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terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Na corrupção não há meia virgem, nem uma pequena gravidez.


POR JORDI CASTAN
Não há termino médio quando o tema é corrupção, nem meia virgem. Ou se é honesto ou não. Ou se é virgem ou não. Há no Brasil uma capacidade extraordinária para alargar os limites da honestidade até faze-los tão elásticos que fiquem irreconhecíveis. Já esqueceram o inflamado discurso da Presidente do PT no Senado dizendo que o que tinha sido roubado na Petrobras era um valor mínimo frente ao seu patrimônio e faturamento? Pois é. O mesmo discurso foi ouvido nestes dias para justificar o que parece um novo caso de corrupção, o valor é irrisório e não deve ser tomado com tanta seriedade.

É perversa esta lógica que é possível ser só um pouco corrupto. Que só podemos considerar corrupção acima de determinados valores. Assim o brasileiro de uma forma geral não considera errado levar material de escritório do trabalho para casa, canetas, marcadores, folhas de papel, não tem um valor significativo. Utilizar a internet no horário de trabalho para tratar de assuntos particulares tampouco e usar a máquina de xerox, da empresa, para fotocopiar aquele livro de receitas da vizinha, não pode ser considerado corrupção.

A corrupção também utiliza de outros argumentos, como que aquilo é feito por todos, ou pela maioria. No caso dos políticos é conhecido o caso dos deputados e senadores reeleitos que recebem uma verba para fazer a mudança de Brasilia para seus estados e outra para fazer a mudança dos seus estados para Brasilia. Até uma criança de 7 anos, no seu candor, entende que esta verba, que por si só já é questionável, não deve ser paga em dobro para os deputados e senadores reeleitos. Já que eles permanecem na capital federal.

Do mesmo modo a forma como são definidas e são justificadas as verbas de gabinete dos legisladores nos três níveis, não só permitem, como estimulam a contratação de mais assessores que os necessários, pior ainda é uma porta aberta para que sejam contratados assessores sem competência e capacidade para prestar seus serviços e que ainda acabem devolvendo, na forma de um pedágio, parte do seu salario ao vereador, deputado ou senador que o contratou. Algo que não é novidade nem por aqui. Já tivemos casos destes em Joinville.

A decisão que devemos tomar como nação é se aceitaremos conviver com níveis menores de corrupção ou se toda corrupção, por menor e mais insignificante que possa parecer será denunciada, perseguida e punida com dureza? A resposta não é tão fácil como pode parecer. No Brasil a corrupção está de tal forma entranhada no ADN de cada um que é difícil obter uma única resposta. Há uma tendência, perigosíssima a aceitar pequenos níveis de corrupção, como uma alternativa a corrupção sistêmica e escandalosa com a que temos sido confrontados nos últimos anos.

O nosso futuro como nação dependerá diretamente ao modelo de casa leniência que definamos para os próximos quatro anos. Será um antro repleto de meretrizes experientes e conhecedoras dos caminhos e dos atalhos que levam ao poder ou teremos um jardim florido em que revoem alegres grupos de vestais com vaporosos vestidos brancos?


O Brasil votou contra a continuidade das marafonas. A maioria da população expressou nas urnas o desejo que houvesse uma mudança radical na administração da casa de lenocínio, será difícil aceitar que uma nova geração de pécoras assuma o negócio, pior ainda se entre as raparigas encontram-se algumas velhas conhecidas da clientela. No Brasil de hoje só Polyana para acreditar que alguém possa chafurdar na lama da política e manter a castidade e a pureza virginal. O dilema que eleitor enfrenta é ser condenado como Sísifo a empurrar até o topo de uma montanha uma rocha que inevitavelmente rolará eternamente de novo ladeira abaixo, assim a cada nova eleição escolhemos o candidato menos ruim, que depois de empossado acaba se mostrando pior, mais inepto e mais corrupto que o anterior. 

domingo, 25 de novembro de 2018

Olavo, Bolsonaro e o governo dos idiotas

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
“Muito, mas muito mais grave que a corrupção é a questão ideológica”. A frase foi proferida por Jair Bolsonaro, há poucos dias, numa reunião partidária. É um evidente contrassenso, uma vez que ele foi eleito graças ao discurso contra a corrupção e a proposta de “mudar isso daí”. Por enquanto, os eleitores do futuro presidente estão caladinhos como ratos. Afinal, a maioria deles já percebeu que foi engabelada.

No entanto, a afirmação merece uma análise mais detida. Porque Jair Bolsonaro parece estar mesmo preocupado com as questões “ideológicas”. Em aspas porque é evidente que ele não domina o conceito de ideologia. O presidente eleito - assim como os seus eleitores - não é amigo dos livros. Tomo a liberdade de ficar pelo conceito marxiano de ideologia, que, grosso modo, afirma que ideologia é uma distorção da realidade. 

Jair Bolsonaro vive numa realidade distorcida e nem se dá conta. É por isso que pretende  substituir o que julga ser um conjunto de ideias (aquilo a que chama ideologia) pela mais obtusa das ignorâncias. E é aí que surge o nome de Olavo de Carvalho, um astrólogo charlatão que nas horas vagas vive a farsa de ser “filósofo”. O fato é que o astrólogo emplacou dois ministros no futuro governo: Ricardo Vélez Rodríguez (Educação) e Ernesto Araújo (Itamaraty).

O Brasil está entregue à distopia dos ignorantes. Bernardo Mello Franco, colunista de política do jornal “O Globo”, estabeleceu uma boa definição para o que o país está a passar: “o olavismo passou de piada a doutrina oficial de governo”. É isso. Olavo de Carvalho passou de situação de apenas ridículo para mentor dos homens do futuro governo. É impossível sair algo de bom “disso daí”.

E por falar em ridículo, deixo aqui um vídeo do Youtube onde a mente mais brilhante do futuro governo expressa a sua “sabedoria”. É apenas ridículo. O futuro do Brasil passa por um bando de idiotas a governar. E tudo seria muito cômico se não fosse trágico. Pobre Brasil! 


segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A democratização da corrupção: ainda há homens honestos?


POR JORDI CASTAN

Ainda há homens honestos? Pode parecer uma pergunta retórica, porque em algum momento do passado deve ter havido um homem honesto, mas a verdade é que hoje é difícil responder com segurança. Não há dia que não sejamos surpreendidos com um novo nome para acrescentar à lista dos corruptos.

A corrupção não se limita a Brasília. Em todos os níveis e em todos os estamentos há corruptos. No plano municipal, há câmaras de vereadores em que a maioria dos legisladores está presa, como no caso de Foz de Iguaçu. É o mais recente e não será o último. Aqui em Joinville temos vereador que já foi preso e que agora é réu. Há vereador que nem assumiu é corre o risco de nem chegar a fazê-lo. O estado de Santa Catarina pode se somar a lista dos que tem seu governador acusado de corrupção. Voltamos à época em que catarinense encontrava a imagem do seu governador nas páginas policiais.

O estado de Alagoas tem todos os seus senadores acusados de corrupção. Mais um motivo para questionar se alguma vez houve um homem honesto. Até o queridinho da esquerda, o senador Lindberg Farias acaba de ter cassados os seus direitos políticos. E não foi um prêmio por boa conduta. Se isso fosse pouco, há até juiz do Supremo Tribunal Federal que tem sua isenção questionada. 



Neste vídeo o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, dá uma demonstração de como a falta de vergonha não conhece limites. A sua ousadia impressiona e sua agressividade poderia até enganar, se o tempo não tivesse acabado mostrando a verdade.

O Brasil vive hoje a democratização da corrupção. A corrupção não está mais restrita a uma minoria. Ela se espalha como um cancro por todos os setores, por todos os níveis e poderes da República. No Brasil, o homem honesto é uma espécie em extinção e os corruptos, na sua sanha corruptora, querem arrastar a todos para o mesmo lamaçal. Por isso a proliferação de textos acusando a todos de sermos corruptos.

O objetivo hoje é colocar a todos no mesmo cocho. Se todos formos corruptos não haveria mais pena, nem castigo. Vamos deixar claro: não é porque a maioria se tenha corrompido que ser corrupto está certo e não deva haver punição. Não há como ser conivente com a corrupção, nem tampouco ter corrupto de estimação (como muitos). Todos os corruptos devem ser punidos e devolver o dinheiro roubado, independentemente de partido ou cargo.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Brasil de Temer: uma tragicomédia em três atos
















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

ATO 1 – O GOLPE

Machado – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel.
Jucá – Só o Renan que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
Jucá – Com o Supremo, com tudo.
Machado – Com tudo, aí parava tudo.
Jucá – É. Delimitava onde está, pronto.

É chato ter que voltar ao óbvio. Mas mesmo depois da divulgação dessa conversa entre os conspiradores, ainda há gente a rejeitar a tese de golpe. Foi golpe e pronto. Mas por que é importante essa caracterização? Ora, porque a manutenção de um golpe antidemocrático só pode ocorrer por arbitrariedades, negociatas e subtrações de direitos e liberdades. Afinal, como diz o povo, pau que nasce torto até a cinza é torta. Vem coisarada por aí, diria um joinvilense.

ATO 2 – A REAÇÃO AO GOLPE

As pessoas que se sentem usurpadas estão a reagir a quente. Mas o discurso dos defensores de Dilma Rousseff tem alguns erros de avaliação e mesmo algumas ingenuidades. Nada muda o fato de que o golpe foi consumado e Micher Temer é o presidente.

Erro 1: "A história vai julgar os golpistas".
A história não marca hora para vereditos. Aliás, alguém acha que os golpistas vão perder o sono por causa da história? Os caras assumiram a canalhice ao vivo e a cores e em rede nacional. É óbvio que não vão se sentir intimidados por essa coisa abstrata chamada história.

Erro 2: "O mundo está vendo".
Sim. Aliás, fora do Brasil todos sabem que é golpe. Mas o mundo tem mais com o que se preocupar. E se o Brasil volta a ser a velha república das bananas isso faz a alegria dos abutres estrangeiros, sempre prontos para o butim.

Erro 3: "Vai ter oposição".
Claro que vai. Quem teve que lutar pela democracia - essa que acaba de ser violentada - sabe que vai ser como nos tempos da ditadura. Fica meia dúzia a brigar. O resto vai para casa cuidar da vidinha.

ATO 3 – VÃO-SE OS ANÉIS, VÃO-SE OS DEDOS

É fatal. Temer vai governar. Mas a que preço? Para conseguirem manter os seus governos, Lula e Dilma tiveram que acender uma vela para deus e outra para o cramulhão. O problema de Temer é que o seu acordo é apenas com o cramulhão. E o tinhoso é neoliberal. A coisa vai doer para os mais desfavorecidos, claro.

O Brasil sai desse processo fraturado, desmoralizado e com as instituições enfraquecidas. Não havia pior maneira de começar a governar. Eis o erro. Os que hoje comemoram a ascensão de Michel Temer imaginam o fim da crise econômica. Tolice. Mesmo admitindo que o único ponto respeitável do governo de Temer é a sua equipe econômica.

O problema com o time de Henrique Meirelles é jogar no campo da austeridade. E do neoliberalismo, que já vive em descrédito nos países mais desenvolvidos. Não se trata de ser catastrofista, mas só alguém muito desligado da realidade pode achar que a crise brasileira vai acabar. Não vai. Por que razão o Brasil estaria na contramão da economia mundial?

Diagnósticos são perigosos, mas é natural haver números razoáveis no princípio. O problema é que folhas de Excel não enchem barrigas vazias. Ninguém duvida que o ataque vai ser sobre o social e os programas de distribuição de renda que, em grande medida, serviram para alavancar a economia ao longo dos últimos anos.

O futuro pode ser péssimo para os pobres, mas chegará uma hora em que os ricos também terão que pagar a fatura. Eis o perigo. Quando a pressão for generalizada, o que o governo pode fazer para se salvar, ainda mais nessa condição de ilegítimo? Negociar com o diabo e o diabo. E de cedência em cedência abre-se o caminho para a corrupção. Que, por ironia, era o que Dilma Rousseff ameaçava estancar.

É a dança da chuva.


Com Temer no poder, acabou a corrupção. Não é preciso urgência






sexta-feira, 17 de junho de 2016

Ao PMDB o que é do PMDB















POR SALVADOR NETO

O sistema político vigente passa por seu momento mais crítico com a iluminação dos intestinos do modo brasileiro de fazer política. Com a ampliação da liberdade de investigação do Ministério Público, Polícia Federal e a antiga Controladoria Geral da União, atual Ministério da Transparência no governo interino Michel Temer, que passou a existir, e cresceu nos governos Lula e Dilma, a operação Lava Jato e outras operações desnudaram a corrupção na Petrobras, Carf e outros órgãos. 

Finalmente as famosas delações premiadas mostram as entranhas do financiamento de campanhas políticas, partidos e políticos Brasil afora. Não é de hoje que as grandes empresas, inclusive empreiteiras que hoje aparecem com seus executivos presos, irrigam projetos, nacionalistas ou não. Caixa dois sempre foi igual ao jogo do bicho: todo mundo sabe, joga, mas convive. Sempre foi assim. 

O fato é que ao poder investigar a fundo os esquemas, sem engavetamentos que eram corriqueiros até o final dos anos 1990, os órgãos fiscalizadores chegaram à ponta do iceberg. Sim, porque o que vemos é apenas a parte visível da corrupção que deixa o país paralisado e refém. Vemos hoje que obras poderiam custar de 30 a 40% mais baratas aos cofres públicos. A institucionalização da corrupção pela velha política é um vírus resistente. Resiste porque ficou crônico no tecido social brasileiro.

Eis que esse vírus resistente começa agora a ser colocado abaixo de muita luz. Está hoje em todos os jornais que em sua delação premiada, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado citou 23 políticos de diferentes partidos. Segue a lista: PMDB - Michel Temer, Renan Calheiros, Edison Lobão, Romero Jucá, José Sarney, Jader Barbalho, Henrique Eduardo Alves, Gabriel Chalita, Valdir Raupp, Garibaldi Alves, Walter Alves. PSDB - Aécio Neves, Sergio Guerra. PT - Candido Vaccarezza, Luis Sergio, Edson Santos, Ideli Salvatti, Jorge Bittar. PP - Francisco Dornelles. PCdoB Jandira Feghali. DEM - Agripino Maia, Felipe Maia. PSB - Heráclito Fortes.

O que há de novo? A cúpula do PMDB, partido que sempre escapou das lupas da imprensa e das investigações por concentrar muito poder a cada governo federal que ocupa o Planalto desde a redemocratização. O poder gigantesco do partido sempre ficou escondido, pois nunca comandou o poder central. Partido forte em municípios e tendo comandado alguns estados, jamais criou liderança capaz de liderar projeto nacional. Aliás, jamais foi interesse da turma citada agora por Sergio Machado ter o nome no topo, mas agir em suas pequenas repúblicas. Em silencio, nas sombras. Mas sempre forte, dando as cartas.

O PMDB chegou ao comando do país com Michel Temer, agora enrolado até o pescoço também na Lava Jato, fazendo o que sabe fazer melhor na política, articulando nos bastidores o golpe parlamentar que afastou a presidente eleita Dilma Rousseff. Estavam crentes que chegara a hora de saltar ao poder central para voltar aos tempos antigos onde nada se investigava, e claro, poder manter o formato velho e arcaico de fazer política. E voltaram a se unir como antes com PSDB, DEM e outros.

Comandos de estatais poderosas, ministérios endinheirados, com capilaridade nos estados e muita obra para tocar. Tudo isso ficou claro nos áudios que o próprio Sergio Machado, correligionário de longa data dos caciques peemedebistas, gravou. A trama ficou claríssima. Eduardo Cunha, agora radioativo ao PMDB e Temer, comandou até ontem a bancada na Câmara, onde foi presidente. Esse é o verdadeiro PMDB hoje. O MDB de 1965 não existe mais.

Ao PMDB o que é do PMDB. O poder sempre, nem que seja para ficar ocupando espaços secundários, sem a ribalta da Presidência. Em Santa Catarina foi assim, aliança com o DEM, antigo PFL nos tempos de Paulo Afonso. Depois com LHS, entregou os anéis ao grupo de Jorge Bornhausen (PFL, DEM, PSD, PSB) fazendo de Raimundo Colombo governador. Em Joinville, LHS entregou o governo ao PSDB para chegar ao governo do Estado, e quando não aceitou o caminho do ex-aliado, chegou a ajudar o PT com Carlito Merss em 2008. 

Ao sentirem-se desprestigiados, largaram Carlito e aceitaram o neófito Udo Döhler no partido, tudo ao empresariado para voltar ao poder mais fortes. Conseguiram vencer, e hoje comandam Prefeitura e Câmara de Vereadores. Com tudo isso, colocaram Joinville em marcha a ré. Algo deu errado em Brasília, e chega ao município mostrando que o PMDB não é aquilo tudo que vendem. Que avancem as investigações, porque a corrupção não está em um partido, está em vários, inclusive no antigo manda brasa. Mais luz por favor. 


É assim, nas teias do poder.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

A conta saiu cara


POR CLÓVIS GRUNER

"Tá todo mundo se cagando, presidente. Todo mundo se cagando. Então ou a gente age rápido”. As frases, ditas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado a um dos principais caciques do PMDB, José Sarney, eram um apelo de Machado ao ex-presidente da República. Ele pretendia que ele usasse seu poder e influência para barrar as investigações da Lava Jato, com potencial para levar “toda a classe política para o saco”, e de preferência antes da delação premiada dos executivos da Odebrechet, porque “não há quem resista à Odebrecht”. Sarney propõe, como saída, a posse do então vice-presidente Michel Temer, que teria o apoio da oposição “diante de certas condições”.

O diálogo com Sarney deu sequência a uma conversa anterior, do mesmo Sérgio Machado, com Romero Jucá, um dos principais articuladores do impeachment de Dilma Rousseff, também senador pelo PMDB e por um breve período Ministro do Planejamento de Michel Temer. Ainda mais explícito, Jucá fala textualmente que é preciso “resolver essa porra. Tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria”, e sugere uma “articulação política” envolvendo o PMDB, à época das gravações, em março, ainda na base aliada mas já ensaiando sua saída do governo petista, e a oposição, também na mira das investigações da Lava Jato.

Experiente, o presidente do Senado Renan Calheiros, do PMDB, aconselha primeiro mudar as normas que regulamentam a delação premiada (“não pode fazer delação premiada preso”), instrumento fundamental da Operação, e negociar a transição com os ministros do STF, todos “putos com ela”, Dilma Rousseff. Feito isso, PMDB e oposição podiam “passar a borracha” e dar a posse a Michel Temer. Nos planos de peemedebistas e tucanos, a interinidade seria mera formalidade, porque a deposição definitiva de Dilma já era favas contadas, já que se tratava de componente fundamental à garantia de que terminariam todos, impunes.

As coisas não saíram exatamente como o esperado. Ontem, ficamos sabendo que Rodrigo Janot, o Procurador da República, pediu ao STF a prisão de Renan Calheiros, Romero Jucá, José Sarney e do deputado afastado Eduardo Cunha. A alegação de Janot, com base nas gravações das conversas entre Machado e os senadores do PMDB, é de que eles estariam tramando para atrapalhar as investigações da Lava Jato. No caso de Cunha, o Procurador sustenta que, mesmo afastado, o deputado continua a interferir nas investigações contra ele na Justiça e na Câmara dos Deputados, inclusive ameaçando integrantes do Conselho de Ética. A decisão de acatar ou não os pedidos de prisão cabe agora ao ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF.

O PREÇO DA IMPUNIDADE – Não é novidade e nem uma surpresa que a notícia caiu como (mais) uma bomba no interino, ilegítimo e acuado governo Temer. Se desde antes da vergonhosa sessão da Câmara que votou pela admissibilidade do processo contra Dilma Rousseff já estava claro que o processo contra a presidenta era uma verdadeira chicana, as semanas de interinidade do nada novo governo não apenas confirmam aquela primeira impressão, mas lançam nova luz sobre a extensão e a profundidade do arranjo criminoso forjado para, justamente, empossar um governo feito sob medida para livrar corruptos da cadeia e garantir a sobrevivência política de quem se sentia ameaçado pelas investigações da Lava Jato.

Se os diálogos de Sérgio Machado com as lideranças peemedebistas já comprometiam irremediavelmente a versão de que a presidência de Temer surgia para “refundar” a nação, a possibilidade de que Sarney, Jucá, Calheiros e Cunha – um quarteto formado por um ex-presidente da República, dois senadores (um deles ex-ministro, outro presidente do Senado) e um deputado ex- presidente da Câmara – sejam encarcerados, sela a imagem do governo Temer como ilegítimo, e dá razão ao editorial do New York Times, que conferiu a ainda breve gestão do presidente interino a “medalha de ouro em corrupção”.

Mas se a tese moralizadora é hoje insustentável, as perspectivas a curto e médio prazo tampouco são animadoras. Acuado e fragilizado, é bastante provável que Temer não meça esforços para impor, em um curto espaço do tempo, a agenda que negociou em troca de apoio. E se já vivíamos, sob o governo Dilma, a ameaça da precarização dos direitos sociais, as chances aumentam consideravelmente agora que a Fiesp está disposta a mostrar, na prática, que não vai mesmo pagar o pato. A situação não é melhor no parlamento, não apenas o mais conservador desde a democratização, mas também o que levou a noção de fisiologismo a patamares vergonhosos.

De certo, apenas a incerteza, por mais contraditório e paradoxal que possa parecer. Obviamente, não há motivos para comemorar mais essa crise – até porque, não esqueçamos, a situação do PT e de algumas de suas principais lideranças não é nada confortável, as chances de Dilma voltar à presidência seguem mínimas e, caso volte, também não são alvissareiras as perspectivas para a continuidade de seu governo. Mas é preciso, mais que apenas lamentar, denunciar o fato de que as articulações escusas que visavam manipular a Constituição, derrubar uma presidenta eleita, empossar um vice disposto a barrar investigações e acobertar investigados para  livrar políticos corruptos da cadeia, não custou caro só ao governo. É o país, afinal, quem vai pagar a conta.

terça-feira, 7 de junho de 2016

O silêncio dos canarinhos paneleiros

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O trem está feio para Michel Temer. Tão feio que nem os paneleiros pró-impeachment engolem o interino. O homem ainda não acertou uma e até a equipe econômica, uma espécie de reserva moral do seu governo, já começa a dar sinais de desconforto. Imagem ruim no Brasil, pior lá fora. Ainda ontem o interino levou outro murro no estômago: o NY Times publicou uma matéria (a segunda em menos de 15 dias) a atribuir ao seu governo a “medalha de ouro em corrupção”.

O interino foge das ruas como os vampiros da luz. Um governante com medo de povo é tudo o que o país precisa neste momento. Motivos de sobra para os defensores de Dilma Rousseff perguntarem, de forma insistente, onde anda o pessoal que apoiou o golpe? Houve uma debandada dos canarinhos. Arrependimento? Vergonha? Sensação de mico? O pessoal do “eu avisei” não para de falar no ensurdecedor silêncio das panelas.

Mas, afinal, que fim levaram os canarinhos paneleiros? Não tenham ilusões. Os apoiantes do golpe estão a curtir a vitória em silêncio. O objetivo era o impeachment. Foi alcançado. Ponto. Ou alguém foi inocente ao ponto de acreditar que toda aquela barulheira era pelo fim da corrupção? Isso não estava nos planos. As balizas morais e éticas dessa gente são muito flexíveis e para muitos a corrupção faz mesmo parte do modus vivendi.

Na realidade, o ruído das panelas era um apelo à volta da velha ordem, a mesma que prevaleceu ao longo da história recente. O objetivo sempre foi o engessamento social, uma volta à sociedade de lugares definidos e imutáveis. Rico é rico, pobre é pobre. Cada qual no seu lugar. Sem disfarces. Para essa gente, a organização social perfeita é aquela expressa num modelo bem brasileiro: elevador social e elevador de serviço.

Os canarinhos paneleiros queriam apenas a volta da velha sociedade distópica. Sem Bolsa Família, porque mais vale ensinar a pescar. Sem cotas nas universidades, porque o “mérito” serve para mostrar quem realmente é digno. Sem o dinheiro do pré-sal para a educação, porque os abutres estrangeiros sabem dar melhor destino ao nosso petróleo. Sem um sistema público de saúde, porque “gente bem” tem plano privado. E por aí vai...

Por que o fracassado Michel Temer não os faz lembrar das panelas? Porque não importa quem esteja lá. Basta ser uma pessoa que dê guarida aos seus delírios anacrônicos. E o interino tem feito isso. Afinal, lá bem no fundinho de um coração paneleiro palpita um amor pelo velho apartheid social.


É a dança da chuva.


sexta-feira, 6 de maio de 2016

Aos navegantes: Cunha caiu, mas a corrupção continua















POR SALVADOR NETO


Chegamos ao final de semana derradeiro antes da votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff com a bela notícia da “suspensão” do mandato do eminente deputado peemedebista Eduardo Cunha. Com grande atraso, Teori Zavascki do STF deu “liminar” para defenestrar a grande mão da corrupção no Congresso Nacional.

E ao fim da tarde desta quinta-feira (5/5) os ministros por unanimidade, 11 votos, mantiveram a suspensão. Sim, Cunha é o grande manipulador das forças políticas no legislativo, e tem, ou tinha, em torno de 300 deputados nas mãos. Agora perdeu o poder.


Já escrevi sobre esse tema que está quebrando o país, esta crise política sem fim que agrava a crise na economia. Nos textos “Querem impedir o Brasil?”, “A Cunha que atrasa o Brasil” e “Um impedimento só não faz verão”, analisei os fatos e com presença em Brasília, centro da briga. Ao final temos um quadro escabroso, e esta retirada cirúrgica de Eduardo Cunha de um dos poderes da República tenta nos dar um cálice de água fresca no deserto de esperanças que temos. Pelo menos ele já deu tchau à sua cadeira e ao poder. 

Mas, não se iludam. Como acreditam vocês que Eduardo Cunha chegou a ser Presidente da Câmara? Com votos dos senhores deputados e deputadas, aliadíssimos a ele, com as fortes bancadas do boi, da bala e evangélica! Junto a ele, há uma mesa diretora eleita no mesmo esquema. Um a um respondem a processos graves de lavagem de dinheiro, entre outros. E eles continuam. Eles mandam. E mandarão até que um dia o STF acorde novamente. Cunha fez o serviço requerido, e como a laranja ficando só o bagaço, está jogado ao lixo da história. Mas o esquema ainda está lá...

A MÁQUINA CORRUPTORA - O fato histórico é esse: os políticos brasileiros derrubaram uma presidente honesta utilizando um político desonesto para acionar a engrenagem maquiavélica que só a política tem, aliada ao poder econômico e midiático. Podem berrar à vontade citar juristas, pedaladas, caminhadas, qualquer coisa, mas o fato é este. Dilma Rousseff não cometeu crime algum, e será afastada com um golpe branco. Grande parte da população brasileira, embromada diariamente pelos grandes jornais televisivos, jornalões e bocas alugadas em rádios país afora, apoia isso. É um erro e reconhecerá isso tarde demais.

De qualquer forma, o povo vai saber já o que é que ajudou a recriar: o governo ultraliberal, o mesmo que vendeu o Brasil quase inteiro nos governos FHC, e que volta agora com os mesmos personagens. Michel Temer, Romero Jucá, Moreira Franco, entre outros, já estiveram nos governos anteriores. Conhecem e azeitaram a máquina corruptora que se apropria do Estado há décadas. Posam agora de salvadores da nação, mas não são. Investimentos sociais, em educação pública e formação profissional em larga escala? Esqueçam neste governo que pretende assumir logo ali na frente. Com eles é tudo com o deus mercado.

Outra verdade histórica: o brasileiro não acompanha a política, tampouco seus políticos eleitos, a não ser, e ainda precariamente, os poucos comissionados, nomeados, apadrinhados. O povo somente se ergue em casos esporádicos, quando dói o bolso, ou a mídia joga alguns aos leões. Mas logo volta aos sofás, ao futebol, e a dizer – não gosto de politica. 


Agora, neste exato momento em que soltam foguetes e já divulgam em redes sociais “viu, o Cunha também caiu?”, acreditam piamente que acabaram com a corrupção, e que o mundo será cor de rosa. Sugiro que continuem acompanhando de perto, porque a corrupção não acaba com um golpe na democracia. Acaba com a sua participação efetiva, inclusive na escolha de bons representantes populares sem ligações com grandes grupos econômicos, religiosos, ou de classes.

E Cunha, tchau prá você, já vais tarde! Tomara que mais dos cunhistas embarquem logo na canoa do STF. Que esta teia da corrupção continue a ser desvendada, e que o Brasil se reinvente. E seu povo também, participando ativamente da vida politica em todos os sentidos, não somente em eleições e em partidos. Política é mais que isso.


É assim, nas teias do poder...


segunda-feira, 28 de março de 2016

O radicalismo está fora de controle

POR JORDI CASTAN

Não votei no Lula, nem na Dilma. Temia que viesse a acontecer o que está acontecendo. Não serve de nada, neste momento, descobrir que tinha razão. Tudo isso era previsível. O que surpreende é o aumento do radicalismo. A disparada da agressividade e da violência. O que assusta é o perto que estamos que saia do controle. O assassinato do vereador Leandro Balcone, em Guarulhos, é um indicador de que podemos estar próximos demais de atingir um ponto sem volta. O risco é que este não seja um ato isolado, que haja uma possibilidade real e imediata que outras execuções possam acontecer e se implante um clima de terror.

Ninguém detém o monopólio da violência, tampouco há uma exclusividade da corrupção. A quantidade de políticos de todas as siglas, estados e níveis envolvidos em corrupção é escandalosa. Só é mais escandalosa a naturalidade com que isso é recebido por parcelas significativas da sociedade ou a idiotia dos partidários de um ou outro grupo, que insistem em querer convencer que os corruptos dos outros são mais corruptos que os seus. Como se a corrupção dos outros justificasse a sua. Há até uma disputa para provar que o Mensalão é maior que o Banestado, ou que o escândalo do BNDES é maior ainda que o do Petrolão, buscando justificar o injustificável. A insistência em querer nos fazer de corruptos a todos é a estratégia do momento, é do ex-Ministro da Justiça a frase: "Até síndico de prédio superfatura capacho". A beatificação da corrupção, a sua universalização.

A quem interessa esta radicalização? Quem a estimula? Quem ganha com ela? A resposta não é simples. Mas com certeza quem tem a sua disposição um “exercito” de militantes dispostos a partir para a violência ganhará com o discurso violento e verborrágico. O ex-presidente Lula declarou nestes dias: “É guerra, é guerra e quem tiver artilharia mais forte ganha". Quem pode contar com hostes agressivas dispostas a partir para o confronto é quem mais interesse tem em estimular a violência radical. O discurso do ódio não tem um único protagonista, mas evidente em quem esta sob fogo cruzado. Frente ao risco de ser presos, a única saída é o ataque raivoso, a busca feroz de nos e eles. Os corruptos acuados partem para o tudo ou nada. Têm pouco a perder. Sun Tsu, o estrategista chinês, escreveu no seu livro “A arte da Guerra” que deve-se evitar deixar o inimigo sem uma via de escape, porque nesse caso lutara até a morte.

Não restam muitas saídas. Todas elas implicam dor e sacrifício. O projeto de poder do PT e dos seus partidos aliados está seriamente ameaçado. A corrupção tem contaminado todos os avanços sociais. O governo passou de uma cleptocracia reconhecida, até o ponto que ex-ministro de Lula descreveu o governo como um “sindicato de ladrões”, o próximo estágio de degradação é a oclocracia, o puro esgoto. Em janeiro o Ministro Chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, em um repentino e pouco frequente, ataque de sinceridade, reconheceu que “Quem nunca comeu melado quando come se lambuza”, evidenciando o nível de lambuzagem a que chegamos. A resposta das manifestações do dia 13 foi a opera bufa da nomeação de Lula como ministro. 

A escalada de lado e lado não pressagia nada bom. Quando o povo vai para a rua é como abrir a caixa de Pandora, o resultado é imprevisível. É perigosíssimo que parlamentares aliados do governo afirmem que: "Estamos nessa guerra também, não tenho nada a perder." Pessoas e governos desesperados são levados a cometer erros irreversíveis.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Não gosta do que vê em Brasília? Mude a partir da sua cidade















POR SALVADOR NETO

Confesso que cansei de ver os noticiários da grande mídia familiar brasileira, a desinformação e a disseminação do ódio nas redes sociais, e a indignação seletiva e sazonal dos comentaristas de internet. É muita insanidade coletiva junta, que perigosamente trama contra a democracia e as nossas liberdades individuais. Com a chegada da tal “Lista da Odebrecht” então a coisa superou as barragens da razão.

Até porque é uma lista com mais de 300 nomes de políticos e outros seres humanos, sem checagem alguma, sem nenhuma investigação iniciada, com zero informação sobre os tais valores (se verdadeiros, se são grana de campanha, se foram doações legais, etc, etc). Uma temeridade com as pessoas listadas, suas imagens, reputações, em que pese alguns já serem presença batida em inúmeros escândalos ao longo de décadas.

Tragicamente vemos que a sociedade brasileira aceita a demonização da política como se vende em casos como estes e outros mais antigos. Não gosto de remar a favor da maré, até porque é muito fácil. Refletir sobre os fatos é mais produtivo porque se estimula o conhecimento mais próximo da verdade. Está em curso esse processo, que não é novo, que amplia o fosso entre nós, povo, e quem colocamos para nos representar, sejam vereadores e vereadoras, deputados e deputadas estaduais, deputados e deputadas federais, senadores e senadoras, governadores e governadoras, presidente da república.

O “aparecimento” da lista da Odebrecht não é algo fortuito. É pensado, calculado para embaralhar o jogo. Ao jogar todos na vala comum da maledicência, da corrupção na politica (ah, não esqueçamos que a corrupção está entre nós, na iniciativa privada, etc), deixa novamente no palco nacional os políticos e politicas, esquecendo os corruptores, os donos do capital. É muita infantilidade pensar que a corrupção na coisa pública é algo produzido somente pelos políticos. O interesse pelos grandes negócios públicos atrai os grandes empreiteiros, empresas internacionais, lobistas, e isso vêm de décadas aqui e em todo o mundo. E é deste nascedouro que cresce a corrupção no país há pelo menos 50 anos.

Você não gosta do que vê em Brasília? Pois saiba que você pode mudar muito o que chega à capital federal iniciando em sua cidade. Sim, ao eleger vereadores e vereadoras, prefeito, você começa a girar a roda política que elegerá deputados, senadores, governadores, e o Presidente da República. Eles estão em partidos políticos controlados por grupos dos mais diversos, que se coligam para vencer eleições. E até 2014 esse sistema todo foi financiado 99% por grandes empresas, empresários, empreiteiros, grupos de pressão, que jamais aparecem e apostam suas fichas em vários políticos.


Este ano você pode mudar junto com o sistema. Basta querer. Não aproveite só os momentos agudos de crise, amplificados pela grande mídia, para participar ativamente da política. Porque nestes momentos você apenas poderá espernear, porque eles já estarão nos cargos, e muitas vezes, defendendo somente as empresas financiadoras e grupos. A partir das eleições de 2016 o financiamento de campanhas será somente via pessoas físicas. Os valores máximos de gastos caíram. O tempo de campanha também. Observe bem que abusa do poderio econômico desde já. Desconfie da “força” do candidato.

Identifique quais valores julga mais importante e quais valores quer ver seu representante defender. Para saber o que o candidato pensa, o eleitor deve conhecer a carreira dele, assim como sua atuação profissional, seu histórico de vida, sua postura ética e sua conduta diante da sociedade. É preciso analisar suas propostas, o partido ao qual está filiado e quem são seus correligionários.

E informação das mais importantes é saber quem são os financiadores do candidato, mesmo este ano, pois as pessoas que financiam as campanhas eleitorais têm interesses que nem sempre se coadunam com os interesses da coletividade. Os políticos reproduzem as nossas escolhas, boas ou más. E são também as nossas falhas enquanto sociedade. Ajude a mudar o nosso país participando mais, gostando da política.

Senão, os ocupantes dos cargos a partir da sua cidade até a longínqua e poderosa Brasília continuarão os mesmos. E você? Vai se lamentar e reclamar sem ver nada mudar.

É assim nas teias do poder...

segunda-feira, 14 de março de 2016

A rua é de todos


POR JORDI CASTAN

Fui em 2015 e voltei de novo (aqui).  E voltarei à rua todas as vezes que seja preciso. Não se mudam as coisas desde o sofá. Há que agir, assumir riscos e se manifestar. Coisas que o brasileiro evita fazer. O brasileiro, e o sambaquiano ainda mais, historicamente evita se expor. É esta omissão a que tem permitido chegar ao ponto ao que temos chegado. E não vou me referir só ao Brasil, porque nem Santa Catarina e muito menos Joinville são ilhas de excelência, no momento em que o país faz água por todos os lados.

Omitir-se é deixar que outros ocupem os espaços que são de todos. Ainda não entendi por que havia tanto patrulhamento nas redes sociais, com qualquer um que se manifestasse a favor de manifestar-se no dia 13. Ou será que, sim, entendi? Será que há uma parcela da sociedade que se considera dona da rua? Que não gosta que outros possam se manifestar?

Eu fui. Vi gente de todas as classes sociais, famílias inteiras, em muitos casos até três gerações se manifestando. Externando a sua revolta contra a crise moral é ética que assola o Brasil. Ninguém distribuiu sanduíches de mortadela. A maioria dos cartazes tinham sido feitos de forma espontânea, sem muitos recursos e com uma boa dose de criatividade e de humor. O brasileiro da classe média estava lá. Aliás, essa classe média não era o grande resultado do governo que aí estaá? Não foi o governo quem tirou milhões da pobreza? Como essa gente desagradecida é quem justamente agora esta questionando o governo e o partido que conseguiu estes logros?

Vão dizer que quem estava lá eram os derrotados? É oportuno lembrar que a presidente não conseguiu que a maioria dos brasileiros a votassem: 21,10% não votaram, 1,71% votaram em branco e 4,63 anularam o voto. E um país em que votar é obrigatório.  O total de votos no outro candidato, os nulos, os brancos e as abstenções somaram mais de 75%. A essa maioria silenciosa, devem ainda se somar os descontentes com o Governo, se acreditamos nas pesquisas que mostram que menos de 10% aprova o governo da presidente. Não é surpresa que numa cidade em que a presidente não ganhou, mais de 30.000 joinvilenses estivessem ontem na praça da bandeira.

E agora? Pois provavelmente nada. Como antes. Este é um movimento que não tem líderes, nem uma pauta única. Em comum unicamente a revolta contra a corrupção, contra o governo federal e o PT. O número de participantes em Joinville e nas centenas de outras cidades e capitais aumentou muito com relação à março de 2015. Pelos dados divulgados até hoje, mais de 50%, números que não podem ser ignorados. O governo pode fazer de conta que não é nada, como fez no passado. Seria bom pensar melhor antes de ignorar de novo. O risco é que políticos oportunistas se aproveitem deste momento e dessa maioria desencantada da política e dos políticos tradicionais.

Falando dos oportunistas houve poucos, mas houve e não foram bem recebidos, em São Paulo concretamente, foram convidados a retirar-se.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Joinville é mesmo uma ilha de honestidade?

POR JORDI CASTAN

O prefeito Udo Dohler concedeu uma entrevista ao jornal A Notícia, na qual fez balanço da sua gestão até agora e falou das suas expectativas para os meses que ainda tem pela frente. A impressão era a de escutar o candidato em lugar de quem ainda não conseguiu mostrar a que veio.  Entre as muitas frases de efeito que pululam pelo texto há algumas que gostaria de destacar.

- “Limpamos a máquina pública. Nos deparamos aqui com um cenário assustador de corrupção e desvios de conduta. A população está vendo, em todo o Brasil, escândalo atrás de escândalo, e é por isso que me orgulho de ter mantido erguida aquela que foi uma das minhas principais bandeiras nas eleições de 2012: mãos limpas.”

O prefeito gosta de fazer declarações pirotécnicas e tem feito isso em outras entrevistas. 
Contudo, cometeu de novo um erro que deveria ter evitado. Falar de "um cenário assustador de corrupção", sem citar nenhum caso concreto, sem apresentar dados, sem nomes, sem mencionar os delitos cometidos, em que setores, sem divulgar quantos inquéritos administrativos foram abertos, quantos casos foram identificados, quanto dinheiro foi devolvido, sem apresentar quanto é o tamanho do prejuízo causado pela corrupção tem pouco efeito.

Primeiro porque o resultado é nulo. Segundo porque é impossível ignorar que o prefeito é pré-candidato natural à reeleição e num momento em que o Brasil está revoltado pelos índices escandalosos de corrupção e impunidade, o discurso contra a corrupção, a favor da honestidade, retomando ainda o lema das “mãos limpas” que usou na campanha de 2012, não engana mais. Sem provas, sem nomes, e sem dados é conversa para boi dormir.

É importante não fazer acusações sem provas e sem nomes. É ainda mais importante não jogar lama nos funcionários públicos honestos que formam os quadros da Prefeitura. Porque não é justo falar de cenário assustador e jogar dúvidas sobre a honestidade da maioria dos funcionários do quadro efetivo. Alias seria bom se o prefeito viesse a público a citar quantos foram exonerados por corrupção na sua gestão e como conseguiu o milagre de fazer de Joinville essa ilha de honestidade, a que faz referência, numa sociedade em que a corrupção se espalha como mancha de óleo

- "O cidadão não gosta de buracos nas suas ruas, mas gosta menos ainda da política corrupta e suja que se pratica em outros lugares".

Aliás, nesse tema da corrupção, que diz que se pratica em outros lugares, ele anda num terreno escorregadio. Para começo de conversa, a sua campanha recebeu recursos da Engevix, empresa que tem executivos presos e condenados por corrupção. Digamos que ninguém neste momento gostaria de ver a Engevix na lista dos seus doadores de campanha.

O prefeito declarou nestes dias ao MPSC que tinha conhecimento de que realmente ouviu que alguns vereadores estariam propondo emendas a LOT em troca de pagamentos por "fora". Disse o prefeito na sua declaração no MPSC “que o declarante esclarece que tomou conhecimento de possível 'lobby' de vereadores no sentido de diminuição da exigência da metragem dos lotes da região conhecida como Estrada da Ilha, até porque o projeto original estipulava 2.500 metros, passando posteriormente com o consentimento da Associação de Moradores locais – que sentiam receio que o fracionamento diminuísse ainda mais – para 1.200 metros, sendo que, ainda, chegou-se na emenda efetivamente apresentada no fracionamento de 650 metros, o que na visão do declarante, demonstra claramente toda a pressão que envolveu pontualmente essa situação”, diz o teor do depoimento ao promotor Marcelo Mengarda.

Disse o Prefeito Udo Dohler não saber os nomes. “...o declarante não sabe informar a identificação de possíveis vereadores que estariam solicitando o pagamento (por fora) para aprovação de emendas na LOT; QUE o declarante esclarece que realmente ouviu de determinadas pessoas, as quais prefere não declinar, que realmente houve por parte de alguns vereadores a utilização de algumas emendas na LOT como chance de arrecadar cifrões, com preço estipulado; QUE o declarante não chegou a ter conhecimento de quais valores seriam cobrados”, concluiu em seu depoimento.

Pode até não saber ou não lembrar dos nomes dos vereadores envolvidos. Se são ou não do seu partido, se são ou não da situação. Mas eu aconselharia ao prefeito que andasse com um caderninho na mão para anotar. Seria melhor se fosse menos enfático ao afirmar que aqui não se pratica a política corrupta e suja que se pratica em outros lugares. 

SAÚDE E EDUCAÇÃO - Na entrevista o prefeito dia que fez as suas escolhas. Preferiu investir mais em saúde e educação que em mobilidade. Uma escolha para aplaudir. Talvez deveria ter pensado melhor antes, durante a campanha, quando incluiu no seu plano de governo 300 km de asfalto. Mas sabemos como é campanha, se promete tudo para se eleger e depois se esquece o que se prometeu. No fim das contas, uma vez eleito vale tudo.

Da declaração do prefeito se desprende uma afirmação a todas luzes inverídica: a de que a saúde e a educação estão bem, porque não se investiu em asfaltamento. Os funcionários do Hospital São José, por exemplo, informam que faltam remédios, macas, cadeiras e que nem o ar condicionado esta funcionando. O quadro nas escolas não é muito diferente. Alunos que estavam no período integral voltaram ao meio período. Se reduziu a carga horária para poder oferecer mais vagas. Assim se vestiu um santo e se desvestiu outro.