sábado, 31 de março de 2018

31 de Março: décadas depois, um cheirinho a déjà vu (para ouvir)

POR ET BARTHES
Interessante como décadas depois é possível reconhecer que alguns sintomas do mal-estar político do Brasil ainda sobrevive nestes dias. Uma viagem sonora... ouça.





sexta-feira, 30 de março de 2018

Portugal começa a ser um lugar difícil para Gilmar Mendes

POR ET BARTHES
Nos últimos tempos, Gilmar Mendes tem sido uma figura muito frequente em Portugal. Tem tudo para correr bem, porque os portugueses são uma gente que recebe bem os visitantes e a maioria nunca ouviu falar dele. O problema é que agora o país está cheio de brasileiros, que insistem em interagir com o juiz e, em muitos casos, tomar satisfação.

1. Desta vez o filme não é muito claro. Dá a entender que o juiz do STF teria chamado o brasileiro de palhaço. E deu no que deu. Mas a acusação é chocha: diz que Gilmar Mendes está a passear em Lisboa. Nada de errado nisso.

2. O episódio faz lembrar um encontro que o juiz teve com duas turistas brasileiras no início do ano. Os filmes estão aqui.  



Gregório Duvivier fala sobre os direitos humanos

POR ET BARTHES
Já faz algum tempo e muita gente já viu. Mas nesta sexta-feira, dia em que as pessoas têm um tempinho, dá para ver com calma. É um dia de paz, sem ódios...



quarta-feira, 28 de março de 2018

Caravana de Lula alvo de tocaia a tiros: até onde vai a escalada fascista?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Como descrever uma escalada fascista na prática? O processo pode começar com um simples xingamento. Depois aparece um energúmeno a chicotear pessoas. Mais tarde as estradas acabam interrompidas e pedras são atiradas. Até que um dia a coisa sai do controle e acaba num atentado a tiros. Acaba? Eis o problema. Porque a própria palavra “escalada” indica um movimento que não tem hora para acabar.

O atentado contra a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – três tiros contra o ônibus onde estavam convidados e jornalistas –, ocorrido ontem no Paraná, é o mais grave episódio desta febre fascista que está a fazer o Brasil voltar aos tempos de antanho. É tão grave que a polícia decidiu tratar o caso como tentativa de homicídio. Os tiros, disparados dos dois lados da estrada, apontam para uma tocaia. E tocaia é uma coisa muito século 19.

O pior é ver políticos apostarem na anomia fascizante. Durante uma convenção do seu partido, a senadora Ana Amélia Lemos elogiou os ruralistas gaúchos por protagonizarem atos bárbaros contra a caravana do ex-presidente. É ruim, mas pode piorar. Ontem, ao comentar a emboscada à comitiva de Lula da Silva, o governador Geraldo Alckmin disse que o PT “colhe o que planta”. É o triunfo da selvageria.

Até onde vai essa escalada fascista pode levar o Brasil? É imprevisível. Mas ainda há tempo para evitar o pior. É preciso diálogo, serenidade e respeito pela regra democrática. No entanto, é impossível comunicar com fascistas. Há um vazio. Um fascista não se assume enquanto fascista porque, na maioria dos casos, ele sequer sabe que é fascista. Ou seja, não existe um interlocutor que represente o fascismo.

Roland Barthes escreveu que o “fascismo não é impedir-nos de dizer, é obrigar-nos a dizer”. Quer dizer que o fascismo não obriga à inação, mas à ação. E no Brasil destes tempos, ele é praticado de forma desarticulada, em forma de ações individuais ou de grupos, acobertados por discursos de ódio de classe. Aliás, vale lembrar que os fascistas são indivíduos fracos que, para compensar essa fraqueza, acabam por se identificar com os opressores.

O episódio está a pintar a imagem do país no exterior com tons sombrios. É uma questão de horas até que o assunto entre para a agenda da imprensa internacional. O mundo civilizado ainda nem assimilou a notícia da morte de Marielle Franco e já tem outras notícias negativas a partir do Brasil. E vale salientar que, mesmo com os acontecimentos dos últimos tempos, o presidente Lula da Silva ainda desfruta de enorme prestígio além-fronteiras.

A cada dia que passa, o Brasil se afasta da civilização e caminha distraidamente em direção à barbárie. Temos o lado menos mau. Enquanto houver uma “escalada fascista”, o ponto de não-retorno ainda não terá sido atingido. E o lado muito mau. O perigo é a evolução para um estágio de “espiral fascista”, porque as espirais giram sobre si mesmas e não têm fim.

É a dança da chuva.

Dicas para identificar o fascismo, segundo Umberto Eco

POR ET BARTHES
As pessoas tendem a gostar de explicações esquemáticas. Porque tornam a compreensão mais simples. O pensador Umberto Eco, um especialista em semiótica, tinha isso em mente e criou um esquema de 14 itens para ajudar a identificar o fascismo e os fascistas. O filme está em espanhol, mas a compreensão é muito fácil.




terça-feira, 27 de março de 2018

Netflix, o boicote e a legitimação da narrativa do golpe


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O caso Netflix tem sido um dos temas quentes das redes sociais. Tudo por causa da série “O Mecanismo”, do diretor José Padilha, considerada um panfleto fascista pelos militantes de esquerda (nem todos, claro). E surgiu uma proposta de boicote ao serviço de streaming de vídeos. O que não deixa de ser irônico. Até um dia destes o Neflix era elogiado exatamente pela qualidade do seu catálogo, composto por milhares de filmes.

Mas vamos por partes. Há mesmo razões para boicotar o Netflix? Ora, aqui estamos no plano da relação entre o consumidor e o fornecedor de um serviço. Se a pessoa acha que não vale a pena pagar pelo produto, a solução é romper o contrato. E na pele de consumidor essa pessoa tem todo o direito de usar o word of mouth para tentar convencer outras a seguirem o mesmo caminho. É o capitalismo de mercado.

O problema é que não funciona. Poucas ideias são tão frágeis quanto o apelo ao boicote de uma marca. Lembram da Operação Carne Fraca? Houve uma revolta e a promessa de boicotar as empresas envolvidas. Mas o boicote acabou em churrasco. O auê destes dias só serviu para dar uma enorme notoriedade à serie. E ajudou a atrair o pessoal da direita que, mesmo fora do debate-boca, secretamente saliva de prazer.

“O Mecanismo” é mesmo fascista? A maioria das pessoas que repercute a crítica ainda não viu a série (estou no grupo do “não vi e nem quero ver”). Mas há uma queixa justa. Quando a frase de Romero Jucá é posta na boca do personagem que representa o ex-presidente Lula: o famoso “estancar a sangria”. Podemos dizer que foi uma liberdade poética ou até defender a liberdade de expressão. Mas falsear a história de forma tão grotesca é só canalhice.

A ex-presidente Dilma Rousseff fala em fascismo. A propósito de contar a história da Lava-Jato, numa série 'baseada em fatos reais', o cineasta José Padilha incorre na distorção da realidade e na propagação de mentiras de toda sorte para atacar a mim e ao presidente Lula. A série é mentirosa e dissimulada. O diretor inventa fatos. Não reproduz 'fake news'. Ele próprio tornou-se um criador de notícias falsas, escreveu nas redes sociais.

Qual é o problema da série (que, repito, não vi)? Por tudo o que se falou até agora, é a ideia de legitimar a narrativa do golpe. Num tempo em que as pessoas não distinguem a ficção da realidade, esse tipo de adulteração é perigoso. Muito perigoso. A história está repleta de exemplos de falsificações ideológicas através da arte. O fantasma de Leni Riefenstahl continua a pairar sobre o mundo das construções simbólicas.

A legitimação da narrativa do golpe é um desserviço à democracia. E para mostrar, na prática, os riscos trazidos por esse tipo de abordagem, eis o exemplo de um “diálogo” entre duas pessoas aparentemente esclarecidas (com diplomas, pelo menos), numa rede social. A reação é sintomática de gente suscetível de ser manipulada.

- Também estamos assistindo. Deviam passar nas aulas de história.
- Assunto para as salas de aula, com certeza. Para quem vai às urnas deveria ser obrigatório. Mudar essa realidade não é só obrigação de quem investiga! Não considero um desserviço, muito pelo contrário, que por meio da “ficção” o povo entenda a realidade do que significou a Lava-Jato e que é necessário mudar.

Eis o risco. As pessoas têm a tendência de confundir ficção e realidade (há uma diferença entre storytelling e historytelling). Ou seja, não percebem a diferença entre história, um corpo teórico que exige ferramentas para a interpretação, com narrativas ficcionais assimiladas de forma preguiçosa e noveleira – e sem questionamentos acerca dos interesses que possa estar a legitimar. Afinal, como diz a velha expressão, o fascismo é uma cadela sempre no cio.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Indústria da murta


E a Cota 40, prefeito? Como fica a palavra dada?


POR JORDI CASTAN
O Executivo Municipal ameaça a cota 40. Programar uma audiência pública para debater o tema, na segunda feria prévia ao feriado de Semana Santa, mostra a má fé do nosso Executivo.. É tudo pensado para ter um quorum baixo e pegar a sociedade desarticulada. Pensei em escrever um texto mais denso, mas desisto de escrever de novo sobre o tema. Até porque poderia perfeitamente reproduzir de novo o texto que já publiquei neste mesmo espaço em outras oportunidades: em 2014 Jabuti subiu na cota 40 e, de novo, em 2016 Joinville vitoria da ganancia e derrota da cota 40. Porque a Cota 40 é um tema permanentemente em pauta, tanto para especuladores como para os seus defensores. 

O problema não é a Cota 40. O problema tampouco é a preservação do pulmão verde que Joinville ainda mantém e que garante uma melhor qualidade de vida para todos os que aqui moramos. A Lei Orgânica do Município garante a preservação do Cota 40. A nossa constituição municipal, escrita em outros tempos e por joinvilenses com princípios e valores diferentes dos que hoje nos governam, garante que a cidade não avance sobre a Cota 40. O problema é sermos governados por gentalha sem ética, sem princípios, sem palavra, sem vergonha. E não falo só de Joinville. O país todo vive o drama de ser dirigido por amorais, que dão ouvidos a especuladores gananciosos igualmente amorais.  

Nenhum cidadão de bem pode dormir em paz quando o Legislativo está reunido, escreveu Benjamim Franklin. No Brasil diria que "nenhum cidadão de bem pode dormir em paz quando o Legislativo, o Judiciário ou o Executivo estão reunidos".

Se o prefeito não desse ouvidos a este tipo de gente - da mesma forma que não da ao resto da população - não teríamos que trazer uma e outra vez este tema de volta à pauta. O problema é que o prefeito, contrariamente ao que se comprometeu, acredita que o progresso de Joinville está vinculado a crescimento desenfreado. Ele, na sua simplória ignorância, acredita que não precisa respeitar o que disse, menos ainda o que assinou. Porque gente sem princípios e sem palavra é assim. E o pior: acredita que os outros joinvilenses são como ele. 

Prefeito, não se engane. Em Joinville ainda há gente que honra a palavra dada.


sexta-feira, 23 de março de 2018

Marielle Franco, agora um símbolo mundial

O jornal The Washington post publicou, esta semana, uma reportagem a afirmar que Marielle Franco, a vereadora assassinada no Rio de Janeiro, havia se tornado um símbolo global. “A black female politician was gunned down in Rio. Now she’s a global symbol”, dizia a manchete. E salientava, em determinada passagem, que o mundo a tomara como um símbolo, mas as reações não eram unânimes no Brasil, onde também houve manifestações em outro sentido.

O fato é que o nome da vereadora ultrapassou fronteiras. A expressão “Marielle Presente”, lançada logo a seguir à sua morte, foi trend topic no Twitter e no Facebook. Mas as manifestações foram além das redes socais e saíram para o espaço público. A vereadora foi homenageada pelo Parlamento Europeu ou pela Assembleia de República Portuguesa, entre outras. Mais do que isso, milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra o assassinato, na Suécia, Estados Unidos, Espanha, Inglaterra, França, Alemanha ou Portugal.

A repercussão mundial é mostrada nesta coleta de tuítes, escritos em várias línguas e devidamente assinalados com as bandeiras de cada país.



Lula em SC: ranço… ranço… nada mais que ranço


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A pequena burguesia brasileira é patética. Boa parte dela é de gente endinheirada que vai para a Europa ou Estados Unidos e fica a sonhar com a qualidade de vida de Paris, Milão, Nova Iorque ou Londres. Os caras elogiam as sociedades mais desenvolvidas e lamentam que o Brasil não consiga atingir esses mesmos padrões. Mas quando põem os pés em solo brasileiro fazem tudo ao contrário do que seria expectável.

Essa pequena burguesia não enxerga que a receita está na democracia. Parece uma abstração, mas é um fator concreto: a democracia é o elemento constitutivo das sociedades desenvolvidas. E isso significa, entre outras coisas, ter liberdade. De pensamento. De informação. De expressão. De gênero. De ir e vir. De aceder às oportunidades. Enfim, coisas que não existem no Brasil, um país que parece apostar no apartheid social.

Por que esta conversa? O objetivo é falar de uma campanha assinada por um certo MBL – Santa Catarina, que está a circular nas redes sociais. Eis a proposta: “compartilhe se você não quer Lula fazendo comício em Santa Catarina”. É uma ideia risível, ridícula mesmo (lembremos que a letra “L” da sigla significa “livre”). Mas houve mais de 6 mil partilhas. O que não espanta. Afinal, os reaças de Santa Catarina são orgulhosamente mais reaças que os outros.

Que tal pensar em termos práticos? O que essa gente ganharia por impedir Lula de falar? Nada. Então, o que isso quer dizer? Que as pessoas – a mesma pequena burguesia que citei no início – são movidas apenas pelo ódio. É ranço, ranço, nada mais que ranço. Essa gente sonha em ter uma Dinamarca, mas age de forma a ter um Sudão. O resultado só pode ser o desastre social. Os odiadores são seres odiáveis que estão a envenenar o Brasil.

É a dança da chuva.

Post que está a ser veiculado. Qual o objetivo de negar o direito à expressão?

quarta-feira, 21 de março de 2018

A morte e as mortes de Marielle Franco


“As marcas dos homicídios não estão presentes apenas nas pesquisas, nos números, nos indicadores. Elas estão presentes sobretudo no peito de cada mãe de morador de favela ou mãe de policial que tenha perdido a vida. Nenhuma desculpa pública, seja governamental ou não, oficial ou não, é capaz de acalentar as mães que perderam seus filhos. (…) Não há como hierarquizar a dor, ou acreditar que apenas será doído para as mães de jovens favelados. O Estado bélico e militarizado é responsável pela dor que paira também nas 16 famílias dos policiais mortos desde o início das UPPs”.

***

Desde julho de 2014, quando o líder quilombola Paulo Sérgio Santos foi morto a tiros no acampamento Nelson Mandela, em Helvécia, no interior da Bahia, outras 22 lideranças políticas, militantes de diferentes movimentos sociais, foram assassinadas. No dia 15 de março último, o assassinato de Marielle Franco, vereadora pelo PSOL carioca, aumentou essa estatística perversa.

A morte de Marielle, 24a vítima de execuções políticas em menos de quatro anos, teve ampla repercussão dentro e fora do Brasil, em parte pelo contexto em que ocorreu, apenas um mês depois da intervenção federal no Rio de Janeiro. Uma das facetas dessa repercussão evidenciou, uma vez mais, os imensos reservatórios de ódio – a expressão é do historiador germano-americano Peter Gay – capazes de banalizar e justificar, de maneiras as mais torpes, uma tragédia que ceifou, violentamente, duas vidas – junto com Marielle, morreu também Anderson Pedro Gomes, seu motorista.

Das vozes que emergiram do esgoto, algumas se sobressaíram: o líder do MBL gaúcho, Felipe Pedri; o deputado federal Alberto Fraga (DEM); a desembargadora carioca Marília de Castro Neves; o também deputado e pastor Marco Feliciano. Centenas de outras se incumbiram da tarefa abjeta de difamar e caluniar Marielle Franco. Para os milicianos virtuais, a morte física perpetrada pela milícia armada – quatro tiros na cabeça – não foi suficiente. Era preciso matá-la de novo, ainda que as razões dessa segunda milícia, a das redes, não sejam exatamente as mesmas daquela, a armada.

Para esta, a vereadora e militante do PSOL era, principalmente, um incômodo político. Sua atuação, primeiro na Comissão de Direitos Humanos da Alerj, ainda como assessora do deputado Marcelo Freixo e, desde o ano passado, como parlamentar, foi pautada na defesa intransigente dos indivíduos e comunidades fragilizadas pela constante violência a que são sujeitadas.

Isso significava, entre outras coisas, denunciar a corrupção e a violência policiais e a ação das milícias, expondo suas digitais nos assassinatos e chacinas que se tornaram um lugar comum nas favelas cariocas. Significava também escancarar a participação de parte da própria força policial nas milícias, mostrando o quanto, em certa medida, uma era extensão da outra, e que a violência não é “uma exceção”. Discurso comum entre oficiais que precisam justificar a truculência desmedida de seus subordinados e as deles próprios, ela é um mal que afeta estruturalmente a corporação, de alto a baixo, resultado de nossa concepção equivocada e distorcida de polícia.

Nas redes sociais, os milicianos virtuais fizeram o que sabem fazer melhor: mentiram, distorceram, difamaram, caluniaram. A segunda morte de Marielle, a tentativa de assassiná-la, por assim dizer, simbolicamente, foi principalmente um empreendimento movido pelo ódio ao outro, sintetizado na figura de uma mulher negra, lésbica, nascida e criada na periferia, militante de esquerda e dos direitos humanos.

Contra o “Estado penal” – Mas foram principalmente o racismo e o preconceito de classe os afetos que moveram a verborragia virtual. Para as milícias que atuam nas redes, não há outra explicação possível à ascensão social e política de uma mulher negra e da periferia – Marielle nasceu e foi criada na Maré –, que não sua associação ao crime – o líder do MBL gaúcho afirmou, textualmente, que “por óbvio a vereadora tinha relações com o CV e outros. Isso é básico”.

O duplo preconceito é reforçado na afirmação, reproduzida inúmeras vezes, de que Marielle “defendia bandidos” por conta de sua militância nas comunidades periféricas. Não há retórica que disfarce o óbvio: para os seus executores virtuais, todo morador de favela é um criminoso, principalmente se negro, e estar ao lado deles na defesa de seus direitos mais básicos – como o direito à vida – é entrincheirar-se ao lado de bandidos.

Marielle Franco respondeu aos que fomentam o ódio, o preconceito de classe e o racismo quatro anos antes de ser assassinada. Em sua dissertação de mestrado em Administração Pública, “UPP – a redução da favela a três letras”, defendida na Universidade Federal Fluminense em 2014, cuja passagem serve de epígrafe a esse texto, ela identifica na implantação das UPPs, fruto da parceria dos governos petistas com os governadores Sérgio Cabral e Pezão, a continuidade do que estudiosos do tema chamam de “Estado penal”.

Os resultados nefastos desse modelo de segurança pública, que traduz exemplarmente a relação do Estado com as populações subalternizadas, não vitimiza apenas civis. Na dissertação, mas também em intervenções públicas, Marielle pontuava que a violência atingia igualmente policiais, e lembrava que o efetivo militar que atuava nos morros era composto, em sua maioria, por homens negros e pobres.

De um modo ou de outro, as vítimas preferenciais do “Estado penal” brasileiro têm a mesma cor de pele, a mesma etnia e as mesmas origens sociais e geográficas, daí a necessidade de organizar, nas palavras de um amigo muito caro, “as rebeldias de pessoas exploradas e oprimidas”, tarefa a qual ela se dedicou com afinco.

Sim, Marielle Franco foi assassinada por ser mulher, negra, lésbica, nascida e criada na periferia e militante de esquerda e dos direitos humanos; e pelos mesmos motivos, milícias virtuais a executaram nas redes. Mas suas mortes foram impulsionadas também pelo que temiam, nela, seus muitos executores: a irrupção do novo, a militância em defesa da dignidade e da vida, e contra as muitas formas de violência que, desde o Estado, precarizam principalmente os corpos de homens e mulheres pobres e negros. Nossa melhor resposta, talvez a única possível, para honrar sua memória, é não esmorecer frente à barbárie.

terça-feira, 20 de março de 2018

Direitos humanos só defendem bandidos? Brucutus acham que sim

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Imagine um símbolo da estupidez humana. Se pensou na imagem publicada no fim deste texto, acertou em cheio. O tacape com a inscrição “direitos humanos” é, muito certamente, um dos maiores símbolos da imbecilidade que campeia por aí. Aliás, o uso da palavra tacape é proposital: a intenção é fazer uma remissão para a figura do “brucutu”, gente que ainda vive nas cavernas. Fica a pergunta: de onde surgiu a ideia de que os direitos humanos servem apenas para defender bandidos?

A intenção não é lançar debates, fazer historiografia ou tentar explicar a questão dos direitos humanos. Há muita gente a fazer isso, infelizmente com poucos resultados. Interessa aqui analisar como o inconsciente social é afetado pelo mito - no sentido barthesiano, entendido como distorção da realidade. Afinal, essa realidade distorcida afeta a quem? Correndo o risco de simplificar demais, é fácil afirmar que é o tal cidadão de bem.

Qual é o perfil desse cidadão de bem? Em termos políticos, é o reacionário. Em termos culturais, é o ignorante. Em termos comportamentais, é o brucutu. A lógica dessa gente é nefasta. Dizem que os direitos humanos só servem para defender bandidos. E quem são os bandidos? No plano mental dessa gente, quase sempre negros, favelados, marginalizados. Ou seja, é uma questão de racismo, de apartheid social, de ódio de classe.

E como essa gente expressa o seu ideário? Pela poupança de neurônios. O mito é uma falsificação da realidade que obriga a evitar qualquer esforço mental. Nada que implique estudar, pesquisar ou debater é aceitável. O mito é simplificador. Vive de frases feitas. De clichês. De símbolos (como o tacape). Por quê? Porque é muito fácil entender e reproduzir a mensagem. Para um brucutu, nada é mais odiável do que pensar.

Há um pano de fundo. O brucutu é, antes de tudo, um odiador. É o portador de um sentimento vingativo, punitivista, atrabiliário. A negação dos direitos humanos é apenas a expressão do desejo de punir o outro. Enfim, são pessoas de mente tão grosseira que toda a compreensão dos direitos humanos cabe num porrete.



segunda-feira, 19 de março de 2018

O Onkel perdido em seu labirinto



POR JORDI CASTAN
Um dia anuncia pomposamente sua intenção de se candidatar ao governo do Estado. E ua aquele discurso conhecido de se colocar à disposição do partido para concorrer. Na semana seguinte, viaja até a capital e participa de reuniões de articulação política. Na outra sente a temperatura e o impacto que o pré-lançamento da sua candidatura teve e, depois de verificar que terá mais dificuldade da que tinha inicialmente imaginado, encarna a raposa de Esopo para declarar que ¨as uvas estão verdes¨. E que continua como prefeito de Joinville até o final do mandato.

A imagem do prefeito é a mesma que tem projetado desde o primeiro dia de mandato. Um discurso vazio, empolado, sem substância e sem ações que tenham o menor conteúdo. Palavras  que nada mais são mais que bolhas frágeis de sabão que a brisa e que logo estouram. Nada é mais concreto que a realidade.

A pré-candidatura ao governo do Estado não passou nunca de uma quimera. Uma ideia de lunático que perdeu o contato com a realidade e toma decisões guiadas, unicamente, pela sua alienação e pelos conselhos dos áulicos de plantão que o cercam e assessoram. Em cada ato público, em cada oportunidade, o prefeito apresenta o discurso da cidade próspera e pujante. Que se destaca pelas realizações. Que cresce a olhos vistos e que os poucos problemas que enfrenta, comuns a todos os municípios do pais, são fruto da falta de recursos, da legislação ou do trabalho da oposição. Aliás, falar de oposição em Joinville é falar de algo tão irreal como a Joinville do Vale do Silício, de obras públicas sendo executadas no prazo e pelo custo orçado, da Cidade das Flores ou das bicicletas.

O prefeito está mergulhado num labirinto do qual não consegue sair. Quanto mais avança o calendário, mais se perde num labirinto profundo, escuro e impenetrável. E perambula assim, desprovido da capacidade de orientar-se e buscar conselhos fora do seu círculo de acólitos. Sem um novelo para ajudá-lo, o prefeito segue perdido, indo e voltando nas suas decisões e propostas. E  Joinville continua detida no tempo, a caminhar para trás ou a avançar em câmara lenta, ante o olhar impávido do gestor que, sendo eleito para gerenciar Joinville, acredita que sua missão seja a de gerenciar Santa Catarina.

domingo, 18 de março de 2018

Aula inaugural


Mais de 1000 pessoas lotaram o Teatro da Reitoria da UFPR na sexta (16), para assistir a aula inaugural do curso livre de extensão “O golpe de 2016: a destruição dos direitos sociais”. Proferida pelo professor e cientista político Ricardo Costa de Oliveira, e pela professora Andréa Caldas, diretora do Setor de Educação, conta com a participação de 21 professores e professoras da Universidade e outros três convidados externos. Os encontros serão retomados a partir de 09 de abril; o curso encerram no dia 27 de junho. Maiores informações no site da UFPR.

sexta-feira, 16 de março de 2018

Dá para ser feliz no Brasil? O World Happiness diz que dá (veja o vídeo)

POR ET BARTHES
Quais são os países mais felizes do mundo? A resposta a essa questão está no relatório da “Felicidade Mundial” (World Happiness Report”, divulgado esta semana. A maioria dos países do Top 10 está na Europa - à exceção de Canadá, Nova Zelândia e Austrália - e os quatro primeiros lugares do ranking são ocupados por países nórdicos. Parece que nem mesmo o frio do inverno acaba com a felicidade deles.

Mas estranha é a posição do Brasil, que ocupa o 28º lugar da lista, acima de países como Japão, Espanha, Itália ou Portugal (para onde, vale lembrar, tem muito brasileiro mudando). Eis a questão. Os brasileiros têm mesmo razões para estar entre os mais felizes do mundo? Ou será que esse é um mito que vem sendo construído ao longo da história? O filme apresenta pelo menos uma razão de peso.

Quer saber mais? Então veja o filme.


quarta-feira, 14 de março de 2018

Stephen Hawking



POR SANDRO SCHMIDT

Boulos, o luto e a melancolia


POR CLÓVIS GRUNER
O PSOL confirmou sábado último (10), a pré-candidatura de Guilherme Boulos à presidência da República. O líder do MTST terá como vice a líder indígena Sônia Guajajara. À primeira vista, o nome de Boulos parece atender a uma necessidade algo pragmática, não inteiramente equivocada em termos eleitorais. O mais conhecido entre os pré-candidatos – os outros eram os economistas e professores universitários Nildo Ouriques e Plínio Jr., e o pedagogo Hamilton Assis –, ele talvez reúna as condições necessárias para “puxar votos” e aumentar a ainda tímida bancada psolista nos parlamentos estaduais e federal.

Mas esse mérito não oblitera alguns problemas, a começar pela forma como sua candidatura foi definida. Além disso, e o mais importante a meu ver, o despontar do nome de Boulos dentro do PSOL talvez encerre, definitivamente, qualquer possibilidade que ainda existia do partido se consolidar como uma opção aqueles eleitores que, como eu, ainda votam à esquerda, mas não têm intenção de votar no PT. Detenho-me um pouco mais nisso.

Simpática ao PT e a Lula, que gravou vídeo manifestando seu apoio, a candidatura de Boulos facilita uma aproximação em um eventual segundo turno, caso o partido de Lula esteja de fato no segundo turno, com ou sem ele. Em tese, os segmentos do PSOL favoráveis a uma aliança entendem que, com o líder do MTST, evitam repetir 2014, quando a liderança de Luciana Genro dificultou o apoio a Dilma. Na prática, a candidatura de Boulos não é muito diferente da de Manuela D’Avila, do PCdoB; em ambas a independência é relativa, porque demasiado próximas e pouco críticas ao PT.

Não é o tipo de coisa que me surpreende no PCdoB, mas não deixa de ser um pouco frustrante no caso do PSOL. Sempre soube dos limites, inclusive eleitorais, do partido, e sua dificuldade em inserir-se e dialogar com grupos e eleitores que não os da classe média, com quem o partido parece ter uma maior afinidade. E não ignoro que, ao menos em parte, a indicação de Boulos pode ser uma tentativa de minimizar isso.

Mas a inexistência de uma relação mais orgânica com o PSOL – ele se filiou em março, dias antes de ser indicado pré-candidato – talvez não surta o efeito esperado, com os possíveis eleitores se identificando mais com o candidato que, necessariamente, com o partido. Respeitadas as diferenças e proporções, há o risco do PSOL repetir, com Boulos, um dos principais erros do PT, o de produzir uma candidatura personalista, que mantém com o partido uma relação instrumental, quando não oportunista.

Além disso, a sua candidatura coloca o PSOL mais perto de ser “linha auxiliar do PT”, acusação lançada contra o partido pelo então candidato Aécio Neves na última campanha, e prontamente rebatida por Luciano Genro. A questão é: Boulos terá condições de negar, tão pronta e enfaticamente como Genro, se fizeram acusação semelhante ao PSOL em 2018? Creio que não. E nem é preciso muito esforço para entender por que.

A opção por lançá-lo e não qualquer outro candidato, representa a recusa do PSOL em assumir o risco de ser uma alternativa à esquerda, colocando-se em uma posição mais crítica em relação ao PT que o pariu. Que fique claro: não se trata de negar ou rechaçar aspectos positivos do legado petista, de esquecer e jogar na “lata do lixo da história” a herança de seus governos, acusação recorrente sempre que se ameaça criticar o partido e suas gestões, apontando suas contradições, seus limites e os muitos equívocos.

Mas não podemos seguir reféns do PT, entre outras coisas porque isso está a nos custar muito caro: enquanto a defesa incondicional de Lula parece ser o único projeto que realmente importa aos petistas e parte da esquerda, um governo criminoso e de criminosos continua a governar impunemente e sem enfrentar resistência alguma capaz de opor-se a ele. Em alguns meses iremos às urnas, e a esquerda ainda não disse o que pensa e propõe para a economia, a segurança pública ou o combate à corrupção, por exemplo.

Pode-se argumentar que ainda é cedo, e que isso aparecerá na hora certa. Bobagem: programas de governo são apresentados no período eleitoral; projetos para o país, não. A esquerda hoje não tem nenhuma coisa, nem outra – a exceção talvez seja o PSTU, concordemos ou não com ele; mas da perspectiva eleitoral o partido tem ainda mais dificuldades e limitações que o PSOL.

Com o declínio do PT, de um lado reduzido à liderança personalista e algo messiânica de Lula, de outro apostando que os eleitores acreditem que basta elegê-lo em outubro de 2018 para voltarmos a outubro de 2002, o PSOL tinha a chance de ser o porta-voz de inquietações e demandas que nem Lula, tampouco o PT, são hoje capazes de encampar. Mas para isso seria preciso elaborar de uma vez por todas o luto, o que o PSOL não fez. Sinal de que teremos, pela frente, uma campanha melancólica.

terça-feira, 13 de março de 2018

Rodrigo Constantino, o sem-noção, no país da piada pronta

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Quem não lembra de Rodrigo Constantino, ex-colunista da Veja (aquela revista que lida mal com os fatos)? Se não lembra, recomendo ver o filme em que Ciro Gomes dá uma surra intelectual no coitado. É um nocaute sem dó nem piedade. Mais do que isso, Rodrigo Constantino é humilhado porque os seus argumentos nunca vão além de clichês tontos e frases feitas. Aliás, mesmo falando sério, o cara soa como piada.

Mas por que falar em Rodrigo Constantino? Pela anedota (afinal, nem só de coisas sérias vive um blog). Na semana passada, ele protagonizou um caso para lá de caricato, por ter chamado a atriz Scarlett Johansson de “feia” e “baranga”. É uma opinião. Mas as feministas não curtiram e decidiram publicar uma foto dos dois – um ao lado do outro (abaixo). E aí a coisa ficou feia para Rodrigo Constantino. Literalmente.

A falta de noção é a seiva que alimenta essas pobres alminhas. E Rodrigo Constantino contra-atacou. Publicou um post onde dizia que se usassem uma boa foto dele e uma má foto da atriz então as coisas ficariam mais equilibradas. “Se essas fotos fossem as escolhidas, talvez o choque não ficasse tão grande assim”, escreveu. Não funcionou. E a coisa virou motivo de piada ainda maior nas redes sociais. Eis alguns comentários:

- “Comentarista de economia não está com nada. Que bom que você resolveu assumir a carreira de humorista. A ‘Veja’ não te merece”.
- “Ela continua linda. E você um babaca - o que te torna feinho, abaixo da média”.
- “Quero essa auto estima para mim”.
- “Migo, fica calmo. O que vale é a beleza interior. Ah não... pera, deu ruim nisso também”.
- “Me indica teu terapeuta porque ele fez milagre pra te deixar com essa auto-estima”.
- “Parabéns pela coragem. Porque noção não tem”.

E vai por aí. Mas uma coisa é certa. Pelo menos é um cara de convicções firmes, porque não apagou o post, mesmo sendo gozado pelo Brasil inteiro. Tem dias em que a internet é pura diversão.

É a dança da chuva.


As primeiras fotos publicadas na internet
O post de Rodrigo Constantino

segunda-feira, 12 de março de 2018

Extinguir a Fundema foi desastroso. E os resultados estão aí...



POR JORDI CASTAN
Engana-se quem culpa a Justiça pelos prejuízos e problemas que a devolução, ao município, do licenciamento ambiental. E que tinha sido transferido de forma intempestiva e desastrada para a FATMA. Quem deve ser culpado é o aloprado gestor municipal que achou poder cometer impunemente um desatino destes. Estava mais do que avisado que essa tolice de transferir o licenciamento ambiental para o Estado não daria certo.

Só um tolo, aconselhado por um bando de outros tolos, poderia acreditar que uma ideia como esta teria como prosperar. Finalmente o licenciamento ambiental voltou ao município, de onde nunca deveria ter saído. Os prejuízos ficam para os empreendedores e para a cidade. É o prefeito - e seus assessores mais próximos - quem deve ser responsabilizado, pela sua inépcia supina.

Há, nesta administração, uma sanha ensandecida em perseguir determinados setores. O meio ambiente e a área cultural são os que mais duramente tem pago o preço da visão míope e simplória de um gestor que não consegue entender a complexidade da gestão pública. O prefeito esta tão obcecado em atender os interesses e desejos dos seus pares que perdeu qualquer resto de bom senso ou de razão.

Ao longo de décadas, Joinville tem elaborado um conjunto de leis e códigos para evitar que o pouco que ainda resta do seu verde urbano e rural seja depredado pelos interesses especulativos. O município formou, ao longo destes anos, um quadro de zelosos funcionários que cumprem a lei e cuidam de licenciar os novos empreendimentos de acordo com a legislação em vigor. 

Mas tem quem não goste que os processos sejam analisados com critério e acurácia. Há até quem queira que seus projetos sejam apreciados e aprovados antes que outros. Mas extinguir a Fundema foi um erro grave. Desvalorizar e desmerecer o trabalho dos técnicos da área foi outro erro. Quando o gestor municipal encara o meio ambiente como um problema - e acredita que cumprir e fazer cumprir a legislação vigente é um inibidor do desenvolvimento - é porque a cidade tem um grave problema pela frente.

Defender o meio ambiente e fazer cumprir a lei não pode ser visto como um custo e sim como o único caminho para preservar a qualidade de vida tão ameaçada hoje em dia. Se for para reclamar dos prejuízos que esta desastrada transferência causou, as críticas devem ser dirigidas ao Gabinete do Prefeito, vai que ele acorda e se da conta dos erros que cometeu na gestão da área ambiental. Vai que, num ataque de lucidez, percebe que extinguir a Fundema foi uma decisão desastrosa.

sexta-feira, 9 de março de 2018

9 de março: dia de acordar o prefeito

POR ET BARTHES
Esta semana, a Prefeitura veiculou um filme onde recomenda o uso do apito como forma de defesa. A campanha serviu de inspiração para este filme, que recomenda usar o apito para acordar o prefeito e ver se as soluções para a cidade aparecem.


Joinville: sete anos depois

POR ET BARTHES
Lançado em 2011, ao longo do tempo o Chuva Ácida construiu a sua trajetória na blogosfera joinvilense (e não só). É o que permite, por exemplo, ir aos arquivos para entender o que mudou na vida da cidade ao longo do tempo. E hoje vamos recuar ao ano de 2013, para ver se as propostas dos integrantes da época (eram expectativas) acabaram se concretizando. Infelizmente parece que pouca coisa mudou. Confira.











quarta-feira, 7 de março de 2018

As Universidades e a "disciplina do golpe"


POR CLÓVIS GRUNER
Já são 23 as universidades brasileiras, a maioria delas públicas – federais ou estaduais – que oferecerão nos próximos meses uma disciplina ou curso de extensão para discutir o “golpe de 2016”. O número só impressiona menos que a reação, de resto esperada, de um monte de gente ressentida que aproveitou o evento para desfilar a velha cantilena contra a universidade pública e seu corpo docente, doutrinação, infiltração esquerdista, etc... Já vi esse filme antes e não vale a pena comentá-lo; seria dar demasiada atenção a quem não merece.

A UFPR é uma das instituições a ofertar uma atividade – no nosso caso, um curso de extensão – sobre o tema. Sou um dos proponentes e participo, junto com outras duas colegas, de um módulo em que discuto a intervenção federal no Rio e o que chamo de “produção da insegurança pública”. E faço parte do grupo mesmo já tendo me manifestado, inclusive nesse blog, contrário ao uso da expressão “golpe” para se referir ao impeachment de Dilma. Apesar disso, acho importante, fundamental até, que se discutam os acontecimentos recentes e seus desdobramentos, e por algumas razões.

A mais imediata é a própria ilegitimidade do impeachment, apesar de sua reivindicada legalidade. Além disso, se há gente contrária, inclusive nas universidades, há quem defenda, dentro e fora do ambiente acadêmico, que se tratou de um golpe parlamentar, e que sustenta sua argumentação em uma literatura política já consolidada. O primeiro grupo deveria ter a competência de fazer o mesmo que nós, críticos do impeachment, estamos a propor: criar seus próprios cursos e ofertá-los, com vagas públicas e gratuitas, para que os interessados conheçam seus motivos e discutam seus argumentos.

Mas o mais importante: a destituição de Dilma Rousseff, e pouco importa se você acha que foi um golpe ou um impeachment conduzido dentro da mais estrita normalidade, foi um ponto de inflexão na história política brasileira. Discuti-lo e seus desdobramentos é uma necessidade, assim como o que significou a ascensão ao poder do PMDB e de Michel Temer – além, obviamente, de livrá-los da cadeia. Que as universidades públicas tomem à frente desse debate não é casual.

Desde que assumiu, Temer fez da desqualificação e do desmonte do ensino público, e não apenas o superior, um projeto político. E nisso conta com o apoio de uma parcela da sociedade, por razões insondáveis disposta a afagar e legitimar um presidente e um governo corruptos e eleger como inimigos professoras e professores, escolas e universidades públicas. Não acredito que as disciplinas e cursos de extensão produzirão um diagnóstico definitivo sobre os últimos dois anos. Mas é um movimento de reação e reflexão, apesar de suas limitações e sua provisoriedade, urgente e necessário.

terça-feira, 6 de março de 2018

Como Lula e Moro serão vistos daqui 20 anos?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Realidade e percepção. Primeiro há os fatos, depois a leitura desses fatos. A realidade: Sérgio Moro impôs uma dura pena ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fato que tem tudo para impedir o ex-presidente de concorrer nas próximas eleições. A percepção: as pessoas começam a ver Moro com desconfiança e Lula mantém praticamente inabalada a sua imagem junto aos seus eleitores.

Quando se fala em percepção, a rejeição tem um papel definidor. Segundo a mais recente pesquisa Ipsos, expressivo número de brasileiros desaprova as ações de Sérgio Moro, o que fica expresso num índice de rejeição de 51%. Lula tem um índice maior, apesar de ter descido ligeiramente para 56%, mas ainda assim o menor índice entre todos os políticos que postulam entrar na corrida para o Palácio do Planalto.

Faz sentido fazer a comparação, já que ambos estão em campos diferentes? Faz. O confronto entre Lula da Silva e Sérgio Moro tem sido apresentado pela mídia como uma espécie de “duelo. Enquanto o ex-presidente tenta chegar novamente ao cargo, o juiz tem feito tudo para impedir, inclusive com alguns atropelos. Há um clima de paixões exacerbadas. Os que odeiam Lula da Silva estão com o juiz. E vice-versa.

A proposta é pensar na frente. A futurologia tem os seus riscos, mas vamos imaginar como Sérgio Moro e Lula da Silva vão figurar nos manuais de história. Arrisco a opinar. Sérgio Moro será uma nota de rodapé. Se tiver algum protagonismo, será pelo fato de ter contribuído para desestabilizar a democracia. Mais do que isso, por ajudar a empurrar o Brasil para uma crise de valores, em que a imagem da própria Justiça saiu chamuscada.

Outra predição. Olhado com a frieza do tempo, o ex-presidente Lula vai ter a sua imagem resgatada. A persecução de que foi vítima ficará evidente (e evidenciada). Ódios aquietados, as pessoas vão reverenciar os avanços do governo Lula como uma oportunidade perdida. Uma oportunidade roubada aos brasileiros, por golpistas que não se importaram em pôr o Brasil outra vez na periferia da geopolítica.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 5 de março de 2018

Acabou o prazo de validade da atual gestão


POR JORDI CASTAN
Neste espaço já utilizei os adjetivos inepto, incompetente, medíocre, omisso e outros do mesmo teor para definir o prefeito municipal e sua gestão. Agora acrescento a esta litania de adjetivos o de ímprobo, que no caso de um administrador municipal é uma definição grave. Muito grave. Não vamos tão longe mas é interessante que o dicionário Aurélio considera "desonesto" sinônimo de ímprobo. Quem fez tanta propaganda da limpeza das suas mãos pode precisar mais que água e sabão para que fiquem limpas.

No dia 28 de fevereiro venceu o prazo de validade, ficou desatualizado o Plano Diretor. Ou seja, Joinville está agora com um Plano Diretor que vencido, perdeu a validade. A sequência mais elementar da gestão diz que devemos primeiro planejar. Depois fazer, verificar e agir. Não precisa ser muito esperto para entender que fazer qualquer coisa a partir de um planejamento vencido é perda de tempo, um esforço inútil.

Desatualizado? Sim. De acordo com a Constituiçao Federal, no seu artigo 5º inciso 23 ¨...Da função social da propriedade que norteia os instrumentos de política urbana. Nessa linha a lei 10.257 Estatuto da Cidade estabelece que os planos diretores precisam ser revisados a cada 10 anos. Se tem que ser revisado e se o gestor municipal teve tempo suficiente para fazê-lo e nada fez, deixou de fazer o que manda a lei . E isso é considerado um ato de improbidade administrativa: aquilo que o agente público tem que fazer e não faz.

É responsabilidade do administrador público zelar pela sua atualização e por seguir todos os procedimentos legais para que a cidade não fique sem Plano Diretor, como Joinville está agora. Sem Plano Diretor, a cidade vira um caos, não há instrumentos de planejamento urbano para projetar o crescimento da cidade, os munícipes não têm como saber o que fazer, como e onde investir. E o que é pior: a cidade fica sem rumo.

Justamente para evitar esse vazio legal o Estatuto da Cidade deu 10 anos de prazo para que os prefeitos pudessem manter os seus planos diretores e toda a legislação vinculada atualizados e vigentes. Mas há prefeitos, com o de Joinville, que nem concluíram tudo o que estava previsto no Plano Diretor atual, nem previram a sua atualização. Na sua sanha por economizar e com sua mentalidade de gestor medíocre, cortou onde não devia e o que fez... fez de forma errada. Extinguiu o IPPUJ e ficou sem a estrutura adequada e necessária para atualizar o Plano Diretor. A sua atuação como gestor medíocre vai custar ainda mais caro para Joinville. Custará caro não só o que fez mal, também o que deixou de fazer, o que omitiu e principalmente pela sua visão pequena e tendenciosa de cidade. Gestor que pensa pequeno apequena a sua cidade.

Agora o prefeito deverá ser acusado de improbidade administrativa por omissão, por deixar de fazer aquilo que é sua obrigação. No caso dele - e por ter sido membro do Conselho da Cidade - não pode nem alegar desconhecimento e tampouco sua formação lhe permite essa saída. É responsável não só do que fez, é principalmente responsável pelo que deixou de fazer. A acusação é grave e a pena por improbidade é severa. Como alguém assim pode pensar ser governador do Estado?

sexta-feira, 2 de março de 2018

Razões para votar em Bolsonaro? Tem 15... (vídeo exclusivo)

POR ET BARTHES
Uma proposta diferente. E muito ilustrativa. Se ainda não decidiu se vota ou não em Jair Bolsonaro, então este filme vai ajudar muito. Fala da relação com as mulheres, que não parece ser das mais pacíficas: devem ganhar menos, podem ser estupradas, são vagabundas, idiotas. E também fala da relação com os homossexuais, o racismo, a economia, a democracia, a tortura. E, imaginem, até sobre sexo com animais. Você não vai querer perder. São pouco mais de seis minutos, em edição exclusiva, mas muito esclarecedores.