POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O trem está feio para Michel Temer. Tão feio
que nem os paneleiros pró-impeachment engolem o interino. O
homem ainda não acertou uma e até a equipe econômica, uma espécie de reserva
moral do seu governo, já começa a dar sinais de desconforto. Imagem ruim no Brasil,
pior lá fora. Ainda ontem o interino levou outro murro no estômago: o NY Times publicou uma matéria (a segunda
em menos de 15 dias) a atribuir ao seu governo a “medalha de ouro em
corrupção”.
O interino foge das
ruas como os vampiros da luz. Um governante com medo de povo é tudo o que o
país precisa neste momento. Motivos de sobra para os defensores de Dilma Rousseff perguntarem,
de forma insistente, onde anda o pessoal que apoiou o golpe? Houve uma debandada
dos canarinhos. Arrependimento? Vergonha? Sensação de mico? O pessoal do “eu
avisei” não para de falar no ensurdecedor silêncio das panelas.
Mas, afinal, que fim levaram os canarinhos
paneleiros? Não tenham ilusões. Os apoiantes do golpe estão a curtir a vitória
em silêncio. O objetivo era o impeachment. Foi alcançado. Ponto. Ou alguém foi
inocente ao ponto de acreditar que toda aquela barulheira era pelo fim da
corrupção? Isso não estava nos planos. As balizas morais e éticas dessa gente
são muito flexíveis e para muitos a corrupção faz mesmo parte do modus vivendi.
Na realidade, o ruído das panelas era um apelo
à volta da velha ordem, a mesma que prevaleceu ao longo da história recente. O objetivo sempre foi o engessamento social, uma volta à sociedade de
lugares definidos e imutáveis. Rico é rico, pobre é pobre. Cada qual no seu
lugar. Sem disfarces. Para essa gente, a organização social perfeita é aquela expressa num modelo
bem brasileiro: elevador social e elevador de serviço.
Os canarinhos paneleiros queriam apenas a volta da
velha sociedade distópica. Sem Bolsa Família, porque mais vale ensinar a
pescar. Sem cotas nas universidades, porque o “mérito” serve para mostrar quem
realmente é digno. Sem o dinheiro do pré-sal para a educação, porque os abutres
estrangeiros sabem dar melhor destino ao nosso petróleo. Sem um sistema público
de saúde, porque “gente bem” tem plano privado. E por aí vai...
Por que o fracassado Michel Temer não os faz
lembrar das panelas? Porque não importa quem esteja lá. Basta ser uma pessoa que dê guarida aos
seus delírios anacrônicos. E o interino tem feito isso. Afinal, lá bem no
fundinho de um coração paneleiro palpita um amor pelo velho apartheid social.
É a dança da chuva.