POR GUILHERME GASSENFERTH
Há algumas semanas, li um manifesto do eminente artista
joinvilense Juarez Machado, versando sobre seus desejos para Joinville. Embora
eu seja comparável ao filho ilustre da cidade somente na minha paixão pela
cidade que nos acolhe, também quero escrever uma carta aos candidatos. Melhor,
uma carta a todos os joinvilenses, porque não apenas os políticos fazem
Joinville, pelo contrário. Sem a pretensão de ser bela como a dele.
Caro joinvilense, quero dividir alguns dedos de prosa com
você. Assim como a maioria dos joinvilenses, eu não sou nascido aqui, mas amo
minha cidade. Mesmo quando viajo por poucos dias, logo sou tomado por uma
nostalgia de Joinville. É a saudade do que só se vive aqui. Saudade da minha
cidade cercada por área verde e água. Saudade do hábito de parar tudo pra tomar
um café na padaria mais próxima. Saudade de ver a bandeira do Brasil tremulando
na praça Nereu Ramos. Saudade da cor dos ônibus, do éééééégua, da limpeza das
ruas, das flores dos jardins. Mas mesmo com este mal-acabado ensaio de canção
do exílio à Dona Francisca, não me furto de perceber que a cidade tem enormes
desafios.
Joinvilenses candidatos, eis aqui o que sonho pra Joinville
e compartilho com vocês. Disse o poeta Raul Seixas que “Um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”. Vamos
sonhar juntos?
O que acham de cidade com mais praças arborizadas, com
coretos ou palcos para apresentações culturais espontâneas? Penso também em um
parque, enorme, lindo, arborizado, com lago, com trilhas, com uma concha
acústica, com choupanas, com banheiros, com acessibilidade, com uma lanchonete,
com brinquedos pras crianças e pros adultos que não envelheceram, com quadras e
muita contemplação à natureza, à vida e às pessoas que ali circulam. É difícil,
né? E se uma empresa assumisse a bronca, criando um parque aberto com seu nome,
tipo “Parque Tigre”, ou “Parque Tupy”, ou ainda “Parque Docol”? Ou qualquer
empresa que seja, que possa comprar uma área verde e dar à cidade, ganhando com
o marketing mas também com o desenvolvimento da cidade onde está instalada? O
Haroldo concordou comigo!
Sonho com uma Joinville onde seja valorizado o futebol,
porque todos nós gostamos de ver nosso tricolor campeão, mas onde também sejam
valorizados esportes menos tradicionais. Tivemos agora a Tamiris de Liz nas
Olimpíadas, tivemos bravos atletas paralímpicos, temos os Jogos Abertos de SC
(que vem pra cá em 2013)... mas temos pouco apoio. Dia desses atletas de um
time de vôlei ou basquete vendiam rifas a R$ 2,00 para poderem representar
Joinville num campeonato, porque ninguém lhes apoiava. E volto a lembrar do
potencial turístico mas também esportivo da nossa Lagoa do Saguaçu, que poderia
ser palco de competições de remo, jetski, canoagem, vela, entre outras. E
lembro do Felipe Silveira falando de que as praças precisam de outros esportes
além do skate.
Na minha cidade ideal, as calçadas são bem feitas,
acessíveis, padronizadas, com meio-fio elevado e rebaixado onde precisa ser,
possuem canteiros com flores e são limpas, muito limpas! Um espaço onde possam
caminhar com tranquilidade a senhora idosa, o cego, a trabalhadora, o pai
empurrando o carrinho do seu bebê, a cadeirante e o jovem com sua mochila a
caminho da escola. Certo, amigo Mario Silveira?
Joinville com mais árvores! Árvores, caros governantes,
nunca são demais, pelo contrário – sempre estarão faltando, sempre caberá mais.
Quero uma praça cheia de ipês-amarelos. Já pensaram que lindo espetáculo seria
descortinado uma vez por ano? Beleza efêmera mas intensa. E uma praça com
jacatirões, emanando sua beleza tricolor. E uma outra praça cheia de bougainvilleas.
E uma cheia de azáleas. Quero nossa cidade das flores abarrotada de flores para
todas as estações! Quero a cinza João Colin com árvores nas calçadas. Quero as
ruas dos bairros com mais cores, flores e verde, e menos sujeira e menos
poluição visual. Dá ou não dá, Jordi?
Se você for eleito, candidato, prometa que irá trabalhar dia
e noite para que Joinville seja uma cidade pra todos. Uma cidade onde seu
sobrenome germânico não te faça melhor que ninguém, e onde um paranaense seja
tão importante quanto um joinvilense ou um gaúcho. A cidade que a mulher, o
gay, o negro, o pobre, o ateu e os deficientes são respeitados, mas onde também
há respeito para o homem, o hetero, o branco, o rico, o evangélico e os que têm
seu corpo e mente plenos. Quero que todo joinvilense, de nascimento ou de
adoção, seja tratado como semelhante não só pelo governo, mas por toda a
sociedade. Você concorda, Emanuelle?
Gostaria de ver um enorme teatro municipal, lindo,
glamouroso, grande, com qualidade europeia. E ver o Libração, a Dionisos e
outros grupos lá! Mas também quero ver espaços de cultura nos bairros, com salas
de cinema, teatro, música. Quero a Casa da Cultura restaurada funcionando
cheia! Gosto de imaginar ver a cidade com os museus vivos, interativos. Já
pensaram que beleza o nosso Museu da Imigração com um espetáculo de som e luz
diário, à noite, mostrando o cotidiano dos imigrantes? Meu amigo Paulo da Silva
já pensou! Já imaginaram que lindo você poder sair do Museu do Sambaqui com uma
visita guiada a um sítio arqueológico onde você pode pisar e tocar em tudo?
Conseguem imaginar o visitante indo no Museu do Bombeiro e vestindo um galé e
apagando um incêndio simulado? Ideia do amigo Adriano. E o Museu da Chuva,
hein, Baço? Sonho junto contigo este sonho! Penso na Joinville onde há espaço
para a arte urbana, para o hip hop e pra música erudita, para a cultura
germânica, pra italiana, pra africana e pra brasileira! Vejo uma Joinville com
festivais de música nos bairros, com apresentações em todo o lugar.
Joinville pode ser uma cidade que é referência em dança não
só por dez dias, mas no ano inteiro. Como
já disse o Pavel, Joinville só será a cidade da dança quando os joinvilenses
dançarem. É por isso que iniciativas como o Dança nas Empresas, do Laboratório
Catarinense, devem ser disseminadas. Dança nas empresas, nas escolas, nas ruas,
nas casas, nos bailes. Germânicas, ballet, populares, gaúchas, urbanas,
clássicas. O Maycon que o diga. E quando toda a cidade estiver dançando, aí
sim, uma universidade de dança! Dança, Joinville!
Minha Joinville platônica está em todas as agências
turísticas do Brasil, como uma opção para os visitantes que queiram conhecer a
cidade fantástica que somos! Né, Serginho? Joinville tem um belíssimo potencial
turístico. A linda baía da Babitonga, a Lagoa do Saguaçu e o Rio Palmital subaproveitados.
Nossas montanhas e serra, deslumbrantes, com mata atlântica intocada, com
cachoeiras lindas, com florada de hortênsias, com trilhas místicas... e ninguém
faz nada. A zona rural, única, fantástica, pronta pra ser desvendada. Falta
mobilização nossa, não é dona Mery? Equipamentos de eventos mais adequados,
como defende o Kobe e outros, para Joinville receber mais eventos, captados
pelo amigo Giorgio e sua equipe. Candidatos joinvilenses, invistam no turismo,
pois nós temos muito potencial por aqui.
No embalo do turismo, vem a gastronomia. Nossas empadas,
nossa cerveja artesanal, o strudel de maçã, a gastronomia molecular do Poco
Tapas, a experiência de participar do Lírica Kneipe na última quarta-feira do
mês... tudo são atrações turísticas, para os joinvilenses e para os visitantes!
Com um pouco mais de criatividade e investimento podemos fazer uma revolução na
nossa cidade. E pra criatividade gastronômica, taí o Setter!
Caros candidatos, não esqueçam que Joinville não é uma ilha.
Temos cidades à nossa volta, e como maior cidade da região, temos a obrigação
de chamá-los para planejarmos juntos nosso crescimento e desenvolvimento. Não
dá pra pensar em saúde, desenvolvimento econômico ou transporte coletivo sem
sentar com Araquari. Não se deve pensar em turismo sem envolver São Chico! Ou
educação superior sem conversar com todos os vizinhos. É preciso capitanear e
liderar o processo de integração regional. Tenho certeza que o Charles
concorda!
Na área da saúde, eu gostaria de ver Joinville atuando
preventivamente. Pelo menos dobrando a cobertura do Programa de Saúde da
Família, investindo ainda mais em saneamento básico (que é bem mais que esgoto,
como me informou o Gollnick), melhorando a alimentação nas escolas, prosseguindo
no investimento em fitoterápicos que a Prefeitura iniciou, incentivando a saúde
na educação e informando a população. Mas quando a saúde reativa for necessária,
que os órgãos todos conversem e estejam preparados para atender melhor o
cidadão. Nós, cidadãos, é que temos que ser a prioridade de qualquer sistema de
saúde. Se o Regional tem quatro aparelhos de qualquer coisa funcionando e o São
José está sem, o cidadão não pode pagar por isso. Cabe aos governantes
articularem o atendimento para que a sociedade seja mais saudável. Não é tão
difícil, não precisa investir um centavo a mais, é só gerir bem o recurso e pensar
bastante.
Não só eu, todo o joinvilense quer um sistema de mobilidade
melhor. Sonho com um transporte coletivo tão bom que eu nem precise pensar em
deixar o carro na garagem pra sair de ônibus. E tem gente boa pra ajudar a
pensar neste assunto, olha o Romney aí. Ônibus confortável, sem solavancos, sem
ruídos excessivos, com temperatura adequada, que ande sem chacoalhar os
ocupantes como o Norte Sul na Rua Blumenau. Quero um transporte integrado com
bicicletas, que eu possa descer no terminal, emprestar uma bike pra fazer o que
eu quero. E falando em bikes, queremos ciclovias descentes, com início, meio e
fim! Se não dá pra fazer nas avenidas, escolham as ruas mais calmas pra
implantar a ciclovia. Mas façam! E concordo que a prioridade deva ser o
coletivo, mas não esqueçam da estrutura viária. Felizmente vão duplicar a
Santos Dumont, mas vejam também a zona Sul, que está com sérios gargalos,
principalmente na Monsenhor Gercino e na Guanabara. Na XV já estão mexendo.
Não devemos esquecer do transporte intermunicipal.
Integração com Araquari já passou da hora! E quando a viagem é mais longa,
queremos o aeroporto decente, com pista mais comprida, ILS e boa frequencia de voos.
E a rodoviária mais confortável, com mais facilidades aos usuários.
Queremos uma cidade sustentável, e sustentabilidade é
social, econômico e ambiental, juntos! Uma cidade aberta ao empreendedorismo,
para empresas que nascem aqui e para as que vêm de fora. Como seria legal criar
aldeias colaborativas nos bairros, espaços multiuso que serviriam para
incubadoras de microempresas e empreendedores individuais, aquecendo a economia
e gerando empregos. Do ponto de vista ambiental, que tal incentivarmos a
produção orgânica nos agricultores? E implantar já tratamento de esgoto nas
bacias hidrográficas? E cuidar muito para que os 60% de área de mata atlântica
preservada permaneçam assim?
Embora tenha ligação com o parágrafo anterior, que trata da
sustentabilidade, até pulei uma linha pra dar ênfase nas questões sociais. Joinville
tem muita pobreza, muita miséria e muita gente passando sérias dificuldades.
São quase 5 mil pessoas que vivem à custa de bolsa família, além de outras situações
de vulnerabilidade social grave. É preciso fazer um pacto entre o governo, as
entidades do terceiro setor e a sociedade para amenizar a situação terrível a
que alguns joinvilenses estão expostos.
Mas sem sombra de dúvida, meus caros joinvilenses, nossa
maior luta, nossas energias e nosso esforço devem ser canalizados para a
educação. Falamos de saúde, e a saúde começa na escola, com ensino de higiene e
asseio, além da conscientização sobre assuntos relacionados. De que adianta
limpar os rios se os estudantes não estiverem conscientizados a partir da
educação ambiental? Como melhorar o turismo sem qualificação das pessoas que
operam os bares, hotéis, restaurantes, equipamentos, taxis? De que adianta
falar de cultura se não ensinarmos nossos pequenos a gostarem de teatro,
música, cinema, artes plásticas? Como falaremos de respeito ao agricultor sem
ensinarmos a cultivar uma horta?
A educação é a chave pro progresso, pro desenvolvimento, pro
caminhar rumo à sociedade equilibrada e justa. É preciso valorizar a carreira
do professor, tanto para retribuir o que eles fazem por nós, quanto para atrair
profissionais ainda mais qualificados. Temos que estruturar melhor as
bibliotecas e estimular seu uso, para que nossos cidadãos adquiram o gosto pela
leitura. É preciso buscar uma educação não voltada para o vestibular, mas para
a vida. Isto exige inserir disciplinas como direito, economia básica,
preparação para o trabalho, ética, administração, além do fortalecimento do
ensino de idiomas e de matérias ligadas à cultura. Disse Nelson Mandela: “a
educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo”.
Gostaria de ver nossas escolas municipais sendo referências
nacionais de ensino não só porque as escolas brasileiras são ruins, mas porque
as nossas são de fato boas. Escolas com arborização, com estrutura adequada,
com conforto para os estudantes, com bom ensino, com apoio técnico-pedagógico
eficaz, com proposta pedagógica inovadora. Escolas onde ocorrem debates, onde
se ensina a aceitar as diferenças e a tolerar, onde a vida comunitária inicia.
Uma escola onde os pais também participam do processo não só nas reuniões de
pais, mas aprendendo junto, usando a biblioteca, os laboratórios, debatendo
junto.
Quero que a escolinha lá do Cubatão ou do Quiriri tenham o mesmo
ensino que a escola do Paranaguamirim ou do Jardim Iririú. Que os projetos
especiais de ensino integral sejam disseminados por todas as escolas. E antes
que tablets, queremos professores motivados, dispostos a compartilhar seu conhecimento
com os estudantes! Queremos ensino que seja interessante para o estudante da
geração Y, e que a escola entenda este processo!
Nossa Joinville precisa de professores e estudantes melhores
para que os candidatos do amanhã sejam qualificados, mas principalmente para
que os eleitores sejam qualificados.
Este é um pedaço do meu sonho de Joinville. Nossa cidade
igualitária, educada, sustentável, limpa, com qualidade de vida, motivo de
orgulho pra sua gente, com oportunidades para todos e a melhor cidade para se
viver no Brasil. Joinvilense candidato, deixe seus interesses pessoais de lado
e faça o melhor por nossa cidade. Joinvilense eleitor, demonstre seu amor por
Joinville e vote com consciência e qualidade, escolhendo quem representa de
fato o melhor pra nossa cidade!