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quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Eleição e redes sociais: uma guerra onde todos perdem

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

De uma hora para outra, as redes sociais foram invadidas por hordas de candidatos à eleição de outubro. É uma autêntica guerra pela atenção dos eleitores. E tem uma ironia: estão todos a perder. A maioria ainda não percebeu a existência do fenômeno da “economia da atenção”. É um conceito com décadas, mas que ganhou nova força no digital, um ambiente em que a atenção das pessoas – neste caso, dos eleitores – é um recurso muito escasso e valioso. Numa sociedade saturada de estímulos, cada post tem que fisgar o olhar em poucos segundos... ou morre. 

Um ponto crucial é que a maioria dos eleitores não acessa as redes sociais para tomar decisões eleitorais. Elas estão ali para se divertir, acompanhar a vida de outras pessoas, compartilhar conteúdos leves e desconectar-se de preocupações. Esse comportamento torna o ambiente das redes sociais pouco favorável para discussões políticas mais complexas, já que os usuários não estão, no plano geral, em busca de informações sobre candidatos e planos de governo. Isso é bom? Não. Mas é a realidade que temos...

É importante olhar para uma evolução histórica. Houve uma coisa chamada “edutaining”. O quê? É um conceito surgido há tempos, com o foco no universo infantil. Era uma mistura de educação e entretenimento, com os conteúdos apresentados de forma leve e acessível. Os marketeers perceberam o potencial da estratégia e adaptaram a fórmula para as marcas. Só que o inconsciente social tem mecanismos estranhos e a coisa degringolou. Com o passar do tempo, a coisa extrapolou para uma espécie de “infantilização” dos adultos.

Não significa que as mensagens devam ser feitas na medida da compreensão de uma criança. O buraco é mais em baixo. O excesso de informação e a sobrecarga cognitiva tornaram as pessoas mais receptivas a mensagens emocionalmente envolventes e fáceis de digerir. Ideias complexas e racionais raramente prosperam. No caso das eleições, não significa que os eleitores sejam tratados como crianças, mas que as mensagens devem ser simples e não exigir grande esforço para serem entendidas. O sucesso do bolsonarismo não é obra do acaso.

E temos questões técnicas. O alcance orgânico nas redes sociais é limitado. Os algoritmos privilegiam conteúdos que geram mais interação, com foco no entretenimento. No contexto político, onde a concorrência por visibilidade é forte, o sucesso de uma campanha depende de como o conteúdo é adaptado à percepção dos eleitores. Muitos candidatos acham que basta investir para impulsionar posts. Grande erro. Muitas plataformas passam pelo processo de “enshitification” (texto aqui) e estão saturadas de anúncios. Quase não há interação social.

Enfim, as redes sociais são importantes, mas preciso ter estratégias de longo curso. Um candidato que aparece dois meses antes das eleições não tem tempo suficiente para formar uma comunidade e obter engajamento orgânico. Outro erro é achar que é suficiente “impulsionar” (pagar) um post para chegar ao eleitor. Nem sempre chega. E sai caro. Os “custos por clique” para alcançar um público que pode não estar interessado em conteúdos políticos são indigestos. E o pior: mesmo que a mensagem chegue, não é garantia de conversão em voto.

É a dança da chuva.



terça-feira, 9 de julho de 2013

São os políticos seres alienígenas?

POR JORDI CASTAN


A revista Veja, da qual não sou nem leitor nem assinante, estampa na sua capa desta semana uma pergunta inquietante: “Você concorda que Brasília deveria abandonar a galáxia distante onde está e voltar ao Brasil?”. Imediatamente me veio à mente o filme MIB (Men in Black)  de 1997, protagonizado por Tommy Lee Jones, Will Smith e a encantadora Linda Fiorentino. Depois foram feitas outras versões e já está hoje na terceira.

O filme apresenta a possibilidade, até hoje fantasiosa, de que seres extraterrestres vivessem normalmente aqui na Terra. Depois de ver a capa da "Veja", não me resta nenhuma dúvida de que o filme é premonitório. Os nossos políticos não podem ser seres normais, não podem ser terrenos... ou seria mais correto dizer terráqueos? Não é Brasília que deve voltar à Terra, desde a galáxia distante em que a "Veja" assegura que se encontra. Brasília existe, é real e está no Planalto Central. Eu mesmo já estive lá mais de uma dezena de vezes. Os políticos de Brasília, como em todas as capitais e todos os municípios brasileiros, foram abduzidos por seres de outra galáxia, alienígenas que estão entre nós para destruir a nossa civilização ou o que resta dela.

É impossível imaginar que, enquanto milhões de brasileiros saem às ruas a pedir uma mudança, estes senhores possam estar passeando em jatinhos da FAB, pagos com o nosso dinheiro para assistir jogos de futebol, casamentos, visitar amigos e levando juntos parentes e namoradas. Nos últimos 5 meses foram 65 vezes. Tudo enquanto às portas dos estádios as pessoas enfrentavam a polícia pedindo reformas, protestando contra a corrupção e contra o mau uso do dinheiro público. Dentro dos estádios, alheios a tudo, tinha políticos posando de torcedores.

 A invasão está espalhada por todos lados. Nas assembleias legislativas, importantes projetos de lei outorgam o título de capital da carne, ou da banha, ou do jiló a esta ou aquela cidade. Enquanto isso, a saúde, a educação e a segurança desmoronam, como resultado da má gestão, do gasto exagerado e da própria roubalheira.

Nos municípios do interior, pequenos sátrapas dispõem dos recursos públicos como se fossem próprios, e contratam jardins de inverno, aquários, carros com motorista e quilometragem ilimitada ou qualquer outra bobagem que lhes dê na telha. Tudo ao mesmo tempo que recebem em audiência os representantes da sociedade que defendem a redução do custo do transporte público ou o passe livre. Para ter uma noção de como a situação escapou do controle, entre 2005 e 2012 os municípios brasileiros contrataram mais de 1.500.000 de funcionários e a proporção de funcionários públicos em relação à população cresceu 32% sem que os serviços públicos tenham melhorado. No caso de Joinville, a maior empregadora do município é a Prefeitura, com mais de 11.000 funcionários. Cada dia são necessários mais impostos para pagar os custos de uma máquina que não para de crescer. 

Não me resta qualquer dúvida: os políticos que elegemos não são deste planeta, eles são de outro mundo. Ocupam corpos com aparência de humanos, falam como humanos, se comportam em público como se fossem seres humanos. Mas não o podem ser. É impossível que esta gente seja tão insensível ao sofrimento deste país, que não vejam as filas na madrugada, as escolas interditadas, o patrimônio público deteriorando-se, os professores mal pagos e o aumento descontrolado da criminalidade.

Estes alienígenas devem possuir algum tipo de poder hipnótico que, retransmitido pelas ondas do rádio ou da televisão, fazem que os eleitores deste país sejam acometidos de ataques sorumbáticos e votem nas maléficas urnas eletrônicas, justamente nos candidatos alienígenas. Porque é difícil aceitar que representem um corte da nossa sociedade. Não pode ser que sejamos tão ruins. São uma abdução em massa ou uma invasão extraterrestre. Só isso poderia explicar uma situação como a que vivemos. E é evidente que a nave mãe que os trouxe não quer levá-los de volta.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Os vereadores estão solidários com os grevistas? Diminuam os próprios salários!

POR FERNANDA M. POMPERMAIER

Tem vereador levantando bandeira no Twitter à favor dos grevistas porque, claro, pensa na qualidade de vida dos funcionários públicos joinvilenses. Não existe nenhum interesse obscuro nesse apoio. É uma solidariedade genuína. Muito nobre.

Mas vindo de uma pessoa que recebe mais de 10 mil reais por mês de dinheiro dos nossos impostos para manter seu alto padrão de vida. Dinheiro este que deveria estar indo para a saúde, educação, cultura etc.  Lamento, isso não é justo.

Vereadores joinvilenses recebem demais sim! Sabe que parcela da população recebe mais de 10 mil reais por mês? Uma minúscula minoria. Nem professores universitários que estudam e pesquisam a vida toda recebem perto disso. Esses são os bem intencionados que se puseram a serviço da população? Que deveriam estar trabalhando para o bom uso do dinheiro público?


Eu não tenho absolutamente nada contra a greve. Considero uma forma legítima de conquista de direitos, muitas vezes necessária. Claro que deve-se levar em conta que as formas de negociações pacíficas já foram esgotadas e não existe mais possibilidade de diálogo. Assim, naturalmente, parte-se para a pressão.

É triste, é.
Prejudica os usuários? Prejudica. Mas não é motivo para colocar a população contra os grevistas. Eles têm o direito de lutar pelo que acham certo, e a população deveria cobrar de quem pode resolver e ajudá-los a mudar esse quadro.

Se o prefeito pegou o caixa quebrado, o que não é novidade na nossa cidade, e se 60% da arrecadação vai para folha de pagamento, que resolvam os vereadores e seus assessores. Vamos cortar.

É justo que alguns funcionários fixos ganhem aproximadamente 2 mil reais e vereadores que estarão na câmara por apenas 4 anos (oi?) ganhem 5x mais?

Não é.

Impostos servem para garantir a qualidade de vida do morador da cidade, a longo prazo, nada mais.

O Udo doou o seu salário. Se os vereadores estão tão preocupados com Joinville, que façam o mesmo, diminuam seus custos.

Na Suécia os vereadores não recebem salário e não tem nenhum benefício.
Nem carro, nem diárias, nem celulares ou assessores como fazem os ricos vereadores de Joinville. E olha que as cidades aqui estão muito melhor cuidadas e organizadas.

Os vereadores suecos uma vez eleitos, saem de licença dos seus trabalhos e continuam recebendo o mesmo valor de suas funções anteriores, mas agora pagos pelo governo. Isso faz com que eles tenham realmente uma carreira profissional fora da vida pública. E é óbvio, o governo não gasta horrores porque os salários, claro, não são altos. As pessoas que se candidatam, de forma geral, querem realmente trabalhar pela cidade e não garantir o pé de meia.

Então, queridos vereadores, não fiquem de hipocrisia, fazendo de conta que estão apoiando o reajuste da inflação para os funcionários, quando o seu já está garantido. Nos últimos 10 anos seus salários dobraram, e não acredito que isto tenha sido só a inflação. De acordo com essa reportagem a maioria está muito satisfeita com o valor. Shame on you!

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

E se pudéssemos enquadrar os políticos no Código de Defesa do Consumidor?


 POR AMANDA WERNER

A Lei 8078/1990, vulgo CDC- Código de Defesa do Consumidor, dispõe sobre a defesa do consumidor. Eu, que ando a estudar as leis, comecei a divagar. E se pudéssemos enquadrar os políticos no CDC?

Imaginemos que nós, eleitores, sejamos os consumidores. Os políticos eleitos são os produtos e serviços. E os partidos e coligações, os fornecedores. Neste meu devaneio, todo o conjunto formaria uma grande relação de consumo. Ok. Entendo que o político pode fazer o papel tanto de produto, quanto de fornecedor. Já que é o seu próprio vendedor.

Trazendo para este mundo de eleições, os princípios que norteiam os direitos do consumidor, poderíamos considerar que nós, eleitores, somos vulneráveis, pois, individualmente, não estaríamos em condições de fazer valer nossas exigências.  Afinal, com a sofisticação do marketing nas campanhas políticas, com o bombardeio de informações por todos os lados, e o empurrãozinho que alguns têm da mídia - radialistas, jornalistas, apresentadores de programas na televisão, e que outros têm das Igrejas, somos mesmo hipossuficientes, não é? Em função do que foi colocado, mereceríamos ter a nossa proteção ampliada em função da desproporção, pois nessa relação de troca, a inferioridade é evidente.

Sendo assim, teríamos assegurada a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva. Para esclarecimento: propaganda enganosa é, conforme o CDC, qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, mesmo que por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor. E abusiva, é a publicidade discriminatória de qualquer natureza, que incite à violência, explore o medo ou a superstição.

Ou seja, toda a promessa feita em campanha integraria o contrato a ser celebrado. Em outras palavras, tudo o que o candidato prometesse fazer, quando eleito, teria a obrigação de cumprir, sob pena de, alternativamente e à escolha do eleitor:

I - cumprir de forma forçada a obrigação, nos termos da promessa de campanha;

II- devolver os votos, deixando a vaga a um suplente, que se submeteria às mesmas regras. Dá pra outro fazer, já que não tem capacidade.

III- ressarcir os eleitores monetariamente pelo serviço não prestado. O eleitor-consumidor-credor, faria uma estimativa dos prejuízos resultantes de não haver o político-devedor cumprido com a sua obrigação. Sem prejuízos de eventuais danos morais causados à população pela expectativa das promessas, como: mais leitos de UTI, melhorias na educação, e por aí vai.

E se caso, houvesse danos ao erário provenientes de corrupção, poderíamos comparar ao vício oculto. Vício oculto, é aquele que não é facilmente identificável pelo consumidor. Seria o caso do político que não se sabia ser corrupto, mas que colocou as manguinhas pra fora durante a gestão. Neste caso, responderia  o meliante, digo, político, com a desconsideração de sua personalidade política, pagando com os seus próprios bens, ou ainda, com os bens dos partidos e das coligações, que seriam solidariamente responsáveis. Queria ver se os partidos colocariam qualquer ladrãozinho ficha suja para integrar os seus quadros. Ou, se os partidos fariam coligações absurdas para garantir cargos e poder.

Finalmente, nesse delírio, haveria ainda outro benefício: o da inversão do ônus da prova. Os políticos eleitos é que teriam que provar que não são culpados das acusações que lhes são imputadas, e não o contrário. Afinal, a responsabilidade da prova é daquele que tem melhores condições e mais facilidade de produzi-las. Creio que esta seria a parte mais difícil já que a tal “transparência” seria efetivamente exigida.

Mas e aí, alguém se candidata?

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Você vota, eu viajo

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Hoje tenho uma proposta política a fazer: quero o seu voto. 

Tenho pensado em voltar a viver no Brasil. E a mudança, claro, traria perdas e ganhos. A maior perda, com toda certeza, seria deixar de viajar pela Europa com certa frequência. Porque aqui é fácil viajar para os países vizinhos. Com o surgimento das empresas aéreas low-cost, até pobres como eu podem andar por aí.

E tem o ganho. Depois de muito refletir, encontrei a solução para o meu problema. Volto para o Brasil e entro para a política. Afinal, os políticos brasileiros são os campeões mundiais de viagens aéreas, os paladinos dos programas de milhas. Se conseguir me eleger para qualquer cargo (governador, prefeito ou deputado, não importa) tenho certeza de que continuarei a viajar à grande e à francesa. Mas em vez de Paris prefiro a Cote D’Azur, que é onde estão as beldades.


Isso das viagens foi uma descoberta genial do sistema político brasileiro. Os caras andam aí pelo mundo feito saltimbancos, com
direito a diárias polpudas, e alguns eleitores acreditam que eles estão a trabalhar a sério. É uma teta. Para parecer que estão a fazer algo de relevante, basta mandar um videozinho, uma fotinho, um textinho. Ou dar uma entrevista ao vivo para uma rádio (ligação paga com dinheiro público, claro).


E é para isso que eu conto com essa forcinha do leitor-eleitor: você vota, eu viajo. Mas não pense que parto para essa candidatura sem um programa de governo. Bem... na verdade é mais um programa de viagens, o que vai dar no mesmo. Para começar, proponho a mudança na forma de governo. A idéia é implantar um novo sistema, o parlamentarismo-viajandão: é muita conversa, muita viagem e pouco trabalho.

É um sistema que obriga a abrir escritórios de trabalho em alguns pontos estratégicos do planeta. Nas Rivieras, nas Seichelles, nas Bahamas ou nas montanhas da Noruega, por exemplo. E aqui o leitor-eleitor mais antenado já percebeu uma grande diferença. É que os nossos políticos tradicionais são breguésimos e têm um péssimo gosto. Só viajam para lugares carne de vaca, cinzentões e sem charme como a China, a Rússia e cus-de-mundo dos EUA.



E a grande inovação. Vou acabar com essa palhaçada dos políticos tradicionais, que convidam certos "jornalistas" amigalhaços para as viagens. Lembram de um ex-prefeito que convidou um daqueles radialistas infames para um tour pelos Estados Unidos? E um passarinho gringo me contou que o inglês do tal radialista (que foi convidado como jornalista sem ser jornalista) não ia além do "mi tárzan, yú djeine".


É o mesmo ex-prefeito que, numa viagem a Paris (sempre teremos Paris), levou um assessor de imprensa que nada pescava da língua de Camus ou, para salvar a situação, mesmo de Dickens. Aliás, era mesmo difícil que o cara soubesse quem eram Camus ou Dickens. E acho que o cara só saiu da França porque achou que a porta onde estava escrito "sortie" era a porta da sorte.


Ah... e o mesmo político, quando secretário do governo estadual, foi acompanhado por outro radialista para uma digressão por Portugal. Ooops! Para a terra de Camões ele leva um cara que toma autênticas tareias da língua portuguesa? Como diria o poeta, os políticos usam essas abébias para galvanizar a malta.

Mas voltemos ao que interessa. Para finalizar, eis a grande notícia, caro leitor-eleitor: é que, caso eleito, todos os meses eu pretendo sortear uma viagem entre os meus eleitores e eleitoras, com direito a todas as mordomias com o dinheiro público. E você, claro, pode ser um deles. Isso é corrupção? Perfeito. Quer dizer que já estou pegando o jeito da coisa.







Adaptação de um texto publicado no jornal A Notícia

domingo, 10 de junho de 2012

Como fazer sucesso com a classe média


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O Chuva Ácida sempre convida os seus leitores (os que não são anônimos, claro) para escrever textos. Mas tem gente que sofre da tal síndrome da folha em branco (ou a tela do computador em branco) e acha difícil escrever. Por isso, arrisco dar uma fórmula eficaz aos nossos leitores.

Dica 1 - Fale mal de Dilma e dos ministros que não param de cair. Diga que são todos corruptos (nem precisa ter provas). É tema de sucesso garantido entre as classes médias que lêem jornais ou blogs.
Dica 2 - Falar mal de Lula é garantia de leitura. Meta o dedo na ferida: Lula não fez faculdade. Ironize, achincalhe e diga que é uma vergonha o Brasil ter um sem-diploma como presidente.
Dica 3 -  Fale mal da esquerdalha que tomou conta do poder na América Latina. Chávez, Morales, Correa. Faça piada com o populismo dessa gente. Não tem erro.
Dica 4 - Pegue numa frase feita e destrua a nossa auto-estima. "O Brasil não é um país sério", "coisa de brasileiro", "eta povinho", por exemplo, é receita certa. Culpe o governo, culpe os políticos, culpe os brasileiros. Todos são culpados menos você, que está heroicamente a escrever um texto (é fazer algo,afinal).
Dica 5 - Se for de Santa Catarina, mostre respeito pelos velhos caciques e oligarcas. Elogie. Puxe o saco sem pudor. Diga que são velhas raposas. Atenção: nem pense em dizer que são uns tipos pouco escrupulosos que fazem tudo pelo poder. Ah... e omita dizer  que alguns estiveram ligados à ditadura.
Dica 6 - Incorpore o paladino da ética e da moral. Seja agressivo. Diga que está indignado com toda essa bandalheira (não precisa especificar, há bandalheira em todos os lugares). Use palavras fortes como "lixo", "nojo", "repugnância" etc.
Dica 7 - Lance um slogan. Proponha coisas do tipo "não reeleja". É uma ideia totalmente idiota, mas os slogans são mera publicidade e não estão sujeitos à verificação.
Dica 8 - Não é preciso estudar, ler, pesquisar. Simplifique. Veja apenas a revistona semanal e tire de lá os seus argumentos. Podem ser pura balela, mas o povo acredita e gosta.
Dica 9 - Falar mal de integrantes dos movimentos populares é tiro certo. Use termos como baderneiros, invasores, criminosos, terroristas. Falar mal dos sem-terra é garantia de êxito.
Dica 10 - Culpe os políticos por tudo. Diga que são todos iguais. Ninguém vai perguntar se você, alguma vez na vida, levantou o traseiro da cadeira para tentar mudar as coisas a sério. Afinal, como já foi dito, você está escrevendo um texto para denunciar toda essa sacanagem. E isso é fazer muito.

DICAS DOS LEITORES

Dica 11: Fale mal de Jonville, diga que é uma "vila", que é cidade pequena, de gente atrasada e que Curitiba é o que há. Não tem erro.
Dica 12: Diga que Joinville é uma cidade cosmopolita que mantém as suas tradições.
Dica 13: Eike Batista perdeu 1 bilhão em 24 horas, a Busscar foi para o saco de vez, a Construtora tal tá mal das pernas, a empresa do candidato também, o Chavez e Castro tem 2 meses de vida, e por aí vai. A classe média adora a desgraça alheia.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Eu, cidadã, confio


 POR AMANDA WERNER
Em época de eleições todo o cuidado é pouco. O assédio vem de todos os lados. Como conseguir confiar em um candidato depois de tanta frustração política acumulada? Como qualificar o voto? Eis algumas atitudes que me inspiram confiança:

Confio naqueles que desde a tenra idade são sensíveis às causas sociais. Que atuaram na escola como representantes de classe, participaram do Diretório Acadêmico, ou com causas do seu bairro. Confio nas lideranças naturais. Bem mais do que nas fabricadas.

Confio nos que têm vocação para a política. Nos que têm dedicação apaixonada pela causa. E nos que têm senso de responsabilidade e proporção.

Confio nos que tomam partido. Nos que ao serem indagados sobre temas cabeludos, como aborto, pena de morte e eutanásia assumem a sua opinião. Mesmo que a opinião seja contrária à minha. Confio naqueles que não escorregam como sabão. Confio nos candidatos que não procuram agradar a todos, mantém-se firme em suas convicções, mesmo que isso signifique perder alguns votos.

Confio naquele que não faz crítica vazia. Naquele que propõe ideias para resolver a situação, e confio mais ainda naqueles que fazem acontecer.

Confio em quem não fica só a tecer elogios.

Confio em quem não é onipresente. Confio naquele que considera mais importante ficar com a família do que participar de várias feijoadas em um mesmo final de semana, ou marcar presença em cultos religiosos diversos, e confio mais ainda naquele que, como eu, acredita que ter trânsito livre de festas a enterros não é a melhor forma de fazer política.

Confio em quem faz, infinitamente mais, do que em quem fala que vai fazer se for eleito.

Confio no marketing pessoal obtido com realizações e não com o dinheiro.

Confio em quem pensa que se fazer algo pelos idosos é mais do que dançar com eles em bailes de terceira idade.

Confio no político de uma palavra só. Não naquele que tem uma palavra no atacado e outra no varejo. Creio ser a votação secreta a madrinha da corrupção. Confio nos que não defendem os interesses públicos com palavras, e os próprios, com o voto.

Confio nos humildes, e que não costumam se autoproclamar virtuosos.

Nunca voto em alguém que está no poder por mais de dois mandatos. Pois acredito que as raízes criadas pelo poder são as mais difíceis de extirpar.

Pesquiso o comportamento pregresso e valores do candidato.

Confio no candidato que não financia a mídia.

Lembro, que a legislação, tão somente, permite a propaganda eleitoral a partir do dia 06 de julho do ano da eleição.  Entrevistas de rádio ou televisão são permitidas pela lei, mesmo as anteriores à esta data. Nessas entrevistas, os candidatos podem falar de propostas, desde que não peçam votos. 

Reflito apenas,  se, quando ocorre superexposição, esta é por conta da significância das ações do candidato, ou, por causa do seu poder econômico.

Ainda, lembro que  a lei não permite propaganda eleitoral em outdoor. Contudo,  felicitações ao dia das mães, pais, ou ao dia do trabalhador são permitidas. Pois são consideradas  apenas marketing pessoal. Confio, como você poderia imaginar, no candidato que não se utiliza desse meio. 

É caro (e)leitor. O candidato que possui essas qualidades conseguiria facilmente me conquistar. É bem provável que o meu voto vá para alguém assim. Só desconfio de uma coisinha... desconfio que terei dificuldades para encontrar candidato na próxima eleição. Eu devo ser mesmo muito exigente.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Os políticos e os encantadores de serpentes


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Faz algum tempo, estava a acompanhar a produção de um filme publicitário aqui em Portugal e um operador de câmara, um paulista, disse que estava prontinho para passar uns meses no Brasil.

-       - Férias?
-      -  Não. Vou trabalhar na campanha eleitoral.
-     -  E compensa deixar o trabalho aqui?
-      -  Claro, lá os caras precisam fazer filmes e a grana rola solta entre a politicalhada. É a hora certa para ganhar dinheiro.
-      -  Para qual candidato vais trabalhar?
-      - Ainda não sei. Só sei que o cara tem muito dinheiro e está disposto a pagar.
-       - E o partido?
-       - Também não sei. E não importa. Desde que seja o partido da grana...

Parece brincadeira, mas a coisa é mesmo assim. Porque o emprego de marqueteiro ou publicitário em época de eleições no patropi é uma teta que parece não secar. Dá para muita gente mamar à grande e à francesa. Os políticos correm atrás dos caras como moscas à procura do mel, em especial os políticos acanalhados, que precisam branquear a imagem.

O candidato é um sacana que só quer se dar bem? Sem problemas. É um daqueles políticos que só lembram do povão na hora das eleições? Sem dramas. Tudo tem solução. Muitos políticos acreditam que os marqueteiros têm poderes do além: conseguem fazer o feio parecer bonito, o canalha parecer decente ou o aproveitador parecer sério.

Há uma explicação: os políticos brasileiros ainda não saíram do paleolítico e por isso acreditam nos poderes sobrenaturais dessa espécie de pajés que são os marqueteiros e publicitários. E muitos deles preferem a pajelança do show off em vez de trabalharem sério. Ooops! Trabalhar sério? Tem político que não sabe o que é ser sério e menos ainda o que é trabalho.

Nesta época, quando estamos às vésperas das eleições locais, já começa a haver uma autêntica corrida dos políticos para encontrar o publicitário ou marqueteiro que, como o os encantadores de serpentes, tenham a técnica sobre-humana de hipnotizar os eleitores e dar-lhes a vitória nas urnas.

Ou seja, os caras esperam ser eleitos apenas porque contrataram o sujeito que domina os raios e os trovões do marketing político. O fato é que os políticos não sabem – e nem querem saber – para que serve um publicitário ou marqueteiro. O que fascina é a técnica de encantamento. A frase perfeita, o filme mirabolante, a idéia genial ou a estratégica infalível.

O problema é que os marqueteiros não entendem muita coisa de ciências políticas, de antropologia ou sociologia. A maioria deles acha que vender um candidato é como vender um par de sapatos. Ou seja, os caras trabalham apenas na aparência, na superfície. Mas há produtos que, por mais que a embalagem seja bonita, ainda vão continuar a cheirar mal.

Mas, no final, o que se tem é uma equação interessante: de um lado estão os políticos, do outro estão os marqueteiros... e no meio está o dinheiro. Muito dinheiro.

Afinal, todo homem tem o seu preço. E alguns até fazem em prestações.