POR FABIANA A. VIEIRA
Essa semana fomos brindados com imagens antigas nos perfis das redes sociais para comemorar o Dia das Crianças. Muita gente entrou no clima e procurou alguma pose de criança para fazer sua homenagem a uma das fases mais gostosas de nossas vidas. Eu também aderi e postei uma foto dos meus sete anos para relembrar minha primeira série escolar.
Dando uma zapeada nas fotografias, foi possível constatar que a infância realmente é uma das fases mais doces de nossas vidas e, de fato, trazem boas lembranças. Mesmo para aqueles que não se interessaram por isso nas redes sociais, e outros tantos que torceram o nariz para essa prática, foi inevitável para todos, olhar para trás e ter nas suas memórias, as lembranças de uma infância feliz, onde a regra número um era aprender brincando. Mas isso, claro, aqui no mundo encantado das redes sociais, ou como já mencionou o Felipe em outro texto, "na bolha".
Infelizmente isso não é realidade para muita gente. Mais precisamente para 3,5 milhões de crianças brasileiras que não tiveram esse direito garantido e, ao invés de bicicletas, cadernos ou bichinhos de estimação, convivem com outros instrumentos na fase que é para ser a mais doce da vida. Para estes, é depositada uma carga de responsabilidade incompatível com seu tamanho. Estou falando do trabalho infantil e os números atuais impressionam.
Mesmo que tenha caído em um terço nos últimos 12 anos, hoje ainda são 168 milhões de crianças no mundo que tem uma parte de sua vida sequestrada pelas dificuldades da sobrevivência, pela cultura autoritária dos pais ou pela violência da exploração do homem pelo homem. Desse total, segundo a OIT, 85 milhões de crianças convivem com trabalhos perigosos ou degradantes. Falamos aqui em crianças que perdem dedos e olhos no cultivo do sisal ou da cana, que tem pés esmagados por cilindros ao socar o barro na fabricação de tijolos ou, o que é pior, tem a pureza roubada pela mercantilização sexual e pela degradação da prostituição infantil.
A Conferência Global contra o Trabalho Infantil realizada em Brasília nesta semana reconheceu o exemplo brasileiro de promoção da renda mínima condicionada à frequência escolar e acompanhamento da saúde pública. São crianças que rompem o perverso ciclo da pobreza, da indigência e do abandono, fogem do trabalho forçado nos semáforos, e passam a frequentar com assiduidade e rendimento a escola. É uma criança que passa a ter esperança.
Sempre se falou que a educação era a saída para a desigualdade. Mas muito pouco se fez. Agora, com o Bolsa Família, com mais de 1 milhão de estudantes no ensino profissionalizante do Pronatec, a construção massiva de creches e escolas infantis pelo país, a valorização do professor e o aumento dos recursos para a educação com o pré-sal, termos grandes oportunidades de reverter o atraso e pagar uma dívida social que precisa ser quitada.
Grande parte do trabalho infantil está na zona rural, determinado pela compreensão de que as crianças têm que ajudar no sustento das famílias. Na zona urbana é a miséria que produz o trabalho infantil degradante. O tempo do trabalho infantil não volta, a pureza e a ingenuidade das crianças não pode se perder assim, impunemente. Criança tem que brincar, tem que estudar, tem que ter oportunidades para ser uma gente grande melhor que seus pais, cada vez mais preparada para ajudar a sociedade a ser melhor a cada dia.
A Carta de Brasília, que finalizou o encontro, diz apenas o óbvio, governo e sociedade precisam trabalhar juntos para erradicar o trabalho infantil e garantir a necessária proteção social para assegurar algum futuro para essa população. A educação é, de novo, apontada, como a melhor saída. O compromisso de 140 países de acabar com o trabalho infantil degradante até 2016 só vai acontecer, entretanto, se cada um de nós olharmos bem no fundo do olho pueril de uma criança e, ao mesmo tempo, para nossa própria consciência, e fizermos de cada momento uma oportunidade para fazer diferente.
Que o Dia das Crianças um dia seja comemorado pelo fato de que todos, absolutamente todos, tenham a condição de lembrar que já foram crianças felizes, alimentadas, saudáveis e bem educadas.
Ótimo texto Fabiana, e ótimos números colocados para provar que existem ainda soluções políticas e governamentais para o problema.
ResponderExcluirAgora se prepare, pois a turminha que só associa vagabundagem e fins eleitoreiros ao bolsa família vai rançar como sempre.
É muito triste sabermos que ainda existem muitas crianças nessas situações. Lamentável.
ResponderExcluirNão gostaria de despejar água no teu chope, mas o seu texto bem que podia dispensar a propaganda mentirosa do atual governo. O Bolsa Família é a perpetuação da miséria, 1 milhão de alunos foram “regularizados” no Pronatec (não entraram em curso profissionalizante, já estavam lá), construção massiva de creches e escolas infantis (onde?), o pré-sal é um engodo, uma mentira deslavada, o petróleo existe mas sua exploração é tecnicamente inviável (é tão real quanto os bilhões de Eike Batista). Valorização do professor? Quem sabe nas próximas gerações, quando surgir um partido honesto nesse país.
ResponderExcluirVoltando ao Pronatec, não posso deixar de fazer um paralelo com a geração de empregos propagandeada pelo governo federal. Quando a Dilma diz que no governo dela (e do pudim de cachaça) foram criados 10 milhões de empregos, na verdade a grande maioria desses foram “regularizados” (o SIMPLES é uma das ferramentas para isso), ou seja, os empregos já estavam lá, a diferença é que agora eles pagam impostos ao governo.
Faz o seguinte, troca teu emprego (se é que tens) pelo Bolsa Família e tenta viver com isso. Os pobres não tem nada haver com os descasos do governo. E tem mais... Os brasileiros recebem muito poucos benefícios. Se você estivesse na miséria, com seus filhos passando necessidades, e com portas fechadas para trabalhar, duvido que não aceitaria uma ajuda para não piorar a situação.
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