terça-feira, 24 de setembro de 2024

Joinville turística: a 8ª maravilha do prefeito é apenas uma miragem

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Tenho estado atento às propostas dos candidatos à Prefeitura de Joinville. E algumas ideias suscitam reações. Como o filme em que o prefeito Adriano Silva fala do turismo de Joinville como se fosse a oitava maravilha do mundo. Não é, prefeito. Longe disso. O problema do poder público de Joinville, e não apenas na atual administração, é achar que uma agenda de eventos faz o turismo. Não faz. Porque não fideliza e não cria marca (no sentido do branding).

Os eventos ajudam a encher os hotéis. Mas há um problema: este ano a pessoa vai à cidade para um congresso, mas no ano que vem o congresso é em outro lugar. E “tchau Joinville”. Os eventos podem ser uma fonte de receita, mas não fazem uma estratégia de longo prazo. Os fluxos de pessoas são temporários e sazonais. É essencial diversificar a oferta com, por exemplo, o ecoturismo, o turismo cultural, o turismo histórico ou de lazer. Com estratégia...

Mas há novidades. Parece que o prefeito está a apostar todas as fichas no tal Palácio das Orquídeas (aliás, ainda não foi esclarecido o quiproquó do uso das verbas da educação). Não vamos tirar o mérito do projeto, mas a visita ao tal palácio vai ser pontual. O turista vai uma vez e não volta. Ou seja, Joinville vira um ponto de passagem. E hoje as cidades turísticas estão focadas na retenção dos turistas, porque aumenta o ticket médio.

Já escrevi e repito: há um problema de raiz. Nenhum prefeito se preocupou em construir um “produto turístico”. Ou seja, criar “reasons why” para os turistas: “por que razão eu deveria visitar Joinville”? Não vou repetir os argumentos que tenho desfiado ao longo dos anos. Mas o fato é que o prefeito está a falar de uma Joinville que só existe na cabeça dele. O que me autoriza a dizer isso? É que eu sou um turista que todos os anos passa um mês na cidade.

O turista destes tempos (em especial os que trazem mais valor) está focado na experiência e não na simples visita de locais. As pessoas querem conexões mais marcantes e autênticas nas suas viagens. Não é apenas ver um museu ou um “palácio”. Aliás, o prefeito, que é hiperativo no Instagram, devia fazer um raciocínio simples: a cidade é “instagramável”? Parece uma besteirinha, mas no turismo a sério esse é um fator a considerar. Mas isso é La Palice.

Que tal calçar os sapatos do turista? Acontece que as coisas estão ligadas. Qual é o turista que gosta de sair de casa todo besuntado com repelente para evitar a dengue? Qual é o turista que aceita não ir aos lugares porque o sistema de transportes é sofrível? Qual é o turista que fica satisfeito com os bares sendo a única opção noturna (aquilo que já chamei turismo da cirrose)? Qual é o turista que, no tempo da pandemia, iria para uma cidade dirigida por negacionistas?

Podia continuar com os exemplos. Mas é o suficiente para mostrar que o turismo não vive sem os outros setores. E que Joinville tem um longo caminho a percorrer. Tenho escrito muito sobre o tema ao longo dos anos e não quero parecer repetitivo. Aliás, o problema é que se repete: entra prefeito, sai prefeito, e ninguém pensa um turismo de qualidade. Ou melhor, ninguém pensa uma cidade de qualidade e no longo prazo. E aí é “caixão pro billy”.

É a dança da chuva.



sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Digam - e provem - que o metrô de superfície não é viável em Joinville

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O problema dos joinvilenses é o quietismo. Há décadas as pessoas passam perrengues com o uso dos ônibus, mas ficam quietinhas. E olhem que há razões para reclamar. O preço é alto, são desconfortáveis e os tempos despendidos com deslocações são uma desgraça. Horas de vida perdidas. Mas, tudo indica, a sina de Joinville é ser uma cidade unimodal. Quase ninguém pensa em outro meio que não sejam os ônibus.

Não sou e nem quero ser urbanista. Mas sou um cara que gosta de cidades e que tem algumas ideias a respeito. Sempre do ponto de vista do usuário, claro. A minha escala de importância sobre mobilidade nas urbes (que hoje se querem cidades inteligentes) é a mais óbvia possível: primeiro as pessoas, depois as bicicletas, os transportes sobre trilhos, os transportes coletivos sobre rodas e, finalmente, os carros.

É o meio de transporte que uso nos lugares da Europa que vou visitando. As melhores cidades são aquelas em que eu nem lembro de carro. Cidades com enormes espaços para os pedestres. Mas não estou a falar de calçadõezinhos mixurucas como em Joinville. São espaços pedonais a sério, amplos, onde as pessoas caminham, fazem compras ou apenas sentam numa esplanada para tomar um café.

E em quase todas as cidades das quais mais gosto há um ponto em comum: o metrô de superfície, aquilo que no Brasil chamam VLT - Veículo Leve sobre Trilhos. É o transporte civilizado por excelência. No entanto, sempre que toquei no assunto, aqui no blog ou quando escrevia no finado jornal A Notícia, havia as desculpas mais esfarrapadas para não discutir o assunto. Nem era fazer a coisa... era discutir.

- É caro.
- Não se adequa a Joinville.
- É coisa para o futuro.
- E piriri-pororó... 

Ou seja, é a velha lenga-lenga do imobilismo provinciano. E o pior: tem gente que passa pano para o poder público e livra os prefeitos de terem que falar do assunto. Afinal, instalar um sistema de metrô de superfície é algo complexo e vai para além dos períodos de quatro anos das urnas. Ah... as urnas. É o maior câncer das administrações municipais do Brasil. 

Não há visões de longo prazo nos municípios. Porque o prazo mais longo é sempre os tais quatro anos do mandato. Tudo o que leve mais tempo é logo posto de lado. Porque no Brasil governar é trabalhar para a reeleição. Mas aí você pergunta: o que mudou em Joinville nos últimos quatro anos? E eu, que só passo um mês por ano na cidade, respondo: porra nenhuma. Ah... parece que vai sair um palácio, né?

Mas voltando ao tema transportes. Como sou um sujeito insistente vou batendo na mesma tecla. Quero que um estudo sério – feito por pessoas que sabem do que estão falando –, a mostrar o tal VLT – Metrô de Superfície, não é viável em Joinville. E que a cidade vai continuar atrelada ao século 19. Porque eu sou capaz de apontar muitas vantagens:

- Menor congestionamento: circulando em trilhos, reduz o tráfego nas ruas.
- Conforto: viagens mais estáveis e com menos vibrações.
- Sustentabilidade: menor emissão de poluentes.
- Eficiência energética: consome menos energia por passageiro do que ônibus normais.
- Integração urbana: facilita a conexão entre diferentes partes da cidade.
- Baixo ruído: reduz a poluição sonora em áreas urbanas (nem sempre).
- Capacidade: mais passageiros em comparação com outros meios de transporte públicos.

Mas será que algum dia um prefeito vai tirar a bunda da cadeira, olhar pela janela do gabinete e ver que lá fora está o século 21? E já vai adiantado. Não parece.

É a dança da chuva.





sexta-feira, 13 de setembro de 2024

A angústia do candidato na hora do TikTok

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O TikTok revolucionou a linguagem dos conteúdos digitais. No início, a rede era vista apenas como entretenimento rápido e banal. As marcas, muito focadas na própria seriedade, relutaram em aderir ao estilo da plataforma. Mas o que parecia passageiro acabou por se consolidar como linguagem dominante: vídeos curtos, rápidos e descomplicados. Tudo de forma a capturar a atenção em poucos segundos. Se não for assim, o vídeo pode morrer à nascença.

Se foi difícil para as marcas, pior ainda para os políticos na atual campanha para as prefeituras. Tem muita gente aos trambolhões nessa adaptação aos meios digitais. Há quem ainda resista à linguagem “titokiana”, com a paúra de que uma fala leve e efêmera não combina com a seriedade que desejam transmitir. Ou, parafraseando Belchior, tem muito político “angustiado na hora do TikTok ”. Mas não adianta. Essa relutância não vai evitar o inevitável.

A linguagem do digital desafia a tradição política, muito marcada por uma comunicação formal e controlada. Porque pede leveza, proximidade e, acima de tudo, autenticidade. Há uma mito: só por ser político o sujeito acha que tem que empostar a voz e falar sério. Não há tempo para issso. Para ter uma ideia, plataformas como o YouTube e o TikTok, por exemplo, adaptaram os seus algoritmos para priorizar conteúdos que engajam os usuários nos primeiros segundos. 

As marcas descobriram que não faz sentido recusar a forma. E que o desafio está em dominar a linguagem. Na política, quem conseguir o equilíbrio entre a informalidade do TikTok e a seriedade de suas propostas têm uma vantagem considerável. A atenção do eleitor é um bem escasso. Muito escasso. É o que se chama "economia da atenção". É um processo de segundos. A velocidade com que a informação é consumida pede uma comunicação capaz de criar conexões rápidas e eficazes. 

Quem está no mercado do digital consegue identificar essas evoluções. Mas há estudos. A Microsoft relata que o tempo médio de atenção dos usuários da internet caiu de 12 segundos (em 2000) para cerca de 8 segundos (em 2015). Um estudo do HubSpot sobre marketing digital indicou que a maioria dos usuários decide se vai continuar assistindo um vídeo nos primeiros 3 segundos. Esses segundos iniciais são fundamentais para atrair e manter o espectador.

O sucesso nas eleições não vem apenas das propostas, mas da embalagem. Ou seja, a capacidade de explicar as ideias de forma acessível, criativa e, acima de tudo, relevante para o público. Aliás, isso faz lembrar outro poeta, um certo Luís de Camões, quando escreveu “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança, todo o mundo é composto de mudança”. Tudo muda.

Enfim, este é o desafio. O que antes era considerado adequado ou eficaz em campanhas políticas ou das marcas – uma abordagem mais formal, controlada e tradicional – hoje precisa ser adaptado a novos formatos, como a linguagem do TikTok, que privilegia a rapidez, a autenticidade e a leveza. Ou seja, é preciso alinhar com as vontades dos eleitores e entender o novo inconsciente social.

É a dança da chuva.



sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Joinville é a Nº 1? Não. É a Nº 791...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Percepção versus realidade. A questão nasceu da filosofia, mas pode ser aplicada à política. Se a gente for ouvir o que diz o prefeito Adriano Silva, Joinville será a cidade número 1 de Santa Catarina, quiçá do mundo. Isso é percepção (a percepção que se tenta criar). Mas se a gente for perguntar para a Folha de S. Paulo, que acaba de lançar o REM-F (Ranking de Eficiência dos Municípios), então vamos encontrar Joinville num vexatório 791º lugar. Sim… 791º. Isso é realidade. O estudo avalia quem faz mais com menos.

A coisa fica pior quando olhamos para os vizinhos. O estudo considera fatores como o atendimento da prefeitura nas áreas da saúde, educação e saneamento. E Joinville leva uma surra antológica de cidades como Itajaí (44º), Blumenau (22º) e Florianópolis (9º), que são classificadas como eficientes. Para Joinville sobrou a classificação nada abonadora de “alguma eficiência”. Alguma? Diz o dicionário que a palavra "alguma" é usada para designar um infortúnio, uma notícia ruim ou algo impensado. Bull’s eye.

Dizem que contra os fatos não há argumentos. Até seria possível, com alguma bonomia, tentar livrar a cara do prefeito e dizer que o estudo da Folha, por ser o primeiro, pode ter insuficiências de análise. O problema é que não estamos a falar de perder por pouco. Joinville tomou uma sonora goleada. A distância entre Florianópolis e Joinville (de 9º para 791º), por exemplo, é acachapante e não deixa qualquer margem para dúvida. Os números não mentem. Joinville está a falhar. E muito.

Retomando a questão da realidade versus percepção. Muita gente tem a percepção de que a cidade está a ser bem gerida. Há mesmo quem diga que Adriano Silva se reelege no primeiro turno. Mas é preciso não ser vesgo: a maquiagem é capaz de resultar por algum tempo, mas uma hora a realidade bate à porta. E neste caso bateu 791 vezes. Enfim, é preciso ter um projeto de governo consistente e não viver de ações pontuais. Porque plantar florzinhas nunca resolveu os problemas estruturais de nenhuma cidade. 

É a dança da chuva.



quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Eleição e redes sociais: uma guerra onde todos perdem

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

De uma hora para outra, as redes sociais foram invadidas por hordas de candidatos à eleição de outubro. É uma autêntica guerra pela atenção dos eleitores. E tem uma ironia: estão todos a perder. A maioria ainda não percebeu a existência do fenômeno da “economia da atenção”. É um conceito com décadas, mas que ganhou nova força no digital, um ambiente em que a atenção das pessoas – neste caso, dos eleitores – é um recurso muito escasso e valioso. Numa sociedade saturada de estímulos, cada post tem que fisgar o olhar em poucos segundos... ou morre. 

Um ponto crucial é que a maioria dos eleitores não acessa as redes sociais para tomar decisões eleitorais. Elas estão ali para se divertir, acompanhar a vida de outras pessoas, compartilhar conteúdos leves e desconectar-se de preocupações. Esse comportamento torna o ambiente das redes sociais pouco favorável para discussões políticas mais complexas, já que os usuários não estão, no plano geral, em busca de informações sobre candidatos e planos de governo. Isso é bom? Não. Mas é a realidade que temos...

É importante olhar para uma evolução histórica. Houve uma coisa chamada “edutaining”. O quê? É um conceito surgido há tempos, com o foco no universo infantil. Era uma mistura de educação e entretenimento, com os conteúdos apresentados de forma leve e acessível. Os marketeers perceberam o potencial da estratégia e adaptaram a fórmula para as marcas. Só que o inconsciente social tem mecanismos estranhos e a coisa degringolou. Com o passar do tempo, a coisa extrapolou para uma espécie de “infantilização” dos adultos.

Não significa que as mensagens devam ser feitas na medida da compreensão de uma criança. O buraco é mais em baixo. O excesso de informação e a sobrecarga cognitiva tornaram as pessoas mais receptivas a mensagens emocionalmente envolventes e fáceis de digerir. Ideias complexas e racionais raramente prosperam. No caso das eleições, não significa que os eleitores sejam tratados como crianças, mas que as mensagens devem ser simples e não exigir grande esforço para serem entendidas. O sucesso do bolsonarismo não é obra do acaso.

E temos questões técnicas. O alcance orgânico nas redes sociais é limitado. Os algoritmos privilegiam conteúdos que geram mais interação, com foco no entretenimento. No contexto político, onde a concorrência por visibilidade é forte, o sucesso de uma campanha depende de como o conteúdo é adaptado à percepção dos eleitores. Muitos candidatos acham que basta investir para impulsionar posts. Grande erro. Muitas plataformas passam pelo processo de “enshitification” (texto aqui) e estão saturadas de anúncios. Quase não há interação social.

Enfim, as redes sociais são importantes, mas preciso ter estratégias de longo curso. Um candidato que aparece dois meses antes das eleições não tem tempo suficiente para formar uma comunidade e obter engajamento orgânico. Outro erro é achar que é suficiente “impulsionar” (pagar) um post para chegar ao eleitor. Nem sempre chega. E sai caro. Os “custos por clique” para alcançar um público que pode não estar interessado em conteúdos políticos são indigestos. E o pior: mesmo que a mensagem chegue, não é garantia de conversão em voto.

É a dança da chuva.



quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Sargento Lima e o “embromation” sobre as obras de Bolsonaro

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Vocês estão a ver os debates da eleição para prefeito de Joinville? Se não viram, eu conto. Tem sido uma coisa modorrenta, enfadonha, cacete. Os candidatos ficam amarrados por modelos que impedem as propostas e o contraditório. O que até é um alívio para alguns, porque tem uns tipos ali com a cabeça mais deserta que o Saara. Nenhuma ideia. Mas mesmo assim tem sido possível retirar um ou outro momento interessante.

Foi o caso do debate no ND+, na semana passada. Numa contenda monótona, houve um momento recreativo protagonizado pelo candidato bolsonarista Sargento Lima (que insiste em ser o único, porque o atual prefeito também quer sentar na cadeira do bolsonarismo). Foi assim. Durante a sua intervenção, o ex-prefeito Carlito Merss, do PT, perguntou ao sargento o que Bolsonaro tinha trazido de efetivo para Joinville nos seus quatro anos de governo.

Ora, qualquer pessoa que tenha estado com um olho aberto nesse tempo sabe a resposta: Bolsonaro não fez nadinha por Joinville. O deputado, na obrigação de defender a honra do quartel, deu aquela viajada. Foi a Marte, Saturno, Plutão e quando voltou à Terra começou com uma tremenda “embromation”. Daquelas coisas que só um bolsonarista consegue acreditar. Não vamos esquecer que a inteligência dessa gente está no nível “rezar para pneu”.

Mas lá no meio da arenga, o deputado deixou escapar uma frase para lá de reveladora: “toda vez que o presidente Bolsonaro esteve em Santa Catarina, ele veio também para ver os seus amigos”. É claro que a campanha de Carlito Merss aproveitou a derrapada para fazer um corte e postar nas suas redes sociais. Quando às obras, o candidato bolsonarista enrolou, enrolou, enrolou e não respondeu. Nem tinha como, né?

E eis a surpresa. O sargento também publicou um post sobre o mesmo episódio, usando a sua não-resposta como se fosse um grande feito intelectual. E até colocou aqueles oculozinhos do “lacrou” no final. E, imaginem, era uma fala desconexa, um tatibitate de dar dó. Mas no exato momento em que estou aqui a escrever, o post já tem 3682 “gostos” no Instagram. Ora, um número de pessoas mais que suficiente para abrir a Igreja do Santo Pneu da 72ª Hora.

Eu fico aqui na galhofa, mas houve duas coisas chocantes no corte. 1. Dizer que Bolsonaro foi responsável pela vacina que imunizou os joinvilenses. Depois dos horrores e de 700 mil mortes, é preciso ter muita cara de pau para dizer uma coisa dessas. 2. Dizer que vão reverter a reforma tributária. Diacho! Depois de décadas de discussões infrutíferas, o Brasil finalmente tem o modelo parecido com a Europa e os EUA. E o sargento promete o Sudão do Sul? Não brinca!

É a dança da chuva.





terça-feira, 3 de setembro de 2024

Adriano Silva e Sargento Lima em guerra... de travesseiros

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O deputado Sargento Lima e o prefeito Adriano Silva, um candidato e outro recandidato à Prefeitura de Joinville, entraram em guerra. Eis um fato que podia animar a campanha, que anda modorrenta, mas parece ser apenas uma guerra de travesseiros. Umas penas para lá, outras penas para cá e fica tudo na mesma. Sem ideias relevantes para apresentar, os dois ficam com picuinhices. O que, em bom português, significa dar excessiva atenção a coisas desimportantes. 

ROUND 1: A campanha do candidato Sargento Lima denunciou erros nos adesivos “perfurades” (é aquela coisa do vidro dos carros), que Adriano Silva está a dar aos seus apoiantes. Dizem que o diabo está nos detalhes: a peça publicitária não tinha a legenda de todos os partidos integrantes da coligação “Unidos por Joinville”. Não foi legal. Terá sido descuido? Há quem diga que o prefeito tem aliados incômodos porque há partidos fazem parte do governo Lula. O eleitorado bolsonarista não perdoa essas traições.

ROUND 2: Adriano Silva subiu nas tamancas e deu o troco no mesmo nível. Ou seja, um tema tão definidor quanto um unicórnio a fazer compras numa farmácia. A campanha do atual prefeito entrou com uma representação contra a propaganda do adversário. Ao que parece, a janela do intérprete de libras nos filmes do Sargento Lima não estava no tamanho certo. E a justiça suspendeu a propaganda. Coisa de bolsonarista. É uma briga por tamanho. Parece que os centímetros do sargento não são suficientes para Adriano.

Enfim, esse é o retrato da política de Joinville. Na total ausência de ideias, dois bolsonaristas se engalfinham por... coisa nenhuma. Ou melhor, é uma briga de perros querendo demarcar o território (sabiam que os cães mijam nos lugares para delimitar o próprio espaço?). Eis a briga: ambos querem ser reconhecidos como bolsonaristas. E eu fico a pensar. Mas qual é a pessoa com dois dedinhos de testa que quer ser vista como bolsonarista? Até pode ajudar a ganhar a eleição (estamos a falar de Joinville), mas a imagem fica toda cheia de lama. Irremediavelmente.

É a dança da chuva.






segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Palácio das Orquídeas deixa Adriano Silva numa saia justa

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Adriano Silva tem um abacaxi para descascar. A denúncia do uso indevido de verbas da educação, aplicadas num projeto de turismo, abre uma rachadura na imagem de bom gestor que ele tenta projetar. Pode até nem haver consequências legais, mas a sua credibilidade deve sofrer algum abalo. A denúncia feita pelo advogado Rodrigo Bornholdt, candidato a prefeito pelo PSB, deixou Adriano Silva numa saia justa. 

Que tal relembrar a sequência do escândalo do Palácio das Orquídeas? O caso começou com Bornholdt a fazer a denúncia. Adriano foi a uma rádio acusá-lo de fake news. Rodrigo fez um “react” nas redes sociais e mostrou o contrato da Prefeitura para provar as afirmações. E fechou com um desafio a Adriano: “fica aí o teu direito de resposta para esclarecer de onde está vindo o dinheiro do suposto Palácio das Orquídeas”. A bola está com Adriano. 

As implicações administrativas e políticas são relevantes, claro, mas o escândalo traz algo novo. É que depois de chegar à prefeitura quase por obra de Nossa Senhora do Acaso, o atual prefeito teve uma vida muito fácil. Ninguém peitou. Adriano Silva navegou sempre em águas calmas, sem oposição. Os bolsonaristas (que têm muito em comum com o prefeito) alinharam alegremente. A oposição mais à esquerda não foi além de pequenas troças nas redes sociais.

Eis a novidade. Este é o primeiro chacoalhão a sério sofrido pelo atual prefeito. Não dá para dizer que vai causar mossa na sua imagem, claro. Até porque a imprensa, sempre muito meiguinha, deve permanecer no seu “rigor mortis”. Quer dizer que a pendenga só pode prosperar nas redes sociais. E se os outros candidatos pegarem carona na denúncia. Então, é possível que a coisa escale e que surjam outros fatos. 

Enfim, é só os opositores fazerem oposição. É certo que o atual prefeito nada de braçada nas redes sociais. Nem tanto por talento, mas porque sempre esteve sozinho na piscina. Mas o chato de governar pelo Instagram é que isso cria um mundo virtual e dá a ilusão de que Joinville é uma Shangri-La. A diatribe do Palácio das Orquídeas mostra uma nova face do jogo: o prefeito sendo obrigado a descer ao mundo real, onde estão as pessoas de carne e osso, para se explicar. E aí o jogo é outro. 

 Ah... mas não dá para chamar de escândalo. Dá sim. Tudo o que aponte para mau uso de dinheiro da educação é sempre um escândalo. E este episódio mostra que nem tudo são flores para Adriano Silva. A imagem dessa Joinville-Shangri-La criada no Instagram está a ser abalroada por um choque de realidade. Bem-vindo ao mundo real, prefeito. Mas fica a constatação: não existe filtro de Instagram para maquiar a realidade.

É a dança da chuva.

Rodrigo Bornholdt fez a denúncia, Adriano Silva ainda não apresentou uma explicação.


domingo, 1 de setembro de 2024

Musk pensa que o Brasil é a casa da mãe-joana

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O ministro Alexandre de Moraes tornou-se uma figura de dimensão mundial. Ao tirar o X/Twitter do ar no Brasil, o magistrado abriu um predecente importante: agora o mundo sabe que é possível fazer frente à arrogância dos bilionários das redes sociais, que tendem a dar de ombros para as leis nacionais. O caso de Elon Musk, um sujeito que anda pelo mundo a fazer favores à extrema-direita, é o mais notório. 

A desfaçatez de Elon Musk já tinha ficado explícita na declaração sobre a Bolívia, há alguns anos. “Vamos dar golpe em quem quisermos. Habituem-se”. Ao que parece, os donos de redes sociais julgam ser intocáveis. E no caso do X/Twitter, o seu dono não se importa de estar ligado ao que há de mais reacionário. Musk tem ligações a líderes como Modi, Trump, Órban ou Erdogan, pessoas com tiques autoritários e que pouco devem à democracia.

Os bilionários das redes sociais tendem a ser fortes com os fracos. Musk tentou encurralar a Justiça brasileira, ignorando as leis do país. Achou que tinha uma boa mão e decidiu subir a parada. Mas Moraes, que parece ter os tomates no lugar, não caiu no blefe e tirou o X/Twitter do ar. É um golpe duro para o bilionário, porque o Brasil é um dos principais mercados mundiais do X/Twitter, tanto em número de usuários quando de faturamento. E a rede anda mal das pernas.

Musk blefou e perdeu. O problema é que a decisão de Moraes pode contagiar outros mercados. A Comissão Europeia, por exemplo, tem advertido o X/Twitter sobre a possibilidade de multas pesadas e até a proibição da plataforma na Europa, caso não sejam cumpridas as exigências da Lei de Serviços Digitais. A União Europeia tem poder para multar empresas em até 6% do seu faturamento global se não respeitarem as regulamentações ou tiverem violações contínuas.

Um dos pontos de atrito entre o X/Twitter e as autoridades europeias é o problema da desinformação. A rede tem sido advertida por não tomar as medidas necessárias para combater a desinformação, além de não remover conteúdos nocivos. Musk tem uma posição ambígua na Europa: diz que vai cumprir as regras, mas na prática não é bem assim. Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência. A diferença é que ele achou que o Brasil é a casa da mãe-joana.

Mas o mais ridículo é ver brasileiros da extrema-direita – até gente que nunca foi ao X/Twitter – pagando pau para um gringo que se considera acima da lei. Os caras estão a favor de Musk e contra Moraes (o que até faz sentido, porque é o ódio número um dos bolsonaristas). Mas para completar o pacote de burrice, tentam associar a decisão do magistrado ao presidente Lula. Cuma?! Tem que ser muito mau carater ou idiota... ou as duas coisas ao mesmo tempo.

É a dança da chuva.