. Melhor ainda é "jogar a sujeira para debaixo do tapete", como outros fizeram, e não reconhecer as próprias deficiências. Independente da mercantilização das cidades e a competição urbana, creio que todos nós queremos - e precisamos - de uma cidade melhor para vivermos. Quando as políticas sociais não atingem as grandes parcelas da população não há economia que aguente. Levamos 40 anos para percebermos, mas agora pode ser tarde demais.
* Este articulista blogueiro, sociólogo mal formado e urbanista frustrado (como sempre diz um anônimo raivoso e que quer me matar pelo uso do primeiro termo) deseja a todos os leitores do blog Chuva Ácida um ótimo fim de ano e espera revê-los em 2015!
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
O pior da política
Os arautos da "liberdade de expressão" agora focam sua ira contra a RBS, por se posicionar contra os descalabros do deputado federal Jair Bolsonaro. Para essa gente que "defende" a "livre expressão", a opinião do José António Baço, que com razão disse que o Bolsonaro era "um perigo para a democracia" exige RETRATAÇÃO, e deve ser expurgada do jornal. Comportam-se como o que sempre temeu-se que fossem: fascistas, ansiosos para silenciar qualquer oposição.
Tudo isso para defender o parlamentar que manda manifestantes negros "voltarem ao zoológico", diz que "não estupra" outra parlamentar porque "ela é feia demais", diz que a ditadura errou em "torturar mas não matar", que homossexuais são todos pedófilos, entre outras. As prioridades dessas pessoas estão definitivamente no lugar certo - se por lugar certo você quer dizer nos Estados Confederados do Sul, ou na Alemanha Nazista.
Ainda essa semana, um dos herdeiros desse parlamentar tentou intimidar o vereador Renato Cinco. As páginas que demonstraram apoio ao Bolsonaro são as da pior estirpe: páginas glorificando abusos de poder da polícia, execuções, homofobia, misoginia e tortura. Alguns de seus seguidores declararam que sim, eles "estuprariam" a Maria do Rosário Nunes. É isso que acham que deveria ser a conduta e o efeito de um parlamentar. E pior, um dos mais votados do país? Estimular ameaças de estupro, agir como um valentão de ensino médio, xingar de "desequilibrada" e "vagabunda" uma parlamentar?
Uma multidão correu em defesa do deputado, dizendo que a sua vítima "mereceu". Gostaria de saber em que contexto uma ameaça velada de estupro é "merecida". Pior: tentam pintar Bolsonaro como vítima, como sendo perseguido e oprimido por quem se chocou (com toda razão) com as atrocidades que disse nesta terça feira.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
A beatificação de uns e a condenação de outros
POR JORDI CASTAN
Neste país tomado por radicalismos doentios, qualquer oportunidade é boa para beatificar uns e condenar outros. A bola da vez é o episódio lamentável que tem tem posto frente a frente dois deputados federais: Maria do Rosario e Jair Bolsonaro.
Se ainda se escrevesse com tinta e papel, diríamos que correram rios de tinta para beatificar a uma e condenar ao outro. Ou para defender um e condenar a outra. Mas hoje quase deixamos de usar caneta e papel e não há mais rios de tinta.
Na história em questão, como em todas as historias, há três versões. A da deputada e seus vociferantes acólitos. A do deputado e seus radicais defensores,. E, finalmente, a verdade. Está cada vez mais difícil saber qual é a verdade. Ninguém tampouco parece ter muito interesse em que se saiba. O radicalismo tomou conta do debate e as pessoas deixam de informar-se e passam a ter posição a favor ou contra das coisas, sem considerar outro ponto que o perfil - ou melhor o partido - dos envolvidos.
Assim, qualquer tema – seja que for – que envolva o deputado Jair Bolsonaro será motivo de execração. É possível que se o deputado ousar afirmar uma obviedade, como que o sol sai pelo leste e que o faz pontualmente cada manhã, dúzias de raivosos espumantes se manifestem contra e apresentem provas, argumentos e citações provando que isso não é certo e que o autor de tal afirmação deva ser queimado em praça pública.
No caso da ex-ministra, a agressão sofrida a converteu da noite a manhã numa versão local de Joana d'Arc. Mulher modelo de ilibada honradez e de fortes princípios éticos e morais. Deus nos livre de questionar a sua idoneidade. Questioná-la é defender o estupro, Bolsonaro e a barbárie. É defender a violência contra a mulher, e provavelmente seja também defender a homofobia e qualquer outra ideia parecida. Assim ela representa hoje a reencarnação da pureza.
Assim fica proibido, sob risco de ataque furibundo, mencionar que o nome da deputada Maria do Rosário esta incluído entre outros nomes, numa lista que vincula doações da empreiteira Engevix a políticos. Num esquema que envolve suspeitas de corrupção.
E assim vamos. Corrupção, só a dos outros. Enquanto por um lado se avolumam as provas, as denúncias, os nomes e os valores divulgados, pelo outro bandos de soldados do partido se lançam a patrulhar as redes sociais e qualquer outro meio de expressão, para atacar a quem questione a honradez ou denuncie a corrupção envolvendo qualquer politico do partido de governo e seus aliados. A estratégia sempre é a mesma, não negam, porque não tem como negar, mas afirmam que corruptos são os outros e no pior dos casos o emporcalham tudo dizendo: "este é um país de corruptos" acreditando na sua estultice que isso resolve o problema.
Primeiro, os corruptos eram os outros. Ante as denúncias e as condenações por corrupção desta corja que está no poder, o discurso mudou e passou a ser "os nossos corruptos são menos corruptos que os outros". Divulgados os valores pagos e as novas denúncias do chamado "Petrolão", também este argumento cai por terra e surge a nova estratégia, "somos todos corruptos". Somos todos companheiros sujos de lama na mesma pocilga. É a nova versão de: "quem estiver livre de pecado que atire a primeira pedra".
O filme e o evento.
O filme e o evento.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
Sheherazade e os lulus intelectuais
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Quem lê gosta de debater. Quem debate se educa para a
democracia. Quem é democrata sabe conviver com ideias diferentes. Mas nos dias
que correm no Brasil, é difícil aceitar muitas dessas “ideias diferentes”.
Porque estão fundadas no sectarismo de classe, na informação precária e na
fragilidade de caráter.
Tudo isso para apresentar Rachel Sheherazade. Já disse aqui
mesmo que é apenas uma burguesinha mimada a quem alguém, de forma imprevidente,
deu um microfone e espaço midiático para dizer besteirinhas. Em tempos de
insanidade intelectual, é natural que ela tenha se tornado referência para energúmenos
que criam aranhas no cérebro.
Mas por que falar nela? Respondo com uma
pergunta aos leitores: que mulher no Brasil seria capaz de vir a público defender
o deputado federal Jair Bolsonaro, na cafajestada a envolver a deputada Maria
do Rosário: “não lhe estupro porque você não merece”. Sim, Rachel Sheherazade
foi capaz de tentar explicar a insanidade. A moça não para de se superar.
Mal surgiu o escândalo, ela correu a escrever um texto
no seu blog para livrar a cara do boçal Bolsonaro. Mas rolou uma comédia de
erros. Porque no seu arrazoado ela recorreu a mentiras já desmascaradas
milhentas vezes, uma delas, inclusive, surgida num blog de humor (que não faz
rir). Ora, um jornalista não deve checar as informações?
Então, qual o problema de Sheherazade? Não é apenas o
fato de ser uma jovem reacionária. O que não se aceita é a fragilidade
intelectual e moral das suas análises. Porque entre as pessoas com projeção na
mídia brasileira, ela deve ser uma das mentes femininas mais tortuosas, iliteratas e
arrogantes. É a incultura a fazer escola.
Tenho saudades daqueles tempos em que era possível
ouvir os caras de direita sem ter frouxos de riso ou vontade de cortar os
pulsos. Essa ascensão da mediocridade, que dá significância a insignificantes como
Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino, Olavo de Carvalho ou a própria
Sheherazade, só mostra uma cultura ladeira abaixo rumo ao terceiro mundo.
A sorte é que esse exército de "chiens de garde" é formado por lulus intelectuais: fazem muito barulho mas não mordem. E foi por isso que mal viu a cagada, ela correu apagar o post. Foi sensato, mas também covarde. E, claro, uma admissão explícita de fragilidade intelectual.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
Alguma mulher merece ser estuprada?
POR CLÓVIS
GRUNER
De acordo com o
deputado federal Jair Bolsonaro, do PP carioca, sim. Em discurso na tribuna da
Câmara dos Deputados terça-feira, o parlamentar – conhecido pelo que os
meios de comunicação chamam, eufemisticamente, de “posições polêmicas” – afirmou
textualmente, dirigindo-se à deputada petista Maria do Rosário: “Só não te
estupro porque você não merece”. Não foi a primeira vez: em 2003, durante
debate na Rede TV!, Bolsonaro afirmou exatamente a mesma coisa, também para
Maria do Rosário. Em entrevista concedida ontem ao jornal Zero Hora, ele voltou
ao assunto: “Ela não merece porque ela é muito
ruim, porque ela é muito feia. Não faz meu gênero. Jamais a estupraria”. E
completa: “Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece”.
A alguns
parecerá positivo saber que o Parlamento brasileiro não abriga um estuprador,
apenas um apologista do estupro. Mas há coisas importantes implicadas nas falas de
Bolsonaro, na tribuna e na entrevista ao ZH, e não é preciso muito
esforço para identificá-las. Primeiro, e o mais óbvio: se Bolsonaro considera
que Maria do Rosário não é “digna” de ser estuprada porque é “feia”, a dedução óbvia é de que, na
sua mentalidade machista, há aquelas mulheres que merecem sê-lo e que ele pessoalmente, se fosse
estuprador, estupraria. Ou seja, as mulheres “bonitas” – ou aquelas consideradas bonitas segundo a perspectiva do nada nobre
deputado –, merecem ser estupradas; as “feias”, não.
Bolsonaro
concorda, embora por caminhos distintos, com outro apologista do estupro, o
humorista Rafinha Bastos, para quem mulheres feias devem não acusar, mas
agradecer seu estuprador. Ou com os publicitários membros do Conar que, no ano
passado, decidiram manter no ar a campanha da cerveja Nova Schin sob a alegação
de ser “baseada em uma situação absurda”. Afinal, na peça publicitária, o homem
que constrange mulheres e invade seu vestiário, provocando visível horror e
medo, é invisível. Segundo alguns, se a mulher for feia ou homem, anônimo, o
estupro é válido e, em alguns casos, pode ser até divertido. Para Bolsonaro, se
ela for bonita, o estupro é não apenas válido como merecido.
CULTURA DO
ESTUPRO – Bolsonaro é truculento, mas não é um ignorante. Ou seja,
ele não ignora que os números da violência de gênero no Brasil são alarmantes e
agravam a sensação de que vivemos em uma cultura que tem feito pouco caso das
agressões contra mulheres, não raro praticadas nos ambientes domésticos,
por conhecidos e mesmo familiares (pais, irmãos, maridos, amigos, vizinhos, etc...). Segundo o Mapa
da Violência de 2012, as taxas de homicídio de mulheres foram de quase 4.500 em
2010 (4,6 homicídios por 100 mil habitantes). No caso do estupro, foram mais de 51 mil casos registrados somente em 2012, uma taxa de
26,3 por 100 mil habitantes, segundo o Anuário de Segurança de 2013. Como a
qualidade dos registros varia entre os estados, e muitos casos sequer chegam a
ser denunciados, é bastante provável que os números, já altos, sejam ainda
maiores: sabe-se que muitas vezes as vítimas, por vergonha ou porque ameaçadas,
optam pelo silêncio.
O fato de Jair Bolsonaro conhecer estes números e menosprezá-los
torna ainda mais abjeta sua declaração, que não teve no Congresso a repercussão
que merece. Os dois maiores partidos de oposição – DEM e PSDB – silenciaram. O
PSC manifestou apoio a Bolsonaro. Na base aliada, fora alguns petistas solidários
à Maria do Rosário, a reação foi acanhada: o PP não se manifestou e o PMDB
repudiou apenas timidamente o episódio. Coube aos partidos de esquerda,
especialmente os chamados “nanicos”, junto com parte da bancada petista, a
tarefa de apresentar representação contra o deputado, pedindo sua cassação –
que provavelmente não ocorrerá. Do Palácio do Planalto – pelo menos até o momento
em que escrevo essas linhas – nenhuma manifestação, o que não me surpreende: o
silêncio de agora apenas reverbera a conivência silenciosa com que, em 2012, o
governo petista tratou a eleição de Marco Feliciano à presidência da Comissão
de Direitos Humanos e Minorias do Congresso.
Fora dos
corredores e gabinetes parlamentares e palacianos, a declaração de Bolsonaro
encontrou o respaldo esperado para um deputado eleito com mais de 400 mil votos – o mais votado do
Rio de Janeiro. E que se tornou, desde há algum tempo, o principal porta voz de uma
direita conservadora que fez e faz do ódio, do medo e do ressentimento os
principais afetos da política. Eu sei que à direita há aqueles, e não são poucos,
que repudiam os discursos e as práticas do deputado progressista e que não se
veem representados pela sua atuação parlamentar. Mas sei também que,
lamentavelmente, Bolsonaro representa, incorpora e multiplica, contando para
isso com um suporte midiático privilegiado, o que há de pior e mais perigoso em
nossa vida pública, os grupos conservadores, fanatizados em sua repulsa por tudo e todos que são diferentes da sua obtusa concepção de “normalidade”.
PS.: Uma petição online, organizada no site Avaaz, pede a cassação do mandato do deputado Jair Bolsonaro. Se você quiser assiná-la, clique aqui.
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
A importância da voz
POR FELIPE CARDOSO
No Brasil do século
XX, passado o período da escravidão, os negros aos poucos foram silenciados.
Das senzalas foram para as favelas. Do trabalho escravo foram para o trabalho
mal remunerado e com poucos benefícios. A opressão, a violência e as falsas
promessas dos governantes confundiram e anestesiaram ainda mais aqueles que um
dia lideraram revoluções pela liberdade por todo o Brasil.
Na mídia eram poucos os que se destacavam. Na moda nem se fala. Cargos de chefia? Carro do ano? Férias no exterior? Tudo ilusão. Só conseguiram espaço na música e nos esportes. Passaram a desmerecer a luta do movimento negro. Alguns negros chegaram até a defender o opressor. Contentavam-se com migalhas, com sub-empregos, com presídios. Riam das piadas sobre a cor, sobre a raça e a etnia. Não podiam falar. Não queriam falar. Não tinham respaldo para falar.
Início do século XXI, assume um governo que diz ser para trabalhadores. Dão início as políticas de ações afirmativas, surgem leis para tentar corrigir os erros da escravidão. Cotas raciais e sociais. Os jovens moradores da favela descem os morros, saem da periferia para estudar em universidades. Mais programas de incentivo a propagação da cultura afro começam a surgir. Feriados no mês de novembro começam a ser sancionados em algumas cidades. Negros e negras começam a conhecer a sua história. Começam a se identificar com a sua cultura. Começam a ver beleza nos seus traços fisiológicos. Não querem mais alisar seus cabelos, não querem mais usar arco, querem usar lenços em seus cabelos cacheados. Os movimentos negros de todo o país começam a crescer, a movimentar mais pessoas, de todas as cores.
Recuperamos a nossa voz.
Falamos, escrevemos, gritamos, protestamos. Nós podemos falar o que sentimos. Vivemos a nossa verdadeira liberdade? Não, ainda estamos longe disso. Mas já demos um grande passo: começamos a entender e valorizar o poder que tem a AUTONOMIA DO PENSAMENTO. Não precisamos de ninguém para falar por nós. Nós mesmos podemos pensar e falar o que estamos sentindo e vivenciando. Nós podemos filmar e jogar na internet os abusos de autoridade, os casos de racismo e xenofobia. Podemos escrever em blogs e jornais. Organizar ações, passeatas e cobrar melhorias do governo. Escolher nossos verdadeiros representantes. Sim, nós podemos.
Não defendo e nem levanto bandeira para o PT, mas é inegável a importância do partido para que tudo isso acontecesse. Essa retomada da autoestima da população negra tem grande participação desse partido. Mas ainda somos minoria na política, ainda somos minoria na mídia, nos cargos de chefia… Ainda somos perseguidos por seguranças nos shoppings. Ainda somos assassinados pela polícia. Mas agora nós podemos falar, nós podemos mostrar, reivindicar.
Os casos explícitos de racismo nada mais são do que o reflexo de todas essas conquistas. A sociedade brasileira ainda tem na sua raiz o pensamento escravista que precisa ser desconstruído. A imagem do negro como bandido, serviçal, objeto sexual e tantos outros estereótipos pejorativos precisam ser destruídos. Muitas pessoas se incomodaram com essas conquistas, é evidente. O desconforto é por causa da corrente que, mais uma vez, foi quebrada. Nós queremos e merecemos mais. Não queremos migalhas, nem olhar piedoso do lobo em pele de cordeiro, que nos oprime diariamente e nos contenta com doações.
Devemos lutar por justiça para, assim, alcançarmos a igualdade. Não podemos retroceder, temos que avançar cada vez mais. Deixar claro a importância da nossa luta para o crescimento justo e igualitário do Brasil.
Questionar, estudar, interpretar, argumentar, reivindicar e criar. A autonomia do pensamento vem dessas ações. Todos nós somos capazes de realizá-los, devemos reconhecer e combater o nosso verdadeiro inimigo e lutar para que a cada dia o poder político, econômico, cultural e social seja popular. A democracia tem que ser plena.
Avante. A nossa voz garantirá a liberdade.
Na mídia eram poucos os que se destacavam. Na moda nem se fala. Cargos de chefia? Carro do ano? Férias no exterior? Tudo ilusão. Só conseguiram espaço na música e nos esportes. Passaram a desmerecer a luta do movimento negro. Alguns negros chegaram até a defender o opressor. Contentavam-se com migalhas, com sub-empregos, com presídios. Riam das piadas sobre a cor, sobre a raça e a etnia. Não podiam falar. Não queriam falar. Não tinham respaldo para falar.
Início do século XXI, assume um governo que diz ser para trabalhadores. Dão início as políticas de ações afirmativas, surgem leis para tentar corrigir os erros da escravidão. Cotas raciais e sociais. Os jovens moradores da favela descem os morros, saem da periferia para estudar em universidades. Mais programas de incentivo a propagação da cultura afro começam a surgir. Feriados no mês de novembro começam a ser sancionados em algumas cidades. Negros e negras começam a conhecer a sua história. Começam a se identificar com a sua cultura. Começam a ver beleza nos seus traços fisiológicos. Não querem mais alisar seus cabelos, não querem mais usar arco, querem usar lenços em seus cabelos cacheados. Os movimentos negros de todo o país começam a crescer, a movimentar mais pessoas, de todas as cores.
Recuperamos a nossa voz.
Falamos, escrevemos, gritamos, protestamos. Nós podemos falar o que sentimos. Vivemos a nossa verdadeira liberdade? Não, ainda estamos longe disso. Mas já demos um grande passo: começamos a entender e valorizar o poder que tem a AUTONOMIA DO PENSAMENTO. Não precisamos de ninguém para falar por nós. Nós mesmos podemos pensar e falar o que estamos sentindo e vivenciando. Nós podemos filmar e jogar na internet os abusos de autoridade, os casos de racismo e xenofobia. Podemos escrever em blogs e jornais. Organizar ações, passeatas e cobrar melhorias do governo. Escolher nossos verdadeiros representantes. Sim, nós podemos.
Não defendo e nem levanto bandeira para o PT, mas é inegável a importância do partido para que tudo isso acontecesse. Essa retomada da autoestima da população negra tem grande participação desse partido. Mas ainda somos minoria na política, ainda somos minoria na mídia, nos cargos de chefia… Ainda somos perseguidos por seguranças nos shoppings. Ainda somos assassinados pela polícia. Mas agora nós podemos falar, nós podemos mostrar, reivindicar.
Os casos explícitos de racismo nada mais são do que o reflexo de todas essas conquistas. A sociedade brasileira ainda tem na sua raiz o pensamento escravista que precisa ser desconstruído. A imagem do negro como bandido, serviçal, objeto sexual e tantos outros estereótipos pejorativos precisam ser destruídos. Muitas pessoas se incomodaram com essas conquistas, é evidente. O desconforto é por causa da corrente que, mais uma vez, foi quebrada. Nós queremos e merecemos mais. Não queremos migalhas, nem olhar piedoso do lobo em pele de cordeiro, que nos oprime diariamente e nos contenta com doações.
Devemos lutar por justiça para, assim, alcançarmos a igualdade. Não podemos retroceder, temos que avançar cada vez mais. Deixar claro a importância da nossa luta para o crescimento justo e igualitário do Brasil.
Questionar, estudar, interpretar, argumentar, reivindicar e criar. A autonomia do pensamento vem dessas ações. Todos nós somos capazes de realizá-los, devemos reconhecer e combater o nosso verdadeiro inimigo e lutar para que a cada dia o poder político, econômico, cultural e social seja popular. A democracia tem que ser plena.
Avante. A nossa voz garantirá a liberdade.
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