Frequentemente, em conversas com amigos, conhecidos e até em
nossos ambientes de trabalho é relativamente comum ouvirmos a frase: “Eu me
preocupo com minha mulher, ajudo bastante em casa”, ou então “Tenho um bom
marido, ele me dá uma mão com as tarefas”.
Então, caro amigo te peço uma coisa:
Por favor pare agora. Pare de ajudar a sua mulher em casa.
Pare de dar uma mão. Apenas pare.
Bom, eu vou explicar o motivo. Nós mulheres somos
constantemente assediadas em virtude dos trabalhos domésticos. Tudo começa na
infância – e a projeção de tudo isso ainda na gravidez – quando somos ensinadas
que vassourinha, fogãozinho e bonecas são brinquedos exclusivamente femininos,
sempre voltados a tarefas e cuidados com o lar.
É claro que ensinar a criança a cuidar de seu próprio lar é
excelente, mas pera lá, nós não somos ensinadas, naturalizamos aquele serviço
como sendo exclusivamente nosso, e a partir daí criamos um processo de aceitação
e de negação da divisão das tarefas do outro:
_É coisa de mulher.
Ainda na infância, perdemos, antes mesmo de entender como
funciona o mundo, boa parte de nosso empoderamento enquanto mulheres, quando
nossos irmãos, primos e vizinhos meninos ganham legos, que estimulam a
criatividade, carrinhos que ensinam todo o processo de lateralidade e diversos
brinquedos que os ensinam a construir, demolir, refazer, desmanchar enquanto são
sempre condicionados a entender que todo o restante do processo de cuidado e
higiene são dados a nós por carma, o carma de ter sido lida pela sociedade
enquanto mulher.
Muitas de nós, ainda na infância aprendemos a lavar, secar,
guardar pratos e louças e no início da adolescência já temos ‘’que aprender a cozinhar se quiser
começar a namorar’’. Nossos sentimentos são condicionados a capacidade de
cuidar de um lar. Nosso vigor sexual está aliado a nossa ‘’sensibilidade’’ e a
capacidade de reprimir nossos desejos em prol do outro. Passamos a adolescência
fazendo enxovais que contém apenas utensílios e roupas para, adivinhem? O
cuidado com o lar.
No chá de panela enquanto na periferia ou nos altos
condomínios as mulheres em sua maioria estão fazendo brincadeiras vexatórias,
vocês homens (em uma relação heteronormativa é claro), estão fazendo despedidas
de solteiro. Em qualquer festa ou atividade que haja no mundo essas analogias
estarão presentes, em algum grau.
Mas você só está querendo ajudar certo? Errado.
Quando você se dispõe a ajudar a sua mulher você está
assumindo seu papel de privliegiado e beneficiando-se dele, tomando-se como um
ajudador e não de divisor de tarefas. As tarefas domésticas precisam ser
dividas de forma igualitária. Você meu amigo homem, não ajuda é casa, você é
tão responsável quanto ela nos afazeres domésticos, nos cuidados com os filhos,
na responsabilidades que necessitem de cuidados de higiene e limpeza fora de
casa.
É preciso que os
homens compreendam que já absorvemos e naturalizamos muitas dessas tarefas. Que
já nos acostumamos a fazer trabalho dobrado no emprego para ser reconhecida
como boa profissional. Que já nos acostumamos a ser a pessoa a fazer o café,
levar o salgado e lavar a louça nas festinhas que tem como objetivo descontrair
e esquecer o ‘’trabalho’’.
É necessário que nossos companheiros, maridos, amigos
entendam que não é natural que eles esqueçam artefatos de higiene, de limpeza,
comidas e outros cuidados. Não é engraçado o marido esquecer a papinha da
criança. Não é nada divertido quando ele deixa a comida queimar. É extremamente
estressante, porque só volta a lembrar que eles ‘’não nasceram pra fazer isso,
e tudo está dando errado porque estão tentando nos ajudar’’.
Ok, não ajudo mais! rs
ResponderExcluirA autora cresceu na década de 50?
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