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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Menos Rachel, mais jornalismo

POR FABIANA A. VIEIRA


Não sei o que me deixou mais inquieta após ver o vídeo da Rachel Sheherazade que circulou como água (ou mais, literalmente) na internet sobre o rapaz acorrentado no Rio de Janeiro. Se foi o efeito cascata que isso gerou na rede, com comentários mais absurdos do que o da própria apresentadora, ou se foi o posicionamento do grupo SBT ao se isentar do fato, alegando que não irá responder pelo conteúdo, já que foi uma simples "opinião" da apresentadora. (Só esqueceu de reconhecer que a apresentadora é a âncora do principal telejornal da emissora.)

O comentário de Rachel foi infeliz, preconceituoso e oportunista. Infeliz porque Rachel posa de porta-voz de uma parcela da sociedade que defende fazer justiça com as próprias mãos e se diz cristã. Eu disse, uma parcela. Pois a outra parcela ficou indignada tanto quanto eu fiquei. Preconceituosa porque Rachel usa dois pesos e duas medidas, dependendo da situação (sua opinião sobre um delinquente branco e rico é diferente sobre um delinquente preto e pobre) como bem mostra seus comentários sobre Justin Bieber e o "marginalzinho" pobre do Rio de Janeiro, no vídeo logo abaixo. Oportunista porque pretende ganhar "ibope" com um assunto tão polêmico. Até aí tudo bem, emissoras de TV vivem do "ibope", mas há de separar "isso" de jornalismo. Jornalismo mesmo não emite opinião, só pra começar a conversa. Imagine você, se cada jornalista quiser dar sua opinião sobre uma matéria? Pois é, melhor nem imaginar.

Falando em jornalismo de verdade, eu aprovo a nota de repúdio emitida pelo Sindicato dos jornalistas profissionais do Rio de Janeiro e da Comissão de Ética da mesma entidade contra os comentários de Rachel. Nela os profissionais se manifestaram radicalmente contra tais declarações, as quais consideram violação não só dos direitos humanos, mas do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros e do Estatuto da Criança e do Adolescente, além de fazer apologia à violência.

Eis os pontos do Código de Ética citados pelo sindicato:


Art. 6º É dever do jornalista:

I – opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos;

XI – defender os direitos do cidadão, contribuindo para a promoção das garantias individuais e coletivas, em especial as das crianças, adolescentes, mulheres, idosos, negros e minorias;

XIV – combater a prática de perseguição ou discriminação por motivos sociais, econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física ou mental, ou de qualquer outra natureza.

Art. 7º O jornalista não pode:

V – usar o jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime;

No mesmo entendimento, o deputado federal Ivan Valente, do Partido Socialismo e Liberdade, divulgou que o PSol irá encaminhar ao Ministério Público uma representação contra o SBT e a jornalista Sheherazade por apologia à tortura e ao “justiçamento”.

Eu espero que esses exemplos sirvam para avaliarmos esse e outros conteúdos que aparecem disfarçados de jornalismo na TV, nas rádios e nas redes. É importante não confundir "liberdade de expressão" com "vontade de opressão". E para finalizar, reforço que não estou aqui defendendo bandido, estou apenas defendendo o jornalismo - e isso já tem sido uma tarefa difícil nos dias de hoje.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Um fiasco

POR FABIANA A. VIEIRA

Estou acompanhando pela imprensa e pelas manifestações de alguns amigos o andamento do concurso público realizado pela Câmara de Vereadores de Joinville no último domingo. E o que li até agora foi uma série de fiascos.

Primeiro, a informação de que o número de vagas destinadas para pessoas com deficiência física não preenche o estipulado em lei – fato que levou o Comde a pedir  o cancelamento da prova dias antes, mas o pedido foi indeferido. Não é de hoje que a Câmara parece estar um pouco alheia às pessoas com deficiência física. Esses dias mesmo os vereadores aprovaram o rebaixamento das calçadas, lembram? Teve até vereador que subiu na mureta de proteção do plenário, e quase saiu na pancadaria com o presidente do Conselho. Vale sempre lembrar que o rebaixamento das calçadas prejudica a locomoção de todos os pedestres, mas em especial os cadeirantes e as pessoas com deficiência física e/ou visual.

Ok, de certo modo eu até acho que a responsabilidade para delimitar o número de vagas aos deficientes num concurso não compete à Câmara, e sim ao Ibam, responsável pela realização da prova, mas alguém deve ter olhado esse contrato e conferido que o número não estava correto. Certo? Depois do pedido de cancelamento, teve uma decisão na Justiça determinando que ninguém fosse nomeado até que a ação movida fosse julgada. Ou seja, já começou estressante.

Segundo, pela denúncia de plágio a outro concurso realizado em 2009, pelo Cespe, aqui da UNB. Parece que o problema foi na prova para os cargos de jornalista e relações públicas. Mais de 20 questões foram retiradas de outra prova, quando o contrato exigia ineditismo. Agora o caso está sendo investigado pelo Ministério Público e comprometeu, inclusive, a divulgação do gabarito na segunda-feira.

Daí o pessoal começa a levantar suspeita sobre a forma de contratação com o Ibam, pois não houve licitação para a realização da prova. Pelo que li na imprensa, o presidente da Câmara não quis falar sobre o assunto. Mas deveria. Deveria dizer por que não houve licitação. Se isso é legal, que diga. Se houve erro, que assuma. Se não houve, esclareça.

Mas fiasco, fiasco mesmo foi o post que deixaram para a Simone Schramm no perfil do Facebook. Ali uma suposta apoiadora do PMDB pede publicamente para que a secretária da SDR interceda junto ao presidente da Câmara, João Carlos, uma vaga para sua filha, já que – como ela diz “o resultado do concurso tem cartas marcadas”. Ou seja, a corrupção é feia, mas se conseguir um carguinho, a gente finge que não vê.

Em tempo. Nos dias de hoje, onde há um apelo geral pela transparência, pelo combate à corrupção, pela moralidade na política, é preciso zelar por um fato como esse na maior cidade de Santa Catarina. A realização de um concurso público deve ser algo sério. Que não gere qualquer tipo de dúvida e totalmente transparente. Envolve o sentimento de milhares de pessoas (neste caso, sete mil candidatos) que se prepararam para a prova e que talvez tenham perdido uma bela manhã de domingo.

É lamentável, mas o fiasco foi grande!

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Imagina na Copa

POR FABIANA A. VIEIRA

Prometo que esse texto vai terminar melhor do que começou. Afinal, ele vai começar da pior forma possível, com um vídeo do Prates. Sim, o comentarista, aquele, que disse: “hoje qualquer miserável tem carro, por isso os inúmeros acidentes nas rodovias” - uma crítica sobre a popularização do carro pelo crédito fácil aos mais pobres. Mas o vídeo agora é outro.


Não consigo entender porque ainda fico indignada com seus comentários. Confesso que já senti muita frustração numa época. Em outro período já o ignorei e até já dei risada, mas o comentário acima ultrapassou todos os limites. Nele, Prates está inconformado com os encaminhamentos da Copa. Disse que a pior tragédia para o Brasil será  vencer a Copa e que já está com a camisa do Uruguai para sua torcida (sim, Uruguai, de Mujica  que viveu a luta armada e compartilhou os projetos da esquerda leninista. O Mujica que defende “dar o peixe”, para aqueles que foram saqueados durante anos). Nada contra o Mujica, pelo contrário, muito a favor. Mas você percebe a contradição?

Eu realmente não me importo se você gosta ou não de futebol. Se vai torcer para o Japão, para Camarões ou não vai torcer pra nada. Eu mesma, nem sou tão ligada, mas confesso que aprecio as rodadas sem muito fanatismo. Agora, ligar a Copa ao (in) sucesso do governo A ou B já é conspiração demais. E o pior, torcer para que o país perca não só a Copa, mas todas as chances de mostrar para o mundo que é capaz de organizar um evento dessa magnitude, chega a ser insano. Como se a derrota na Copa representasse a derrota do governo. Mesquinho isso.

Primeiro, a Copa
Ela nunca foi determinante para uma eleição. Fosse assim, Fernando Henrique não se reelegeria em 1998, quando o Brasil perdeu a Copa para a França. E em 2002 teria eleito seu sucessor com a vitória do Brasil na Copa, mas quem levou foi a oposição, com Lula - que por sua vez foi vaiado na abertura do Pan, em 2007.

Segundo, manifestações x governo
Já vimos que mesmo com todo o alarde em junho do ano passado e as intensas manifestações contra os investimentos da Copa no Brasil, o povo quer mudanças, mas querem que as mudanças sejam feitas por Dilma (é ela quem lidera todas as pesquisas de intenção de voto hoje, seis meses depois das manifestações). Com tudo o que houve no ano passado, não surgiu nenhum nome ou expressão que tenha alterado isso, para desespero da oposição. Então o projeto caos tem muita chance de não vingar, Prates. Pelo menos, até hoje. Torce contra, que é melhor.

Terceiro, os investimentos da Copa
Eu sei que o país tem muitas prioridades. E você, que não gosta de futebol, não é obrigado a amar a Copa, sabendo que teve muito dinheiro investido nisso. Mas é preciso saber separar as coisas. É preciso saber que o governo federal, não construiu nenhum estádio. Esta tarefa coube aos governos estaduais, clubes de futebol e até prefeituras. Que a Copa vai acabar e o patrimônio fica, para servir outros serviços também.


Bem na real
Como primeiro texto do ano, eu desejo mesmo que o Brasil vença. E se não vencer a Copa, que vença o preconceito (para aqueles que não suportam ver miseráveis comprando carros, ou pobre e ' preto' nos aeroportos e nas faculdades). Essa vitória até pode ser com ou sem a Dilma, mas que seja sem ódio. Que seja no debate, nas propostas e no olhar que faz a diferença. E não no fracasso do outro. Ou no fracasso de todos nós.

Feliz 2014, Brasil!

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Desculpa aí, Juan

POR FABIANA A. VIEIRA

 


Juan Melquiades Delgado, passaria despercebido esse ano, não fosse aquele fato vergonhoso em Fortaleza. Cubano, negro, foi hostilizado assim que chegou no Brasil por um grupo de "doutores" vestindo jaleco branco que o aguardava no aeroporto. Aliás, se é pra eleger o mico do ano, com certeza foi esse.
O discurso cheio de xenofobia causou "vergonha alheia" até naqueles que fazem oposição ao governo. Não se trata aqui de ser governista, ou não. De apoiar o programa Mais Médicos, ou não. O que eu estou falando é de respeito ao próximo e do discurso hipócrita de que não existe racismo no Brasil.Existe racismo, existe muita ignorância e existe ódio. 
Ele não falou nada. Ele não revidou. Eu nem sei se compartilho das suas ideias para escolhê-lo como personalidade do ano. Mas gostaria de homenageá-lo com um pedido de desculpas. Aliás, se eu encontrasse com o Juan mil vezes, eu pediria desculpa mil vezes.
E, pra quem não sabe, o Juan hoje está morando em Zé Doca, no interior do interior do Maranhão. Lá ele trata da saúde de uma comunidade indígena, que há tempos não via um médico. Valeu, Juan.



domingo, 10 de novembro de 2013

Vale tudo

POR FABIANA A. VIEIRA


Ao ler o título e ver esta imagem ao lado o leitor pode pensar que o texto fará menção as lutas de MMA tão em evidência nos dias de hoje. Não, não é bem sobre isso que pretendo escrever. Embora o conceito seja mesmo o de vale tudo em Joinville.

A foto bombou na minha timeline nesta semana. A imagem foi capturada pela fotografa Maiara Bersch, durante a sessão da Câmara de Vereadores de Joinville no dia 5 de novembro, e que quase acabou em vias de fato. Aliás, parabéns à fotógrafa que conseguiu registrar o clímax da desordem na Casa legislativa. Nada como estar no local certo, na hora certa.

Quem não estava no local certo era o vereador Maurício Peixer - este, que na foto está de pé, em cima do  muro de proteção (proteção?) do plenário da Câmara. Eu lamentei muito pelo ocorrido quando li as primeiras matérias sobre esta sessão. Primeiro pelo triste resultado das duas votações nas quais os vereadores aprovaram o rebaixamento total do meio fio em frente aos estabelecimentos comerciais de Joinville (projeto de autoria do vereador Roberto Bisoni). Mesmo com a declaração na imprensa (Calçadas não serão rebaixadas, A Notícia, 18 de julho de 2013) do vereador Peixer, que disse: "É inviável (a proposta) do ponto de vista técnico – diz Maurício Peixer (PSDB), presidente da Comissão de Legislação e Justiça da casa. Aliás, vale lembrar que a comissão deu parecer contrário à proposta. Só que na hora de votar, o vereador mudou de ideia.

Em segundo lugar pela atitude deplorável do parlamentar, que está num espaço de debate e não num octógono de MMA (mesmo sabendo que na ânsia eleitoreira, as regras da Casa as vezes são meio que um 'vale tudo' mesmo). Em terceiro lugar, pela proposta em si, que é inconstitucional.

Que o rebaixamento das calçadas fere o princípio da acessibilidade, qualquer pessoa sabe. Só por isso já mereceria um olhar mais humano dos nossos representantes. Além disso, essa proposta anda na contramão da mobilidade urbana. Grandes centros hoje estão atentos ao movimento inverso do desenvolvimento desenfreado, sobretudo no trânsito e estão priorizando mais a qualidade de vida das pessoas. Diga-se qualidade de vida, andar com segurança pelas calçadas. Com essa proposta aprovada na Câmara (e que não quero acreditar que seja sancionada pelo prefeito) não consigo imaginar um pedestre caminhando com segurança pelas calçadas de Joinville. O que hoje já é uma tarefa não muito fácil.


Agora, voltando para a imagem do vereador, é preciso repudiar, condenar, punir atitudes como essa num ambiente de debate. Joinville não merece esse tipo de vale tudo.



sábado, 12 de outubro de 2013

As fotos que você não viu no Dia das Crianças

POR FABIANA A. VIEIRA

Essa semana fomos brindados com imagens antigas nos perfis das redes sociais para comemorar o Dia das Crianças. Muita gente entrou no clima e procurou alguma pose de criança para fazer sua homenagem a uma das fases mais gostosas de nossas vidas. Eu também aderi e postei uma foto dos meus sete anos para relembrar minha primeira série escolar. 

Dando uma zapeada nas fotografias, foi possível constatar que a infância realmente é uma das fases mais doces de nossas vidas e, de fato, trazem boas lembranças. Mesmo para aqueles que não se interessaram por isso nas redes sociais, e outros tantos que torceram o nariz para essa prática, foi inevitável para todos, olhar para trás e ter nas suas memórias, as lembranças de uma infância feliz, onde a regra número um era aprender brincando. Mas isso, claro, aqui no mundo encantado das redes sociais, ou como já mencionou o Felipe em outro texto, "na bolha". 

Infelizmente isso não é realidade para muita gente. Mais precisamente para 3,5 milhões de crianças brasileiras que não tiveram esse direito garantido e, ao invés de bicicletas, cadernos ou bichinhos de estimação, convivem com outros instrumentos na fase que é para ser a mais doce da vida. Para estes, é depositada uma carga de responsabilidade incompatível com seu tamanho. Estou falando do trabalho infantil e os números atuais impressionam. 



Mesmo que tenha caído em um terço nos últimos 12 anos, hoje ainda são 168 milhões de crianças no mundo que tem uma parte de sua vida sequestrada pelas dificuldades da sobrevivência, pela cultura autoritária dos pais ou pela violência da exploração do homem pelo homem. Desse total, segundo a OIT, 85 milhões de crianças convivem com trabalhos perigosos ou degradantes. Falamos aqui em crianças que perdem dedos e olhos no cultivo do sisal ou da cana, que tem pés esmagados por cilindros ao socar o barro na fabricação de tijolos ou, o que é pior, tem a pureza roubada pela mercantilização sexual e pela degradação da prostituição infantil. 

A Conferência Global contra o Trabalho Infantil realizada em Brasília nesta semana reconheceu o exemplo brasileiro de promoção da renda mínima condicionada à frequência escolar e acompanhamento da saúde pública. São crianças que rompem o perverso ciclo da pobreza, da indigência e do abandono, fogem do trabalho forçado nos semáforos, e passam a frequentar com assiduidade e rendimento a escola. É uma criança que passa a ter esperança. 



Sempre se falou que a educação era a saída para a desigualdade. Mas muito pouco se fez. Agora, com o Bolsa Família, com mais de 1 milhão de estudantes no ensino profissionalizante do Pronatec, a construção massiva de creches e escolas infantis pelo país, a valorização do professor e o aumento dos recursos para a educação com o pré-sal, termos grandes oportunidades de reverter o atraso e pagar uma dívida social que precisa ser quitada. 

Grande parte do trabalho infantil está na zona rural, determinado pela compreensão de que as crianças têm que ajudar no sustento das famílias. Na zona urbana é a miséria que produz o trabalho infantil degradante. O tempo do trabalho infantil não volta, a pureza e a ingenuidade das crianças não pode se perder assim, impunemente. Criança tem que brincar, tem que estudar, tem que ter oportunidades para ser uma gente grande melhor que seus pais, cada vez mais preparada para ajudar a sociedade a ser melhor a cada dia. 



A Carta de Brasília, que finalizou o encontro, diz apenas o óbvio, governo e sociedade precisam trabalhar juntos para erradicar o trabalho infantil e garantir a necessária proteção social para assegurar algum futuro para essa população. A educação é, de novo, apontada, como a melhor saída. O compromisso de 140 países de acabar com o trabalho infantil degradante até 2016 só vai acontecer, entretanto, se cada um de nós olharmos bem no fundo do olho pueril de uma criança e, ao mesmo tempo, para nossa própria consciência, e fizermos de cada momento uma oportunidade para fazer diferente. 

Que o Dia das Crianças um dia seja comemorado pelo fato de que todos, absolutamente todos, tenham a condição de lembrar que já foram crianças felizes, alimentadas, saudáveis e bem educadas.

domingo, 29 de setembro de 2013

Os três porquinhos de Alana


POR FABIANA A. VIEIRA

Circula na internet um vídeo extremamente carismático de uma criança de Pinhalzinho (http://www.youtube.com/watch?v=eEZOrLmstYo) e que já ultrapassa 250 mil visualizações. Dotada de notável precocidade intelectual a menina Alana conta a história dos três porquinhos para sua mãe. 

É sempre saudável e contagiante a vivacidade das crianças inocentes. Uma sensação gostosa brota de comentários pueris, ingênuos, desprovidos de construções intelectuais próprias dos tempos modernos em que a versão importa mais do que o fato. Neste mundo encardido pelo mau humor da indiferença e pelo terror da violência urbana, um sentimento de alegria que brota do nada é quase como um desses vírus de cinema futurista que parece ameaçar o extermínio de toda a humanidade. 

A criança conta que os três porquinhos estavam construindo suas casinhas e eram amedrontados por um terrível lobo. O lobo pegou os porquinhos e os levou para sua casa. E quando a gente espera o lado trágico da história, Alana simplesmente diz que os porquinhos viraram nada. Um tempo depois, um suspiro e ela conclui: “viraram carne”. Para apimentar ela acrescenta: “que tristeza né?”. É claro que numa região dominada pela pecuária suína falar que o porquinho virou carne pode parecer uma rotina. Mas a conclusão, da forma como delicadamente é apresentada, emociona. 

Outro vídeo, chamado de “o anúncio tailandês que fez todo mundo chorar” (http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=kuBNEs-1vTc) também é pródigo de mensagens humanistas. Neste anúncio um pequeno comerciante socorre um menino que está sendo castigado por ter roubado medicamentos para a sua mãe doente. Trinta anos depois a história vai reconhecer esse gesto de compreensão. 

O sorriso espontâneo de Alana alimenta esperanças. E o tailandês generoso mostra que o futuro depende das ações do presente. É por isso, porque acredito que não podemos nos render aos pessimismos do século, que endosso outra campanha que acho genial: “Gentileza gera Gentileza”. 

Para quem não sabe a expressão é de José Datrino, o Profeta Gentileza, paulista que nos anos 80 fazia inscrições humanistas nos viadutos e que plantou um jardim no lugar das cinzas do Gran Circus Norte-Americano, que pegou fogo em Niterói em 1961 e matou 500 pessoas, quase todas crianças. Nesta oportunidade o Profeta abandonou sua vida material e passou a cuidar das famílias desamparadas.Marisa Monte gravou “Gentileza” para lembrar as inscrições do poeta que foram apagadas pela tinta cinza dos viadutos. 

Isso tudo recomenda que é preciso se emocionar. Obrigada Alana, pela inspiração para esse texto.


domingo, 15 de setembro de 2013

Compra de votos: a ponta do iceberg

POR FABIANA A. VIEIRA



Imagine que você mora em um residencial e seja candidato a síndico. Quer ter a representação de seus vizinhos para decidir e encaminhar o interesse de todos. São várias as motivações para alguém sair do conforto da vida privada e optar por se incomodar com a vida dos outros. Vaidade, orgulho, sede de empoderamento, prestígio social, carreirismo ou mesmo uma autêntica filantropia de fazer o bem, melhorar a sociedade e fazer a vida ter um sentido prazeroso pela gentileza que gera gentileza.

Você terá a autorização concedida por todos para de todos cobrar uma pequena quantia mensal e investir na manutenção e no conforto da sua moradia coletiva.

Mas na eleição você não tem o apoio da maioria. Então você faz os cálculos e decide comprar os apoios que lhe faltam. Ou seja, uma mísera quantia que corrompe o sistema eletivo fazendo com que o interesse do eleitor saia da cabeça e fique no bolso.  Neste caso, você - o candidato - deixa de ser uma liderança consentida e legítima e passa a ser uma caricatura. Uma mentira que ampara-se na sua própria ânsia pela representação e suas prerrogativas. Abandona o sentido todo de um sistema que, por delegação, deveria produzir decisões legítimas e reconhecidas.

O eleito pelo voto comprado é um representante sem-vergonha. Sem vergonha de admitir que não teve apoio honesto suficiente e que recorreu  a corrupção do sistema eleitoral para atingir seus objetivos. Corrupto e corrompido são elos de uma mesma corrente que produz uma adulteração terminal na representação fazendo que os representantes não tenham vínculo com os representados e esses não se sintam contemplados com as decisões soberanas dos falsos representantes.

Ora, esse história poderia ser utilizada para ilustrar o fundamento das recentes mobilizações contra a classe política, sua corrupção endógena, suas mordomias extravagantes, seu clientelismo e sua revelia ao sentimento popular, como sugere o vocalista Dinho, da Capital Inicial, ao cantar a música “Saquear Brasília” durante o Rock in Rio:  “Eles mentem e não sentem nada, Eles mentem na sua cara”.

A política vem perdendo irremediavelmente o vínculo com a vontade e o sentimento das pessoas. Isso é perigoso para a democracia e produz uma classe política “profissionalizada” com sede de continuísmo e disposta a qualquer negócio para alimentar seus próprios interesses.

Essa historinha também pode ser identificada em Joinville na recente denúncia de que um vereador, que surgiu do nada, teria comprado votos para se eleger com uma votação surpreendente. Um vereador novato que na primeira semana de mandato disse que seu projeto era ser prefeito.

Isso tudo ainda vai ser investigado e provavelmente não vai dar em nada. A corrupção tem uma habilidade fantástica de não produzir provas. Mas que acontece todo mundo sabe que acontece. É a tal da "carrada de barro", da cesta básica, dos envelopes com cinquentinha ou mesmo da compra de lideranças comunitárias transformados em cabos eleitorais. Na verdade é só a compra disfarçada, um verdadeiro suborno, de uma influência na comunidade.

O resultado disso tudo só pode ser a falência da política e decisões cada vez mais distantes do que a sociedade precisa.

É por isso que ou muda-se a política ou a política afunda e todos vão brigar com todos. Um condomínio que ninguém limpa o corredor ou paga a conta da luz da porta da entrada ou a energia do portão da garagem.  Um prédio que desmorona  e a maioria em casa, vidrados na televisão e reclamando de tudo.

O problema é que quem muda o marco legal da política são os políticos. E eles não querem mudar as regras que produziram seus prazeres. Esse círculo vicioso precisa ser quebrado pela vontade e mobilização popular, de forma  a resgatarmos a legitimidade das decisões coletivas e o primado do interesse comum.

A bobagem de um vereador comprando votos para se eleger  pode ser a ponta do iceberg de um sistema falido.  A sociedade consciente não suporta mais isso.

domingo, 1 de setembro de 2013

Comunicação nos tempos da cólera

POR FABIANA A. VIEIRA



Assisti um vídeo nesta semana que me chamou a atenção. Acho que ele nem é recente, mas só tive a oportunidade de ver agora. Trata-se de um depoimento do cantor e compositor Chico Buarque sobre o comportamento das pessoas nas redes sociais. No vídeo (que você pode assistir aqui), ele diz que sentiu um certo espanto ao ver tanta raiva nas redes. "O artista geralmente acha que é muito amado. Mas hoje ele abre a internet, e ele é odiado das piores formas possíveis. Existe muita raiva". E num momento de reflexão ele solta a máxima "Não ter raiva de quem tem raiva". Eu achei essa frase genial.

É sobre essa raiva (de quem tem raiva nas redes), que quero falar, pois não é lá muito fácil você, que trabalha com comunicação, lidar com isso. Eu mesma já fui motivada a escrever textos sentindo raiva de quem tem raiva. Na real, a gente acaba se equiparando no calor de tanta raiva e a tema principal pode acabar se perdendo. O pior é quando uma pessoa destila raiva protegida pelo anonimato que a rede proporciona. Daí o jeito é mesmo minimizar a janela da internet e maximizar um bom livro. Garanto que a leitura será muito mais saudável. E olha que não estou falando de debates. Debates nas redes sociais é a comunicação do presente/futuro. Um bom debate dá a oportunidade de você aprender, ensinar, mostrar convicções, contradições e até pode fazer você mudar de ideia, ou olhar a ideia de outra forma. O problema é quando o debate, ou a crítica, é raivosa demais. Daí não tem jeito. Você vai ser contaminado e o debate pode ir por água abaixo. 

Para quem trabalha em assessoria de imprensa, seja de que área for, a proposta é saber lidar com essa raiva e focar no profissionalismo. Pois você não vai abrir mão de comunicar algo na rede, com o receio de ser alvo dos internautas raivosos. Mesmo porque na rede há vida inteligente também, certo? Pra mim, que trabalho na área política, essa tarefa parece complexa, mas a gente acaba aprendendo um pouco a cada dia. Seja na relação que você ou seu assessorado tem com a sociedade, seja na relação que você leva com os opositores. Só pra começar, não é porque seu assessorado tem opositores, que você precisa ter raiva deles, ou vice-versa, ou ainda abraçar esse sentimento todo para você. Parece tão óbvio, mas tem muita gente que confunde isso. Já vivi situações que os tal opositores foram muito mais "parceiros" do que muita gente que estava ali do lado. Mas esse jogo de cintura aqui será conteúdo de outro texto - não trata especificamente dessa raiva virtual de hoje.

Para a raiva virtual de hoje, a dica é respirar fundo e rever seus conceitos. Se o seu texto está ficando muito raivoso, escreva de novo. Melhores seus argumentos. Tente deixá-lo mais ácido, talvez.  Eu mesma desconfio de textos raivosos demais e já estou num momento de seguir mesmo o conselho do Chico: dar risada é o melhor antídoto.

domingo, 7 de julho de 2013

Qual a grande obra?


POR FABIANA A. VIEIRA

As mobilizações de rua durante a Copa das Confederações, em grande parte, foram pautadas pelos gastos com a construção dos estádios. Tudo bem, o governo federal, principal alvo da turba, não construiu nenhum estádio. Esta tarefa coube a governos estaduais, clubes de futebol ou até prefeituras. No máximo o BNDES emprestou o dinheiro e vai receber de volta, com juros. Os manifestantes diziam 'não' aos estádios e 'sim' para a saúde e educação. Particularmente acho um maniqueísmo meio sofrível esse. Um governo tem que fazer tudo ao mesmo tempo. É pão, é circo, é educação, é saúde, é esgoto, é estrada, enfim... 
Acho até louvável essa nova concepção de Arena que oportuniza uma diversidade de eventos de massa. Em Brasília já teve tanta atividade no Mané Garrincha que já valeu a pena. Até Renato Russo já apareceu em holograma. A Copa acaba e os estádios continuam e devem ser bem utilizados.

Mas a situação me lembrou Joinville de 2004. Enquanto a pirotecnia oficial fazia a festa,  o candidato continuísta jorrava lágrimas porque não poderia participar da inauguração da nova Arena Joinville. Essa cidade sempre cultuou obras faraônicas, começando pela Ponte do Trabalhador e indo até a Expoville, Centreventos e Arena. O candidato da oposição tentou dizer, na época, que com o dinheiro da Arena daria para fazer tantos leitos hospitalares...foi dizimado. Mesmo elogiando o equipamento, demarcar uma possível reflexão foi dar um murro na ponta da faca.

No último governo municipal também os porta-vozes do mega, hiper, super vinham com aquela pergunta: "qual a grande obra?". Não importa se o saneamento básico é uma vergonha e está sendo, enfim, retomado, ou que os investimentos maciços em educação e saúde não apareçam, os arautos do grandíssimo querem algo sempre maior e mais bonito.

Hoje parece que as coisas mudaram. Agora é moda ir para a rua reivindicar saúde e educação, mesmo tendo plano de saúde ou estudar em colégio particular. Agora é moderno reivindicar redução da tarifa de ônibus, mesmo sem nunca botar o pé no 'buzão'. Aliás, o moderno é reivindicar por reivindicar. Tem até médico indo para a rua defender o seu curral profissional. Afinal é aviltante ir para o interior por R$ 10 mil.

Maravilhosos esses tempos em que as pessoas deixam de replicar mensagens dos seus notebooks, das quais elas não têm nenhuma ideia e vão para a rua replicar cartazes que procuram lavar a sua alma. Uma autonomia criativa que beira o anarquismo, levando em conta o lado genial dessa teoria libertária.  

Mas voltando ao nosso tema, será que Joinville agora vai desistir de grandes obras e se mobilizar coletivamente para garantir os alicerces de uma sociedade melhor de se viver? Será que agora, definitivamente, vamos enfrentar a saúde, não com hospitais, heliponto e medicina de última geração tecnológica, mas com ações preventivas, não curativas, com alimentação, com lazer e esportes? Será que vamos pensar a mobilidade urbana com responsabilidade estratégica, com planejamento de longo prazo, corredores e transporte coletivo ou vamos fazer pontes  e viadutos para agradar oportunistas? Vamos manter a prioridade no saneamento, nas moradias populares, na educação de qualidade ou vamos de novo partir para projetos empolgantes, geniais, caros, que jogam uma fatura comprometedora do futuro, como está agora acontecendo com a Prefeitura?

 As mobilizações sociais sempre foram criminalizadas em nosso país e repudiadas com veemência. Hoje, com o panfleto digital on-line das redes sociais, as pessoas podem se mobilizar mais rapidamente e por diversos interesses. A televisão passa ao vivo e fica insistindo 'ad nauseum'  que a manifestação é até pacífica, e que a violência é de uma minoria de vândalos. Como se algum dia a conquista de algum direito social tenha sido fácil. 
Mas os tempos são outros e torço para que coxinhas, MPL, vermelhos, verdes ou amarelos, socialistas, democratas, anarquistas ou liberais mostrem a sua cara e a política seja exatamente aquilo que o povo quer e não uma usura criminosa de uma classe que privatiza o interesse público.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

PEC 37. Não há o que comemorar.

POR FABIANA A. VIEIRA

 Depois daquela cena toda que vi na noite de terça-feira no plenário da Câmara dos Deputados, tive uma certeza. O povo gosta mesmo é do espetáculo.

Sim, por mais que todas essas manifestações tragam um quê de indignação, fica claro que o povo estava só esperando uma amostra da competência dos nossos representantes. E eles responderam bravamente.

Mas a verdade é que essa pauta não será a salvação para o fim da corrupção. Aliás, o arquivamento da PEC 37 não vai fazer nem cócegas nesse assunto.

A sensação é que foi uma vitória acachapante contra a corrupção, mas a realidade é que tudo ficou como já estava. Ou seja, o poder de investigação criminal não é exclusivo da Polícia Federal, nem do Ministério Público. Aliás, o Ministério Público nunca teve essa prerrogativa. Para ter essa legitimidade terão que regulamentar isso ainda, através de um projeto de Lei Complementar (parece que já está tramitando no Congresso).

O Congresso, que de bobo não tem nada, precisava dar uma demonstração de que entendeu o recado das ruas e pegou uma das principais reivindicações para mostrar que está alinhado com o povo. E por que escolheram bem a PEC 37? Porque a PEC 37 poderia ser arquivada sem danos para ninguém.

Não mudou absolutamente nada, nem mudaria se fosse aprovada, pois certamente o MP não deixaria de investigar, como hoje já faz sem nenhuma determinação constituinte para isso. A Constituição assegura ao MP a possibilidade e o dever de acompanhar a investigação da polícia. Na prática as coisas são assim: a polícia investiga. o MP acusa, o advogado defende e o juíz ou juri julga.

Eu fico me perguntando porque o povo abraçou com tanta força essa causa. Na verdade tudo não passava de uma disputa entre delegados da Polícia Federal e promotores do Ministério Público. Daí veio um lobby gigantesco intitulado PEC da Impunidade. Aliás, quem foi o marketeiro gênio que pensou nisso? E mais ainda, quanto será que custou essa campanha da PEC da Impunidade? Camisetas, panfletos, parafernalhas. Quem pagou? Quem poderia investigar isso?

Mais do mesmo, fico com a sensação de que o povo finge que exerceu sua cidadania, o Congresso finge que trabalhou alinhado com a opinião pública, a imprensa finge que fez seu papel esclarecedor e o gigante finge que acordou!

sábado, 15 de junho de 2013

Uma imagem que vale ouro

                                                                               POR FABIANA A. VIEIRA


Se há uma coisa que eu reconheço no governo Udo é a preocupação com a imagem. Não sei se parte de uma cabeça, ou de um coletivo, mas o mote da imagem está bem trabalhado. Senão vejamos o episódio do anúncio da redução da tarifa de ônibus, realizada na última semana, logo após pipocar comentários maldosos sobre participação do prefeito Udo Dohler na operação Fariseu, que investiga o envolvimento do Hospital Dona Helena, de Joinville, na compra de ouro para camuflar recursos e não perder o certificado filantrópico, que garante isenção tributária até para importar equipamentos. Mesmo com resposta da assessoria isentando Udo de qualquer participação ilícita, o estrago estava feito.

Quem trabalha com marketing sabe que, num momento de crise, o segredo é tomar decisões rápidas. E a resposta veio em um anúncio reduzindo a tarifa de ônibus de Joinville - numa semana recheada de manifestações polêmicas, lideradas pelo Movimento Passe Livre (MPL) em grandes centros do Brasil com destaque para São Paulo.

A decisão foi acertada. Ninguém mais fala do ouro. Udo já trabalhou bem com isso em outras ocasiões. Na campanha ainda, a decisão de doar o salário de prefeito para entidades assistenciais, nos últimos dias de campanha, é dada para alguns estudiosos como a grande virada nas urnas. Outro momento decisivo para a imagem de Udo foi revogar o anúncio deixado por Carlito Merss, também sobre a redução da tarifa. Começou o governo no lucro midiático.

Mas voltando sobre a decisão de baixar a tarifa de ônibus na última semana, cabe salientar que a medida é resultado da decisão anunciada há  um mês pelo governo federal, que isentou as empresas de transporte coletivo do PIS e Cofins. Esta ação foi tomada, inclusive, por outras prefeituras do Brasil Em São Paulo, por exemplo, já foram seis cidades que anunciaram a redução da tarifa do ônibus após medida do governo federal. Portanto houve também um benefício para as empresas.

Na visão do Movimento Passe Livre (MPL) de Joinville essa redução de impostos atendeu as necessidades diretas dos empresários do setor - não foi uma política pública para atender a população joinvilense que usa o transporte coletivo. Outra alegação do MPL é que ainda falta discutir em Joinville a questão da licitação que pode garantir mais concessões e acabar com o monopólio do ônibus na cidade. Saindo um pouco da opinião do MPL, vale destacar a opinião de enquete realizada pelo jornal A Notícia, onde os entrevistados lembram que não adianta baixar a tarifa agora e aumentar em dezembro, como já sinalizou o prefeito.

Mesmo com essas contradições após o anúncio de Udo, eu acho que sua imagem foi preservada, ou pelo menos restaurada. Pois quem utiliza o ônibus todos os dias sabe que uma redução de 10 centavos, faz diferença no bolso no final do mês. Mesmo que sejam seis meses apenas. Acho que esse joinvilense aprovou sim o anúncio de Udo. Agora ele já pode pensar em novas estratégias para dezembro, quando as empresas irão pressionar por um novo aumento.

domingo, 2 de junho de 2013

Cremar e rezar, Joinville precisa avançar

POR FABIANA A. VIEIRA

A controvérsia da instalação do crematório em Joinville mistura alguns preconceitos e a falta de um debate desarmado sobre o planejamento da nossa cidade.

De uma parte, temos aqueles que não querem a cremação. Por fundamento religioso ou pura ignorância descartam a incineração como alternativa para o destino final de um corpo inerte. Preferem a ritualística secular de enterrar o corpo, mesmo que depois do lacre da urna não mantenham mais nenhum contato com o dito cujo.  Mas é obrigatório e sensível reconhecer, que o velório e o sepultamento são práticas das mais reveladoras do sentimento verdadeiramente humano. Dignificar a morte é homenagear a vida, diriam os filósofos. O pacto entre gerações se completa com uma morte acolhida com dignidade.

Temos também aqueles que desconfiam da fuligem e dos gases tóxicos da queima e se opõem, com convicção, a permitir que sua família e a vizinhança sejam disseminadas por uma fumaça de teor imprevisível e não sabida.

E temos aquela situação em que o crematório não é possível no meio da classe média, mas se enquadra confortavelmente na periferia como um bom investimento.  É o planejamento urbano induzido pelo poder econômico da propriedade.  Ou melhor, o poder da elite expulsa do seu círculo doméstico qualquer empreendimento que seja potencialmente perturbador.

Os nossos cemitérios, entretanto, não tem mais capacidade de expansão. Um corpo em decomposição tem consequências ambientais nefastas para o nosso subsolo, especialmente para o lençol freático que, requer cuidados redobrados hoje em dia. Os gases tóxicos da decomposição também são bastante prejudiciais.

Na Europa fazem centrais de queima de resíduos sólidos, lixo mesmo, em pleno centro das cidades. São verdadeiros shoppings totalmente limpos, automatizados, que geram energia, descartam o volumoso detrito doméstico e não prejudicam o ambiente. Aqui, pela insegurança na fiscalização, pela inexperiência desta prática e pela mobilização apontada, qualquer equipamento social é banido imediatamente do círculo excludente do centro, área reservada por excelência a moradia nobre e negócios.

Mas modernas tecnologias de filtros já garantem a sanidade da queima e, com crematórios devidamente instalados em áreas estratégicas, podemos garantir todos os recursos logísticos necessários para a realização de uma cerimônia que preserve completamente a dignidade, a segurança e a paz ao ato de despedida das famílias.

Muitas cidades já dispõem do recurso da cremação. Transformar o corpo em cinzas já é uma prática recorrente em todo o mundo. Cidades grandes, médias e até pequenas, como nossas vizinhas , Jaraguá do Sul e Balneário Camboriú, já dispõem desse serviço. Nos Estados Unidos a cremação começou em 1876. O primeiro crematório do Brasil, na Vila Alpina em São Paulo, inaugurado em 1973, hoje realiza 750 eventos por mês. A cremação já era considerada, um século antes da era cristã, como uma prática corriqueira, higiênica e julgada prática por muitas comunidades. Em vários países do hemisfério norte a cremação já é majoritária.

Entendo que Joinville deveria enfrentar essa agenda da modernidade sem medos e se mobilizar para viabilizar um crematório. Bom seria mesmo se tivéssemos crematórios públicos, gratuitos, acessíveis irrestritamente a todos. A falência dos cofres públicos abriu mais esta opção para o investimento privado ganhar mais dinheiro.

É claro que devemos nos assegurar de todas as garantias técnicas dessa ferramenta, mas também é uma obrigação que essa questão combine com o planejamento para o futuro da nossa cidade. Em pouco tempo, talvez menos do que trinta anos, iremos atingir cerca de um milhão de habitantes. Morrer não pode se transformar em um problema.

É preciso pensar com cautela e decidir com segurança sobre uma questão tão importante.

domingo, 19 de maio de 2013

Copa de ilusões, será?

POR FABIANA A. VIEIRA

Qual o fascínio de uma bola de couro sendo chutada prá cá e para lá? Talvez a expectativa de um gol como instante mágico do delírio coletivo ou uma jogada plasticamente exultante. Ou talvez seja o sentimento de pertencimento a um agrupamento, tão abandonado modernamente, de uma torcida gritando ao mesmo tempo o nome do mesmo time.  Ou talvez seja a nossa vontade atávica de chutar tudo e todos,  dando vazão aos nossos instintos mais do que primitivos.

Pode parecer meio ridículo um grupo inteiro levantar os braços, agitar e ficar gritando "olê, olê, olá...o nosso time vai ganhar", mas o sentimento de felicidade que brota de um grito de gol ou de um xingamento para a mãe do juiz é de uma catarse parecida com um orgasmo social. O futebol é como se fosse uma novela, aprisionando a expectativa do torcedor que espera 90 minutos pelo capítulo final do vencer ou perder.

Não sou da tese do pão e circo, mas o povo verdadeiramente precisa e merece esses momentos. Talvez seja a manifestação social mais residual nestes tempos de indiferença, isolamento e de competitividade autofágica. O jogo de futebol aproxima pessoas, igual níveis sociais, extravasa angústias, faz a gente se sentir gente exclusivamente porque esquecemos a racionalidade e somos pura emoção. Talvez só o culto da igreja consiga competir com essa autêntica manifestação humana.

E vem aí a Copa das Confederações e depois a Copa do Mundo. Festa. Foguetório. Discursos politiqueiros. Estádios extravagantes, bilionários até,  diante de cidades engarrafadas, cheias de buracos e com crianças brincando no esgoto.  Em Brasília, já aparecem os que dizem: “daria para construir quatro hospitais, seis escolas e asfaltar toda a cidade com esse dinheiro”.  Fala inútil, extemporânea, afinal a roda já girou e a Copa é compromisso.

Enquanto cartolas faturam alto no mercado da bola e as reformas patrocinam boas gorjetas de empresários, os jogadores valorizam seus miliardários salários e os governos, todos, faturam proselitismo e demagogia com seus eleitores ao darem chance para o extravasamento da mania nacional.

Mas tudo bem. Entendo que a sinergia dos mega eventos esportivos é uma boa chance. Estádios novos, aeroportos remodelados, modernização da rede hoteleira, da tecnologia de informação e da telefonia, maquiagem nas cidades sede, melhora do tráfego entre os eventos, um mês de ostensividade na segurança pública, capacitação de toneladas de voluntários e de todos os trabalhadores envolvidos no circuito que afinal de contas, receberá norte-americanos, chineses, angolanos, japoneses ou torcedores da Eslovênia. Sem falar nos milhares de jovens que irão embarcar no sonho de ser Messi ou Neymar.

O Brasil vai ser uma vitrine mundial e o ingresso de divisas será fantástico. Esse dinheiro vai parar em algum lugar, preferencialmente no bolso de quem já tem bastante para especular com a oportunidade. Será um pouco difícil a presença do tradicional pipoqueiro na frente da bilheteria. O churrasquinho de gato será mantido pela Força Nacional a quilômetros de um torcedor que vai pagar em dólares para ver a bola rolar neste campeonato planetário. Mas a franja da economia informal é resistente e alguma faixinha de campeão de 5 reais a gente vai encontrar.

Depois de um mês de apoteose futebolística e se o nosso time vencer a cartolagem, a teimosia do técnico e for campeão, se for um time mesmo e mostrar em campo a garra e a determinação que o povo brasileiro tem para sobreviver, aí sim o efeito psicológico da catarse vai sobreviver por um longo tempo, até gerações, e contaminar cada passo do país. Seremos hexa!

O que não podemos permitir é a manipulação do sentimento futebolístico pela esperteza e oportunismo, especialmente político. A temporada do “Prá Frente Brasil” passou e me dói na lembrança a Copa do Mundo na Argentina em plena ditadura. O governo dando circo e torturando patriotas pelas costas.

O Brasil ama futebol e se entrega com paixão ao esporte.  Mesmo que seja apenas mais um campeonato, vamos respeitar os sentimentos de quem torce, de quem sofre, de quem encontra no gol e na vibração de todos juntos um motivo afirmativo para dizer que vale a pena. Mesmo que o momento seja breve, mesmo que termine bem antes do que gostaríamos, vamos buscar a alegria e o encantamento solidário que nos faz falta.

A Copa vai passar e os 12 estádios vão ficar. Esse é outro problema. Esses equipamentos precisam ser apropriados socialmente. Não adianta ter um Centreventos se o povo não estiver lá dentro assistindo cultura ou esporte.

Em Brasília, a primeira partida do Campeonato Brasileiro no novo Estádio Nacional Mané Garrincha de R$ 1,7 bi, Flamengo e Santos, terá um ingresso custando a bagatela de 160 reais, no anel superior. Na vip, com estacionamento e buffet, é 400 reais. Na Copa das Confederações, os ingressos vão de 224 a 684 reais e já venderam 76%. Em 2014, a estreia do Brasil no Itaquerão em São Paulo vai custar 5.145 reais e um pacote vip para final chega a 9 mil. Dos 5 milhões de ingressos da Copa do Mundo, teremos, para consolo, 300 mil ingressos populares. 

Para o povão, que não tem um salário mínimo para comprar um ingresso de cadeira e assistir 90 minutos de futebol no estádio, sobra a telinha, o churrasco na laje e as ruas. Aliás, espero que o povo tome de assalto as avenidas, praças e parques e liberte a autoestima, o orgulho e a dê asas a mobilização nacional.

A última partida vai terminar. E como sempre acontece no jogo,  ganhamos ou perdemos.

Mas a vida segue. Quem bom que teremos as Olimpíadas em 2016.

domingo, 5 de maio de 2013

Entre balas e armaduras


POR FABIANA A. VIEIRA

Em novembro meu filhinho fez quatro anos. Rapaz esperto, inteligente, companheiro de todas as horas. Até já me ajuda a lavar a louça. Cuida da irmã menorzinha, de dois, com aquele carinho especial de quem ama, toques suaves, carinhosos. Esse pequeno homem tem uma grandeza humana que lhe reserva um futuro especial.

Para demonstrar todo meu orgulho e amor lhe dei um presente especial. Fui no setor infantil da loja de armas e comprei um rifle Crickett, modelo LR , tiro único de calibre 22, aquela bala pequenina que entra no corpo atingido, faz um buraquinho e depois circula em zigue-zague, destruindo órgãos, produzindo uma hemorragia  interna  incurável. Aqui em casa, você deve saber, há muita caça e as crianças precisam estar preparadas,desde cedo, para utilizar armas.

É por isso que a indústria já vendeu 60 mil desses modelos infantis somente em 2008. Leves, coloridos, considerados armas de brinquedo ou o ¨primeiro rifle¨, como afirma na publicidade o fabricante de armas esportivas Keystone. Até modelo rosa já tem.  Até pensei em dar um para a minha filhinha também.

Seis meses depois do presente....Boom! Uma distração, fui me livrar da gordura da cozinha e pipocou um tiro . Meu filho pegou a arminha e disparou um tiro acidental ou de brincadeira ou de fúria, nem sei, no coraçãozinho da minha filha. Acabou-se a vida da minha pequena, a minha e o futuro do meu filho, traumatizado eternamente pela perda tragicamente brutal da maninha querida.

Isso poderia ser uma história inventada. Mas não é. Aconteceu no Estado americano do Kentucki, no condado de Cumberland e a menina foi Caroline Starks, sobrenome igual ao da fábrica pós-moderna de armamentos bélicos do maior sucesso do cinema no momento, O Homem de Ferro 3.

Particularmente acho uma insensatez armas de fogo. A bancada da bala procura me convencer de que é uma prerrogativa de segurança privada, um direito básico do homem. Bobagem. Um artifício de pólvora aprisionado numa cápsula que, num pequeno toque, dispara uma bola de chumbo com potencial de matar instantaneamente não pode ser uma boa coisa.

Parto daquele princípio civilizatório elementar de que a vida humana é inalienável. Não tenho o direito de matar ninguém. Matar alguém é admitir que me matem. Portar uma arma é ter uma disposição preventiva para o contrário da vida. É admitir peremptoriamente que eu vou matar alguém. É planejar, treinar e adquirir um instrumento de morte. Ou tenho uma arma para não usar? É um enfeite para arrotar medo? Ter uma arma é confessar simplesmente que quer ser um causador de mortes.

Acho insana essa cultura de alimentar crianças com esse instinto assassino. Beira a loucura descobrir que as fábricas fazem rifles azuis, rosas, laranjas, com figurinhas coloridas para as crianças trocarem o bilhetinho da Calói por um ¨não esquece do meu rifle 22¨. O que adianta, depois do estampido, o ¨não sabia que estava carregada¨.....

O pior é quando vejo os pais da Caroline se resignarem: foi uma fatalidade, afirmam - "Deus quis assim". Naquela região norteamericana a caça é farta e, dizem, todos tem arma. Inclusive as crianças. Essa questão cultural (que precisamos em parte muito pequena respeitar), está presente na mentalidade americana. Não é a toa que os jovens compram armas militares pela internet e saem pelo colégio matando coleguinhas e professores. Loucos abandonados por bonitas namoradas descarregam tambores de balas nos novos namorados, nas ex e em si mesmo. Até chefe é perseguido por desempregado inconformado. Dizem que a matança é cultural. Mas qual cultura? A do extermínio?

Aqui no Brasil não é diferente. Os bilionários interesses da indústria bélica inviabilizaram uma política completa de desarmamento. No plebiscito de 2005 venceu o direito da venda de armas. A falta de controle de fronteiras e do comércio legal de armamento abastece a marginalidade e estimula os argumentos da autodefesa, isso tudo diante de uma polícia a paisana. A insegurança cotidiana estimula a cegueira coletiva e o pensamento fascista de que matar é um direito de proteção. Segue o ciclo vicioso violencia, armas e morte.

Realmente fico preocupada quando vou ao cinema ver o lançamento aguardado de um filme como ¨Somos tão jovens¨, obra que resgata parte da história da lendária banda Aborto Elétrico, antecedendo a Legião Urbana, banda que veio do punk londrino e produziu memoráveis clássicos do rock nacional, e sou surpreendida por uma fila gigantesca na bilheteria. A fila era para ver os armamentos da poderosa indústria Stark e a sua armadura biônica de guerra. Do jeito que a coisa vai, um dia retornaremos a idade medieval e todos, para deleite da indústria, usarão uma armadura do tipo Stark.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Carlito deixou saudades


POR FABIANA A. VIEIRA
Tenho lido em alguns posts na internet que o povo já anda com saudades do Carlito. Muitas dessas publicações vem de simpatizantes do PT, ou mesmo de pessoas que colaboraram de alguma forma no governo ou base aliada, claro, mas quero me referir a outro público, aquele da crítica pela crítica. Para esse público, não importa o que o Carlito fez, tentou fazer, ou não tenha feito: a crítica é quase perseguidora e intransigente.

Acabou que para esses, a culpa é sempre do Carlito. Essa frase já virou até chavão: a culpa é do Carlito. Ora, quando ocupava a cadeira da prefeitura não foram poucas as críticas sobre sua postura, ou a falta de, sobre os problemas da cidade. Até aí acho justo. Talvez o Carlito não tenha utilizado um "antítodo" a tempo, e a moda pegou (leia-se antítodo como comunicação ou mesmo firmeza nas decisões). Não quero falar sobre os erros e acertos do Carlito no governo. Eu, que trabalhei lá, sei que os erros não foram poucos. Acho que olhando pra trás, o Carlito também sabe. Mas sei que houve acertos, e muitos.

O que quero dizer é sobre essa crítica doentia que não cessa. Esses dias estava lendo sobre um manifesto contra o Feliciano e um infeliz fez uma referência que culpava o Carlito e quem tinha trabalhado com ele. Outro dia lia uma publicação sobre a alta do preço do tomate e outra pessoa citou o Carlito, em Joinville. 

Eu acho que essas pessoas estão mesmo é com saudade do Carlito. Saudade porque o Carlito não reage. Daí é fácil bater. É como uma válvula de escape. Você sabe que não terá retorno, daí então pode extravasar todas suas frustrações em uma figura quase caricata. 

Se o Carlito souber utilizar bem essa crítica toda, pode até salvar o que resta da sua imagem. Afinal a crítica nada mais é do que "apreciação minuciosa", segundo o dicionário. Mas falando mesmo em crítica, finalizo com o pensamento de um escritor americano que serve para reflexão não só do Carlito, mas para todo o povo da comunicação política. "O mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio a ser salvos pela crítica". 

quarta-feira, 27 de março de 2013

Tirando o pé do acelerador

POR FABIANA A. VIEIRA
Depois de uma semana instalada em Brasília já aprendi a primeira lição: atenção ao limite de velocidade. A cidade está repleta de pardais e em alguns trechos a velocidade permitida é 40 km/h. Ainda não presenciei nenhum acidente, mas já ouvi falar de coisas bárbaras originadas pelo excesso de velocidade aqui. Coincidentemente hoje saiu uma reportagem de Joinville dizendo que o número de multas por excesso de velocidade cresceu 15,18% de 2011 para 2012, segundo dados do Ittran, originando 63.178 multas aos apressadinhos.

Não sei até onde a aplicação de multas educa a sociedade para a conscientização da paz no trânsito. Na real, não educa. Em Brasília, por exemplo, são mais de 800 equipamentos de fiscalização eletrônica instalados, o que dá uma média de um para cada 1.698 carros. O número de pardais é maior do que o estado de São Paulo, que possui uma frota cinco vezes maior. Em Joinville são 40, com expectativa de aumentar para 100.

Mas já que a indústria existe, façamos a limonada. Como prevê o artigo 320 do Código de Trânsito Brasileiro, parte do dinheiro arrecadado deve ir para programas de educação (o código obriga que a verba deve ser aplicada exclusivamente em sinalização, engenharia de tráfego, policiamento, fiscalização e educação no trânsito). Em Joinville essas campanhas estão geralmente voltadas às crianças, como o programa Aluno-guia, por exemplo. Na minha opinião o Aluno-guia é um belo programa, mas há de se planejar novas campanhas educativas focando principalmente no público alvo, que são os motoristas. Taí uma boa tarefa para o pessoal da comunicação pensar, porque fala sério, fazer campanha para criancinhas é muito bonito, mas pouco eficiente para a solução do problema.

Talvez uma ideia seja ampliar o programa para adolescentes que estão prestes a fazer a carteira de habilitação e que veem na velocidade e no automóvel a identificação de poder, habilidade e status. A campanha deve envolver mais esses jovens, seja em debates, palestras, filmes, outdoors, propagandas na TV, peças de teatro e o que a criatividade permitir. Mesmo dentro da escola seria legal um bom bate-papo com os alunos para desmistificar a cultura do Carro x Poder na nossa sociedade. Outra alternativa é pensar mecanismos de comunicação para interagir efetivamente com os adultos. Conforme o diretor de trânsito de Joinville, a educação de adultos é mais complexa, difícil de mudar o comportamento. Ou seja, a tarefa não é mesmo fácil.

Pesquisando pela internet dá pra conferir belas campanhas educativas que ajudam a refletir sobre a paz no trânsito. Essa abaixo é do Rio Grande do Sul e foi veiculada no ano passado. Eu não sei qual o percentual do montante é destinado para essas campanhas, mas eu sei que elas são importantes e devem ser melhor aplicadas para sensibilizar os motoristas a tirar o pé do acelerador.





quarta-feira, 13 de março de 2013

Joinville, volto já

POR FABIANA A. VIEIRA


Parece que foi ontem, mas já faz tanto tempo. Mais precisamente 28 anos. Cheguei em Joinville em 1985. Tanta coisa mudou, tanta coisa é como era.

Nesse aniversário de Joinville, dediquei bastante tempo para uma reflexão sobre a cidade, de quando cheguei até agora. Muita coisa progrediu, a cidade cresceu, se desenvolveu. Teve filhos lindos, destaques mundiais, trabalhadores anônimos. De tudo um pouco.

Por isso Joinville é apaixonante. Quem chega aqui e acompanha sua história, seu perfil, participa da sua construção, acaba adotando a cidade como sua. E ela acolhe bem. É uma cidade de muitas oportunidades.

Esse aniversário de Joinville foi especial para mim. Talvez porque eu esteja partindo. Daí dá uma nostalgia. Lembrei de uma cidade repleta de casinhas de madeira estilo colonial, pois quando cheguei aqui, era assim. Nas minhas lembranças, está a casinha dos meus avós, no bairro Floresta. As ruas principais eram de paralelepípedos. As pessoas andavam muito de bicicleta, numa cidade em que todos se conheciam. Nesses 28 anos a cidade cresceu e eu cresci junto. Vi ela ficar moderna, ganhar universidades, indústrias, shoppings, avenidas, adotar novos filhos de outros lugares. Joinville se desenvolveu, mas essa característica continua forte. Mesmo com seus mais de 500 mil habitantes, a cidade mantém um elo, onde fácil, fácil você sabe identificar quem é quem aqui. Não só pelo sotaque, mas pelas histórias, pelas amizades, pelas famílias. Pelas opiniões.

Vou sentir saudade disso, sobretudo porque estou partindo para uma cidade com características bem diferentes. Brasília me parece uma cidade bem encantadora, mas sem esse DNA. Aparentemente não há esse elo. Esse reconhecimento entre seus pares. Pelo menos, não comigo, claro. Uma cidade que foi construída com um propósito diferente de qualquer outra cidade.

De qualquer forma vou conhecer outro lugar, novos espaços, outras rotinas. Quero relatar tudo aqui. Quero falar com os joinvilenses que estão por lá também, e são muitos. Acho que esse comparativo, essas histórias, podem ser bem interessante para você, que me lê aqui. Vamos trocar experiências entre essa cidade que amamos tanto e uma cidade que será novidade para mim e para muitos que me acompanham no Chuva. Brasília, aí vou eu. Joinville, volto já.