POR GUILHERME GASSENFERTH
Há algumas semanas eu assistia a uma palestra sobre um tema interessante. Num dado momento, o palestrante fez o célebre prelúdio que sempre me deixa preocupado: “eu não sou homofóbico, mas...”. Esta introdução invariavelmente indica que uma assertiva preconceituosa está por vir. Para compreender melhor, é possível substituir a palavra homofóbico por racista, por exemplo. O comentário que vem a seguir provavelmente será preconceituoso. Afinal, alguém já viu uma pessoa não ser chata após dizer “não quero ser chato, mas...”?
Este preâmbulo que o palestrante em questão usou reflete uma dicotomia em nossa sociedade. É sabido que o preconceito e a discriminação são condenáveis, negativos, indesejados, mas por outro lado, ainda assim, vigem no pensamento e sentimento de muitos. Quando ele se justifica dizendo que não é homofóbico, é porque entende que sê-lo não é algo essencialmente bom. Se assim não fosse, não precisaria dizê-lo, pois a sua vindoura frase de teor homofóbico seria bem aceita pelos receptores da mensagem. Talvez apresente justificativa prévia para inconscientemente livrar-se da culpa pelo que vai falar. Mas mesmo assim ele vai adiante e diz o que pensa. Nestes casos, é o próprio porco que joga as pérolas.
Na mesma linha dos que dizem não ser homofóbicos, mas assim agem, estão os que “não tem nada contra, mas só não gostam dos afeminados.” Tenho muitos amigos e conhecidos que comentam comigo: “nada tenho contra você, você é meu amigo, mas não gosto das ‘bichinhas’”. Isto é medíocre e precisa ser extinto. É claro: quando não se é diferente, não há choque. Individualmente, nunca fui vítima de discriminação. Como não sou afeminado e insiro-me num estrato visto como ‘normal’ pela sociedade, em aspectos sociais, culturais, econômicos, profissionais etc., as pessoas não vêem em mim alguém diferente. É mais do mesmo, com a exceção do comportamento sexual e afetivo, mas que geralmente é praticado à luz da intimidade. O verdadeiro ser desprovido de preconceito é o que tem amizades com quem quer que seja, e usa como único critério as afinidades intelectuais, pouco lhe importando o modo de falar, vestir-se ou gesticular do amigo.
A homofobia só faz uma sociedade mais doente e injusta. É reprovável por todos os ângulos, sob todos os prismas, e deve, por isso, ser combatida, inclusive com a devida positivação legal.
Rogo a todos que considerem que diferentes pessoas, com diferentes credos, diferentes etnias e diferentes orientações sexuais são todas peças do complexo quebra-cabeças que é a sociedade e, portanto, devem ser não só toleradas, incluídas e respeitadas, mas trazidas ao bojo da igualdade que norteia uma convivência saudável e feliz.
Por fim, quero compartilhar: interessante pesquisa conduzida pela Universidade da Geórgia dividiu criteriosamente homens em grupos “homofóbicos” e “não-homofóbicos” e expôs os grupos a três vídeos de sexo: entre dois homens, entre um homem e uma mulher e entre duas mulheres. Apenas o grupo dos homofóbicos apresentou excitação durante a exibição do vídeo gay. Hm... Deixo esta conclusão por conta de cada um.
Guilherme A. Heinemann Gassenferth é empresário, envolvido com causas sociais e ativismo LGBTT e especialista em Gestão de Organizações do Terceiro Setor pela PUC PR.
Um texto perfeito. Sincero, forte e que incorporou o espirito do Chuva Ácida.
ResponderExcluirParabéns Guilherme
Parabens Gui! O esperito e a essencia é esta!!!! Acima de tudo e de todos, essencialmente ser humano!!! Abraço José Luiz Lazzaris!!!
ResponderExcluirA maioria da sociedade diz aceitar "as diferenças", mas, atitudes falam mais alto... Esta mesma maioria rejeita qualquer ser que não se encaixe em suas regras de "normalidade". Pergunto sempre... Quem será normal?
ResponderExcluirÓtimo texto!
ResponderExcluirSer homofóbico, racista ou sustentar outros tipos de preconceito é que é não ser "normal".
Estava achando o texto nota 10 até o último parágrafo.
ResponderExcluirEste suposto estudo, que já rolou bastante pela net, é bem duvidoso. Não compactuo com este "estudo" em argumentações.
Fora isto, ótimo texto.
Anônimo, o link do estudo é este: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8772014
ResponderExcluirJá tentei acessar o estudo na íntegra, ainda não encontrei. Não seria leviano a ponto de afirmar que TODOS os homofóbicos equivalem ao grupo estudado, mas o estudou existiu e efetivamente chegou àquele resultado. Pode ter sido manipulado ou até mesmo mal feito, mas numa universidade fundada no século 18 os estudos não devem ser tão irresponsáveis.
Por outro lado, agradeço o elogio.
Não gosto da palavra DISCRIMINAÇÃO. Toda discriminação é burra. Temos que aceitar as diferenças. E nem tem o que se discutir. Mas estamos longe dos pingos cairem nos "is", o caminho ainda é longo.
ResponderExcluirParabéns pelo texto Guilherme
Grande Guilherme, concordo com a linha de raciocinio de um modo geral, sobre todos os aspectos preconceituosos, e entendo seu ponto de vista no que diz respeito ao seu prisma de análise em questão, mas a verdade é que a luta contra o pré-conceito é diária e infinita, ele esta em todas as classes, locais, etnias e raças, é intrinseco a cada ser humano diante do seu prisma; eu hetero, engenheiro, servidor público, professor, político e escritor nas horas vagas, sofro preconceito por estar acima do peso... pq todo politico é ladrão e que todo funcionário público é vadio... O que devemos fazer é dia a dia mostrarmos que o normal é ser diferente e o grande dom é saber aceitar e respeitar a individualidade de cada um e sim fazer a diferença no mundo.
ResponderExcluirGrande Abraço e sucesso sempre!
Concordo com o Thiago Furlan. Vivemos imersos em preconceitos. E continuamos todos salvos. Só acho que há uma diferença fundamental entre "pré-conceito" como forma de expressão, o que (como eu entendo, já que não sou jurista) é um direito garantido pela Constituição(Art. 5º, XIII - direito a "...crença religiosa ou de convicção filosófica ou política..."). Nem sempre o é, entretanto, na atitude decorrente dessa expressão ("...salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;"). Assim, não vejo como condenar previamente o palestrante por explicitar a sua opinião, Guilherme, a não ser que ele a tenha usado para justificar algum ato concreto ofensivo ao teu direito. Até lá, tanto ele tem o direito a "pré-conceituar", quanto você tem o direito de discordar.
ResponderExcluirConcordo com o anônimo lá em cima, desnecessário o último paragrafo. Como combater o preconceito com mais preconceito? Como combater insinuações com mais insinuações?
ResponderExcluirO fato é que a sociedade está toda dividida entre grupos que se odeiam e cada vez menos coisas unem a todos. Os diálogos foram substituídos por achismos e ofensas, e jamais se quer discutir as coisas as claras.
Por exemplo, eu tenho amigos gays mas nenhum afeminado. Mas o motivo disso não é porque demonstram claramente ser gays e aí eu teria preconceito, mas simplesmente porque os papos e assuntos não fecham. Não gosto de falar de cabelo, moda, roupas, purpurinas, etc
É o mesmo motivo que me leva a não ter amigos playboy e entendam que playboy não é o jovem rico, não, playboy é o jovem que acha que é superior ao outro, gosta de fazer raxas, ouve música duvidosa, entre outras características. Seria então eu playboymofóbico?
Este alegado estudo lembra-me o texto preconceituoso do Baço sobre os latinos/europeus e o texto da Bolha do Felipe.
ResponderExcluirEspecialmente no texto do Felipe, muitos críticos afirmaram que a visão fascista dele era na verdade um recalque, uma dor de cotovelo, uma mágoa por querer participar daquele grupo/bolha e não conseguir/poder. Achei e acho este argumento tolo assim como acho o estudo tolo também.
Anos os homossexuais sofreram com o preconceito baseado em supostos estudos furados que diziam que a homossexualidade era uma doença... e agora, depois de tanto sofrimento, querem dar o troco?