POR CHARLES HENRIQUE VOOS
Provavelmente a maior dificuldade do ser humano é saber o momento certo para criticar, construir e trocar opiniões e ideias sobre as coisas do mundo. São mais de dois anos escrevendo para o Chuva Ácida, doando para um certo "mundo" - o virtual -, um pouco do meu tempo, e da lente que me faz enxergar a sociedade. Lembro exatamente do primeiro convite para ajudar a criar o blog, o primeiro texto, e a primeira crítica proferida pelo submundo do anonimato, o qual sempre fui contra, mas sempre respeitando a decisão coletiva. Foi um ótimo caminho, pois cresci, amadureci e pude reforçar ainda mais aquilo que eu sempre gostei de fazer: falar, estudar e debater sobre Joinville.
Tive várias oportunidades para estudar longe desta cidade. Talvez fosse até o melhor caminho a seguir, visto que a cidade não é muito amistosa com pessoas que estudam nas áreas de humanas. Por questões familiares, de enraizamento com a cidade, e também pessoais-intelectuais eu preferi continuar morando aqui, e viajando para cidades vizinhas a fim de continuar meus estudos. Diariamente por 4 anos até Itajaí. Semanalmente desde 2010 para Florianópolis (mestrado) e Porto Alegre (doutorado).
Tive a maravilhosa oportunidade de conhecer pessoas diferentes, de lugares diferentes, moradores de cidades diferentes. E estes contatos influenciaram diretamente os meus textos aqui neste blog, creio eu. As viradas conceituais que tive nestes últimos anos foram incríveis, mesmo que isto prejudicasse amizades, imagem político-profissional e, também, o meu próprio nome. Mas o essencial, que era o contato com Joinville, eu nunca perdi. Pelo menos foi isso que eu tentei passar nos 129 textos que escrevi para este espaço.
Reconheço que não sou perfeito, muito menos um grande sociólogo, como grandes mestres que tive ao longo desta jornada que está apenas começando. Tentei, ao menos, ser o melhor cidadão possível, cumprindo com uma função coletiva de dar subsídios ao debate, mesmo que o leitor estivesse pré-determinado a não concordar. Eis a minha função social que encontrei ao aceitar o convite para integrar este grupo.
Denúncias de corrupção, debates sobre política, economia, cultura, educação e principalmente planejamento urbano. Foi tudo o que fiz por aqui. Repito, não com o mesmo brilhantismo de meus colegas, mas sempre na tentativa de acertar. Eu não sei o porquê desse vínculo todo com um lugar que diariamente tenta me extirpar, juntamente com meus colegas de militância e atuação social. Uma cidade onde o rico é totemizado, um semideus, e que seus mandos e desmandos influenciam diretamente as vidas das pessoas "comuns", mesmo sem elas saberem. Um grupo que já tentou me calar, me influenciar, me comprar, e minar todas as possibilidades que eu poderia ter em Joinville. A resistência é forte, e foi expressa aqui semanalmente.
Muitas pessoas passaram a respeitar a função de socíólogo, graças ao Chuva Ácida. Estas, em uma considerável maioria, nunca souberam qual era a função deste profissional dentro de uma sociedade. Por outro lado, muitas pessoas me acusam de ser um obcecado pela crítica em si, sem querer construir ou propor coisas diferentes. Como já falei por aqui em várias oportunidades, estar escrevendo fez parte da minha construção particular, e, consequentemente, da construção da minha função enquanto um ser que faz parte de uma coletividade. Se porventura minha posição não lhe agrada, caro leitor, peço as minhas sinceras desculpas, mas Joinville precisa aprender a respeitar pessoas que se dispõem a mostrar o contraponto, por mais incoerente que ele possa ser em alguns momentos. Se o Chuva Ácida conseguir contribuir para a construção deste sentimento na sociedade, é uma vitória e tanto.
Sendo assim, escrever aqui fez abrir os olhos para aquilo que eu já enxergava, mas não observava. Escancarou coisas que, quase sempre, os patrulheiros de plantão não percebiam, pois se atentavam apenas para as críticas, em uma atitude promíscua e casuística de perseguir para a manutenção de interesses particulares, e não pela promoção de um debate. Analisando rapidamente tudo o que já postei, faço um seguinte resumo das situações que pude elencar neste espaço, alertando para a resolução urgente destas. A não observância disto, ao meu ver, levará Joinville ao caminho do abismo da desigualdade social extrema, da inexistência do "direito à cidade" e da perda coletiva em todos os setores que formam o conjunto social. Entretanto, como poucos enxergaram, faço o exercício de um novo alerta, talvez de forma mais visível, com a esperança de que haja um despertar, seja lá de quem for:
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1 - Joinville (e seus políticos) precisa entender que crescer a economia não é, necessariamente, crescer a cidade;
2 - A mídia deve ser independente, absorvendo as demandas sociais como pauta, ao contrário do clientelismo e patrimonialismo que assolam as TVs, rádios e jornais locais;
3 - Os investimentos públicos devem ser distribuídos da maneira mais homogênea possível pela cidade, considerando a particularidade de cada bairro e também as diferentes posições relativas ao rendimento médio dos cidadãos;
4 - O Plano Diretor precisa ser respeitado, e não servir apenas para as demandas que surgirem ao longo dos anos;
5 - Uma cobrança e vigilância mais efetiva nos representantes estaduais e federais (deputados, senadores, etc);
6 - Abolição da "cultura do trabalho" que corrói esta cidade nas últimas décadas, ceifando oportunidades de trocas entre os cidadãos de Joinville;
7 - Uma educação pública que contemple todas as áreas do conhecimento, e despreocupada de formar profissionais de acordo com as demandas de mercado;
8 - Uma sociedade que respeite o diferente, em todos os níveis (religião, sexualidade, gênero, posicionamento político, etc);
9 - Menos Bisonis e mais professores;
10 - Uma saúde em que as pessoas não precisem de correntes para vislumbrarem atendimento;
11 - Uma Joinville onde as pessoas passem a olhar para as calçadas em péssimas condições, ao invés do buraco nas ruas;
12 - Uma cidade que pare de se espraiar, evitando assim a especulação imobiliária a qual é a responsável por loteamentos horizontais reprodutoras de um sistema nocivo de urbanismo baseado no automóvel;
13 - Sem monopólio de Gidion e Transtusa afirmado por uma caneta e vários colarinhos brancos;
14 - Uma maciça presença popular nas ruas e nas instâncias participativas;
15 - Uma juventude que se preocupe mais em ajudar os seus semelhantes ao invés de pensar exclusivamente em qual balada ir no final de semana;
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Fonte: http://ndonline.com.br/uploads/global/materias/2013/07/06-07-2013-16-12-50-policiais-area-.jpg |
16 - Cultura nas periferias da cidade, não somente nos bairros centrais e para os ricos;
17 - Governantes que pensem exclusivamente em diminuir a distância entre o mais rico e o mais pobre desta cidade;
18 - O fim da subserviência de uma cidade às entidades empresariais e todos os seus interesses e negociações ilícitas, imorais, ou particularistas;
19 - Profissionais que sejam profissionais, creditando seu sucesso ao seu trabalho, ao invés de suas redes de relações, "camarotes sociais" ou "puxasaquismo" alheio;
20 - Uma cidade de menos champas com sushi e mais suco com arroz e feijão;
21 - Uma Joinville em que todos possam vivê-la de uma maneira igualitária, humana e justa, sempre.
Como você leitor talvez pôde perceber, estou em clima de despedida deste blog. Todos na vida necessitam de um momento de pausa para, após isto, voltar a cumprir as suas funções sociais com uma maior força. Esta etapa de minha vida eu cumpri. Agora parto para outra etapa, tão gratificante quanto esta que pratiquei por aqui. Quem sabe eu volte - pode ser uma saída temporária - mas o sentimento de gratidão é permanente com todos: os colegas de blog, os leitores, os críticos, e os que querem uma cidade melhor, independente da sua história, visão de mundo, ideologia ou militância. É assim que todos saem ganhando.
Por enquanto a maioria é que está perdendo, em detrimento da vitória de poucos. É a mudança deste cenário que me faz levantar da cama todos os dias. O meu objetivo está traçado. E o seu?