POR PEDRO HENRIQUE LEAL
militares em oração na Maré. Foto de Felipe Barra. |
Como todos puderam bem ver, semana passada estourou uma polêmica tola por causa do beijo entre Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg no primeiro capítulo de “Babilônia”. A demonstração de afeto entre as personagens das duas causou tamanha revolta, que a ala mais conservadora do congresso emitiu numerosas notas de repúdio ao folhetim global, além de vários cidadãos irados com tal “absurdo” se expressando online.
Mas bem, não foi só a Globo que provocou a ira dos conservadores neste mês de março. Além das telinhas, outras questões serviram de palanque para quem jura de pé junto que não é homofóbico (mas vê em relações homoafetivas “uma agressão”, como falou o ex-presidenciável Levy Fidelix). Da mesma maneira que aconteceu com Babilônia, certas pessoas decidiram que, se elas não gostavam do conteúdo de um certo programa, então esse programa teria que cair. E se elas se guiavam por uma dada escritura, todos deveriam também.
Esse foi o caso do vereador Jerônimo Alves, em Florianópolis. O dito cujo foi responsável por um projeto de lei (aprovado, para piorar) obrigando todas as bibliotecas da capital a terem a Bíblia Sagrada em “local de destaque”. Acontece que a Constituição Federal estabelece claramente que o Brasil é um estado laico - e como tal, não poderia privilegiar uma religião. A desculpa dele? A Bíblia, diz ele, é de todas as religiões. Me pergunto como se sentiria se colocassem o Quran em posição de destaque.
Tal norma constitucional, no entanto, tem sido tratada com intenso descaso pelos nossos representantes. Enquanto a constituição diz claramente que estado e religião devem permanecer separados, uma das maiores bancadas do congresso (com 57 integrantes, mais de um décimo das cadeiras da câmara) serve primeiro a religião. Essa mesma bancada já criou o hábito de transformar a câmara em local de culto, propôs coisas como “cura gay” e ensinar “criacionismo bíblico” nas escolas, e hoje tem um dos seus nomes maiores (Eduardo Cunha) na presidência da câmara.
E de forma previsível, Cunha apertou o cerco à laicidade estatal, e ampliou os poderes dos pregadores do preconceito. Desde que chegou ao poder, Cunha já colocou dois setores chave da câmara na mão dos religiosos: primeiro foram as comunicações, que passou ao deputado Cleber Verde ( PRB-MA, a primeira vez que as comunicações da Câmara, que incluem rádio, TV, jornal e site foram decididas pela mesa diretora, e não por um profissional de Carreira). A segunda vez foi na quinta-feira passada, quando Cunha passou o comando da Diretoria de Recursos Humanos da casa para a teóloga e advogada Maria Madalena da Silva Carneiro, que jamais ocupou um cargo de chefia na casa.
Antes estivessem apenas convocando boicotes inócuos a novelas e seus patrocinadores, mas nossos teocratas parecem ter força e sede cada dia maior. Semana passada o Ministério da Defesa publicou em sua página do Facebook a foto que ilustra este texto, onde militares faziam “uma roda de oração” antes de mais uma operação na Maré, no Rio de Janeiro. O problema não é a fé dos soldados, mas a exaltação da mesma por um estado que deveria ser laico.
Mas o caso da maré ainda é fichinha perto do absurdo divulgado por policiais militares em Goiás, em fevereiro. No vídeo, policiais militares lidam com um homem visivelmente alterado através de... um exorcismo. Me custa a dizer se a imposição religiosa por parte de agentes de segurança pública é pior ou a mesma coisa que a solução pela violência. A cada vez que essas tentativas de tomar o espaço público são combatidas, teocratas dizem que os “descrentes” estão se impondo. Pois bem: se as coisas continuarem como estão, devemos mudar o nome para República Teocrática do Brasil. A proposta para acabar com a laicidade já foi feita, pelo deputado Federal Cabo Daciolo (PSOL-RJ, que periga ser expulso do partido por isso). No começo do mês, alegando que “todos os joelhos se dobram para Cristo), o parlamentar queria retirar a expressão “todo poder emana do povo” do artigo 1º da Constituição Federal, e substituí-lo por “todo poder emana de Deus”. Houve quem defendesse alegando liberdade religiosa. Mas e a liberdade de quem não crê?
Coitado! que pena
ResponderExcluirVou responder especificamente ao episódio que ocorreu na tevê sobre as personagens lésbicas. Algum autor já postou twitters de pessoas criticando a cena, mas achei a postagem superficial e sequer foi abordada pelo mesmo.
ResponderExcluirNem tanto ao céu, nem tanto ao inferno. Sou abertamente a favor do casamento gay e liberdade de expressão na mídia, mas, convenhamos, nos últimos anos a temática emergiu de uma forma bastante “agressiva” aos olhos dos mais conservadores. E quando eu digo conservadores, não estou me referindo a ideologia política. Parece que toda novela ou filme tem que ter um núcleo gay, como se fosse uma cota, uma atração à parte. Não sei se a comunidade gay se enxerga ou se beneficia com esta exposição exagerada e afetada. E logo a Globo, a odiada da Esquerda, aquela emissora acusada de apoiar os militares... A propósito, no período da ditadura os militares não caçavam bixas e sapatões, como muitos esquerdistas dizem por aí, tanto que existiam novelas na década de 70 com temática gay, como “O Bofe”, e tantas personagens novelísticas gays e lésbicas; quanto aos cantores, se fosse como a Esquerda pinta, os milicos já teriam assados Cauby Peixoto e Cazuza na fogueira há muito tempo.
Os esquerdistas tentam, sobremaneira, associar os homofóbicos à Direita (a toda ela!), ignorando os muitos admiradores de Marx que também nutrem repúdio à condição homossexual. Sim, “conservador”, antes de mais nada, é uma palavra com algum significado que pode ser associada a qualquer pessoa.
Quanto a resposta dos mais conservadores, é natural de se esperar tal ação. O deputado Jean Willis, muito bom com as palavras, mas que ultimamente vem perdendo respeito de muitos admiradores por seu inusitado apoio a Dilma Rousseff, tem seu nêmesis, Jair Bolsonaro, dentro da própria câmara. É a democracia, que saibamos viver com as diferentes visões.
Eduardo Cunha que foi eleito presidente da câmara com "110%" de apoio da globo, a "grande mídia" no Brasil deve pisar só com os calcanhares pois o resto dos pés ja se foram de tanto tiro que já se deu.
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