segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Eu realmente financio o governo pra isso?

POR GILMAR DE AMORIM DA LUZ

Nessa semana, em um dia de chuva em Joinville, peguei um ônibus para ir trabalhar. Que ideia medíocre a minha!  Mas, como moro a 10  km do trabalho, fiquei sem opção. Ou era a pé (pela distância é inviável) ou de ônibus. Chegando no Terminal Norte, onde os alimentadores vão para as áreas mais afastadas da cidade, tive que pegar uma linha para o bairro da Zona Industrial Norte, que pelo nome se define como a área de empresas da cidade, e foi ali que comecei a pensar no problema.

Joinville é a maior cidade e o maior pólo industrial do estado de Santa Catarina. Temos empresas dos mais variados setores e nosso PIB sustenta mais de metade do estado com arrecadação de impostos. Temos portos nas cidades ao norte e ao sul que atraem cada vez mais empresas nacionais e estrangeiras a se instalarem aqui. Porém, nosso governo esqueceu que quem faz as empresas funcionarem - essas que tanto arrecadam impostos municipais, estaduais e federais - são os funcionários. Sem eles nada disso funcionaria. No entanto, para estes a cidade oferece trânsito caótico, infraestrutura urbana de péssima qualidade e transporte público do pior nicho.

Alguém pode me explicar como que uma empresa que ganhou a concessão para a prestação de um serviço público não deixa à disposição ônibus o suficiente para a demanda necessária? Parei para contar a quantidade de pessoas que esperavam pela única linha dedicada aos trabalhadores da Zona Industrial, em um único horário (já que o próximo era 25 minutos depois) e haviam mais de 100, sendo que a lotação máxima no ônibus era de 70.

Pagamos caro para um transporte de péssima qualidade, somos tratados como sardinhas dentro de uma lata lacrada e ainda temos que engolir cartazes dentro dos ônibus que temos ônibus novos e frota renovada e que a empresa pensa no cidadão?

A estes questionamentos me deram a seguinte resposta: Compre um carro.

E se eu não quiser comprar?! Tirando o fato não gosto de dirigir, ainda mais no trânsito de Joinville, por ter péssimos condutores, eu seria mais uma vítima de um transporte no qual pagamos caro para usar. Trabalhamos cinco meses (isso, cinco meses!) por ano somente para pagar impostos embutidos em produtos e serviços ao governo para o mesmo oferecer vias de qualidade, transporte de qualidade, educação de qualidade, saúde de qualidade.

Mas não! Temos que pagar para ter um plano de saúde cretino, pagar para ter uma educação meia boca (nossa melhor universidade está na posição 226ª no ranking mundial), pagar quase três reais para ter que passar raiva a bordo de uma lata de sardinha, pagar o carro mais caro do mundo (com R$ 40 mil se compra um Gol Rallye, produzido aqui e com impostos industriais daqui, enquanto em países desenvolvidos esse é o preço de um Camaro. Sim, o mesmo Camaro da música do cara que tá tirando onda num amarelo).

Qual é? O pior de tudo: não basta pagar tantos impostos. Ainda temos que pagar a Receita Federal, um tal de Imposto de Renda (!!!). Seria cômico se não fosse trágico, pois além de ter que pagar imposto na comida, no transporte, na saúde e na educação ainda temos que pagar imposto por estar trabalhando e gerando impostos ao governo.

Sinceramente, achei que com os protestos as coisas iriam mudar, mas mais um vez haviam muitas pessoas movidas por interesses próprios e sem nenhum foco do que pessoas dispostas a fazer algo em prol da sociedade, igualzinho nas câmaras, no Senado e em todo o Congresso. E mais uma vez em minha reflexão percebi que o governo é a cara do povo, desse povo que se diz ser a voz de Deus.

Tirem esse atributo dele (Deus). Pois ele não é ganancioso, corrupto, alienado e não tem o "jeitinho brasileiro" de se favorecer em tudo como o povo que diz ser a voz dele.

Com esse texto que refleti enquanto estava a bordo em um desses ônibus (sim, para alguma coisa passar raiva no ônibus foi útil) deixo a minha pergunta: Até onde iremos assim? Sinceramente, acho que não muito longe.

*Gilmar de Amorim da Luz é técnico de informática e piloto de helicóptero e escreveu voluntariamente para a seção Brainstorm.

Observação do editor: Sabemos que Joinville não é responsável por metade dos impostos arrecadados no estado, mas não quisemos alterar o sentido da fala do autor durante a edição.

8 comentários:

  1. Mais uma observação para o editor: a nossa melhor universidade, a USP, que está na 226ª colocação no ranking mundial, é pública. Imagina as particulares...

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  2. Primeiro: Culpe o Governo Federal!

    Segundo: Compre um carro (usado)!
    Vejamos: automóvel com motor de 1L, autonomia média de 10 km (na cidade), preço médio do combustível R$ 2,85 (R$ 2,65 nos postos da BR-101). Preço da passagem de ônibus: R$ 2,80 (passagem antecipada). Conclusão: se você tem onde estacionar gratuitamente, é mais econômico (mesmos com os custos de manutenção) e, às vezes mais rápido para chegar ao destino, usar o seu automóvel para distâncias inferiores a 10km, e essa lógica não vale apenas para Joinville. Sobre o transporte público, mesmo no melhor dos mundos o transporte é escasso nos momentos do “rush”. O transporte urbano de Jlle está longe de ser péssimo (conheça antes os de São Paulo ou Rio), uso-o diariamente, pois a empresa na qual sou funcionário arca com todos os custos. Se tivesse que gastar com o transporte público de Joinville, usaria o meu automóvel e economizaria $$$.

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    1. Comprar um carro usado então, vamos fazer cálculo simples. Se comprar um carro usado descente (não estou falando de carro caindo aos pedaços que só vai dar manutenção) vai me custar por volta de R$20.000, se ganhar um salário mínimo sem desconto e sem nenhum tipo de conta pra pagar passarei por 29 meses(!) pagando somente o carro, fora manutenção e combustível. Não gosto muito comparar Brasil com países de primeiro mundo (afinal somos de terceiro) mas um exemplo de bom incentivo é na Flórida que nas chamadas de freeways tem 4 pistas e na hora do rush a quarta pista é dedicada somente a carros com no mínimo 2 pessoas. Isso é incentivo certo pro lado de quem tem um carro, já que o transporte coletivo é eficiente. Não tenho dados de Joinville mas São Paulo investe 3 vezes mais em infra-estrutura para carros do que para ônibus e metro, será que o foco está certo? Não digo que para carros está bom mas você jamais trocaria ir de carro pra ir de ônibus, lugares como Dubai a população faz isso porque lá o transporte funciona. Nosso governo incentiva o lado errado, nosso governo é um apaga fogo de imediato, só pensam no curto prazo, mente curta de quatro anos. Se investir em infra para transporte coletivo isso demoraria 15 ou 20 anos pra obter resultados, mas estes seriam bons e duradouros, abater imposto de carro e incentivar com financiamentos fáceis vai resolver o problema de imediato e deixar o povão feliz pra votar neles de novo, o problema é "resolvido" de imediato e em poucos anos o caos de excesso de carros e a falta de infra pra eles se estabelece.

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  3. Ah, e sobre suas reclamações sobre impostos, saúde e educação, lembro que no próximo vai ter eleição e, a não ser que você seja mais um petista alienado, vote em qualquer outro candidato.

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  4. Gilmar, você perguntou: Alguém pode me explicar como que uma empresa que ganhou a concessão para a prestação de um serviço público não deixa à disposição ônibus o suficiente para a demanda necessária?

    Na verdade as empresas não ganharam a concessão honestamente, apenas renovaram sem nunca concorrer com ninguém. E o novo prefeito faz de conta que está tudo certo e que a última renovação ilegal não vai vencer em janeiro próximo, pois assim terá que renovar novamente sem honestidade.

    Se não entender a minha resposta e a relação com a pergunta, é só prestar atenção na parte da honestidade que estará tudo explicado :D

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  5. Realmente, pensei também que as coisas ou boa parte mudaria por conta dos protestos. Mas ao meu ver, ele enfraqueceu muito com pessoas que usavam a imagem dessa ação, deste gesto lindo para si próprio. Tais como, vandalos, pessoas da midia, pessoas que iam só porque disseram que 'seria divertido'. Essas coisas fizeram com que perdesse a força, na minha opinião. Na época, por foto de anonymous (do filme V de vingança) era moda. Muitas pessoas colocaram e hoje? Cadê? Não chega nem a 1/4 do que era antes.
    Eu gostei muito da crítica e tem razão, querem retorno financeiro, porém, não querem investir para que haja um retorno maior ou um conforto para quem gera isso.

    Parabens, Gilmar, pos em palavras o pensamento de várias pessoas que não tiveram capacidade ou coragem de falar. Abraços!

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  6. E de cima você nunca tinha notado o caos? By Ácido

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