POR GUILHERME GASSENFERTH
Eu havia começado a versar um texto sobre o resultado das urnas na campanha eleitoral de Joinville. Estava prestes a tecer críticas aos eleitores pelo desempenho de alguns candidatos os quais considero muito ruins e inadequados à Câmara de Vereadores. Quase escrevi um texto falando sobre as questões religiosas que influenciam na escolha dos cidadãos e de como se vota errado na cidade. Ia dizer que estava começando a torcer pro mundo acabar mesmo dia 21 de dezembro. Mas aí, refleti sobre minhas ideias e cheguei a duas conclusões às quais compartilho com vocês, leitores.
Primeiramente, assustei-me com a minha carga de egocentrismo e arrogância. Então, quer dizer que EU sei o que é o certo pra cidade, e milhares de eleitores é que estão errados? Mais humildade, Guilherme! OK, não posso desconsiderar o fato de que, além de eu ter feito faculdade de ciências políticas por um ano, leio e pesquiso muito sobre o assunto. Também é verdade que tenho provavelmente mais instrução e acesso à informação que os eleitores daquele vereador que diz que “creche não precisa de professor”, por exemplo.
No entanto, as pessoas têm as suas razões. Pode que sejam razões desprezáveis, como uma prótese dentária nova ou uma cesta básica (ou ainda um poste, moeda de troca de um vereador joinvilense que não foi reeleito). Há gente que vota sem qualquer critério válido, como aparência do candidato ou carisma. Existe também o eleitor que imbuído dos mais questionáveis interesses pessoais, como cargo, favorecimento ou status, sufraga o candidato que será melhor pra si, pouco importando a cidade. Mas há pessoas que, legitimamente, acreditam que candidatos os quais eu desprezo sejam o melhor pra cidade. Como poderia eu julgá-las?
Há pessoas que votam em quem é da sua religião. Particularmente, eu jamais votaria em algum candidato kardecista simplesmente por também sê-lo. Para mim, é tão fundamentado quanto votar pra vereador em alguém cujo prato favorito também é aquele cachorro-quente ao lado da DPaschoal (não é tão bom quanto o teu, Simone, mas aquele eu como a hora que eu quiser!).
A segunda conclusão, que mais me chamou a atenção, foi o fortíssimo pensamento de eximir-se de responsabilidade. Eu já estava pensando: “como podem votar em fulano, aquele candidato pilantra” ou ainda “povo burro, vota no fulano e depois vem reclamar”, sem falar no clássico “cada povo tem o governo que merece”. Neste meu pensamento arrogante veio à tona não só o egocentrismo de achar que o meu ponto de vista é sempre o que deve balizar o pensamento alheio, mas também a ideia de que OS OUTROS é que estão errados. OS OUTROS que votaram no candidato ruim. OS OUTROS fazem a sociedade pior.
Epa, peraí! Você (e eu) faz sua parte? Paga TODOS os impostos, sem mencionar um curso de faculdade inexistente na sua declaração de IR só pra restituir mais? Você pensa sempre na coletividade antes de pensar em si? Você é um cidadão que respeita todas as leis de trânsito? Será que devolve o troco dado errado? Você nunca colava na escola? Será que nunca votou num candidato corrupto porque ele seria melhor para sua empresa, para o seu emprego, para o seu bairro, para a sua rua, para a sua família, mas não necessariamente para todos?
Vamos adiante: você cobra seus políticos ou acha que eleger é sua única responsabilidade? Você clama por mais educação, por mais transparência, pela aplicação correta dos impostos que paga, por justiça social, por saúde preventiva? Você faz trabalho voluntário por entender que sociedade somos todos e, com esforços combinados, faremos nossas sociedades serem o que queremos? Você dá condições para que seus colaboradores estudem? Incentiva o filho da empregada doméstica a ir bem na escola? Você educa os seus filhos, ensinando-os desde crianças a não passarem por cima dos outros? Incentiva-os a estudar, a ler, a opinar, a não obterem vantagens ilícitas, a serem cidadãos, a respeitarem os outros, a amarem o próximo, a darem bom dia, dizerem obrigado ou a serem gentis?
A pergunta que resume tudo é: VOCÊ DÁ O EXEMPLO? Se alguém pudesse saber TUDO o que você faz, mesmo aquelas que você faz em segredo, e expor num outdoor ao lado de sua foto, você teria orgulho de si?
Meus amigos, a menos que algum de vocês (infelizmente não é o meu caso) tenha respondido “sim” para TODAS as questões acima, pare de condenar os outros e canalize suas energias para sua reforma íntima. Se a sua resposta pra qualquer pergunta acima tiver sido “não”, lamento informar que os candidatos eleitos são responsabilidade nossa, que a corrupção é responsabilidade nossa e que tudo o que há de ruim, imoral e ilegal na prefeitura, na Câmara, na Assembleia e no Congresso e em toda a sociedade é culpa NOSSA.
PS: obrigado à competente e querida Jozi Elen pela revisão no texto :)
Eu concordo com vc, em partes.
ResponderExcluirConcordo que temos que dar o exemplo. Não respondi sim pra todas as perguntas, mas pra quase todas. E como eu, acredito que muitos outros brasileiros/joinvilenses fazem a sua parte SIM para uma sociedade mais justa e menos corrupta. Conheço muita gente literalmente nadando contra a corrente. Doando muito mais que 8h de trabalhos diários estressantes na educação pública, na assistência social ou na saúde. Tem gente fazendo das tripas coração para que a cidade melhore. Essas pessoas merecem uma administração decente. Podem não, DEVEM reclamar dessas pessoas despreparadas eleitas. Devem sair da passividade. Devem apontar os erros e ajudar a melhorar. Eu não curto muito esse discurso de "olhe pra dentro" "a culpa é nossa" porque Dá licença, não fui eu que fiz treta com o Marcos Valério. Não fui eu que desviei dinheiro público pra contas no exterior. Não fui eu que enriqueci me beneficiando de cargos públicos. Eu não sou corrupta e não mereço levar a culpa pelos que o são.
Vamos olhar pra dentro, sim. Mas melhor ainda, vamos olhar pro lado, vamos ser exigentes com nossos representantes. Isso sim.
Sim Fernanda,
ExcluirMuita dedicação e empenho dos joinvillenses para fazer da cidade um lugar bom de viver, criar os filhos, plantar uma árvore, escrever um livro .
Portanto realmente em vez de reclamar vamos agir, independente de que está no governo.E de olhos abertos para fazer força e pressão para não deixar a politicagem destruir a bela Joinville.
Os passos podem parecer lentos e pequenos 1rr, mas dados diariamente se tornam sólidos e trans forma
a cidade.
O Guilherme no seu post nos remete a tribu extinta dos homens puros, castos e incorruptiveis que desapareceram junto com a Atlantida.
ResponderExcluirTemo que algum candidato queira reeditar esta tribu e se apresente como um enviado deles, pretendendo ser o mais puro entre os puros.
Cuidado! Atenção aos extremos, ao radicalismo. Os talebans da moral são uma ameaça para os homens e mulheres de bem, aqueles que mesmo não tendo respondido a todas as perguntas são gente boa e normal.
Muito bom o texto do Guilherme, apesar do excesso de autocomiseraçao acho que o que ele quis dizer é para olharmos para nós mesmos, a sociedade, e percebermos que os políticos que são eleitos espelham esta mesma comunidade no que ela tenha de melhor ou pior, não vieram de Marte.
ResponderExcluirPrecisamos, isto sim, de parar com essa mania de eleger os políticos como bode expiatório de todos os nossos defeitos.
Chegamos ao ponto de quase não haver mais debate no país, política virou sinônimo de escândalo e não de procura de alternativas. O resultado disso é acharmos, perigosamente, que é melhor não haver política que alguma oligarquia ou aristotracia assuma o poder e pronto, estaremos livres dessa classe que representa todo o mal.
Isso só interessa aos donos do poder.
Existe uma quase unanimidade, pelo menos nos ditos "formadores de opinião", de que o principal problema do país é a corrupção e não a saúde pública precãria, educação indigente, distribuição de renda africana, etc.
E é sintomático que se queira colar esse bode em apenas um partido político, esterilizando o restante do espectro político.
Acho que o Guilherme não quer nos remeter a tribo dos castos e sim para a tribo das pessoas que pensam além da superficialidade como a política vem sendo debatida.
Pensar a política como algo inerente a sociedade que vivemos e queremos e que os candidatos não precisam e nem devem parecer os mais puros entre os puros mas, discutir os aspectos para o qual são eleitos, saúde, educação, etc.