quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Hipocrisia idiota


POR GABRIELA SCHIEWE

"Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor..."

Essa frase é muito bonita e realmente acredito que devamos sempre enfatizar o nosso país.

Eu, sendo brasileira, quero o melhor para o meu país e, claro, terei sempre a vontade de representá-lo.

Agora, não vamos levar isso a ferro e fogo, ok?

Que auê hipócrita nessa história do Diego Costa, que fez opção por jogar pela Seleção Espanhola.

Poxa, idiotice agora vir o Felipão e todo o bonde da CBF detonar o cara.

Primeiro lugar, o jogador se fez na Espanha, está a 25 anos lá, o Brasil nunca deu moral para ele, aí o caboclo está lá destruindo no Campeonato Espanhol então resolvem bater no peito e dizer que ele é brasileiro.

Felipão foi treinar a Seleção de Portugal, ninguém falou nada.

A cúpula da CBF vendeu os direitos da nossa Seleção Canarinho para um grupo árabe e ninguém fala nada.

No entanto, na maior cara de pau, agora estão querendo detonar com o atleta, que não está cometendo nenhum crime, está trabalhando honestamente por pura dor de cotovelo.

É uma hipocria idiota e que me admira o técnico Felipão estar levantando essa bandeira e a CBF, inclusive, estar estudando a possibilidade de acionar o jogador Diego Costa perante a FIFA.

Tudo bem, vocês podem estar dizendo que não sou patriota por ter escrito tudo isso e expressado a minha opinião. Mas sabe de uma coisa...to nem aí, to nem aí...e, se estivesse no lugar do jogador, acredito que tomaria a mesma posição e escolheria por aquele que vem me dando respaldo.

Não tem graça


Michele e os filhos: Gentili não suporta a felicidade deles
POR CLÓVIS GRUNER

Michele Rafaela Maximino mora em Quipapá, uma pequena cidade do interior de Pernambuco, na zona da mata. Auxiliar de enfermagem e mãe de dois filhos, por uma dessas idiossincrasias da natureza ela consegue produzir cerca de dois litros de leite diariamente. Graças a isso, nos últimos meses Michele foi responsável por até 90% de todo o leite materno do banco de leite do Hospital e Maternidade Jesus Nazareno; somente em setembro, foram 39 litros doados. Um detalhe: Caruaru, onde fica a Jesus Nazareno, é distante 80 quilômetros de Quipapá. Assim, depois de ordenhado e mantido congelado em potes esterilizados, para doar o leite Michele e o marido percorrem e custeiam do bolso as despesas do translado semanal entre sua cidade e Caruaru.

Só uma mulher sabe, efetivamente, as dificuldades de amamentar. Mas não é preciso ser uma para ter consciência dos benefícios da amamentação. Maternidades mantem bancos de leite para garantir principalmente a saúde e, em certos casos, mesmo a sobrevivência de recém-nascidos prematuros. Muitas mães optam pelo aleitamento materno exclusivo até o sexto mês, como recomenda a Organização Mundial de Saúde, e algumas – nem todas, infelizmente – contam com o apoio dos pais, dispostos a fazer o necessário ao seu alcance para garantir o máximo de conforto e condições para a amamentação. Um gesto, diga-se, que demanda além da atenção dispensada ao bebê durante o ato, esforço físico e necessárias horas de repouso. Amamentar pode ser um ato de amor, mas quem já passou por isso, mesmo que na condição de pai, sabe que há pouco de idílico.

Em um país onde o índice de amamentação está muitíssimo abaixo do aconselhado pela OMS – pouco mais de 40% dos bebês brasileiros menores de seis meses recebem exclusivamente o leite materno, quando o percentual ideal é de no mínimo 90% –, Michele deveria ser “mamãe propaganda” de uma campanha que reforçasse a importância do aleitamento. Não foi o caso. No começo deste mês, Michele entrou na mira do comediante Danilo Gentili, e não é novidade a ninguém o que isto significa: Gentili faz parte de uma geração de humoristas especializada em um humor baixo e preconceituoso. Em nome do politicamente incorreto, seu histórico de humilhação contra principalmente mulheres, gays e negros é amplamente conhecido.

Neste caso em específico, entre outras coisas o apresentador do “Agora é tarde” chegou a comparar Michele com um ator pornô, e a amamentação com a masturbação: “Em termos de doação de leite, ela está quase alcançando o Kid Bengala”, afirmou, um pouco antes de exibir, sem autorização, a imagem de Michele e prosseguir o linchamento moral disfarçado de humor. Tudo muito hilário.

UM RISO REACIONÁRIO – Por tentador que seja fazer um exercício de psicologia de botequim para tentar identificar as razões que explicam o medo doentio que alguns homens tem de seios femininos, e do ódio que nutrem pelas mulheres de um modo geral, não vou ceder a tentação. Meu argumento é outro. Historicamente, o riso tem servido para expor o poder e os poderosos. Desde as origens do carnaval, ainda no medievo, ou nos charivari, comuns nas cidades francesas dos séculos XVII e XVIII, o riso e o escárnio foram sempre um instrumento de subversão e crítica de que se valeram os menos poderosos para ridicularizar aqueles que, sob seu ponto de vista, eram tidos como dominadores – o clero, a nobreza, seus patrões, etc...

Esta tendência subversiva e libertária, é possível reencontrá-la no humor mais contemporâneo. Em Buster Keaton ou nos irmãos Marx, no cinema americano, por exemplo; em Oscarito e em praticamente toda a chanchada, ou em Mazzaropi, no caso brasileiro. Mesmo a comédia stand up que, supostamente, inspirou Gentili, segue esta tendência, o que é notório no humor entre o cinismo e o sarcasmo de seus principais expoentes, tais como Woody Allen, Jerry Seinfeld ou Chris Rock. E estou a falar apenas do humor a que assistimos no cinema ou na televisão, mas se deslocarmos para outras linguagens e mídias, exemplos não faltam; e o cartunista Laerte, cuja tirinha ilustra esse texto, é um desses casos.

No Brasil, salvo raras e honrosas exceções, o humor seguiu o caminho inverso. A ridicularizar os poderosos, preferiu adulá-los. A expor as mazelas, as contradições, o grotesco enfim, do chamado “senso comum” e seus muitos preconceitos, tem servido para reforçá-los, multiplicá-los e legitimá-los. Nosso riso é conservador e nossa história, atravessada pelas muitas formas de violência contra as chamadas minorias, explica em parte esta tendência: somos servis, e o ressentimento gerado por nossa sujeição e impotência tem servido de esteio ao ódio dirigido contra aqueles mais frágeis socialmente. O fenômeno vago e ambíguo do “politicamente incorreto” reforçou esta tendência; sua penetração midiática deu a ela uma roupagem moderna e descolada.

O argumento de que o humor não deve ter limites é débil e tem pelo menos dois precedentes a contradizê-lo. O próprio Danilo Gentili desculpou-se com a comunidade judia de Higienópolis depois de sua piada, no mínimo ofensiva, sobre os trens de Auschwitz. Seu colega Rafinha Bastos também se retratou com a cantora Wanessa Camargo - mas, mesmo assim, perdeu a vaga no CQC, um punhado de contratos publicitários e hoje amarga um relativo ostracismo. Nenhum deles, claro, fez o mesmo com os negros, chamados pelo primeiro de “macacos”, ou com as mulheres, depois da apologia ao estupro feita pelo segundo.

No ano passado uma artista afirmou em entrevista que deixou de amamentar depois que levou uma mordida do seu filho. Danilo Gentili e sua trupe nada disseram: afinal, uma mulher loira e linda – além de rica e famosa – não serve para piada porque, entre outras coisas, não terá de agradecer ao estuprador o favor de tê-la estuprado. Já Michele, que amamenta os seus filhos e os filhos de outras mulheres, sofreu a humilhação de ser exposta ao ridículo pelos epígonos do humor politicamente incorreto. Não há outra conclusão possível. O politicamente incorreto não é apenas preconceituoso e autoritário, mas covarde.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A Grecia é aqui?

POR JORDI CASTAN

Europa esté em crise. Alguns países têm sido mais afetados que outros, mas o caso de Grécia é um dos mais significativos. O país declarou falência e exprts europeus se dedicaram a estudar como a Grécia chegou a essa situação econômica.

A primeira constatação foi a que para entrar no euro os gregos falsearam a contabilidade e depois da adoção do euro continuaram praticando a criatividade contábil, convertendo balanços em peças de ficção fiscal.
Houve aposentadorias em massa de gente com 50 anos, e com salário integral. Havia mas motoristas que carros oficiais, em alguns departamentos a proporção era de 1:50. Num hospital p
úblico havia mais de 40 jardineiros para cuidar de meia dúzia de vasos com quatro arbustos.

Grécia tinha os maiores indicadores de longevidade de Europa, a população com mais de 110 anos de idade era das maiores do mundo, porque para seguir recebendo as aposentadorias não se declaravam os falecimentos.
Há casos em que famílias recebiam 4 ou 5 aposentadorias a que não tinham direito, em casos extremos, se seguiam pagando as pensões de falecidos em 1953. Mais de 40.000 mulheres recebiam aposentadorias vitalícias de 1.000 euros mensais, por serem filhas solteiras de funcionários públicos falecidos. O total destas aposentadorias representava mais de 550 milhões de euros ao ano para os cofres do estado. Agora o pagamento destas pensões é feito só as filhas solteiras até os 18 anos. Os hospitais gregos chegaram a pagar mais de 400 vezes mais por um marcapassos  que o preço pago pelo serviço de saúde britânico.

Na Grécia são numerosos os trabalhadores que tem se beneficiado de aposentadorias antecipadas, aos 50 anos para as mulheres e 55 para os homens, graças a um lei aprovada pelo governo socialista em 1978. A lei beneficia aos profissionais de mais de 600 categorias, que de acordo com a legislação grega são consideradas perigosas ou extenuantes e que incluem de cabeleireiros, por conta dos produtos químicos utilizados para pintar o cabelo, os músicos de instrumentos de vento ou radialistas e apresentadores de televisão.

A quantidade de departamentos públicos, sinecuras e comissões no governo grego são tantas que é praticamente impossível saber com certeza quantos funcionários existiam. O estudo feito pelos técnicos da União europeia mostrou por exemplo que o Instituto para a Proteção do Lago Kopais, que secou em 1930, empregava 1736 gregos.

O setor publico tem um peso desproporcional na economia grega, há quase um milhão de funcionários públicos para uma população de pouco mais de quatro milhões de população economicamente ativa.

Grécia tem quatro vezes mais professores que Finlândia, o país que melhor nota obteve no último informe PISA, mas essa superpopulação de docentes só tem servido para que o país tenha um dos piores níveis em educação de toda Europa.

É possível tirar conclusões a partir do caso grego? Há pontos de comparação com o Brasil? 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Sonegômetro, o vilão dos empresários e dos mais ricos

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Dias atrás eu conheci o Sonegômetro. É um placar online que apresenta, em tempo real, o quanto o país deixa de arrecadar em impostos todos os dias por causa da sonegação (golpe para fugir de tributos). Se tornou um contraponto ao Impostômetro. Até a data em que escrevo este post, o Brasil já arrecadou mais de 1 trilhão e 266 bilhões de impostos, e sonegou mais de 336 bilhões.

Antes de mais nada, preciso esclarecer que considero a política tributária do país muito ruim. Os impostos correspondem a 36% do PIB brasileiro, mas, ao mesmo tempo, prejudica os mais pobres. E a sonegação só acentua este processo. Sem contar que nossos impostos são incididos sobre o consumo, e não pela propriedade. No Brasil, por exemplo, quem ganha até dois salários mínimos paga 49% dos seus rendimentos em tributos, mas quem ganha acima de 30 salários paga 26%. Voltarei a este ponto daqui a pouco.

Vale lembrar também que pagamos impostos para termos as nossas necessidades básicas realizadas: saúde, educação, mobilidade urbana, habitação, cultura, lazer, etc. Logo, em um país onde o Estado geralmente é ineficiente em suas obrigações, e não consegue dar conta do que lhe é dever, a população tende a interpretar o imposto como algo nocivo. Em consequência, "faz parte do jogo" que se evidenciem táticas para burlar o sistema tributário. Até nas faculdades isto é ensinado para obter mais lucro. Para quê pagar impostos se o governo não o utiliza de melhor forma? "Dar o calote é a melhor solução", você pode pensar. Mas é aí que mora o perigo.

Quanto mais é sonegado, maior é o imposto cobrado para atender as necessidades de nosso dia-a-dia. Quanto mais imposto é cobrado, maior a taxa de imposto no rendimento do pobre. Quanto mais rendimento do pobre for tirado para pagamento de impostos, maior será a desigualdade deste país, pois não acontece na mesma proporção para com os mais ricos.

O boletim do Sindicato dos Procuradores da Fazenda Nacional é muito claro:
“na hipótese ainda de se levar em conta apenas a média dos indicadores de sonegação dos tributos que têm maior relevância para a arrecadação (ICMS, Imposto de Renda e Contribuições Previdenciárias) poder-se-ia estimar um indicador de sonegação de 28,4% da arrecadação (percentual muito próximo do indicador de sonegação para o VAT em países da América Latina que foi de 27,6%), que equivale a 10,0% do PIB, o que representaria o valor de R$ 415,1 bilhões caso levado em conta o PIB do ano de 2011. Tomando-se em consideração esse último indicador para a sonegação, poder-se-ia afirmar que se não houvesse evasão, o peso da carga tributária poderia ser reduzida em quase 30% e ainda manter o mesmo nível de arrecadação. Esses R$ 415,1 bilhões estimados de sonegação tributária são superiores a tudo o que foi arrecadado, em 2011, de Imposto de Renda (R$ 278,3 bilhões), a mais do que foi arrecadado de tributos sobre a folha e salários (R$ 376,8 bilhões) e a mais da metade do que foi tributado sobre bens e serviços (R$ 720,1 bilhões).”
 Por fim, está muito claro que existem dos grupos de pessoas: em um deles, encontra-se a grande maioria dos cidadãos, que precisa trabalhar até quatro meses por ano só para pagar impostos. No outro, estão os empresários (25% da arrecadação das empresas brasileiras é sonegada, também segundo o mesmo boletim) e os mais ricos, que proporcionalmente pagam menos impostos. Este último é "muito bem camuflado" e se beneficia das diversas brechas da legislação tributária, do sucateamento da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), fazendo fortuna e alimentando os caixas da corrupção, da lavagem de dinheiro e do crime organizado.

Por isso eu sempre duvido do choro de empresários (ressalto aqui que não são todos, porém uma maioria esmagadora destes), ricos em postos privilegiados e movimentos articulados por estes mesmos grupos. Quem sofre com os altos impostos não são eles; mas sim o pobre, o morador da periferia, que utiliza ônibus todo dia, come pão com queijo no jantar para não gastar o gás e requentar o almoço, aquele que usa o SUS, que come no restaurante popular e necessita do bolsa família para sobreviver. Além da porrada na cara com a má gestão pública, o pobre sofre com o cheiro do arroto dos empresários e mais ricos que, na medida do possível, fazem de tudo para ficarem cada vez mais ricos.

Apenas um pequeno exemplo: a Associação Comercial e Industrial de Joinville (ACIJ) é promotora do Movimento Brasil Eficiente, e articula-se com o Estado para provimento de políticas públicas que favoreçam os seus associados (a LOT é uma estratégia neste sentido), entretanto, tem processos na justiça por não pagar IPTU à Prefeitura (basta consultar no site do TJ-SC). Arrecadar dinheiro (com doação dos outros) para hospital é fácil. Pagar impostos (com recursos próprios) e ajudar na melhoria da cidade, não.

PS: antes que alguém questione as fontes do sonegômetro, o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário) também é um dos responsáveis pelo impostômetro.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Carta a alguns anônimos (e a alguns não anônimos também)

POR CLÓVIS GRUNER

No começo estranhei o silêncio. Em todo caso, ponderei: diante de tão flagrante expressão de discriminação e preconceito, até o mais clichê entre os anônimos (e alguns não anônimos também) deve ter-se rendido ante às evidências. Mas no emblemático terceiro dia, eles ressuscitaram. Surgidos de suas catacumbas e sem subir aos céus, logo começaram a pipocar os comentários ao meu texto e ao do Felipe sobre o episódio envolvendo o vice-presidente da ABRH/SC, Pedro Luiz Pereira, e sua infeliz declaração ao jornalista Claudio Loetz, de “A Notícia”.

Animados pela coragem dos primeiros, a tropa de choque anônima (e de alguns não anônimos também) não tardou, e à medida que ela avançava, descia o nível dos comentários. E como o anti-petismo agora é modinha, obviamente não faltou quem regurgitasse a ladainha de uma inexistente ameaça à liberdade de imprensa, num loop argumentativo que, sabe-se deus como e sem nem mesmo mencionar a nota que gerou a controvérsia, terminou no presidente do PT, o deputado Rui Falcão.

Escoimados os comentários anônimos (e alguns não anônimos também), sobrou pouco. Basicamente, a maioria acusou a mim e ao Felipe de responsabilizar fonte e jornalista por cumprirem seu papel, o de informar. Em outras palavras, o problema não está no meio ou na mensagem, mas em seu referente: as práticas discriminatórias levadas a cabo por empregadores e seus profissionais de RH. Nós poderíamos denunciar a “realidade” ou nos resignarmos a ela, tanto faz. Mas jamais acusarmos quem tratou apenas de “expressá-la”. Sobre isso, permitam-me esclarecer:

1-) Nossos textos não pretenderam negar a tal “realidade”. Aliás, pensei ter sido suficientemente claro sobre isso neste trecho: "Se já sabíamos que todos são iguais, mas uns são mais iguais que outros, a declaração de Pedro Luiz Pereira pinta em tons mais berrantes esta realidade. Não se trata (...) de convivermos com o fato de que algumas funções de destaque dentro dos organogramas empresariais sejam de acesso exclusivo aos homens brancos (e adultos); o vice-presidente da ABRH nos diz, com todas as letras, que dependendo do empregador a simples aspiração a um posto de trabalho, independente do cargo, é exclusiva de homens brancos e adultos.”

2-) Por outro lado, tanto o vice-presidente da ABRH como  o jornalista Claudio Loetz não estão isentos de responsabilidade no episódio. Não se assume uma função de importância na hierarquia de uma entidade que congrega profissionais de Recursos Humanos, para continuar a tratar naturalmente o que não é natural. Continuo a afirmar que Pedro Luiz Pereira tem a obrigação de questionar uma prática discriminatória ao invés de simplesmente constatá-la. O mesmo vale para Loetz: justamente porque o conheço e sei de sua competência e seriedade profissionais, me senti e me sinto muito à vontade para dizer de novo o que afirmei no texto original: um repórter precisa ser um bom inquiridor e, como tal, fazer falar sua fonte lá onde ela pretendeu, consciente ou inconscientemente, silenciar. Se o jornalista não faz isso, é direito do leitor cobrá-lo. Simples assim.

Fosse só isso, e a questão seria apenas de ordem cognitiva. Mas uma segunda linha de argumentação de alguns anônimos (e de alguns não anônimos também) insistiu que o problema não é a discriminação contra negros e mulheres – a tal “realidade”. O problema de verdade é que somos, eu e Felipe – alguns julgam que são todos os colaboradores do blog –, “politicamente corretos”. Não, eu não confundi as coisas nem você entendeu mal: para alguns anônimos (e alguns não anônimos também) o problema não são as políticas discriminatórias (sejam elas racistas, machistas, homofóbicas, geracionais, etc...) no interior das empresas e seus RHs; não é a constatação de que negros e mulheres são alijados do mercado de trabalho por sua condição étnica e de gênero; que apesar das sete mil vagas ociosas, alguns empregadores e seus profissionais de RH continuam a preterir negros e mulheres e a preferir homens brancos, independente do cargo e da função, da qualificação ou competência. Não, nada disso é um problema porque, segundo alguns anônimos (e alguns não anônimos também) nada disso realmente existe: é tudo coisa da patrulha “politicamente correta”.

O fato é que alguns desceram tão baixo em seus padrões éticos que o simples gesto de solidariedade e indignação – em alguns casos, menos que o mínimo necessário – com quem quer que seja – e especialmente se o objeto da solidariedade pertencer às chamadas “minorias” – é achincalhado em nome de alguma coisa tão vaga e ambivalente como o “politicamente incorreto”. Nesse caso, não se trata de um problema simplesmente cognitivo. Ele é ético e político. E é, sobretudo, um problema de caráter.  

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Acorrentar-se é a solução?

POR JORDI CASTAN

Só uma situação de desespero levou a Sra. Rozevelde da Silva de 55 anos a tomar a medida extrema de acorrentar-se na grade do Hospital Municipal São José primeiro e na própria prefeitura depois. A sua situação não é um caso isolado, o numero de consultas, atendimentos e cirurgias represadas é tão vergonhoso que até o TCE (Tribunal de Contas do Estado) apontou um cenário de descontrole na gestão do hospital. Detalhava o desrespeito à fila dos pacientes que aguardam por cirurgias, a falta de controle da jornada de trabalho de médicos e até casos de profissionais que ganhavam mais de R$ 30 mil, valor maior do que o salário do prefeito Udo Döhler, cerca de R$ 23,5 mil na época da auditoria – o que é proibido pela Constituição Federal.

Chega um ponto em que o cidadão não aguenta mais o discurso fácil do político e parte para buscar soluções radicais. Há neste caso uma oportunidade de mudar, de verdade,  o momento de fazer deste um ponto de inflexão no tema da crise da saúde em Joinville.

O Prefeito Udo Dohler, reafirmou que o problema da saúde não é um problema de recursos é um problema de gestão. Joinville gasta hoje o dobro do que precisaria na saúde apesar de uma parcela significativa da população estar coberta por planos de saúde complementar o que deveria ser uma ajuda adicional para resolver o problema. Se o problema for a gestão e na sua campanha se destacou até a saciedade a sua imagem de gestor e o seu conhecimento dos problemas da saúde pela experiência acumulada a frente do Hospital Dona Helena, a solução já deveria estar sendo percebida pela população. O prefeito já assumiu faz quase um ano e o tema da saúde já era do seu conhecimento. Por si fosse pouco, a saúde foi elencada como a sua prioridade. É bom lembrar que o prefeito Carlito Merss, também elegeu a saúde uma das sua prioridades, do mesmo modo que outros prefeitos antes que ele o fizeram. A priorização da saúde não parece ter servido para resolver o problema. Serão precisas ações mais firmes e concretas que mais discursos, mais compressas de água fria e palavras vazias.

Para entender um pouco mais sobre o caso é bom lembrar que depois de esperar por mais de dois anos por uma cirurgia de quadril, a diarista se acorrentou na grade do Hospital São José, por duas vezes, foi analisada por uma junta medica que diagnosticou que o seu caso não era nem de urgência, nem de emergência e que a sua cirurgia seria eletiva. Ela recebeu uma receita com um remédio contra a dor e enviada para casa.

Sem solução e de acordo com o que já havia anunciado, o seu próximo passo foi se acorrentar na grade da Prefeitura Municipal, la foi vista pelo Prefeito Udo Dohler que convocou uma comissão de alto nível, envolvendo o Secretario de Saúde, o Diretor do Hospital São José, a Procuradoria do Município e a Diretora Executiva da Secretaria da Saúde e depois de analisar o caso, decidiu que poderia ser marcada a cirurgia para a colocação da prótese na cadeira. Foram precisos três dias para que a maquina pública se mexesse, foi preciso que a imprensa divulgasse o caso para que a cirurgia fosse marcada, foi necessário que a Sra. Rozevelde tomasse uma atitude extrema para que a cirurgia fosse marcada e o parecer tomado o dia anterior, alegando que a sua cirurgia não era emergencial e poderia esperar fosse mudado.

O poder público trata mal ao contribuinte, ignora a dor e despreza o sofrimento do andar de baixo. O caso da Sra. Rozevelde é uma prova que a sociedade precisa se mobilizar para defender seus direitos. Ela é um exemplo de coragem e uma prova que quem luta pelos seus direitos consegue seus objetivos.

O risco esta a partir de este episodio que o que foi um fato isolado fruto do desespero, possa passar a se converter numa rotina e que a cada semana novas Rozeveldes se acorrentem as grades dos edifícios públicos e convoquem a imprensa para divulgar as suas tragédias pessoais.

Será cada vez mais difícil para o poder público continuar empurrando com a barriga soluções que a sociedade esta esperando já faz anos, a paciência esgotou e discursos e justificativas não são mais suficientes. A hora de agir e de fazê-lo com presteza já passou. Neste caso a prefeitura agiu finalmente, depois que o episodio já tinha adquirido proporções maiores que as necessárias. Já no primeiro dia a resposta deveria ter sido mais concreta.

Sobre este episodio e revoltado com como foi tratado pelo poder público, encaminhei ao jornal A Noticia uma carta, no tom irônico que entendo que merecia a forma incompetente com o tema foi tratado pela prefeitura.

O texto é esse:

Correntes

Demorou, mas o problema da saúde em Joinville está em vias de solução. A Secretaria de Saúde está abrindo licitação em caráter emergencial de correntes e cadeados para que os pacientes com casos mais graves possam se acorrentar às grades dos edifícios públicos e com isso receber a atenção da imprensa. Assim, a possibilidade de serem atendidos de forma prioritária passa a ser uma realidade.

O Protocolo de Manchester ganha em Joinville, graças à criatividade sambaquiana, um novo componente: a corrente. Assim, as pulseiras coloridas que parecem alegres adereços de festa ou de balada ganham uma versão mais metaleira e pesada, a corrente de aço dos desesperados, que, cansados do discurso enfadonho, optam por medidas mais radicais.

Jordi Castan,

E a carta publicada mereceu esta resposta da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Joinville, curioso porem que carta de teor semelhante, assinada pelo Sr. Jorge D. Hexsel não mereceu nenhuma resposta da mesma assessoria.

A Prefeitura de Joinville, por meio da Secretaria de Comunicação, lamenta o teor e a publicação do texto escrito por Jordi Castan na seção de cartas de “A Notícia”, na edição de 18/10. O conteúdo em nada contribuiu para a solução dos graves problemas que a cidade enfrenta na área da saúde. Ao utilizar o deboche, a falsa informação e insinuações, o articulista, por meio do jornal, promove tom pejorativo e sem seriedade para tratar do sofrimento do cidadão.
Além disso, fantasiar sobre o Protocolo de Manchester, modelo consagrado de padronização de atendimento, vai na contramão do que o próprio jornal, na mesma edição, apresenta para a sociedade de Joinville em um debate construtivo e de altíssimo nível. A atual administração entende que o debate sério, sem cores partidárias e sem rancores do passado, é fundamental para a construção de uma sociedade melhor. É a Joinville que queremos.


Fora a inusual agressividade da resposta da Secretaria, o texto surtiria mais efeito se tivessem dedicado o espaço a informar e esclarecer em lugar de agredir. Mas optou por seguir a hierarquia do Desacordo de Graham e dirigir seu esforço “Ad Hominem” passo prévio ao próprio xingamento. Desconsiderando os estágios prévios, que seriam o de refutar o argumento central, ou refutar pura e simplesmente a carta, ou contra-argumentar, ou usar da contradição e ainda responder ao tom. Faltou equilíbrio e sobrou bílis. Deve ser o nervosismo lógico de quem vê que transcorridos 10 meses de governo a maquina continua emperrada e o relógio continua seu tic –tac imperturbável. 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

É só um esporte...

Lutador Waldburger que ficou desacordado no Octogono e saiu de maca.
POR GABRIELA SCHIEWE
 
Eu pode ria começar dizendo que hoje não falarei de esporte, mas de qualquer outra coisa que você queira chamar esse UFC, ou melhor, MMA.

Neste fim de semana que passou, vimos, mais uma vez, cenas lamentáveis e que são amplamente divulgadas por todas as mídias como sendo o "esporte" da vez.

Esporte, no meu simplorio conhecimento esta diretamente ligado à educação e, no caso em tela, não consigo vislumbrar tal conexão, vez que duas pessoas que se encontram para um disputa em que se pode chegar a agressões físicas muito sérias, afetando sobremaneira a integridade física do oponente e que tal disputa só será penalizada quando um juiz, indicado pela organização, entenda que algum dos oponentes não possua mais condições mínimas de suportar mais golpes, ele irá paralizar a luta ou. quando o próprio envolvido na disputa assim o fizer.

Eu não tenho filhos, mas tenho sobrinhos e confesso que não gosto que estes assistam tamanha violência e, divulgada como esporte, do contrário irão entender que poderão praticá-lo com amigos ou colegas de escola.

Já falei isso aqui algumas vezes, as pessoas tem liberdade de escolher aquilo que irão praticar e como irão nominar isso, agora o que discordo e venho insistindo no assunto é como a mídia tem tratado esse MMA e divulgado como se fosse tudo normal.

Esses dias vi no meu twiter um comentário interessante do @nelsinhoneto que, no MMA não vale dedo no olho, mas o resto vale (já dizia Tim Maia).

Este é o brasileiro Cigano que lutou no UFC 166, neste fim de semana em que perdeu o combate e, assim que terminou a luta foi levado as pressas para o hospital.

A notícia do hospital e de seu empresário é que está tudo bem com ele.

Veja a foto e tire suas próprias conclusões.




Eu realmente financio o governo pra isso?

POR GILMAR DE AMORIM DA LUZ

Nessa semana, em um dia de chuva em Joinville, peguei um ônibus para ir trabalhar. Que ideia medíocre a minha!  Mas, como moro a 10  km do trabalho, fiquei sem opção. Ou era a pé (pela distância é inviável) ou de ônibus. Chegando no Terminal Norte, onde os alimentadores vão para as áreas mais afastadas da cidade, tive que pegar uma linha para o bairro da Zona Industrial Norte, que pelo nome se define como a área de empresas da cidade, e foi ali que comecei a pensar no problema.

Joinville é a maior cidade e o maior pólo industrial do estado de Santa Catarina. Temos empresas dos mais variados setores e nosso PIB sustenta mais de metade do estado com arrecadação de impostos. Temos portos nas cidades ao norte e ao sul que atraem cada vez mais empresas nacionais e estrangeiras a se instalarem aqui. Porém, nosso governo esqueceu que quem faz as empresas funcionarem - essas que tanto arrecadam impostos municipais, estaduais e federais - são os funcionários. Sem eles nada disso funcionaria. No entanto, para estes a cidade oferece trânsito caótico, infraestrutura urbana de péssima qualidade e transporte público do pior nicho.

Alguém pode me explicar como que uma empresa que ganhou a concessão para a prestação de um serviço público não deixa à disposição ônibus o suficiente para a demanda necessária? Parei para contar a quantidade de pessoas que esperavam pela única linha dedicada aos trabalhadores da Zona Industrial, em um único horário (já que o próximo era 25 minutos depois) e haviam mais de 100, sendo que a lotação máxima no ônibus era de 70.

Pagamos caro para um transporte de péssima qualidade, somos tratados como sardinhas dentro de uma lata lacrada e ainda temos que engolir cartazes dentro dos ônibus que temos ônibus novos e frota renovada e que a empresa pensa no cidadão?

A estes questionamentos me deram a seguinte resposta: Compre um carro.

E se eu não quiser comprar?! Tirando o fato não gosto de dirigir, ainda mais no trânsito de Joinville, por ter péssimos condutores, eu seria mais uma vítima de um transporte no qual pagamos caro para usar. Trabalhamos cinco meses (isso, cinco meses!) por ano somente para pagar impostos embutidos em produtos e serviços ao governo para o mesmo oferecer vias de qualidade, transporte de qualidade, educação de qualidade, saúde de qualidade.

Mas não! Temos que pagar para ter um plano de saúde cretino, pagar para ter uma educação meia boca (nossa melhor universidade está na posição 226ª no ranking mundial), pagar quase três reais para ter que passar raiva a bordo de uma lata de sardinha, pagar o carro mais caro do mundo (com R$ 40 mil se compra um Gol Rallye, produzido aqui e com impostos industriais daqui, enquanto em países desenvolvidos esse é o preço de um Camaro. Sim, o mesmo Camaro da música do cara que tá tirando onda num amarelo).

Qual é? O pior de tudo: não basta pagar tantos impostos. Ainda temos que pagar a Receita Federal, um tal de Imposto de Renda (!!!). Seria cômico se não fosse trágico, pois além de ter que pagar imposto na comida, no transporte, na saúde e na educação ainda temos que pagar imposto por estar trabalhando e gerando impostos ao governo.

Sinceramente, achei que com os protestos as coisas iriam mudar, mas mais um vez haviam muitas pessoas movidas por interesses próprios e sem nenhum foco do que pessoas dispostas a fazer algo em prol da sociedade, igualzinho nas câmaras, no Senado e em todo o Congresso. E mais uma vez em minha reflexão percebi que o governo é a cara do povo, desse povo que se diz ser a voz de Deus.

Tirem esse atributo dele (Deus). Pois ele não é ganancioso, corrupto, alienado e não tem o "jeitinho brasileiro" de se favorecer em tudo como o povo que diz ser a voz dele.

Com esse texto que refleti enquanto estava a bordo em um desses ônibus (sim, para alguma coisa passar raiva no ônibus foi útil) deixo a minha pergunta: Até onde iremos assim? Sinceramente, acho que não muito longe.

*Gilmar de Amorim da Luz é técnico de informática e piloto de helicóptero e escreveu voluntariamente para a seção Brainstorm.

Observação do editor: Sabemos que Joinville não é responsável por metade dos impostos arrecadados no estado, mas não quisemos alterar o sentido da fala do autor durante a edição.

sábado, 19 de outubro de 2013

Vinícius e o viagra

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Envelhecer parece ser sempre um trauma. Mas, de qualquer forma, traz coisas interessantes. No meu caso, uma delas é o prazer de ter visto Vinícius de Moraes ao vivo com o seu copo de uísque. Privilégio do pessoal mais rodado. Aliás, só para que saibam, ele estava em Portugal quando a ditadura baixou o AI-5 (coisa que só os da minha geração sabem).

Já escrevi textos e defendi, na academia brasileira ou mesmo portuguesa, uma ideia imprevidente: quem tem Vinícius não não precisa de Platão. É meio metafórico, é meio verdade. Há um filósofo brasileiro que define a filosofia com o ato de ver um palmo adiante do nariz. Vinícius ia mais longe: via um palmo adiante e ainda sentia os cheirinhos das fêmeas. E sabia que nunca houve melhor invenção que a mulher.

Mas agora, quando estamos a falar nos 100 anos de Vinícius, só me ocorre uma coisa. A grande chatice para a geração de Vinícius de Moraes e dos seus contemporâneos é que o viagra ainda não tinha sido inventado. Porque se o viagra existisse, tenho a certeza de que Vinícius ainda hoje andaria por aí a descobrir novas garotas. Em Ipanema ou Enseada.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Apartheid, a gente vê por aqui


POR CLÓVIS GRUNER

Não estou em Joinville para saber da repercussão – se houve – da nota publicada na edição de ontem (17/10), na coluna “Livre Mercado”, do jornalista Claudio Loetz. Nela, o vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos de Santa Catarina (ABRH/SC), Pedro Luiz Pereira, define o perfil ideal do trabalhador joinvilense:

“Em Joinville, considerando-se todos os tipos e portes de empresas, há vagas em aberto para aproximadamente 7 mil trabalhadores. A estimativa é do vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos em Santa Catarina (ABRH-SC), Pedro Luiz Pereira. O perfil ideal do trabalhador procurado é homem, branco, de 25 a 35 anos…”

Não é meu propósito julgar as razões do jornalista para publicar tal declaração sem, ao menos, problematizar seu teor. Trabalhei com Claudio Loetz há um par de décadas – sentávamos a uma mesa de distância na antiga redação de “A Notícia”, quando ainda batucávamos as hoje anacrônicas Remingtons. Enfim, sei de sua competência e retidão profissional; ele sabe o que escreveu e tenho certeza que tem igualmente consciência de suas implicações. Mas nunca é demais lembrar que a tal “objetividade jornalística” pode ser uma armadilha para quem escreve, mas às vezes também o é para quem concede a entrevista.

No seu texto, Felipe Silveira já fez as devidas ponderações desde o ponto de vista do jornalismo. Subscrevo tudo o que disse e, como ele, espero do jornal, do colunista mas, principalmente do autor da declaração, algum tipo de explicação – embora reconheça que nada, absolutamente nada do que ele diga irá desfazer o mal estar, nem tampouco mudar o quadro que sua fala tão bem sintetiza: o de que o racismo e o machismo são parte da cultura empresarial. Disso decorre que a aspirada igualdade de condições no mercado de trabalho tem limites muito claros e definidos: não é todo mundo que pode ocupar qualquer cargo, porque em se tratando dos empregadores joinvilenses, boa formação técnica e experiência profissional não são critérios suficiente.

Se já sabíamos que todos são iguais, mas uns são mais iguais que outros, a declaração de Pedro Luiz Pereira pinta em tons mais berrantes esta realidade. Não se trata, ao menos em Joinville, de convivermos com o fato de que algumas funções de destaque dentro dos organogramas empresariais sejam de acesso exclusivo aos homens brancos (e adultos); o vice-presidente da ABRH nos diz, com todas as letras, que dependendo do empregador a simples aspiração a um posto de trabalho, independente do cargo, é exclusiva de homens brancos e adultos.

UMA INCÔMODA INVISIBILIDADE – Mas se a nota provocou merecida indignação, a afirmação não é uma surpresa. Trata-se de uma invisibilidade que não é recente: basta revisar a historiografia local para constatar a ausência do negro e das mulheres na história da cidade. Se é compreensível – embora não necessariamente justificável – esta falta naqueles trabalhos de cunho mais memorialístico, não se pode dizer o mesmo de um Apolinário Ternes, cujo trabalho sempre alimentou a pretensão de ser uma alternativa aos textos seminais do “seo” Adolfo e da “dona” Ely, e que teve acesso privilegiado às fontes documentais da história local. As mesmas fontes de que se valeram historiadores e historiadoras que, mais recentemente, vem empreendendo um esforço considerável para mostrar que não apenas de homens brancos e adultos se fez a nossa história – e no caso em pauta, lembro e menciono especialmente os trabalhos de Denise da Luz e Janine Gomes da Silva.

Se há ainda quem coloque em dúvida a existência dos preconceitos de gênero e étnico na cidade, faça as contas: quantas mulheres estão na Câmara de Vereadores ou na diretoria da ACIJ? Mesmo morando em Curitiba, soube dos muitos comentários machistas feitos sobre Marinete Merss ao longo da gestão do ex-prefeito Carlito Merss, tudo porque ela nunca se resignou a ocupar o lugar que compete às “grandes mulheres”: ficar sempre à sombra dos “grandes homens”. E o que falar dos dois jogadores do JEC, constrangidos a serem revistados pela polícia porque um delegado achou-os em atitude suspeita? Afinal, eram dois negros com dinheiro, andando de táxi e jantando em um restaurante onde, assim como no mercado de trabalho, a entrada é franqueada principalmente para homens brancos. E se menciono aqui apenas aqueles exemplos mais claros e óbvios, não ignoro que a realidade é tão ou mais dura no que um amigo chamou de “Soweto catarinense”.

Tenho certeza que não faltará quem defenda ou justifique a fala do vice-presidente da ABRH/SC apelando à velha falácia de que ele apenas “expressou a realidade”. Ou pior: haverá quem, como no texto do Felipe Cardoso, publicado aqui no Chuva, argumentará recorrendo a números: se os negros estão em minoria quantitativa, dirão, nada mais “natural” que os empregadores privilegiem os brancos. É uma escolha. Mas ambos os argumentos aproximam-se daqueles utilizados pela maioria dos alemães quando, há quase um século, o Reich decidiu pela perseguição a outras “minorias quantitativas”, judeus principalmente. É a banalidade do mal, já nos ensinou Hannah Arendt, que fomenta a indiferença; e é a indiferença que faz florescer e legitima a intolerância, o preconceito e a violência.

O racismo e o machismo inegáveis de cada dia

Pelo visto, pra essa trabalhadora não tem vaga aqui...
POR FELIPE SILVEIRA

Talvez tenham sido poucos textos, mas não dá pra negar que a luta contra o racismo e a denúncia do quanto ele é presente em Joinville é uma das bandeiras do blog. Eu já escrevi alguns textos e sei que outros articulistas também (Clóvis e Baço, pelo menos). Além disso, tivemos um texto de Felipe Cardoso dos Santos, no Brainstorm, que foi pra lá de comentado e acessado. Da mesma forma, o machismo é tema deste blog.

O que mais me chamou a atenção em todas essas discussões e outras facebook afora foi a recusa que muitas pessoas demonstram de reconhecer que o racismo foi e ainda é muito forte nessa região. Mesmo quando ele é evidente nas propagandas da TV, nas abordagens policiais, nas disputas por emprego e, mais recentemente, nas páginas dos jornais.

Circulou, ontem (17 de outubro), um dos casos mais flagrantes desse absurdo. A coluna Livre Mercado, assinada pelo jornalista de economia Claudio Loetz, de A Notícia, traz a seguinte informação:

“Em Joinville, considerando-se todos os tipos e portes de empresas, há vagas em aberto para aproximadamente 7 mil trabalhadores. A estimativa é do vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos em Santa Catarina (ABRH-SC), Pedro Luiz Pereira. O perfil ideal do trabalhador procurado é homem, branco, de 25 a 35 anos…”

Chega a ser chocante ver essa “notícia” estampada no jornal, mesmo para quem sabe que essas são as condições do mundo real (entenda-se: não estou aceitando essa condição, estou dizendo que todos nós sabemos que o mercado de trabalho é racista e machista). É surpreendente porque houve algum tempo (recente, entre os anos 90 e 2000), em que o racismo não era declarado dessa forma nos jornais. Quem representava alguma instituição tinha algum pudor em falar e escrever esse tipo de coisa.

Diante disso, criei algumas expectativas:

1) Em relação ao público, tenho duas. Primeiro tô curioso pra saber quais serão as desculpas que vão arrumar para o racismo e machismo. Ou melhor, para negar que isso é machismo e racismo. A outra é saber como o público consciente vai lidar com isso. É preciso haver muita reclamação, muito debate, e isso é papel de todos nós.

2) Do jornalista Claudio Loetz, que tenho certeza que é um homem justo, e do jornal A Notícia eu espero uma reportagem sobre o machismo e o racismo no mercado e no ambiente de trabalho. Era isso que devia ser feito assim que chegou a informação à mesa. Era um flagrante, uma reportagem pra cá. Essa é a capacidade que o jornalista tem que ter.

3) Do autor ao qual a fala foi atribuída, Pedro Luiz Pereira, eu espero um honesto pedido de desculpas e ações que visem combater o racismo e o machismo dentro da sua organização, dentro do mercado de trabalho e consequentemente na sociedade.

Combater esses e outros preconceitos, assumir a culpa pelos erros históricos, promover ações para repará-los e não admitir que se repitam é um dever de cada um de nós.


P.S.: Vou falar sobre preconceito geracional em outro texto. Quero ler algumas coisas sobre o assunto antes.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Tá liberado!


Alianças políticas, biografias e o exemplo americano


POR CLÓVIS GRUNER

Há coisas que me agradam no modelo americano de democracia – e claro, há outras que não, mas delas não falarei hoje. Uma: nos Estados Unidos, ex-presidentes não podem ocupar nenhuma função pública ou disputar outro cargo eletivo. É claro que eles continuam a fazer política; o objetivo da legislação não é afastá-los da vida pública. No horizonte, e sempre de um ponto de vista ideal, está o entendimento de que em uma democracia, a renovação – mesmo que dentro de um mesmo partido – é tão importante como o direito de escolha.

No Brasil é diferente. Com o anúncio da união entre Eduardo Campos e Marina Silva para as eleições de 2014, as especulações ganharem espaço nos noticiários e redes sociais. Entre elas, uma me chamou a atenção: sentindo-se ameaçados, tucanos e petistas teriam chegado a aventar a possibilidade de lançarem FHC e Lula, no lugar de Aécio Neves e Dilma Rousseff. Acho pouco provável. Mas que tal tenha sido sugerido, revela uma das muitas fragilidades da nossa cultura política, o personalismo. É essencial à democracia que partidos sejam capazes de forjar novos líderes. Além disso, uma eleição se vence com nomes, certamente, mas também e principalmente com projetos.

O caso do PT é mais emblemático. Pesquisas apontam uma vantagem significativa de Dilma. Mas falta um ano para as eleições, e o partido precisa ser capaz de manter o favoritismo e continuar a convencer os eleitores com base em realizações passadas e presentes e em planos futuros. O carisma e os altos índices de aprovação de Lula não podem ser um deux ex machina eleitoral. Por outro lado, as declarações de Marina tampouco sugerem que seu interesse é, de fato, renovar o debate político, mas simplesmente substituir um dos atores da atual polarização, o já combalido PSDB.

Tudo junto e misturado, parece mesmo que estamos à deriva. Os dois maiores partidos brasileiros e o que surge como promessa de renovação já deixaram claro seus projetos de poder. Mas nenhum deles tem, efetivamente, um projeto para o país.

ERA PROIBIDO PROIBIR – Vai longe o tempo em que Caetano Veloso desancou os estudantes que o vaiaram durante o IV Festival de Música Brasileira – mais precisamente, 45 anos. Se há quatro décadas e meia o então jovem compositor ecoava o Maio francês, hoje ele se vale de sua conhecida verborragia para disfarçar o indisfarçável e justificar o injustificável. Abrigados na associação “Procure Saber”, capitaneada pela empresária e ex-atriz Paula Lavigne, ele, Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Djavan e Roberto Carlos, entre outros, defendem a manutenção dos artigos 20 e 21 do Código Civil, que proíbem a publicação, para fins comerciais, de biografias não autorizadas. Na prática, isso significa que biógrafos só podem publicar desde que devidamente autorizados pelos biografados ou seus herdeiros.

Não vou me alongar. Tudo que gostaria de dizer sobre o tema – e até um pouco mais – já foi dito pelo jornalista Mário Magalhães, biógrafo de Marighela, em seu blog. Mas me causa espanto ver nomes cuja resistência à violência da ditadura e seus muitos meios de censura é amplamente conhecida, posicionando-se tão descaradamente a favor dela e com argumentos pífios – entre outras coisas, a “Procure Saber” reivindica que os biografados recebam uma porcentagem sobre as vendas de suas biografias, sob a alegação de serem os personagens de tais narrativas. A coisa beira ao absurdo: recentemente Roberto Carlos, o mesmo que, tal um inquisidor, conseguiu que recolhessem das livrarias sua biografia e só voltou atrás na decisão de mandar à fogueira centenas de exemplares na última hora, entrou com um pedido para proibir a venda de um livro – originalmente uma dissertação de mestrado em História, um trabalho acadêmico portanto, não uma biografia – sobre a Jovem Guarda. Solidário ao “rei”, Chico tentou desqualificar o historiador Paulo César Araújo, autor da biografia, chamando-o indiretamente de desonesto. Foi ampla e documentalmente desmentido.

Nos Estados Unidos biografias não autorizadas são permitidas por lei, sob a alegação que a liberdade de expressão e o direito à informação estão acima do direito à privacidade, especialmente quando se trata de personalidades públicas. Desacordos são resolvidos na Justiça. No Brasil prevalece o entendimento contrário. Ora, mas se as noções de público e privado já são, em si, problemáticas, elas o são ainda mais quando envolvem figuras públicas – sejam elas artistas ou não. Primeiro porque há, sim, a inegável e quase “natural” curiosidade do público sobre a vida de seus ídolos, por exemplo. Mas não é só, nem o principal: justamente porque públicas, suas trajetórias se confundem com a história do país. Saber delas, de suas escolhas, seus percursos, seus engajamentos, suas experiências e ideias é saber um pouco mais sobre nosso passado. Nos coibirem de conhecer suas biografias ou nos limitar às autorizadas, é privar o leitor de conhecer aspectos da história que, muitas vezes, só nos chegam quando narradas sob o ponto de vista de quem as viveu.

Caetano fala muito, mas não diz o óbvio: o que está em discussão não é o direito à privacidade, mas a pretensão de monopolizar o direito ao passado. Eles não entenderam nada e saíram dessa diminuídos. Como disse um amigo: “os ídolos da velha MPB encolheram”.

PS.: No dia 11 de outubro o Brasil perdeu Gabriela Leite. A mais destacada defensora dos direitos das prostitutas brasileiras, mais conhecida pela criação da marca Daspu, Gabriela morreu aos 62 anos, vítima de câncer. Ela sabia que as fronteiras entre a vida privada e a esfera pública eram tênues. E soube usar a primeira em benefício dos embates que travou na segunda. Este texto é uma homenagem a ela.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Udo e a oportunidade perdida


POR JORDI CASTAN

A eleição de Udo Dohler como prefeito de Joinville foi uma vitória prevista. Coincidiu com uma das mais desastrosas gestões municipais que esta cidade já teve, ainda que não seja preciso voltar muito no tempo para encontrar outra gestão tão desastrosa. A candidatura de Udo Dohler cresceu rapidamente, menos pelas suas virtudes e mais pela incompetência dos seus oponentes. Era o que poderia ser considerado a vitória do “menos pior”.

À medida que o tempo transcorre é mais evidente que Udo Dohler não tem sabido aproveitar a oportunidade que a conjuntura lhe proporcionou. A sua vitória o qualificava não apenas para fazer uma gestão correta do ponto de vista administrativo. A sua campanha explorou convenientemente a imagem de bom administrador, de empresário, de falta de experiência política e, portanto, de chegar à vida política livre dos vícios e mazelas que a sociedade tanto critica: aqueles que fazem da política uma profissão e uma atividade econômica. Também foi promovida, durante a campanha, a imagem de homem probo e a de homem rico, que poderia prescindir até do seu salário e não precisaria se corromper, caso fosse eleito. A mensagem foi recebida pela maioria do eleitorado que o elegeu.

O erro fatal do eleitorado foi acreditar que Udo Dohler representava uma mudança, que as coisas mudariam de forma suficientemente radical para dirigir Joinville à direção certa. As urnas mostraram repúdio pelas últimas administrações. Ele é, no melhor dos casos, uma espécie de oportunista. A pessoa errada no lugar certo e na hora certa. Udo nunca promoverá uma revolução, na sua definição mais pura. O máximo que aspira é que as coisas funcionem melhor, de forma mais rápida e sejam mais simples. Portanto, a lógica de fazer melhor as coisas passa longe de repensar o que deve ser feito e como deve ser feito. Um bom conselho seria o de lembrar que não há nada mais estúpido que fazer bem feito algo que não precisa ser feito.

Quem acompanhe a biografia do prefeito dificilmente encontrará nela traços do revolucionário. Ao contrário, sua intima relação com o poder econômico, do qual ele faz parte, o impede de liderar o processo de mudança social e política que Joinville precisa. A imagem de executivo competente precisará se sustentar em resultados concretos, sob risco de cair na mesmice. A imagem de homem probo esta agora vinculada, também, aos demais nomes que escolheu para formar sua equipe.

A imagem de político habilidoso esta hoje mais próxima do velho “toma lá dá cá” que é a velha forma de fazer política. A distribuição de cargos comissionados, privilegiando articulações e politicagem ante a competência e honestidade são a melhor prova que falta coragem e capacidade para fazer o que deve ser feito. Tinha o crédito e a confiança da população para agir, optou por não fazê-lo. Escolheu não promover as mudanças sociais e políticas que a cidade precisa e manter o equilíbrio do poder. Sem surpresas.

Se alguém acreditou, de verdade, que ele seria a pessoa que promoveria esta mudança e que o faria enfrentando os interesses dos seus financiadores de campanha - ou de seus companheiros de ACIJ - e que o faria contrariando os interesses da elite de que faz parte, então foi iludido. Udo é, no melhor dos casos, uma oportunidade perdida. Um bom gerente que administrara melhor. Para alguns isso já é muito. E não devemos criticar quem pense assim: depois de tantos descalabros, um pouco de mediania é o menos ruim para Joinville.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Federalização do sistema Acafe: hora de retomar o debate

POR LEONEL CAMASÃO*

Uma universidade plural, democrática, com amplas referências do saber e do conhecimento podem mudar a cara de uma cidade. Mas não é esse o projeto de educação superior que está reservado para a nossa cidade.

Reportagem de A Notícia - que foca a ansiedade dos estudantes, a preparação para o vestibular e outros detalhes - não problematiza o baixíssimo percentual de vagas oferecidas no ensino público. Apenas 794 em três instituições, ante 7.715 vagas oferecidas no ensino privado, em 10 estabelecimentos.

Esses números são alarmantes e destoam completamente do cenário nacional. Enquanto no Brasil, 26,3% dos estudantes de ensino superior estudam em universidades públicas – o que já é baixo -, em Joinville, este número é três vezes menor: apenas 9% das vagas disponíveis para o vestibular 2013 são públicas, ante 91% das universidades privadas.

Estes dados demonstram que a mercantilização do Ensino Superior iniciada nos anos FHC se aprofundou ainda mais na era Lula/Dilma através de incentivos fiscais e programas de compra de vagas ociosas (vendidos como "Programas de Bolsas de Estudo").

Obviamente, não é possível convencer um estudante que só faz o ensino superior graças ao ProUni de que esta é uma política ruim. Do ponto de vista individual, obviamente que é uma política satisfatória, afinal, leva milhares de estudantes que nunca teriam condições de pagar as altas mensalidades ao ensino superior.

Entretanto, do ponto de vista global, esta política se transformou em um verdadeiro programa de transferência de renda para conter a crise no setor educacional. Depois da expansão dos anos FHC, muitas instituições investiram mais do que tinham, e caminhavam para a bancarrota. Programas como ProUni e Fies garantem que estas instituições permaneçam existindo, com dinheiro público, e até mesmo, façam grandes expansões. O ensino superior privado cresceu 30% em 2012 em relação a 2011.

Se, ao invés de comprar vagas em instituições privadas de qualidade em geral duvidosa, ampliássemos o número de instituições e cursos superiores públicos? Estaríamos caminhando para um cenário muito melhor para Joinville e para o país.

Em Joinville, metade das vagas no ensino privado estão concentradas na Univille e na Unisociesc, a primeira, "comunitária", e a segunda, privada ao estilo clássico. Neste cenário, as universidades "comunitárias" cotinuam a ser um modelo sui generis catarinense. Na hora de buscar recursos do governo, são públicas. Na hora de prestar contas, eleger reitores e cobrar mensalidades altíssimas, são privadas.

Por isso, faz-se necessário retomar o debate sobre a federalização do sistema Acafe. A administração destas IES se tornaram verdadeiras caixas-preta, que precisam ser abertas. As "comunitárias" concentram 70% dos alunos catarinenses. Sua federalização não só é possível, como necessária para melhorar a qualidade da educação em nosso estado e interiorizar o ensino público e gratuito.

Os estudantes de Blumenau nos servem de exemplo em sua luta pela federalização da Furb. É hora de retomar este debate junto à sociedade e à juventude que foi às ruas exigir mudanças.

*Jornalista e presidente do PSOL Santa Catarina