quinta-feira, 30 de abril de 2015

Cegueira coletiva


POR MÁRIO MANCINI

O título pode se substituído por teimosia, se assim preferirem, para ficar no (chato) politicamente correto. Porém, é o que ocorre na atual administração municipal de Joinville, talvez na ânsia de acertar, marcar como o mandato da “geston”, tenha cometidos erros crassos, pois não enxergam o óbvio.


Arrisco afirmar que só a Educação vai bem, notem que iniciei com um “arrisco”, pois há professores descontentes, como há anos não ouvia falar. Porém, este não é o assunto de hoje e fica para outro texto. Muito menos saúde (talvez o pior de todos), mas um assunto que o Jordi Castan aborda com maestria, a mobilidade urbana, mais especificamente a Avenida Santos Dumont.

Trata-se de uma avenida estadual na área urbana que, dizem, um dia será duplicada, algo que já deveria ter sido realizado na época da sua abertura. Porém, como é o costume, o planejamento foi feito para o hoje, não para o amanhã, e agora temos o impasse das onerosas desapropriações.

Como não há dinheiro para estas desapropriações está a ser criado um monstrinho urbano, com um binário, uma parte com 4 pistas e a última com 6 pistas, respectivamente, da mais movimentada para a menos, numa clara demonstração de falta de planejamento. Aliás, não pode faltar o que não se tem.

Mesmo sabendo que não aceitam sugestões, pois afirmam que o que está decidido está decidido, arrisco uma solução, radical, que precisaria de coragem, mas seria um marco administrativo.

Mudar todo o projeto, deixando-o em partes, para terminar lá por 2030, como gosta o prefeito. Primeiro concentraria todas as forças (principalmente econômicas) na duplicação do primeiro trecho, entre o final da João Colin e o trevo universitário, sem usar um elevado (palavrão para o IPPUJ), só um sinaleiro para o acesso do retorno pela Blumenau e uma boa reformulação no trevo das universidades (aquilo é um “balaio de gato”).
O grande gargalo do trânsito estaria resolvido, até para o transporte coletivo antiquado que reina por aqui, as outras duas partes seriam feitas na sequência, até 2030.

Como escrevi, precisa de coragem, envolve concentrar finanças, mão de obra, etc., em uma única etapa, causaria melindro e afins, ou seja, continuaram falando que agora é tarde, ou não?

terça-feira, 28 de abril de 2015

Calbuco


Não precisamos de Luciano Huck


POR FELIPE CARDOSO

Os programas da televisão aberta brasileira são ruins, isso é um ponto inegável, e é só observarmos a perda de audiência das emissoras para constatar que o telespectador tupiniquim está ficando cada vez mais crítico.

Enquanto as novelas tentam inserir visões revolucionárias em seus roteiros para atrair a atenção do público, os seriados e as séries estrangeiras vêm ganhando, a cada dia, mais fãs e espectadores brasileiros.

Poderia citar vários fatores que levaram a essa grande mudança. O acesso à internet e as promoções dos canais por assinatura contribuíram para a transformação desse quadro, por exemplo.

Mas acredito que o ponto principal esteja mesmo no desgaste dos programas. O brasileiro já está ficando cansado com a falta de imparcialidade e, principalmente, de profissionalismo do jornalismo “tradicional” brasileiro e vem buscando, cada vez mais, mídias alternativas para se informar. E as novelas demoraram e estão demorando muito para se atualizar e trazer uma visão completamente diferente de teledramaturgia ao seu público. Ou seja, os brasileiros já perceberam que as emissoras abertas não querem mudar de verdade, por isso estão migrando.

Um ponto em que observo e que chama muito a atenção, além dos programas sensacionalistas – que contribuem para a construção e o aumento do medo e desespero -, são os programas de auditório. Celso Portiolli, Gugu, Geraldo, Eliana, Luciano Huck, Regina Casé, Ratinho… Além de oferecerem quadros copiados do exterior, têm em comum a necessidade de se utilizar da população pobre para ganhar audiência e, automaticamente, patrocinadores, ou seja, verba, grana, dimdim, bufunfa, cascalhos…

Só que essa fórmula só dava certo quando as pessoas não tinham acesso ou não buscavam outros meios de entretenimento. Então era meio que obrigatório você assistir televisão e ver a história do pobre, bem pobre, conhecer a sua casa, as suas dificuldades e depois vê-lo se humilhar no palco para conseguir uma reforma no carro ou na casa, ou apenas para voltar a sua terra natal e, de alguma forma, alegrar-se com isso e ir trabalhar no dia seguinte.

Só que hoje, com muito mais informações que antes, com grupos muito mais organizados e buscando uma melhor politização e formação, esses programas não atraem tanto assim, mas os diretores parecem não notar isso e continuam optando em manter o mesmo formato antigo.

E falando politicamente sobre, tanto a esquerda, quanto a direita já estão cansadas desses programas. A primeira por fazer uma análise crítica sobre a representação desses programas na vida das pessoas e a segunda por acreditar na tese da meritocracia.

Não é de hoje que se aproveitam da tragédia alheia para lucrar, mas as pessoas estão se conscientizando que algum dia poderá ser a tragédia delas exposta para milhões de brasileiros e, depois de usada, descartada. Pois na modernidade é assim: o tempo está cada vez mais curto e não sobra espaço para uma só história. Quanto mais desgraça tiver, melhor é. E a comunicação tem se aproveitado disso.

Como uma mistura de urubu com sanguessuga eles ficam procurando pela desgraça para usar, sugar e descartar.

JOINVILLE

Um exemplo recente foi o caso do menino que agradeceu ao juiz que deixou a mãe, uma presa em estado terminal, passar os últimos dias em casa. Em uma matéria muito bem escrita, o jornalista Roelton Maciel relatou o fato e, preservando a imagem da criança, mostrou o agradecimento na íntegra (veja aqui: http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/noticia/2015/04/veja-como-um-menino-agradeceu-ao-juiz-que-deixou-a-mae-uma-presa-em-estado-terminal-passar-os-ultimos-dias-em-casa-4739772.html).

Tanto o papel do juiz, quanto o do jornalista foram feitos da maneira correta, preservando os envolvidos e propagando a humanização. Mas o que vimos após a repercussão da notícia, foi o vício que a imprensa brasileira tem com a tragédia.

Por ser um caso raro, infelizmente, a notícia se espalhou rapidamente e os abutres começaram a procurar a carne fresca para comer e depois jogar fora.

Emissoras de TV foram na casa do menino para entrevista-lo, colocando a tarja ou deixando a tela escura, para não aparecer, outras mostraram fotos também escondendo o rosto.

Para que? Não bastava apenas informar? Será mesmo que há a necessidade de explorar a fundo a vida de cada personagem? Qual é, realmente, a função de um jornalista?

Parece que o mosquito do ego cansou dos publicitários e está começando a picar jornalistas.

De agora em diante ninguém mais se importa com a vida e a história desse menino, a não ser que no futuro, não se tenha mais pauta, então façam outra matéria sobre o caso, para ganhar um pouco mais de audiência e aumentar a tiragem. Pois é isso o que realmente importa para alguns veículos, mas não para todos os jornalistas.

Precisamos, urgentemente, de uma democratização dos veículos de comunicação, isso é imprescindível, mas também precisamos formar mais jornalistas humanos, que saibam honrar seus compromissos de maneira séria, sabendo que o seu papel não é ser protagonista de cada matéria ou programa.

Ou isso, ou morreremos todos os comunicadores abraçados, afundando no mesmo barco.

Observação: a foto que ilustra o texto é do quadro “Jornal Jornal” do programa “Hermes e Renato”. Nesse episódio eles contam a vida de um menino que enfrenta duras dificuldades até chegar a escola (assista aqui: https://www.youtube.com/watch?v=B6Vyhtvpp4k).

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Uma bela história no céu das letras

POR ET BARTHES


É uma daquelas histórias que deixam um sorriso nos lábios.

Agora virou deboche!!!

POR JORDI CASTAN


Escrevi aqui no Chuva Ácida, faz agora um mês, sobre a sucessão de erros e o excesso de incompetência com que esta administração tem tratado a duplicação da avenida Santos Dumont. (Transito mata mais que homicidios em Joinville)

Na semana passada a imprensa noticiou as mudanças no projeto, para tentar concluir a obra. Não li nenhum pedido de desculpas, nenhum ato de contrição, nenhum reconhecimento por parte dos responsáveis pelos erros cometidos. As alterações divulgadas até agora reduzem a qualidade da proposta original, comprometem a efetividade e o impacto da "duplicação", que a partir de agora só deveria ser citada entre aspas para não confundir o contribuinte.

Pessoalmente acho que esta nova proposta põe definitivamente una pá de cal em qualquer esperança que o eleitor poderia ter que esta fosse uma administração modelar. Aquela que assentaria as bases, traçaria as linhas estratégicas e definiria o perfil da Joinville dos próximos 30 anos.

Sem nenhum projeto estruturante, sem nenhuma visão estratégica, sem um modelo de cidade moderno e eficiente, a Joinville que possa surgir desta gestão é uma cidade mediana. Uma cidade que pensa pequeno, planeja pequeno e executa ainda menor.

Sem uma visão de cidade, o que está proposto são ações pontuais, que a cada dia parecem mais eleitoreiras que estruturantes. O resultado é evidente. O que era para ser asfalto novo, agora virou recapamento. O que era para ser duplicação se converteu em um meio binário e um trecho duplicado onde menos é preciso. As outras duplicações anunciadas não devem sair do papel. E por aí vai. 

Se alguém acredita que haja nessa gestão municipal a competência necessária para planejar a Joinville do futuro, sugiro que assine certificado de estultice em grau máximo e que encaminhe para a secretaria de idiotia e candidez. Em tempo, quando Millôr escreveu a frase: "Vocês já observaram o refinamento, o cuidado, o extremo acabamento - claro, a bom custo - com que neste país se exerce a incompetência?"

Fica a impressão que ele estaria se referindo especialmente a Joinville

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Não é só pela depressão


POR VALDETE DAUFEMBACK NIEHUES 


Há pouco mais de duas semanas, no percurso ao trabalho, ao ligar o rádio reconheci de imediato o tom agressivo da voz do comentarista Luiz Carlos Prates, como um pitbull da moral a rosnar contra o movimento Orgulho Gay. Exclamou ele: “... como ter orgulho de ser doente?!” De pronto, desliguei o rádio. Pensei: “O dia está apenas começando e meu humor não pode ser afetado por grosserias intencionalmente ofensivas”.

Mas evidentemente que fiquei meditando sobre o que acabara de ouvir. Não, aquelas palavras não poderiam ter sido emitidas por alguém com capacidade de raciocínio, de leitura e de, no mínimo, bom senso. Será que existem pessoas dispostas a consumir esse tipo de informação? 

Já fazia muito tempo que não conseguia ouvir um comentário na íntegra deste sujeito desrespeitoso e sem noção de qualquer valor humanístico, que costuma se colocar como um deus da verdade, com direito a julgar, de forma torpe, quem quer que seja só porque tem a condição de se esconder atrás de diplomas acadêmicos que, sinceramente não sei como os conseguiu.


Não o conheço pessoalmente, mas pela abordagem de seus comentários, cada vez mais agressivos, distanciados e dissociados da realidade, suscitavam-me dúvidas quanto ao índice de audiência ou de credibilidade, pois seria apostar na ingenuidade e desinformação dos telespectadores, ouvintes ou leitores, que ao consumir conteúdos preconceituosos não tivessem a prerrogativa da crítica. 

É neste ponto que entendo o aspecto da demissão do referido comunicador uma semana depois do tal comentário que escutei via rádio. Soube por outros canais de comunicação de que sua demissão foi motivada por um comentário sobre pessoas que sofrem de depressão, aos chamá-las de “covardes existenciais”.

Ou seja, sem adentrar na questão imediata de sua demissão por ser demais revoltante e desrespeitosa com milhares de pessoas, é certo que a sua visão torpe sobre as relações humanas já não mais contribuía para fidelizar consumidores de informação, tão necessário em qualquer meio de comunicação diante da “guerra” de concorrência entre empresas. 

No entanto, esta não é a primeira vez que o sujeito foi desligado de empresa de comunicação por emitir desastrosa opinião sem qualquer fundamento que sustente sua verdade particular constituída a partir de uma irresponsabilidade comunicacional, talvez por já não mais ter o que dizer para assegurar o seu papel de comunicador impactante, base sobre a qual construiu a sua fama.


A sua irresponsabilidade demonstrou não ter limites quando se trata de estufar o peito para atacar a todos que não estejam dentro de um conceito que sua visão moralista considere ser o mundo perfeito, preferencialmente, com contornos que expressem os valores cruéis de uma política militar autoritária.  
Vá pra casa, Prates! Vá destilar o teu recalque, o teu ódio no silêncio do teu espaço privado onde ninguém mais possa ouvir os teus julgamentos patéticos e preconceituosos sem assim desejar, mas tão somente por estar conectado a um meio de comunicação.

Espero não vê-lo mais sentado em frente às câmaras exibindo as técnicas de oratória (na avaliação de alguns entendidos no assunto, exemplar), enquanto semeias ideias equivocadas com requintes de ódio em relação aos temas apresentados, sem o mínimo de discernimento intelectual que justifique o sentido das frases de efeito ofensivas, revestidas sob o manto da moral e dos bons costumes de “gente de bem”. 

Não me deprima! 






quarta-feira, 22 de abril de 2015

A história do trabalho e a terceirização



POR VANDERSON SOARES

É engraçada essa coisa de trabalho. Já parou pra pensar em como chegamos nesse modelo de trabalho? O mundo ocidental foi moldado à imagem do mundo greco-romano.  E sua exuberância, com grandes monumentos e obras faraônicas forjadas pelo trabalho escravo. 

Nos idos de II a.C até o século V, a herança greco-romana sobre o trabalho era relacionada à escravidão, considerando o trabalho como algo menor, indecente ou de gente que está sendo punida.

Nosso mundo passa desta fase e chega, pomposo, à Idade Medieval em que a relação se modifica um pouco. Não é mais escravo, mas servo. A relação ainda é de dependência, onde o servo trabalha um pouco para si e o restante para o seu senhor. Mas se o sistema escravocrata estava tão bem, por que mudar? Sentiu-se a necessidade de vender e comercializar a mais pessoas, neste caso, para os escravos, que agora eram “livres”. Esse retrato europeu do trabalho foi importado e a relação de exploração do outro moldou a forma de trabalho ocidental. No Brasil e EUA, por exemplo, o sistema de trabalho foi todo edificado sob essa ótica.

Karl Marx fazia uma relação interessante sobre isso, explicando questões como preço e valor e a famosa “mais-valia” que seria a diferença entre o valor pago ao trabalhador para produzir determinado bem e o real custo para produzi-lo.

Para incrementar a história, faltava a religião entrar no jogo e dar sua contribuição relacionando o trabalho com castigo. E foi isso que se sucedeu. O judaísmo contribuiu doutrinando que o trabalho era um castigo devido à desobediência de Adão e Eva, ainda quando estavam dentro dos “portões” do Éden.  Aqui parafraseio o livro de Gênese quando Deus diz “Tirarás dela (da terra) com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida...Comerás o teu pão com o suor do teu rosto” (Gen, 3, 17-19).

Essa ideia de trabalho ser castigo se passou para o ocidente e permeia muitos até hoje, quando a igreja católica, herdando as concepções semitas, relaciona pobreza à salvação, riqueza à condenação e trabalho a algo penoso  aludido à castigo.

Continuando a viagem, nos idos dos séculos XVI o protestantismo vai trazer uma inflexão no tema, aludindo o trabalho, que nasce junto com o capitalismo, como continuação da obra divina onde o acumular e guardar será valorizado. Ainda hoje, em condições visuais de observação, é comum observar um protestante numa posição social mais privilegiada do que um católico (observação pessoal do autor). Esta relação do protestantismo com a evolução do trabalho e do capitalismo é muito bem expressada na obra de Max Weber, “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, obra do século XIX, mas de uma atualidade brutal.

No Brasil, quem começou a discutir e implementar os direitos trabalhistas foi o presidente Getúlio Vargas. Hoje se comenta da legalização da terceirização, o que eu vejo como algo extremamente pernicioso para nossa sociedade. A herança escravagista e exploratória, mesmo com os direitos trabalhistas, é muito presente em muitas regiões do Brasil. Legalizando a terceirização estaremos retroagindo neste ponto. Analogamente, é mais ou menos como se estivéssemos cancelando os direitos trabalhistas, mudando os nomes e vínculos, mas não mexendo nas condições de trabalho.

É claro que causa revolta quando um trabalhador “encostado” trabalha na reforma de sua casa ou de maneira informal para fazer renda extra  ou pedindo atestados médicos por motivos inexistentes. Há de se observar também o lado das pessoas que não levam a sério suas obrigações profissionais e abusam da fragilidade do nosso sistema, mas ainda assim, concordado com o protestantismo defendo que o trabalho é a continuação da obra divina de cada um, onde a contribuição pessoal para o desenvolvimento do mundo é feita de maneira prazerosa. O que não é possível ocorrer se o trabalhador não se sentir protegido, por meio oficializado, ou seja, pela Lei.

terça-feira, 21 de abril de 2015

A mídia alternativa tem nome


O ódio está no ar...

Acreditem: o comentário não foi sarcástico.
POR PEDRO HENRIQUE LEAL

Parece me que o ódio está em alta. Nas últimas duas semanas, tivemos a campanha de insultos promovida por Danilo Gentili e a revolta contra a travesti Verônica Bolina (por gente que não entendeu qual era o problema). Teve também a islamofobia gritante com pessoas mandando Charlyane Silva de Souza “voltar pro seu pais” e a chamando de “terrorista” quando essa teve seu direito de uso de véu reconhecido pela OAB, uma onda de xenofobia contra imigrantes chineses após o caso da pastelaria que usava carne de cachorro. E no meio disso tudo, se reergueu um dos mais infames blogs de ódio da internet brasileira.


Vamos então por partes.


O Caso Verônica Bolina


A sucessão de eventos na prisão da travesti ainda não está clara. Sabe se que Verônica agrediu uma vizinha de 73 anos. Que foi colocada em uma cela masculina. Que se envolveu em uma confusão na cela em que estava detida e que mordeu a orelha de um carcereiro após dita confusão. Que foi agredida na prisão e no hospital. Que foi fotografada sem camisa e com o rosto desfigurado. E que foi coagida a gravar um depoimento onde negava ter sido agredida, em troca de redução de pena.


O caso atraiu a revolta de movimentos de direitos humanos e essa revolta atraiu o ódio dos defensores da lógica “bandido bom é bandido morto”. Enquanto o primeiro grupo questionava o tratamento dado à travesti, o segundo dizia que ela devia pagar por seus crimes e merecia “apanhar mais”. Sem entender que ninguém estava dizendo que Verônica não devia pagar, mas sim que esse “pagamento” deveria ser feito dentro dos termos da lei. Grande parte dos revoltosos contra movimentos como #SomosTodasVerônica parece incapaz de compreender o problema. A indignação não é com ela ter sido presa, mas com a maneira em que foi tratada pelas autoridades e pela qual foi privada de sua dignidade.


Ainda assim houveram aqueles, muitos dos quais policiais, que viram no caso justificativa para despejar seu ódio contra todas as travestis. Como se não apenas Verônica devesse pagar além dos limites da lei, como todas as mulheres trans devessem pagar pelos crimes de uma. E sem entender que existe uma maneira civilizada de se punir transgressões, sem precisar dos punhos para isso.


Pastel com recheio de xenofobia


Dois casos serviram para refogar a velha xenofobia a brasileira. O caso da pastelaria chinesa que usava mão de obra escrava e carne de cachorro no Rio de Janeiro ressuscitou o velho discurso da “ameaça amarela”, e não foram poucos os comentários pedindo a deportação imediata de todos os sino-descendentes do país.


O segundo caso foi o recurso da bacharel em direito Charlyane Silva de Souza, privada de fazer o exame da OAB caso não retirasse o véu (e violasse suas tradições religiosas). Convertida ao Islã no ano passado, o recurso de Charlyane atraiu comentaristas furiosos, exigindo que “voltasse ao seu país” e afirmando que se tentassem o contrário “no país dela” seriam executados. Charlyane é brasileira. O Islã, uma religião, e não uma nacionalidade. O maior país islâmico? O mesmo que tantos opinadores exaltados adoraram em janeiro, quando o traficante de drogas Marco Archer foi executado.


A revolta com Charlyane representa uma série de confusões que ainda nos marcam. Não foram poucos os comentaristas que usaram das tentativas de proibição de símbolos religiosos por repartições estatais para dizer que Charlyane deveria ser proibida de usar o véu “pois o estado é laico”. Por ser muçulmana, fora chamada de terrorista e “advogada bomba”. Vez após vez, a fé islâmica se vê confundida com o extremismo, como se fossem uma coisa só .Como se não bastasse, repetem o erro de achar que todo muçulmano é árabe e um imigrante árabe.



Rede de ódio, ódio na rede


Mas o choque de ódio maior, no meu ver, veio como resposta a uma campanha do Governo Federal. Tão logo foi criada a página Humaniza Redes e o perfil correlato no Twitter, surgiram as acusações de que o programa (uma ouvidoria para denuncias de violações de direitos humanos) era “censura”. E, de imediato, o humorista Danilo Gentili tratou de dar a sua resposta: Desumaniza Redes, incentivando um festival de ofensas sem fim que empesteia a página governamental.


O argumento para defender a campanha de insultos (e apologia a violência)? Que a proliferação de homofobia, machismo, racismo, xenofobia e até pornografia infantil na rede não passa de “zueira”, que não deve ser limitada nunca. Eis a liberdade de expressão defendida por Gentili: a liberdade de ofender, de ameaçar e de discriminar. Ironicamente, o “defensor da liberdade de expressão sem limites” se dedica ativamente a silenciar o outro lado da discussão.


E no rastro da campanha de Gentili, um velho vulto se reergueu nas sombras da blogosfera brasileira. Antes conhecido como “Homem de Bem”, agora como “Tio Astolfo”, um dos mais notórios pregadores do ódio do país, procurado desde 2013, voltou a ativa. Pregando a morte de gays e negros, o estupro de feministas e outras atrocidades, o imitador de outro blog de ódio (o extinto Silvio Koerich) demonstra uma fúria implacável - e assim como a Desumaniza Redes, justifica tudo dizendo que é “humor controverso”. Pois claramente, dizer “é uma piada” resolve tudo.


Isso é só um pequeno recorte do que acontece em todas as áreas, não só na internet. As vezes pelos motivos mais banais. Quem nunca se viu insultado por gostar das “coisas erradas”? No estado americano do Oklahoma, dois colegas de quarto se golpearam com garrafas de cerveja em uma disputa sobre iPhone versus Android. O ódio está em alta e qualquer coisa parece justificá-lo.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

X- Lula


O incêndio, o aviso e a lição que muitos não querem aprender


POR JORDI CASTAN

Não há pior surdo que o que não quer ver ou pior cego que o que não quer ouvir. Em nome de um suposto desenvolvimento a qualquer custo, a LOT propõe que nas chamadas Faixas Viárias seja permitido instalar indústrias e comércio de porte. A lista de tudo o que pode está no próprio site do IPPUJ.

A explosão de um depósito de fertilizantes em São Francisco do Sul, há algum tempo, não serviu de alerta e o risco não foi evitado. Agora um incêndio num estabelecimento comercial na Zona Norte mostra novamente o perigo de permitir a instalação, junto a áreas residenciais, de atividades potencialmente perigosas. Mas aqui em Joinville não há forma de que os responsáveis escutem ou vejam.

Que não seja por falta de aviso.

O incêndio nas páginas do jornal A Notícia

Para alguns, árvores são problemas. E custos...

POR JORDI CASTAN


Falar de preservação e valorização do verde e de arborização urbana em Joinville é como pregar no deserto, uma tarefa estéril. Simón Bolívar chamaria este tipo de trabalho "arar no mar".

Joinville cuida pouco e mal do seu verde urbano. As áreas verdes públicas não priorizam a arborização e, quando não resta outro remédio, as espécies indicadas são de pequeno porte, de vida curta, de madeira mole. E o plantio é feito sem seguir normas técnicas elementares. 

O resultado é que as árvores sobreviventes não crescem. Fiscalização? Ou não há. Ou é ineficiente. Ou não dispõe de meios adequados para fazer seu trabalho. O quadro geral é ruim e vai ficando pior cada dia. Se não se plantam novas árvores, se não se repõem as mortas e vandalizadas, se não se plantam as espécies adequadas para cada espaço, o resultado é a perda de verde.

A cada ano há menos árvores e as poucas que têm sido plantadas nos últimos anos não são fornecidas com o tamanho mínimo recomendado, não são plantadas corretamente e na maioria de casos não sobrevivem. Mais de 50% das árvores plantadas nas ruas de Joinville morrem antes dos 6 meses.

Exemplos? Vamos lá. Na Rua Timbó, parte do binário, ou trinário, como o IPPUJ denominou a intervenção nas ruas Max Colin, XV e Timbó, mais da metade das quaresmeiras plantadas no lado esquerdo da rua simplesmente desapareceram e não foram replantadas. E ainda bem, porque plantar quaresmeiras no lado da rua que não tem fiação elétrica - e deveria receber arvores de porte maior, como Pau Ferro, Sibipuruna ou Pau Brasil -, é coisa de quem tem raiva de árvore e não gosta de verde. No parque José de Alencar (ou da Cidade) é melhor nem falar, pois segue sendo um deserto, sem uma sombra. O São Francisco segue o mesmo modelo e a retirada da fiação elétrica no centro não tem se transformado em mais árvores e mais sombra.

Árvores reduzem o calor do verão em ate 6 graus e ruas sombreadas são mais agradáveis para caminhar. Árvores contribuem a redução de consumo de energia, purificam o ar, absorvem CO2 e outros poluentes tóxicos presentes no ar, reduzem os níveis de poeira, atraem pássaros e promovem a biodiversidade, sem falar que embelezam as cidades, entre outras vantagens.

Pensando bem, só eu mesmo para imaginar que alguém que possa achar o modelo de arborização de uma empresa têxtil localizada na Rua Dona Francisca, na zona norte, possa ser uma boa referência vai se incomodar com a situação do verde urbano em Joinville.


O perigo esta nesse tipo de gente que vê árvore como problema e custo.


sábado, 18 de abril de 2015

Saudações, Apolinário Ternes

POR ANDRÉ LEONARDO

Li a opinião de Apolinário Ternes no jornal A Notícia, onde defendeu o Colégio Santos Anjos por utilizar espaço público como estacionamento e não contive o desejo de responder publicamente. Respeito as palavras deste senhor e sua coragem em expor uma posição que contrária à da grande maioria e da própria legislação.

Porém, após lerem o texto de Ternes o que pensaram as mais de sete mil pessoas que passam pela avenida JK todos os dias utilizando o transporte coletivo? Eu consigo imaginar e expressarei isso buscando outros pontos de vista:

#A dona de casa, que trabalhou mais de oito horas em pé, enfrenta seu último desafio antes de chegar em casa: o trajeto. O que ela poderia pensar ao saber que alguém culpou o ponto de ônibus que ela utiliza todos os dias pela confusão na Avenida JK?

#O que o estudante que paga sua faculdade e uma das passagens mais caras do Brasil pensou? O que ele sentiu quando espremia-se dentro de um ônibus onde cada metro quadrado é disputado e como reagiu quando foi obrigado a esperar por mais de dez minutos dentro do coletivo, porque o corredor exclusivo de ônibus estava ocupado com carros parados, aguardando a saída dos alunos do colégio para o embarque.

#Também consigo imaginar um empresário, preso em seu carro no congestionamento enquanto vislumbra a linda passarela que cruza a avenida, talvez um homem com vários compromissos naquele dia, e que, por conta da fila dupla em frente ao colégio, só lhe resta ter paciência e aguardar.

São muitos casos. “Ah, o colégio chegou antes!” Opinião retrógrada que em nada respeita e valoriza a mobilidade urbana e apenas a trata com desdém e mero detalhe no cenário urbano. Os povos dos sambaquis estavam há muito tempo antes de nós todos, assim como os índios e outras populações. O respeito à história e a cultura é devido, mas isso não impede o crescimento e o favorecimento dos meios de transporte coletivo.

A escola fere sua imagem ao defender as vagas irregulares implantadas pela prefeitura. Culpabilizar o ponto de ônibus ou qualquer outra obra que vise o deslocamento de milhares de pessoas é no mínimo um equívoco absurdo. O senhor Apolinário Ternes precisa urgente estudar a legislação de trânsito e as políticas de mobilidade. Não é possível conceber a proposta de que se ganha por tempo de existência. É o cúmulo!

Queremos uma cidade que pense para todos, para o coletivo e que, acima de tudo, respeite as legislações vigentes.


quinta-feira, 16 de abril de 2015

Impressões sobre Joinville

POR MÁRIO MANCINI



É a maior cidade do Estado de Santa Catarina, com a maior economia, arborizada, florida (já foi mais) e, podemos até dizer, pacata para os padrões atuais. Está se tornado tão grande que consegue abranger todos os conceitos já publicados, Nossaville, Buracoville, Florville, que, por sinal, concordo com todos e acrescentaria Chuville, Carroville, Multaville, etc.

Mas é a cidade que nos acolheu, ou que escolhemos para viver, como toda cidade possui virtudes e defeitos, que serão potencializados pela administração municipal.

No caso atual, os defeitos estão saltando aos olhos, prefiro pensar que por incompetência, porque descaso seria imperdoável. A última administração colocou a cidade em um marasmo progressivo, inúmeras obras não saíram do papel, não foram concluídas ou ficaram pela metade, a atual só aprimorou o processo, com certo requinte autoritário, de certa forma, fictício.

Porém, nem tudo é ruim, principalmente o que não depende do poder público. Nos últimos 20 anos, a cidade mudou muito, para melhor; hoje conseguimos sair para almoçar após as 14h e jantar após as 23h, ainda que sejam poucas opções, mas existem, acreditem, tem que procurar.

Crescemos culturalmente, com o maior festival de dança do mundo, entramos na rota dos shows, os ingressos nem vem mais com Joinville/PR, como nos anos 80.
Ou seja, deixamos de ser a primeira chuva à esquerda, para quem vem de Curitiba.

Tudo isto para dizer que Joinville é merece respeito, elogios, etc., mas também deve saber aceitar as críticas construtivas, pois quando apontamos problemas não queremos apenas polemizar, muitas vezes apresentamos soluções, ou algo próximo disso, que, certamente, não será a ideal, mas serve, ou melhor, serviria para abrir o debate construtivo, o que raramente acontece.

A administração atual parece estar fechada em um casulo. Até aceita sugestões, porém de um clube muito restrito. Sabemos que democracia demais atrapalha e saber dosar é essencial, porém democratizar é necessário, em alguns casos, pode ajudar a evitar a tal “judicialização”, um neologismo do atual alcaide. Ou não?