segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A beatificação de uns e a condenação de outros

POR JORDI CASTAN
Neste país tomado por radicalismos doentios, qualquer oportunidade é boa para beatificar uns e condenar outros. A bola da vez é o episódio lamentável que tem tem posto frente a frente dois deputados federais: Maria do Rosario e Jair Bolsonaro.

Se ainda se escrevesse com tinta e papel, diríamos que correram rios de tinta para beatificar a uma e condenar ao outro. Ou para defender um e condenar a outra. Mas hoje quase deixamos de usar caneta e papel e não há mais rios de tinta.

Na história em questão, como em todas as historias, há três versões. A da deputada e seus vociferantes acólitos. A do deputado e seus radicais defensores,. E, finalmente, a verdade. Está cada vez mais difícil saber qual é a verdade. Ninguém tampouco parece ter muito interesse em que se saiba. O radicalismo tomou conta do debate e as pessoas deixam de informar-se e passam a ter posição a favor ou contra das coisas, sem considerar outro ponto que o perfil - ou melhor o partido - dos envolvidos.

Assim, qualquer tema – seja  que for – que envolva o deputado Jair Bolsonaro será motivo de execração. É possível que se o deputado ousar afirmar uma obviedade, como que o sol sai pelo leste e que o faz pontualmente cada manhã, dúzias de raivosos espumantes se manifestem contra e apresentem provas, argumentos e citações provando que isso não é certo e que o autor de tal afirmação deva ser queimado em praça pública.

No caso da ex-ministra, a agressão sofrida a converteu da noite a manhã numa versão local de Joana d'Arc. Mulher modelo de ilibada honradez e de fortes princípios éticos e morais. Deus nos livre de questionar a sua idoneidade. Questioná-la é defender o estupro, Bolsonaro e a barbárie. É defender a violência contra a mulher, e provavelmente seja também defender a homofobia e qualquer outra ideia parecida. Assim ela representa hoje a reencarnação da pureza.

Assim fica proibido, sob risco de ataque furibundo, mencionar que o nome da deputada Maria do Rosário esta incluído entre outros nomes, numa lista que vincula doações da empreiteira Engevix a políticos. Num esquema que envolve suspeitas de corrupção.

E assim vamos. Corrupção, só a dos outros. Enquanto por um lado se avolumam as provas, as denúncias, os nomes e os valores divulgados, pelo outro bandos de soldados do partido se lançam a patrulhar as redes sociais e qualquer outro meio de expressão, para atacar a quem questione a honradez ou denuncie a corrupção envolvendo qualquer politico do partido de governo e seus aliados. A estratégia sempre é a mesma, não negam, porque não tem como negar, mas afirmam que corruptos são os outros e no pior dos casos o emporcalham tudo dizendo: "este é um país de corruptos" acreditando na sua estultice que isso resolve o problema.

Primeiro, os corruptos eram os outros. Ante as denúncias e as condenações por corrupção desta corja que está no poder, o discurso mudou e passou a ser "os nossos corruptos são menos corruptos que os outros".  Divulgados os valores pagos e as novas denúncias do chamado "Petrolão", também este argumento cai por terra e surge a nova estratégia, "somos todos corruptos". Somos todos companheiros sujos de lama na mesma pocilga. É a nova versão de: "quem estiver livre de pecado que atire a primeira pedra".

O filme e o evento.






9 comentários:

  1. Parabéns pelo texto, Jordi.

    Eduardo, Jlle.

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  2. Não concordo com algumas opiniões do deputado, principalmente as que tratam da homofobia, mas tenho que reconhece-lo como um político ativo e coerente com suas convicções. Para a democracia brasileira, políticos como o Bolsonaro são bem-vindos para contrapor o outro extremo. Não há uma só denúncia contra ele por ter recebido migalhas dessa sujeira na Petrobras, por exemplo. Foi o deputado mais votado no RJ por ser o que é: um político ilibado. Tanto que a extrema esquerda brasileira inveja a atuação do Bolsonaro, ela queria mil políticos iguais ao Bolsonaro do seu lado.

    Entendo o ódio da esquerda pelo Bolsonaro. Na “comissão da verdade”, da qual ele participou ativamente defendendo o outro lado não representado na comissão, contrapôs cada fato inverídico denunciado. As verdades contadas por Bolsonaro faziam doer os ouvidos dos esquerdistas ali presentes, silenciando-os.

    Sobre a Maria do Rosário, já disse em outra postagem não publicada: esta mulher de santa não tem nada.

    Eduardo, Jlle.

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  3. Tanto o Bolsonaro quanto a Maria do Rosário são da base aliada do governo, portanto o governo que arrume a bagunça dentro de sua casa.
    Inclusive o PP do Bolsonaro é o partido que está envolvido no esquema da Petrobrás. É o partido do Maluf que, por sua vez, é aliado de Lula e do governo Dilma.

    Portanto, eles se merecem

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  4. A cada novo texto cai mais um pedaço da mascara obscurantista de Jordi. Me admira ainda não ter saído em defesa da "necessidade histórica" de ter havido o regime militar.

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    1. Os anônimos e as suas sandices.
      Ditadura nunca. Nem esta, nem a outra. Nenhuma delas

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    2. Eu prefiro "esta", foi a única que conheci na qual é possível ser contrário, reclamar a vontade e inclusive perder a eleição e não se conformar publicamente. kkkkk

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  5. Eu realmente não entendo porque, para desqulificar a Maria do Rosário nesse caso com o Bolsonaro, as pessoas vêm com o papo da corrupção do PT, uma coisa não tem nada a ver com a outra, ao se fazer essa associação parece que se está validando um crime como punição a outro crime.

    Nem Maria do Rosário nem Bolsonaro são santos evidentemente, mas o problema é um representante do povo utilizar a tribuna do câmara dos deputados para ameaçar de estrupro uma mulher, eu acho surreal que alguém defenda uma atitude como essa.

    Se Maria do Rosário ou o PT cometeram erros/crimes que sejam criticados e paguem por isso conforme a lei, isto não dá a ninguém o direito ao estupro. Só para lembrar Bolsonaro é do PP partido envolvido até o pescoço na corrupção da Petrobrás.

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  6. Ele não ameaçou ela de estupro, ele disse que ela não merecia ser estuprada.

    “Ah, mas se ela não merece, outras merecem?”

    Quem está fazendo apologia ao crime é quem faz essa pergunta estúpida.

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  7. Realmente, depois de toda a celeuma sobre o monstronaro ver aqui neste espaço articulista e comentários dando razão a esta besta só reforça o que inclusive já foi matéria de post aqui mesmo: o Brasil não é um país sério. Jornais de todo mundo ficaram estupefatos com esta estupidez. Mas aqui na vila feudal até a plebe aplaude.

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