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terça-feira, 7 de junho de 2016

O silêncio dos canarinhos paneleiros

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O trem está feio para Michel Temer. Tão feio que nem os paneleiros pró-impeachment engolem o interino. O homem ainda não acertou uma e até a equipe econômica, uma espécie de reserva moral do seu governo, já começa a dar sinais de desconforto. Imagem ruim no Brasil, pior lá fora. Ainda ontem o interino levou outro murro no estômago: o NY Times publicou uma matéria (a segunda em menos de 15 dias) a atribuir ao seu governo a “medalha de ouro em corrupção”.

O interino foge das ruas como os vampiros da luz. Um governante com medo de povo é tudo o que o país precisa neste momento. Motivos de sobra para os defensores de Dilma Rousseff perguntarem, de forma insistente, onde anda o pessoal que apoiou o golpe? Houve uma debandada dos canarinhos. Arrependimento? Vergonha? Sensação de mico? O pessoal do “eu avisei” não para de falar no ensurdecedor silêncio das panelas.

Mas, afinal, que fim levaram os canarinhos paneleiros? Não tenham ilusões. Os apoiantes do golpe estão a curtir a vitória em silêncio. O objetivo era o impeachment. Foi alcançado. Ponto. Ou alguém foi inocente ao ponto de acreditar que toda aquela barulheira era pelo fim da corrupção? Isso não estava nos planos. As balizas morais e éticas dessa gente são muito flexíveis e para muitos a corrupção faz mesmo parte do modus vivendi.

Na realidade, o ruído das panelas era um apelo à volta da velha ordem, a mesma que prevaleceu ao longo da história recente. O objetivo sempre foi o engessamento social, uma volta à sociedade de lugares definidos e imutáveis. Rico é rico, pobre é pobre. Cada qual no seu lugar. Sem disfarces. Para essa gente, a organização social perfeita é aquela expressa num modelo bem brasileiro: elevador social e elevador de serviço.

Os canarinhos paneleiros queriam apenas a volta da velha sociedade distópica. Sem Bolsa Família, porque mais vale ensinar a pescar. Sem cotas nas universidades, porque o “mérito” serve para mostrar quem realmente é digno. Sem o dinheiro do pré-sal para a educação, porque os abutres estrangeiros sabem dar melhor destino ao nosso petróleo. Sem um sistema público de saúde, porque “gente bem” tem plano privado. E por aí vai...

Por que o fracassado Michel Temer não os faz lembrar das panelas? Porque não importa quem esteja lá. Basta ser uma pessoa que dê guarida aos seus delírios anacrônicos. E o interino tem feito isso. Afinal, lá bem no fundinho de um coração paneleiro palpita um amor pelo velho apartheid social.


É a dança da chuva.