terça-feira, 31 de março de 2015

Cortes


O negro, a educação e a mídia

POR FELIPE CARDOSO

História:

Enquanto os europeus recebiam incentivos do governo brasileiro para vir trabalhar no Brasil, em uma tentativa de branquear o país, os negros, recém-libertos, ficaram à margem, sem direito a saúde, moradia, terras, comida e, principalmente, sem educação.


Sem oportunidade de estudo, a maioria dos ex-escravos não tinham condições de competir por vagas no mercado de trabalho. Por isso, muitos continuaram trabalhando para seus senhores, enquanto outros se submeteram a trabalhos subalternos nos grandes centros, que começavam a se industrializar.

O reflexo dessa falta de acesso está presente atualmente. Basta olhar os dados e ver que a realidade da população negra brasileira continua ruim. A cultura escravista persiste e vemos isso nos diferentes setores de trabalhos da nossa sociedade.

A maioria dos negros do Brasil estuda em escolas públicas e muitos têm que trabalhar durante o dia e estudar a noite.

Sabendo dessas dificuldades e das injustiças sociais e raciais cometidas no passado, foi aprovada, no final de agosto de 2012, a lei que alterou a forma de ingresso nos cursos superiores das instituições de ensino federais.

A chamada Lei das Cotas (Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012) obriga as universidades, institutos e centros federais a reservarem metade das vagas oferecidas anualmente em seus processos seletivos para candidatos cotistas. O prazo para o cumprimento dessa determinação é 30 de agosto de 2016.

Essa lei causou e continua causando grandes polêmicas por conta da não aceitação dos setores conservadores da nossa sociedade. Mesmo sem entender o objetivo da criação da lei, muitos veículos da imprensa começaram a produzir opiniões infundadas, incentivando os receptores a não aceitar esse tipo de lei.

Explicação:

As cotas são sociais e são considerados cotistas todos os candidatos que cursaram, com aprovação, as três séries do ensino médio em escolas públicas ou Educação de Jovens e Adultos (EJA), ou tenham obtido o certificado de conclusão do ensino médio pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os estudantes com bolsa de estudo integral em colégios particulares não são beneficiados pela lei.

A lei também prevê, dentro do sistema de cotas, que metade das vagas deverá ser preenchida por estudantes com renda familiar mensal por pessoa igual ou menor a 1,5 salários mínimos e a outra metade com renda maior que 1,5 salários mínimos.

Dentro dessas cotas sociais, livres para todos os tipos de cores que se enquadrem dentro das exigências da lei, estão reservados as cotas raciais, dedicada a negros, pardos e índios, conforme o percentual de cada raça indicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Ou seja, a distribuição das vagas da cota racial varia de acordo com a proporção de índios, negros e pardos do Estado onde está situado o campus da universidade, centro ou instituto federal. Logo, um Estado com um número maior de negros, terá mais vagas destinadas a esse grupo racial. Para comprovar a raça, o único documento necessário é a auto declaração.

Então, para deixar escuro, mais uma vez: as cotas sociais podem ser utilizadas por todas as pessoas, de todas as cores que atendam os requisitos necessários. Dentro dessas cotas sociais, existem as cotas raciais em que o número de vagas varia de acordo com a proporção de índios, negros e pardos do estado em que se encontram o campus das instituições.

A mídia:

Sem querer elucidar tais fatos, a grande imprensa tratou logo de fazer o seu serviço de desinformação. Os grandes veículos brasileiros mostraram, mais uma vez, que o seu real objetivo é a manipulação e não o compromisso com a verdade e muito menos com a ética.

Em matérias mal feitas e muito tendenciosas fizeram com que as pessoas pensassem que apenas os negros teriam direito as cotas nas universidades. Algumas pessoas acreditavam que valeria para todas as universidades, inclusive particulares. Logo, uma onda de protestos e racismo começou a surgir nas redes sociais.

Tentando fazer com que os próprios negros sentissem vergonha de fazer parte de um projeto de inclusão que demorou muitos anos para acontecer, as mesmas empresas que financiaram e colaboraram para o golpe militar de 1964, investiram em propagandas para dizer NÃO AS COTAS. A Folha de São Paulo, por exemplo, usou até uma modelo negra, com cabelo afro, para dizer que é contra as cotas raciais. (Confira aqui: www.youtube.com/watch?v=xRNtn3UyIdI)

Mas graças a uma grande militância dos movimentos sociais conseguiu-se desmistificar as inverdades propagadas por esses canais. Porém, ainda hoje, esse assunto ainda continua gerando polêmica, justamente por causa da falta de explicações sobre todo o processo.

É de se esperar tais posicionamentos desses veículos que sempre fizeram questão de manchar e humilhar a população negra no país e que ainda se mostra resistente em colocar pessoas de pele escura como protagonistas em novelas, âncoras e editores de jornais, modelos, apresentadores, entre outros. Para eles, os negros continuam não merecendo estudo, pois eles precisam de homens negros para segurar as câmeras e gravar seus programas e de mulheres negras para segurar suas sombrinhas para escapar da chuva ou do sol forte. Não é mesmo Angélica? (Confira: www.pragmatismopolitico.com.br/2015/03/sob-vaias-angelica-e-globo-sao-obrigados-a-deixar-universidade-no-rio.html)

Opinião:

– Existem brancos pobres?

– Sim, existem.

– As cotas são só para negros?

– Não.

– Mas por que batem tanto na questão dos negros?

– Pois ainda existe no Brasil o pensamento escravista, colonial. O racismo está impregnado e os habitantes da Casa Grande não querem ver esses negros quebrarem a corrente de novo. Eles querem manter o status quo para não perderem seus privilégios.

– As cotas raciais solucionarão os problemas da nossa educação?

– Não, mas darão mais oportunidades para as pessoas frequentarem ambientes acadêmicos, terem uma melhor formação e poder disputar vagas com salários melhores. Contribuirão para que vários jovens possam ter outras perspectivas de vida, para lutar por melhoria nas suas comunidades e incentivar mais jovens a estudar.

Cabe a toda população, agora, cobrar de nossos vereadores, prefeitos e governadores uma melhor educação nos ensinos de base. Cobrar melhores salários para os professores, mais especialização para os mesmos e melhorias no ensino, dando suporte e incentivando, cada vez mais, os alunos a almejarem sonhos maiores.

Devemos entender que as universidades federais e estaduais devem ser sim utilizadas por pessoas que não possuem condições para arcar com as despesas de uma universidade, portanto as cotas não tem que ser vista como um absurdo, uma vez que tais universidades foram criadas para os pobres. Mas o que vemos, atualmente, são esses locais sendo preenchidos por pessoas que tiveram condições de pagar escola particular e cursinho. Os mesmos que se revoltam pela Lei das Cotas.

A nossa educação hoje se resume a mercadoria, uma vez que os colégios particulares ensinam seus alunos para passarem em universidades federais para depois investir em publicidade em TVs e outdoors mostrando que foram “os maiores aprovadores no vestibular daquele ano”, seduzindo mais pais a matricularem seus filhos naquele colégio.

Enquanto isso os estudantes de escolas públicas concluem o ensino médio sem qualificação para competir com os alunos de colégios particulares e acabam ingressando em faculdades particulares que, em sua maioria, tem certo objetivo de mercantilizar o ensino sem muita preocupação com a qualidade.

Mas chegará o dia em que todos nós aprenderemos a não avaliar as pessoas por números e excluiremos de vez os vestibulares de nossas vidas deixando, assim, o caminho livre para as pessoas experimentarem e decidirem tranquilamente suas profissões. Para isso, é preciso muito estudo. Portanto, as cotas ainda se fazem necessárias, pois a realidade da nossa educação ainda é a lógica de mercado, nossa desigualdade se faz presente e nossa sociedade ainda é excludente.

segunda-feira, 30 de março de 2015

Trânsito mata mais que homicídios em Joinville

POR JORDI CASTAN
Durante quase dois anos Joinville deixou de ter radares e lombadas eletrônicas. Será que não precisava? Não é hora de buscar responsáveis pela omissão? Todos sabem de quem é a responsabilidade, quem devia ter licitado e quem responde pela gestão do trânsito na cidade. Não há dúvidas.

Os dados oficiais da Secretaria de Saúde do Estado de 2014 mostram que em Joinville o trânsito matou 148 pessoas. É o maior número de mortes nesta década. Ou seja, mais que os mortos em homicídios. O número de mortes no trânsito não era tão alto desde 2006.

O jornalista Jefferson Saavedra, no jornal "A Notícia" do dia 13 de março, informa que estes números são menores apenas que os de 1996 e 1997, quando a BR-101 ainda não tinha sido duplicada e vivíamos uma carnificina diária. Joinville não é só a maior cidade do Estado em número de habitantes, mas também a cidade em que o trânsito mais mata.

E o que isso tem a ver com os radares, as lombadas e o abandono em que Joinville está mergulhada já faz tempo? A primeira constatação é que sem radares o trânsito tem matado mais. A segunda é que quem deixou a cidade sem a proteção, dos radares e das lombadas, se omitiu e poderia ser responsabilizado por omissão. No serviço público, a omissão é um delito.

Estas duas constatações levam facilmente a uma terceira constatação, que tem implicações muito sérias. O município pode querer se eximir da sua responsabilidade justificando que não houve omissão por parte da autoridade de trânsito e do gestor municipal é que não há relação entre a retirada dos radares e o aumento do número de mortes no trânsito. Nesse caso a pergunta que surge é: se os radares e as lombadas eletrônicas não reduzem o número de mortes no trânsito, para que servem? Qual o seu objetivo? Só arrecadar?

De acordo com o Plan MOB, apresentado pelo IPPUJ na semana passada, o governo municipal não tem dados concretos e sistematizados. As informações se encontram divididas entre uma série de secretarias, fundações e ONGs. Assim não foi apresentado o mapa da morte no trânsito, com a identificação dos pontos mais perigosos, aqueles em que ocorrem o maior número de acidentes fatais, e portanto não há qualquer proposta concreta para acabar com eles.

Tampouco é possível verificar se os pontos em que estão sendo instalados os novos radares, são de fato aqueles em que serão mais úteis para reduzir o número de acidentes ou se tem como objetivo atender a demandas pontuais, frente a aquela igreja, escola ou órgão público, atender a pedidos de vereadores ou de líderes comunitários. Corremos o risco real de instalar mais radares, multar mais, arrecadar mais e ver o número de mortes continuar a aumentar. Pior ainda, corremos o risco que de novo ninguém seja responsabilizado pela omissão.

Em tempo, os mais de 50 mortos do trágico acidente de ônibus na Serra Dona Francisca terão um impacto sobre os números de vitimas fatais em 2015, que têm tudo para ser piores que os de 2014.



sábado, 28 de março de 2015

Dilma, Lula, Cuba, Venezuela. Tucanos não...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Leram o meu texto do fim de semana passado? Era sobre a Lista de Furnas, que envolvia políticos de partidos como o PSDB ou DEM. Um tema que, dizia eu, não ia emplacar na grande imprensa. O texto pretendia uma abordagem sobre as linhas editoriais seletivas, pois há órgãos da comunicação social que só gastam tinta quando se trata de detonar o Partido dos Trabalhadores (ao qual não pertenço, devo repetir).

Mas se alguém for ver os comentários ao texto, nenhum desmente ou tenta esclarecer a Lista de Furnas. Tudo o que se fez por lá foi desancar o autor do texto (argumentum ad hominem) e atacar o inimigo de sempre: o Partido dos Trabalhadores, claro. Por que isso acontece? Simples. Porque as pessoas não leem. Limitam-se a ver manchas de texto e siglas partidárias, coisas que tratam como se fossem os emblemas dos times para os quais torcem.

É por isso que nenhum comentário falou em Aécio Neves, José Serra ou Geraldo Alckmin, nomes mais sonantes na lista. Mas falaram em Petrobras, Lula, José Dirceu. É uma obsessão. Essa gente se alimenta dos headlines das revistas e jornalões e não tem capacidade mental para ler texto com mais de 10 linhas (nem 10% deles deve ter lido este texto até aqui).

Esta semana fiz um pequeno exercício no Facebook para testar a capacidade de percepção desse tipo de leitor. É zero. Usei dois exemplos de mentiras espalhadas por aí e que já foram sobejamente desmentidas. Mas o esclarecimento passou batido. Ninguém prestou a atenção e continuou a comentar - e a reproduzir - as falsidades. Um caso foi em relação a uma médica cubana e outro sobre o Bolsa Família. Vejam os fac-similes.

Eis a prova de que os comentadores das redes sociais e da blogosfera são simples boquirrotos. Falam muito e leem pouco ou nada. O leitor e a leitora que chegaram até aqui querem apostar que os comentários a este texto vão passar por Cuba ou Venezuela? E que Dilma e Lula estarão presentes? É fatal. Essas gentes nada letradas devem ter pouco o que fazer na vida e eu dou-lhes a alegria de se sentirem a participar de algo.





Tuitaço no Chuva (3)


quinta-feira, 26 de março de 2015

Herança Imperial

POR VALDETE DAUFEMBACK NIEHUES

- Encaminhe o acusado ao ergástulo público, disse o Juiz ao Oficial de Justiça. Este, de acordo com suas atribuições, obedeceu à ordem estabelecida e levou o sujeito em direção à porta de saída do recinto e o despachou. 


Ergástulo público? Por que não cadeia pública? Esta linguagem rebuscada ainda se cultiva nos meios jurídicos, nos fóruns e tribunais. Qual a intenção? Poder-se-ia afirmar que seve para demarcar uma linha de distanciamento entre os seres imortais que operam o direito e os mortais que ficam sujeitos à interpretação do Doutor, título este concedido aos advogados, primeiramente por decreto do Imperador D. Pedro I e, em 1827, por Lei Imperial? Lembrando que este mesmo decreto também concedeu ao médico ser chamado de Doutor. 


O período imperial findou ainda no século 19, mas a cultura senhorial permaneceu durante toda história da República, o que rende ainda a reivindicação por este título por parte de outros segmentos profissionais, especialmente ligados à saúde. O que há de tão importante neste título? A possibilidade da distinção, do distanciamento da população, da visibilidade, do grau de importância e reconhecimento, enfim, da hierarquia e desobrigação da horizontalidade relacional. Sim, há cursos, cujos profissionais entendem ser necessário o referido título para terem a autoridade reconhecida. Será que a trajetória do curso não oferece segurança profissional a partir do conteúdo ensinado, razão pela qual ainda se necessite de uma verticalidade na relação comunicacional? 


Não estou afirmando que os cursos de ciências jurídicas ou ciências médicas sejam responsáveis pelo autoritarismo no Brasil. Estes apenas reproduzem na sua maneira de ser, um velho atavismo, um hábito costumeiro de se diferenciar por meio dos trajes que vestem, da linguagem que se utilizam, da postura diante do público, caracterizando a figura de um semideus que detém o conhecimento específico da profissão. Muitos cursos ainda cultivam e incentivam essa cultura, por vezes, valorizando muito mais o visual, do que a essência, própria da atual sociedade do consumo em que os sujeitos viraram produto, com valor de mercado. 


 Assim cristalizamos a cultura senhorial dos tempos coloniais, a qual naturalizou a violência, que escravizou e humilhou seres humanos, que reafirmou a distinção entre ricos e pobres. Interessante é perceber que essa cultura se mantém em espaços públicos. Em muitos edifícios as empregadas domésticas são obrigadas a utilizarem elevador de serviço. Qual o sentido, senão para demarcar as diferenças sociais, para exibir a distinção nesta relação de mandonismo? Ficou evidente essa relação diante da gritaria de patroas que perderam o privilégio de ter a empregada à sua disposição sem pagar horas extras, como também por meio da demonstração de ódio de parte da elite nos aeroportos por ter que dividir o espaço com pessoas fora de sua “estirpe econômica”. 


A insistência na reafirmação destes procedimentos “esnobes” para manter a distinção nas relações sociais é própria de uma sociedade que ainda não atingiu a sua maturidade republicana. Uma sociedade autoritária que reproduz com facilidade a cultura senhorial: - Você sabe com quem está falando? 

quarta-feira, 25 de março de 2015

Menos EIV é bom?

Nota da coluna do jornalista
Jefferson Saavedra hoje no AN
POR JORDI CASTAN

O prefeito Udo Dohler anuncia, como uma ação da sua gestão, que 36 mil imóveis estão liberados do EIV (Estudo de Impacto de Vizinhança). O poder público insiste em ver o EIV como um problema, quando na realidade é uma ferramenta para proteger o cidadão do impacto das intervenções urbanas, dos erros do planejamento e dos problemas causados por uma política de ocupação de espaços urbanos que não deveriam ser ocupados. No caso de Joinville, os números mostram que mais de 36 mil imóveis estão em áreas sujeitas a alagamento.

Sem EIV não é possível identificar o impacto de ocupar estas áreas e não há como tomar medidas mitigadoras ou corretivas. Desta forma, os munícipes ficam desprotegidos e sujeitos ao prejuízo econômico. Em lugar de comemorar a falta do EIV, a Prefeitura deveria apresentar as ações concretas que estaátomando para reduzir os prejuízos dos munícipes com os alagamentos e como se restringirá a ocupação destas áreas. Ninguém tem mostrado mais pontaria para dar tiro no pé que esta gestão.


Respondendo à pergunta: Menos EIV é ruim. É muito ruim.



terça-feira, 24 de março de 2015

Laico? Onde?

POR PEDRO HENRIQUE LEAL


militares em oração na Maré. Foto de Felipe Barra.

Como todos puderam bem ver, semana passada estourou uma polêmica tola por causa do beijo entre Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg no primeiro capítulo de “Babilônia”. A demonstração de afeto entre as personagens das duas causou tamanha revolta, que a ala mais conservadora do congresso emitiu numerosas notas de repúdio ao folhetim global, além de vários cidadãos irados com tal “absurdo” se expressando online.

Mas bem, não foi só a Globo que provocou a ira dos conservadores neste mês de março. Além das telinhas, outras questões serviram de palanque para quem jura de pé junto que não é homofóbico (mas vê em relações homoafetivas “uma agressão”, como falou o ex-presidenciável Levy Fidelix). Da mesma maneira que aconteceu com Babilônia, certas pessoas decidiram que, se elas não gostavam do conteúdo de um certo programa, então esse programa teria que cair. E se elas se guiavam por uma dada escritura, todos deveriam também.

Esse foi o caso do vereador Jerônimo Alves, em Florianópolis. O dito cujo foi responsável por um projeto de lei (aprovado, para piorar) obrigando todas as bibliotecas da capital a terem a Bíblia Sagrada em “local de destaque”. Acontece que a Constituição Federal estabelece claramente que o Brasil é um estado laico - e como tal, não poderia privilegiar uma religião. A desculpa dele? A Bíblia, diz ele, é de todas as religiões. Me pergunto como se sentiria se colocassem o Quran em posição de destaque.

Tal norma constitucional, no entanto, tem sido tratada com intenso descaso pelos nossos representantes. Enquanto a constituição diz claramente que estado e religião devem permanecer separados, uma das maiores bancadas do congresso (com 57 integrantes, mais de um décimo das cadeiras da câmara) serve primeiro a religião. Essa mesma bancada já criou o hábito de transformar a câmara em local de culto, propôs coisas como “cura gay” e ensinar “criacionismo bíblico” nas escolas, e hoje tem um dos seus nomes maiores (Eduardo Cunha) na presidência da câmara.

E de forma previsível, Cunha apertou o cerco à laicidade estatal, e ampliou os poderes dos pregadores do preconceito. Desde que chegou ao poder, Cunha já colocou dois setores chave da câmara na mão dos religiosos: primeiro foram as comunicações, que passou ao deputado Cleber Verde ( PRB-MA, a primeira vez que as comunicações da Câmara, que incluem rádio, TV, jornal e site foram decididas pela mesa diretora, e não por um profissional de Carreira). A segunda vez foi na quinta-feira passada, quando Cunha passou o comando da Diretoria de Recursos Humanos da casa para a teóloga e advogada Maria Madalena da Silva Carneiro, que jamais ocupou um cargo de chefia na casa.

Antes estivessem apenas convocando boicotes inócuos a novelas e seus patrocinadores, mas nossos teocratas parecem ter força e sede cada dia maior. Semana passada o Ministério da Defesa publicou em sua página do Facebook a foto que ilustra este texto, onde militares faziam “uma roda de oração” antes de mais uma operação na Maré, no Rio de Janeiro. O problema não é a fé dos soldados, mas a exaltação da mesma por um estado que deveria ser laico.

Mas o caso da maré ainda é fichinha perto do absurdo divulgado por policiais militares em Goiás, em fevereiro. No vídeo, policiais militares lidam com um homem visivelmente alterado através de... um exorcismo. Me custa a dizer se a imposição religiosa por parte de agentes de segurança pública é pior ou a mesma coisa que a solução pela violência. A cada vez que essas tentativas de tomar o espaço público são combatidas, teocratas dizem que os “descrentes” estão se impondo. Pois bem: se as coisas continuarem como estão, devemos mudar o nome para República Teocrática do Brasil. A proposta para acabar com a laicidade já foi feita, pelo deputado Federal Cabo Daciolo (PSOL-RJ, que periga ser expulso do partido por isso). No começo do mês, alegando que “todos os joelhos se dobram para Cristo), o parlamentar queria retirar a expressão “todo poder emana do povo” do artigo 1º da Constituição Federal, e substituí-lo por “todo poder emana de Deus”. Houve quem defendesse alegando liberdade religiosa. Mas e a liberdade de quem não crê?


segunda-feira, 23 de março de 2015

Planejamento onde?

POR JORDI CASTAN



Quanto mais o prefeito se empenha em mostrar os resultados da sua gestão e os logros do planejamento, pior fica. Outro dia chamou os que ridicularizam o planejamento de conspiradores contra a democracia. Menos, prefeito, menos. Ninguém está ridicularizando o planejamento da sua gestão. Por que ela, a sua gestão, não precisa de ajuda e se ridiculariza sozinha.

Um dos episódios mais emblemáticos é a duplicação da avenida Santos Dumont. Um espetáculo de improvisação. Até agora só 6% da obra ficou pronto e a empreiteira quer aumentar o custo. Uma obra que se alastra desde há dois anos e que leva um ano parada. Na visão simples do munícipe é uma série de erros. Se não fosse trágico o resultado, já houve 14 mortes por acidentes na Santos Dumont desde o início das obras. Poderíamos falar de uma comédia de erros.

A obra se iniciou sem ter o projeto definitivo, nem previsão para as desapropriações e nem um cronograma real. É como contratar um pedreiro para construir uma casa num terreno que não este ainda comprado, montar canteiro de obras, começar a fazer a caixaria, colocar tijolo e material de construção e ter que parar porque o dono do terreno não recebeu ainda o seu dinheiro. A justificativa do imprevidente gestor é que esperava que mais terrenos fossem doados. Os agricultores da Estrada da Ilha chamariam este modelo de gestão de “contar com o ovo antes da galinha”. Às vezes funciona, mas um bom gestor não pode planejar uma cidade do tamanho e da complexidade de Joinville desta maneira.


Agora, depois de dois anos de festa e foguetório, surge a ideia de outro traçado, de outro projeto. A nova proposta assegura que a duplicação é possível com menos desapropriações e por um custo menor. Onde estavam estes gênios da engenharia na hora de fazer o primeiro projeto?  Quem teve a ideia de iniciar uma duplicação desta envergadura sem ter o dinheiro para pagar as desapropriações?

Isso é planejamento? Estou achando que esta gestão domina melhor a arte da gesticulação que a do gerenciamento. O tempo dirá, mas de momento, de gestão e planejamento tem-se visto muito pouco e o relógio não para. O tic-tac é implacável. Já passou mais da metade do tempo e não há traços da dita gestão.





domingo, 22 de março de 2015

Furnão: assobiar e olhar para cima

Ilustração: http://caixadoistucanodefurnas.blogspot.pt/
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Os conservadores não se cansam de falar em corrupção. Usar o tema numa troca de argumentos é quase sempre a bala de prata. E o pior: quem o profere parece ganhar uma aura de santidade e de superioridade moral. Mas estar contra a corrupção é um estado ético e não moral, como esses moralistas querem fazer crer. Pergunto: não será corrupto o olhar seletivo para a corrupção? Porque para essa gente, a corrupção só entra em jogo se for contra o atual governo.

Esse glaucoma político provoca uma distorção no foco de análise, porque setorializa o campo da corrupção. Se envolver o Partidos dos Trabalhadores tem atenção, se expuser a direita a coisa muda de figura. As revelações sobre escandaleiras na oposição não param de suceder. Mas os moralistas, que se escondem atrás do silêncio de uma certa imprensa tradicional, não veem esses fatos. O resultado é que ninguém fala de coisas como o Suiçalão, o Tremsalão, o Listão de Janot e por aí vai. Ou seja, a sociedade se omite de olhar a questão de forma séria.

Por isso hoje vamos lembrar o Furnão (aumentativo para Lista de Furnas), escândalo para o qual os reaças se fazem de cegos, surdos e mudos. Afinal, se admitirem a existência de roubalheira no “outro lado” o seu mundo mental desaba. E por que escolher o Furnão? Porque é um esquema de uso de verbas onde parece não haver PT. E também porque, dada uma certa antiguidade, mostra que o fenômeno da corrupção não é assim tão jovem como prega o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

A comunicação social relata que o PSDB abocanha a grande fatia, cerca de 68% da grana, enquanto PFL (a coisa é antiga), PP, PMDB, PL e PTB ficam com os “restos”. A lista mostra nomes como José Serra, Geraldo Alckmin e, claro, o impoluto Aécio Neves. Houve um questionamento sobre a autenticidade dessa lista, que inclui mais de 150 políticos, mas a Folha de S. Paulo, que foi ouvir fontes oficiais, há poucos dias confirmou que são autênticas.

E você, que enche o peito para falar em corrupção, vai continuar a assobiar e olhar para cima?

Se quiser ver a lista, eis o link.
http://caixadoistucanodefurnas.blogspot.pt/




sexta-feira, 20 de março de 2015

Quando as letras choram, a cidade chora junto

POR SALVADOR NETO

“Uma cidade sem cultura, é apenas um amontoado de gente”. Com essa frase, o ex-prefeito de Joinville por três vezes, deputado federal por outras tantas, e governador de SC por duas vezes, atual senador da república Luiz Henrique da Silveira, marcou o evento de abertura das comemorações dos 15 anos do Balé Bolshoi na maior cidade do estado. Vindo de quem vem, pode ter vários sentidos. Pode ser apenas discurso, ou bravata, ou aviso. Vai saber! 

A fala do senador chega em um momento que seu eleito, prefeito Udo Döhler, sim do PMDB também, acabava de avisar via grande mídia como sempre, que unir em uma só secretaria a educação, o esporte, o lazer e a cultura é vislumbrar o futuro. Claro, com tal visão tacanha, sua proposta foi rapidamente atacada por todo o setor cultural da cidade, inclusive pelo Conselho Municipal de Cultura. Não poderia ser diferente. Mas, não bastasse isso, outra notícia mexeu com o setor cultural joinvilense: o encerramento da parceria entre escritores e a Biblioteca Pública.

Talvez o incauto leitor não saiba, mas a presença da Confraria do Escritor a partir do projeto Joinville, Cidade dos Livros, e do Plano Municipal do Livro, Leitura e Literatura, produziu efeitos encantadores na cidade. Deste movimento literário, vários movimentos se sucederam em projetos que espalharam livros, leitura e escritores, por escolas, praças, além de ser o embrião da já consagrada Associação Confraria das Letras, que entre outras coisas já editou sete miniantologias Letras da Confraria, dois grandes encontros catarinenses de escritores, e dois livros/antologias, o Saganossa e o Saganossa – Outras Histórias, este a ser lançado na próxima Feira do Livro em abril próximo. Tudo isso com recursos próprios.

Não falamos aqui da produção literária de cada escritor envolvido nos dois movimentos. Faltariam linhas para expor, porque há sim muitos escritores escrevendo belas histórias em poesias, crônicas, contos, romances, e todos realizando seu papel em grande maioria sem qualquer centavo público. Pura garra. Pura emoção. Pura criatividade e vontade de realizar o que é preciso para uma sociedade desenvolvida. Não economicamente, mas culturalmente e socialmente, o que por sí só impulsiona uma cidade ao progresso com bases sólidas e sustentáveis.

O fato é que o atual governo Udo não tem compromisso com a cultura como uma política pública permanente. Visite os museus da cidade e verás. Veja que os cursos da Casa da Cultura buscam alunos por perder “força”, pois faltam recursos. O Museu do Sambaqui fica embaixo de água após a enchente, aos cuidados dos abnegados servidores, porque a gestão cultural não tem interesse na história. Mas voltemos a leitura, aos livros, à produção literária. Que futuro queremos se sequer os escritores e escritoras tem o apoio do espaço de uma biblioteca – pública – para encontros, apoio, debates, por falta de “gente”?

Para onde caminha uma cidade, dita como “a maior” de Santa Catarina, se o governo não prioriza seus intelectuais, artistas, produtores, escritores, gente que agita o pensamento, promove a criatividade, motiva crianças, jovens e adultos para escrever, sim, escrever uma nova história de desenvolvimento social e econômico que não passe apenas pela indústria e seu modelo reprodutivo repetitivo, pura produção de peças, produtos, marcas? A modernidade proposta pelo Prefeito em sua campanha é somente isso? Continuar transformando crianças, jovens e homens em máquinas de apertar botões? 

Uma cidade com mais de 600 mil habitantes que tem apenas uma Casa da Cultura, apenas uma Biblioteca, que neste governo reduziu de tamanho e sequer poder receber um grupo autônomo como a Confraria do Escritor. Uma cidade sem uma politica pública clara e com recursos generosos e garantidos para a cultura e literatura. Uma cidade em que a Feira do Livro chega a sua décima segunda edição ainda penando para angariar recursos para se realizar. Uma cidade em que produtores culturais, artistas, escritores, todos, sem muito apoio público, luta arduamente para continuar seu trabalho.



Que futuro tem uma cidade assim? Uma cidade sem futuro para a cultura, sem produtores de sentidos, de criatividade, sem a formação do pensamento crítico, será com certeza em poucos anos, apenas um amontoado de gente formada apenas para ser uma massa trabalhadora para as indústrias, uma cidade empobrecida cultural, social e economicamente. É isso que queremos? Quando as letras choram como agora, a cidade chora junto. Com a palavra, o leitor cidadão.





quinta-feira, 19 de março de 2015

Beijo entre mulheres acende debate (2)



Beijo entre mulheres acende debate... (1)













(I)mobilidade Urbana

POR MÁRIO MANCINI

Com muita honra aceitei o convite para ocupar este espaço quinzenalmente e, sendo assim, inauguro com o assunto da moda em Joinville (o reino dos manguezais), que, com certeza, deveria ser mais debatido, mas virá por decreto, a (i)mobilidade urbana.

Vivemos uma crise de mobilidade que atinge a maioria das cidades com mais de 300 mil habitantes, bem ou mal, a “qualidade” de vida melhorou, facilitou o acesso aos automóveis, às motocicletas, etc. O que, de maneira direta, aumentou de maneira exponencial a quantidade de veículos circulantes, muitas vezes por ruas dimensionadas no século XIX.

A maioria das cidades nasceu em volta de uma igreja e se expandiu, sem planejamento algum, o que era comum para a época e formou, de certa forma, um centro histórico de difícil locomoção.
Muitas destas cidades atentas a este detalhe desviaram e/ou limitaram o acesso “motorizado” a este bairro central, planejando o entorno e investindo em mobilidade urbana.

Infelizmente existe uma grande maioria que não o fez e pensa que transporte coletivo é sinônimo de ônibus circular, que o mesmo deve disputar espaço com bicicletas, motocicletas, automóveis e, até, pedestres.

Nestas cidades planejamento para longo prazo não existe, vivem o momento, algo do tipo, “vamos fazer para ver o resultado, se não der certo mudamos”, mesmo que isto decorra em custos e retrabalho, pois ao menos a população vê que estão trabalhando.

Existe um exemplo bem próximo de nós, que colocou na cabeça que o ônibus é a solução para o transporte de massa e deve ter prioridade sobre os demais, ideia mais que ultrapassada; inclusive defenestrado qualquer ideia contrária; mesmo se o sistema fosse eficiente, de baixo custo e confortável, o que não é.

Por isso afirmo, neste caso choque de gestão não chega a lugar algum , precisamos de um choque de ideias, de mudanças de paradigmas, e isto em todas as áreas, não só na “gestão” da mobilidade urbana.

Como isto não ocorrerá, ao menos no próximo ano e meio, são só divagações, simples divagações.

quarta-feira, 18 de março de 2015

O que 2015 tem a ver com 1964?

POR FELIPE SILVEIRA

O 15 de março nos mostra como precisamos falar, discutir e refletir muito mais sobre a ditadura civil-militar de 1964 a 1985, especialmente sobre o golpe de 1º de abril, que depôs o presidente eleito João Goulart, o Jango. A partir dessa reflexão, podemos ter outro olhar sobre os movimentos atuais, entre outras pautas (algumas justas, como o “fim da corrupção”), o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e o absurdo pedido de intervenção militar, inclusive em inglês, para os americanos entenderem bem.

O mundo é outro 51 anos depois, mas há muitos pontos em comum entre o movimento atual e o de 64. Jango não era comunista, mas era “acusado” por parte dos manifestantes da época. O governo Dilma também não é. Tanto que é imensamente criticado por boa parte da esquerda hoje.

Havia interesses norte-americanos sobre o Brasil, inclusive com campanhas difamatórias promovidas por institutos que tinham muito dinheiro para fazer o trabalho sujo. O embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, foi um dos principais articuladores do golpe. Da mesma forma, no Brasil de hoje, há uma profusão de institutos e outras organizações com grana pra fazer o trabalho difamatório. E a própria CIA (Agência de Inteligência Americana) foi pega com a boca na botija bisbilhotando por aqui.

Mas, se à época o interesse se dava no contexto da Guerra Fria, tentando barrar o avanço do comunismo no mundo, o interesse sobre o Brasil hoje se dá no contexto dos BRICS, os países emergentes que se organizam para ter independência política e econômica dos EUA e da Europa. Incomoda muito e dá muito prejuízo para as potências do norte que estes países da periferia do mundo consigam se organizar de modo a se tornarem independentes.

Não acredito em um novo golpe militar (também não descarto), pois não é mais a prática comum a ser adotada na América Latina, como em meados do século XX. Mas, inegavelmente, interessa muito ao capital internacional que o Brasil seja controlado por gente mais “amigável” aos seus interesses. Como se o governo petista já não seja amigão o suficiente. Só que eles, egoístas que são, sempre querem mais.

Algo de errado não está certo, diria o outro
Para alcançar seus objetivos, o caminho é a desestabilização política e econômica. Dessa forma se abre caminho para a privatização completa da petrobrás, da redução de serviços públicos como o SUS e a educação pública, para uma concentração ainda maior de renda, tornando os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.

Isso não é uma defesa do PT como o salvador da pátria. Acredito, inclusive, que devemos superar o PT e avançar mais ainda as conquistas para o povo. Mas é preciso fazer isso democraticamente. O que faço, aqui, é uma defesa da democracia ante a uma ameaça gravíssima a ela.

É preciso criar mecanismos de combate à corrupção, é necessário cobrar o governo Dilma/PT, é urgente se organizar enquanto sociedade para mudar o Brasil. Mas mudar para melhor. Marchar ao lado de gente que pede golpe militar, que xinga a presidenta de “vaca” e “puta”, que enforca bonecos de Dilma e Lula, entre outros absurdos que vimos no domingo, não dá. Caminhar ao lado dessas pessoas é engrossar o coro ao desejo delas, é ser conivente com o desejo de uma nova ditadura, de violência e de violações dos direitos humanos. Você é melhor do que todos esses vermes que pedem um novo golpe.


Comece a mudar o Brasil pela sua cidade

Nesta quarta-feira, 18 de março, ocorrem dois debates muito interessantes sobre questões políticas da atualidade.

Às 19h15, no mini-auditório da Sociesc da Marquês de Olinda, ocorre o debate “A criminalização das mulheres nos movimentos sociais”, promovido pela organização da campanha “Protesto não é crime”, que atua contra a criminalização de ativistas políticos de Joinville por meio de processos judiciais e campanhas difamatórias. A Emanuelle Carvalho escreveu sobre o assunto aqui.

(Clique nas imagens para ampliar)
Às 19 horas, no anfiteatro do Bom Jesus/Ielusc, o debate é sobre o tema abordado no texto, mas bem mais amplo: “Protestos do dia 15 de março de 2015: conjuntura, história e desdobramentos”.

Exerça sua cidadania dialogando com as pessoas que lutam por mudanças todos os dias e sofrem na pele as consequências. Busque o diálogo, em vez de sair correndo para bater panela toda vez que ouve a voz da presidenta na TV. Faça sua crítica ao PT, vá às ruas, se organize. Mas não esqueça da corrupção dos outros. Não esqueça do descaso do governo municipal e estadual com a sua cidade. Não esqueça de cobrar do vereadores e dos secretários. Exerça a sua cidadania na democracia.

 

terça-feira, 17 de março de 2015

Questionamentos, explicações e decisões


POR FELIPE CARDOSO

Alguns questionamentos:

Quantos negros já seguraram um microfone e quantos já seguraram uma câmera?

Quantos negros já seguraram um diploma e quantos já levaram algemas nos punhos?

Quantos negros já desfilaram na passarela e quantos já entraram em sacos do IML?

Quantos negros já andaram com carro do ano e quantos negros já andaram de camburão?

Quantos negros possuem mansões e quantos negros possuem barracos?

Quantos negros frequentam o centro e quantos negros frequentam a periferia?

Quantos negros têm na política e quantos negros têm atrás das celas?

Quantos negros são protagonistas e quantos são subalternos nas novelas?

Quantos negros carregam sombrinhas e guarda-sol para proteger apresentadores brancos e quantos negros são apresentadores?

Quantos negros aparecem em publicidades e quantos negros estampam as páginas policiais?

Quantos negros possuem propriedades e quantos negros fazem parte do MST e MTST?

Quantos negros são patrões e quantos negros são funcionários?

Quantos negros são médicos e quantos são garis?

Temos que analisar e combater tudo isso diariamente e ainda enfrentar o mantra dos brancos nos chamando de “vitimistas”, “vão trabalhar”, “meritocracia”.

Eles faltaram algumas aulas de História e perderam muitos assuntos sobre o período escravista e pós-escravista. Eles não admitem que as consequências desse terrível período duram até hoje.

Eles não lembram que o Brasil foi o último país a sair desse sistema assassino (1888) e, mesmo após sair, não ofereceu nenhuma estrutura para os negros sobreviverem. Sem direito a saúde, educação, moradia e trabalho o negro continuou à margem, sem direitos e sem voz.

Depois de anos lutando para ganhar o que nos foi negado, até mesmo os direitos básicos, temos que ouvir ainda que “o racismo acabou”.

Na verdade eles não sabem nem o que é racismo.

“O racismo é um sistema de sentidos material e histórico, não é subjetivo. É um modo de organização social em que uma ‘raça’ se sobrepõe a outra, se afirma como paradigma, se naturaliza como regra e oprime as demais. O racismo não é algo subjetivo, individual, que se manifesta entre pessoas. Ele está estruturado e inserido na sociedade, na forma como ela se organiza e se reproduz, no mercado de trabalho, na mídia, entre as vítimas da violência, entre o público do sistema carcerário, entre os pobres em todo o mundo, entre os proprietários e os não proprietários” (Fran Vasconcelos).

E o racismo se naturalizou no Brasil justamente porque ele é negado. As pessoas não assumem o racismo, assim como não assumem a homofobia e o machismo. Assim, fica tudo maquiado, mascarado, parecendo que o mundo é perfeito… Para eles, lógico. Mas quando resolvemos colocar o dedo na ferida, os opressores tentam, de todas as formas, transformar os oprimidos em opressores para manter o status quo e não perder seus privilégios.

Eu vejo racismo em tudo porque, infelizmente, ele ainda está em todos os lugares.

A segregação racial ainda existe e os únicos que fazem “vitimismo” são os próprios brancos que ficam desesperados quando se sentem ameaçados a perderem seus privilégios.

A decisão é única: fortalecer e propagar o Movimento Negro e todas as suas vertentes. Lutar contra o genocídio da população negra, conquistar mais representatividade na política, criar medidas para acabar com as injustiças sociais, incentivar a conquista do poder para o povo.

Vamos mudar essa realidade, com ou sem seu “mimimi” opressor. Vamos cobrar cada centavo da nossa “MERITOCRACIA” de 400 anos de trabalho forçado.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Cenas estranhas (4)


Cenas estranhas (3)


Cenas estranhas (2)


Cenas estranhas (1)


Eu fui!!!

POR JORDI CASTAN



Sim, eu fui. Estive na Praça da Bandeira e fiz o que achei que devia fazer, protestei pacificamente contra este desgoverno que aí está. Externei o meu descontentamento contra a presidente, seu governo, a corrupção institucionalizada e me encontrei com uma Praça da Bandeira cheia de joinvilenses que, como eu, exerceram o seu direito de protestar.

O que eu encontrei lá? Encontrei outros joinvilenses que, como eu, de uma forma espontânea, decidiram sair de casa para se manifestar. Encontrei uma Joinville plural, de todas as idades e de todos os setores. Gente que trabalha para fazer esta cidade prosperar. Havia gente de todas as classes sociais, os que chegaram a pé, em bicicleta, em coletivo. Gente de todas as cores, de todos os tamanhos e de todos os bairros da cidade. Encontrei gente que estava lá com cartazes feitos a mão.

As cores que predominaram eram as da bandeira, Amarelo, azul e verde, também havia branco. Ninguém de vermelho. Ninguém com bandeira de nenhum partido. Foi um ato político, mas foi apartidário. Tinha lado a lado, monarquistas, defensores de minorias e representantes de associações de moradores, dos diversos coletivos e entidades que formam o tecido social desta cidade.

O que não encontrei lá? Não tinha sanduíche de mortadela, nem ônibus fretado, tampouco achei ninguém distribuindo R$ 35,00 para participar do evento. Não distribuíam camisetas. Não tinha cartazes feitos em gráfica, nada que parecesse muito organizado. Cada um estava na praça expressando sua opinião. Não vi nenhuma violência. Nem foi possível identificar nenhum guineano ou algum militante de aluguel. Não escutei nenhum slogan ofensivo, nada que fosse incompatível com o estado de direito que ainda temos no Brasil.

Chamar o ex-presidente de cachaceiro não poderia ser considerado ofensa, ele próprio nunca tem ocultado sua predileção pela bebida nacional. E pedir que o dinheiro público roubado seja devolvido aos cofres públicos, tampouco é algo que possa ser considerado ofensivo, mas eu sou, claramente, mais liberal e permissivo que a maioria dos que dedicaram os últimos dias a um patrulhamento ostensivo para tentar desestimular as pessoas a se manifestar e esta gente tem uma sensibilidade muito mais aguçada quando se trata dos seus lideres, a sensação é como se só eles tivessem o monopólio das ruas e a exclusividade da ofensa.

Esquecem eles que as ruas são o espaço público por excelência, o espaço de todos. E o direito de ir à rua e manifestar-se livremente é um princípio democrático inquestionável. Ainda estou tentando entender por que estranho motivo essa gente fez tanto esforço para evitar que o brasileiro fosse à praça?

É bom lembrar que o brasileiro aprendeu que podia “impichar” um presidente e tirá-lo do poder na prática. Muitos dos que hoje estão no governo já foram “caras pintadas” e foram às ruas e pedir o “impeachment” do presidente Collor e disso não faz tanto tempo assim.  

sexta-feira, 13 de março de 2015

Uma covardia inacreditável

POR ET BARTHES

Há coisas incompreensíveis. Vejam só o chute que o técnico dá na criança, que não deve ter mais que cinco ou seis anos de idade. Foi na Rússia.











Movimento social criminalizado: quem ganha com isso?

POR EMANUELLE CARVALHO

“Nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo. De fato, sempre foi assim que o mundo mudou”, a frase da antRopóloga norte-americana Margarete Mead é capaz de traduzir grande parte de nossas lutas sociais, especialmente no Brasil, onde há uma jornada de trabalho exaustiva, pouco debate sobre participação e controle social, e uma comunicação de massa comprometida com a manutenção do status quo, com as grandes empresas e e os ricos.

Aqui na Colônia Dona Francisca nada corre diferente. Com um transporte público capenga: ônibus lotados, horários escassos, linhas pouco acessíveis e nenhum plano de ligação entre transporte coletivo e outros meios de locomoção; a Prefeitura de Joinville recebe cobranças de poucos movimentos sociais, um deles, o Movimento Passe Livre, que vem exigindo políticas públicas de acesso gratuito a um transporte de qualidade.

Mas como os poderosos podem garantir que as pautas dos movimentos sociais fiquem engavetadas e ao mesmo tempo jogar a população contra esse tipo de manifestação e exigência? Pela imprensa formal e informal e entupindo o poder judiciário. A primeira e mais conhecida se dá no alinhamento de pautas empresariais com interesses dos grupos de notícias. Se a empresa X sempre anunciar no jornal Y ele fica refém de suas intenções comerciais e falará pouco sobre o que realmente acontece na cidade. É claro que isso não ocorre com todos os meios de comunicação, mas ultimamente o jornalismo joinvilense tem trabalhado mais como publicidade do que como produtor de informação.

Além disso, acionando juridicamente, ou seja, processando esses militantes - que não possuem poderes econômicos, nem influência - cria-se uma atmosfera de medo, de retaliação e constrangimento público nesses movimentos sociais. É uma maneira bem fácil e eficaz de desarticular as pessoas, pois o medo é paralisador. Da mesma forma, por estarem sendo processadas ou já terem sido condenadas, essas pessoas não podem prestar concurso público, e muitas são impedidas de trabalhar, já que não possuem mais certidões negativas criminais.

Hoje, 23 processos incorrem sobre 6 militantes, uma forma muito clara de pedir pra que essas pessoas calem suas vozes. Mas o que essas pessoas fizeram? Protestaram. Alguns desses militantes estão sendo acusados de ameaça sem ao menos terem participados nos dias de manifestação.

O último caso que tenho conhecimento é da professora Viviane de Souza Miranda, dirigente sindical e assistente de educação. Ela trabalha há nove anos na rede estadual e há quatro anos no Escola Estadual Martins Veras, onde estudou o ensino fundamental, médio e hoje é professora. A escola em questão sofre com problemas estruturais como a interdição da quadra de esportes (há um ano), falta de pisos, lâmpadas soltas, falta de material pedagógico e o mais grave, problemas com a energia elétrica.

No início deste ano, o caso agravou-se. A escola estava completamente sem energia e os professores, funcionários, pais e o grêmio reuniram-se em uma assembleia e concluíram que o início do ano letivo deveria ser adiado até que se restabelecesse a energia. Uma medida que visava proteger os alunos, os professores e funcionários do local. Como recompensa Viviane está respondendo a processo administrativo. Nos detalhes do processo consta a seguinte explicação: fatos que ocorreram no Martins Veras.

Viviane é uma das seis pessoas que estão sofrendo retaliação, mas é um dos centenas de professores que vivem todos os dias com má remuneração, assédio, materiais defasados, pouco investimento em treinamento, e nenhum suporte tecnológico (sim, há computadores e tablets, mas não há internet nas escolas).  Ao invés de educar a escola reprime colocando guardas armados em seus portões. E pra que tudo isso mude é preciso lutar e muito, é preciso juntar-se a luta, e é preciso não ser criminalizado.

quinta-feira, 12 de março de 2015

10 razões para o fracasso do 15 de Março

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Mesmo que consiga mobilizar multidões (há um esforço muito grande da imprensa e da oposição nesse sentido), o 15 de Março vai ser sempre um fracasso. Pelo simples fato de que nada tem a oferecer ao país. É um movimento sem proposta, revanchista e que tem o ódio de classe como motor. A seguir, os 10 “porquês” dessa antevisão.

1. Porque não há uma argamassa ideológica capaz de dar massa crítica ao movimento. Não há consistência e as ideias estão coladas com cuspe.

2. Porque é um movimento que rejeita a democracia e assenta na simples negação da realidade. Uma neurose coletiva não pode orientar planos de governo.

3. Porque não é um movimento clarificador. Não há um projeto para o dia seguinte. Os manifestantes não sabem para onde vão, apenas estão a caminho...

4. Porque não há militantes, apenas manifestantes. É o tipo de gente que rejeita a política e que, por falta de habituação às lutas (palavra que rejeitam), acaba por desmobilizar rapidamente.

5. Porque é um movimento feito por pessoas sem estofo intelectual ou coragem física. Ou seja, sofrem quando têm que pensar e se acovardam diante da “ponta da baioneta” (no sentido figurado, claro). Quem segue revoltados online, por exemplo, só merece pena.

6. Porque os ódios não produzem utopias. Ou seja, não têm um projeto para levar a sociedade de um lugar para outro. A não ser, talvez, para ao caos.

7. Porque os verdadeiros “organizadores” se mantiveram na penumbra. A massa prefere líderes visíveis. Ninguém segue sombras.

8. Porque há um contra-senso incontornável. Os manifestantes vão sair às ruas para criticar a corrupção, mas a marchar ao lado de notórios corruptos.

9. Porque não há intelectuais. O movimento tem à cabeça o pior do país em termos civilizacionais. Fascistas, fundamentalistas e toda espécie de reacionários devem estar na linha da frente.


10. Porque se houver multidões a participar do protesto, isso tem um significado perverso: os meios de comunicação tradicionais mantêm o poder de manipular as massas. E ninguém ganha com isso, porque é o tipo de coisa que só acontece em países atrasados.

É como diz o velho deitado: "vocês ainda não viram nada".