POR VALDETE DAUFEMBACK NIEHUES
Tempos atrás, mais precisamente em 2004, um delegado regional da Polícia Civil de Joinville decretou “toque de recolher”, no bairro Jardim Paraíso, o que ocasionou efeitos negativos à comunidade, pois o preconceito disseminou-se de tal forma que os moradores passaram a ser discriminados quando se apresentavam às empresas para concorrer a vagas de trabalho.
Esta ação deixou marcas que ainda são visíveis porque de maneira geral em Joinville os dedos apontam para aquele bairro como sendo “o mais violento” da cidade, isso porque se reproduz um refrão que a mídia se ocupou em divulgar na época. E as pessoas mesmo não conhecendo a realidade local, têm os meios de comunicação como fontes confiáveis e, portanto, tudo o que for divulgado passa a ser uma verdade.
Não estou negando a evidência de casos de violência no Jardim Paraíso, o que de fato tem aumentado nos últimos meses, assim como nos demais bairros. Em uma abordagem sociológica, poder-se-ia apontar vários motivos que provocam esta triste realidade, mas não é a proposta neste momento. Pretendo, mais uma vez, chamar a atenção da estupidez jornalística em cometer o mesmo erro do passado ao divulgar, com base em suposições ou comentários duvidosos, que no Jardim Paraíso há uma lista de pessoas marcadas para morrer.
Este é um mau exemplo de jornalismo porque informação dessa natureza não contribui absolutamente para nada, a não ser disseminar a cultura do medo e banalizar a vida. Um verdadeiro desserviço prestado à comunidade e que não cumpre os princípios da responsabilidade jornalística. Como urubu, anuncia uma suposição de desgraça e espera que aconteça algo que lhe possa render uma publicação sensacionalista ou um “furo de reportagem”.
Como os meios de comunicação desfrutam de total credibilidade da população, muito mais do que em qualquer instituição ou organização, conseguem o monopólio dos conteúdos a serem comunicados como verdade, o que facilita que do outro lado haja um público ouvinte e reprodutor das banalidades anunciadas, como se o sentido da vida se esgotasse nesta ação falaciosa.
Desse modo, munidos de recursos tecnológicos, estes ouvintes reprodutores, em uma rede de relações, ansiosamente esperam por novidades que colocam em jogo a integridade da vida e, assim, como uma orientação pedagógica, garantem a interativamente do ser-estar no mundo. Paradoxalmente, trata-se de uma necessidade da sensação do medo para se sentir em segurança em um ambiente imaginado inseguro.
Assim tem acontecido no Jardim Paraíso. A comunidade conta com vários grupos virtuais que agem interativamente a cada publicação, com procedência confiável ou não, por vezes espalhando medo gratuitamente.
Ao que parece, a informação instantânea, em tempo real, trouxe a possibilidade de uma confusão coletiva de saberes sem muito critério de escolhas, cujo resultado está evidente na disseminação de um acultura de medo, de ódio, do deboche, da insensibilidade, da insensatez humana.
O jornalismo precisa se diferenciar desta maneira de comunicar as informações, utilizar os recursos tecnológicos e as técnicas de apuração e investigação antes de publicá-las. É o mínimo que se espera de um jornalismo responsável, sem a pressa de dar uma notícia em “primeira mão”, muitas vezes, de forma equivocada. Pelo contrário, quem baliza a metodologia de compartilhamento de informações, se aqueles que têm conhecimento as transformam em instrumento de terror?
É muito breve chamar o jornalismo de irresponsável. Se há realmente uma lista a ser executada, a população e polícia tem o direito de saber, inclusive que o Jardim Paraíso é o bairro com as mais altas taxas de violência, só desta forma o poder público poderá agir para que essa situação se reverta. Piadas, gracinhas, deboches sobre alguns moradores daquele bairro (ou entre os próprios) são desimportantes comparados ao conhecimento desta triste realidade. O jornalismo sempre foi ávido pelas informações, mesmo que incompletas, mas essa avidez é importante para transmitir a informação à população da melhor forma possível e com a maior rapidez. Imagine que exista de fato uma lista com nomes a serem executados, se o jornalista tiver que fazer o papel da polícia, até o final da investigação metade dos indivíduos já estaria morta.
ResponderExcluirVc não enxerga que naquele ambiente há pessoas que devem contas de tóxicos e estão marcadas para morrer? Que traficantes disputam poder? Se as pessoas se ligassem mais à Igreja e trabalho do que à drogas e bebidas quem sabe menos famílias seriam vitimadas pela tragédia.
ResponderExcluirQual o bairro em que resides minha flor??
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