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terça-feira, 6 de maio de 2014

40 meses sem licitação

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Está mais do que avisado para a grande maioria de que o transporte coletivo de Joinville opera através de uma permissão, concedida às empresas Gidion e Transtusa por vários governos municipais desde a década de 1970. Também sabe-se que o último grande contrato venceu em Janeiro deste ano, e a licitação não saiu. Talvez o que a grande maioria não sabe, e necessita saber, é que a Prefeitura teve a oportunidade de licitar o sistema de transporte coletivo nos últimos 40 meses e não o fez por sua própria incompetência, através dos órgãos gestores do assunto, como o Seinfra do IPPUJ.

Se voltarmos ao mês de Janeiro de 2011, na primeira audiência publica realizada para discutir a licitação do transporte coletivo, os movimentos sociais organizados (como o MPL) e outras vozes sociais (inclusive este que vos escreve) alertaram sobre as várias situações estranhas presentes naquele momento, como a falta de debate com a população, o desrespeito ao Plano Diretor e a não confecção de um Plano Setorial de Mobilidade para discussão sobre a mobilidade que a cidade precisa, para depois ser feita a licitação. Na oportunidade, faltavam 36 meses para o fim do contrato.

O assunto morreu por ali, mais uma audiência foi realizassem Fevereiro de 2011, e pouca coisa mudou naquele ano. O blog Chuva Ácida publicou desde a sua fundação vários textos sobre o assunto, inclusive de convidados, pedindo uma agilidade e transparência no processo, pois, afinal, o fim do contrato se aproximara. Entretanto, "os de sempre" foram ignorados e o Prefeito anterior não conseguiu cumprir a sua principal promessa de campanha (fruto de uma militância histórica de alas do seu partido), e de brinde reconheceu uma divida muito estranha com as permissionárias.

O atual Prefeito tinha, no ato de sua posse, poucos meses para fazer a licitação. Por mais que as "Jornadas de Junho" fossem muito brandas pelos lados de Joinville, as ruas pediam novamente mais agilidade e transparência, numa repetição dos anos anteriores. Novamente nada aconteceu, e o contrato venceu em Janeiro deste ano, 36 meses após aquela reunião com a população onde foram feitos os apontamentos necessários para a execução de todo o processo. Se neste tempo todo o governo não conseguiu fazer a licitação, estava óbvio que não conseguiria em míseros seis meses. E não deu outra: em 2014 Joinville não terá o seu transporte coletivo licitado.

O que mais me deixa desapontado é o tempo perdido. Muito tempo se passou e a sensação é de que nada mudou. O transporte coletivo continua sendo ruim, os governos insistem com megaprojetos de pontes, duplicações e mais investimentos em prol do transporte coletivo motorizado, e a população fica à mercê da incompetência de órgãos públicos repletos de profissionais que não cumprem com seus ofícios.

A desculpa oficial dada pela Prefeitura para que em 2014 nada avance, acreditem, é a realização de um Plano de Mobilidade antes da licitação. E anunciaram como se a roda fosse inventada pelos pensadores urbanos da Av. Hermann Lepper. "Os de sempre" já disseram estas coisas há 40 meses.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Manual do bom manifestante

POR JORDI CASTAN



Nestes dias Joinville tem vivido a manifestação do pessoal do MPL. Os moradores do Itinga também se manifestaram contra a falta de água, interrompendo a circulação de veículos na SC 301. Moradores de diversos bairros têm se manifestado contra o estado lamentável de ruas e logradouros públicos. Os rolezinhos são um novo modelo de manifestação.

Estas manifestações legítimas têm servido para que diversos setores da sociedade se posicionassem a favor ou contra. Alguns acharam as manifestações violentas. Queimar pneus, atirar ovos e tomates ou interromper o trânsito é visto como extremamente violento em Joinville. E deixar um bairro sem água por semanas ou aumentar preços e tarifas acima da inflação não parece que preocupe tanto o joinvilense médio. Há quem tenha proposto outras formas de protesto que sejam menos perturbadoras a sociedade. Aliás, o ideal seria que nem houvesse protestos e manifestações.

Depois das manifestações multitudinárias de junho de 2013, em que o povo se lançou às ruas para, num grande evento folclórico popular, protestar contra tudo e contra todos, parecia que a rua fosse transformada no espaço democrático para que a sociedade se manifeste e possa se expressar estava definitivamente aberto. Sabemos hoje, como já era previsível, que a falta de foco e de uma pauta concreta de reivindicações trazia no seu bojo o esvaziamento do movimento.

Para os movimentos que fazem das manifestações uma forma de reivindicação e para os que ainda não tem experiência nesses temas, a editora Chuva Ácida acaba de publicar o Manual do Bom Manifestante, exclusivamente em versão digital.

O Manual do Bom manifestante é uma ferramenta imprescindível para quem quer fazer da rua o seu espaço de reivindicação e manifestação política. Entre os temas abordados com seriedade e conhecimento um dos mais interessantes é:

- Com que roupa eu vou?

Manifestantes experimentados recomendam roupas cômodas, preferivelmente com cores claras no verão e roupas mais escuras na temporada outono-inverno. A Hering lançou uma coleção de camisetas básicas para manifestações. A empresa oferece estampas personalizadas de acordo com o motivo da manifestação e para pedidos superiores a 500 camisetas, a estampagem é gratuita. Entre as imagens mais comercializadas está a de Che Guevara, que continua como campeão de vendas. As de Mao Tse Tung, praticamente  desapareceram do mercado, mas ha uma volta das imagens de Marx, tanto Karl, como Groucho. Não se recomenda usar camisas polo, e menos ainda se forem Lacoste, Tommy ou Ralph Laurent.
Se o tema é calçado, a dica é um calçado cômodo. Militantes mais aguerridos não dispensam um All Star, mas há também muito Nike. Evite marcas como Puma ou Adidas e nada de usar salto alto, não é adequado e pode provocar lesões no caso que seja preciso correr. Havaianas tampouco são recomendadas apesar da sua imagem popular.

Que cores usar?

O tema da cor está muito vinculado à moda e tendência. Há os clássicos. Nenhum mais forte que o preto e o vermelho. Sempre fica bonito que uma manifestação que se preze tenha algumas bandeiras e faixas. No caso de Joinville a escolha do vermelho e do preto tem vantagens adicionais por serem as cores do JEC. Assim que não é difícil encontrar peças de tecido com essas cores no mercado local.
Alguns movimentos específicos têm as suas cores próprias que os identificam, como o arco íris dos coletivos GLS, ou o roxo feminista, ou o verde dos ecologistas. Assim, antes de participar de alguma manifestação não deixe de informar-se de quais as cores mais recomendadas.

Tecnologia. Como usá-la ao seu favor?

Para quem quer participar ativamente de manifestações e movimentos populares há disponíveis bons aplicativos, tanto para iPhone como para Android. Há aplicativos para informar sobre os itinerários das manifestações, dos locais de concentração, dos horários de início e fim, de quais manifestações tem mais homens ou mais mulheres. Aplicativos permitem escolher a musa da manifestação e o Manigram permite publicar online as imagens mais violentas da repressão policial.
A tecnologia permite também convocar e desconvocar manifestações, twittar, facebucar e usar todas as redes sociais para que aqueles que preferem acompanhar os movimentos desde o conforto do sofá e do ar condicionado não percam um único lance e possam fazer também seus comentários.
Uma boa pedida são as câmeras Gopro, que permitem gerar imagens de alta definição e resistem a impactos. Assim é possível ter imagens de alta qualidade de cada manifestação que podem ser colocadas em Youtube.
Há aplicativos que permitem avaliar as manifestações, dar pontos e escolher as melhores, as mais divertidas, as melhor organizadas, aquelas para manifestantes mais curtidos nas batalhas e as recomendadas para quem é viciado em adrenalina.

Banners, faixas e cartazes

Uma boa manifestação deve ter bom material de apoio, faixas, banners e cartazes, mas não só. São importantes palavras de ordem, cantos e um que outro golpe de efeito. Um Batman ou um Superman sempre alegram qualquer manifestação. Claro que nenhum super herói tem como concorrer com o apelo das meninas do Femen. Colocar algumas jovens com os seios ao ar é sucesso garantido e a possibilidade de ganhar a capa de algum jornal local é maior que a iniciativa de queimar alguns pneus.
Para manifestantes profissionais há bons sites de compras coletivas que permitem obter bons descontos na compra de banners e faixas.

Como se comportar?

Manifestações são bons lugares para paquerar. Há muita gente com tempo para uma conversinha. Sempre se conhece gente interessante, com boa conversa e não será difícil achar alguém que esteja "a fim de...". Um problema nas manifestações é que sempre pode aparecer algum político que queira sair na foto. Neste caso, é bom prestar atenção e, a menos que você forme parte dos denominados "papagaios de pirata", é recomendável se manter afastado deste tipo de gente.

Participar de uma manifestação faz bem a saúde?

É bom lembrar que as manifestações, diferentemente dos rolezinhos, se realizam ao ar livre. Como se caminha bastante e, se não houver contratempos, podem ser um bom exercício. Há sempre um risco de ter que sair correndo, ou de levar gás pimenta no rosto, mas em geral aqui em Santa Catarina as manifestações são bastante pacíficas. Há quem leve um lanche e aproveite a oportunidade para fazer um piquenique.

O que fazer e o que evitar?

Cada sociedade tem costumes que devem ser respeitados. O que na Europa seria visto com total normalidade, em Cuba ou na Coreia do Norte pode ser duramente penalizado. No caso de Joinville é preciso ser cuidadoso. Joinvilense tem dificuldade para lidar com os direitos dos outros e qualquer manifestação é vista com receio pela maioria da população. Questionar o "status quo" é um ato de ousadia extrema. Assim, queimar pneus ou interromper o trânsito é equiparado pelos setores mais conservadores da sociedade a atos de violência que requerem uma forte reação policial. Bom não confundir esse tipo de ações com as que envolvem depredação do patrimônio público ou privado.

O joinvilense tem a ideia ainda que uma carta a ouvidoria ou ao gabinete do prefeito é um ato que requer um elevado grau de ativismo e revelia e que mais que isso já é violência. Alguns mais ousados escrevem cartas aos jornais locais ou postam em Facebook ou Twitter e com isso tem a sua consciência cidadã tranquila. Inútil explicar que uma cidade muda não muda. Para que as coisas mudem é preciso mais, muito mais.

Da minha época de faculdade ficaram boas lembranças. Viver o final da ditadura franquista foi uma experiência interessante e correr na frente da polícia é sempre um deporte arriscado que requer velocidade e prática. Mas uma das frases daquela época, que permanece vigente na sociedade de hoje é: "falamos da violência dos rios, mas ninguém lembra da violência das margens que os oprimem". Na Joinville das enchentes e dos alagamentos pelo trasbordamento dos rios e córregos que tiveram suas margens reduzidas e confinadas pela violenta especulação imobiliária, a frase ganha outro sentido.

Assim se por um lado defendemos o direito de manifestação, um direito que não é permitido em todos os países. Defendemos com a mesma veemência uma atuação policial madura e equilibrada, sem excessos e sem violência de parte e parte. É bom lembrar que direito não é algo que alguém nos dá. Direito é aquilo que não podem nos tirar. Em qualquer democracia o direito de manifestar, protestar e discordar é um direito sagrado. Aliás, é um bom indicador do nível de democracia de uma sociedade.

sábado, 15 de junho de 2013

Uma imagem que vale ouro

                                                                               POR FABIANA A. VIEIRA


Se há uma coisa que eu reconheço no governo Udo é a preocupação com a imagem. Não sei se parte de uma cabeça, ou de um coletivo, mas o mote da imagem está bem trabalhado. Senão vejamos o episódio do anúncio da redução da tarifa de ônibus, realizada na última semana, logo após pipocar comentários maldosos sobre participação do prefeito Udo Dohler na operação Fariseu, que investiga o envolvimento do Hospital Dona Helena, de Joinville, na compra de ouro para camuflar recursos e não perder o certificado filantrópico, que garante isenção tributária até para importar equipamentos. Mesmo com resposta da assessoria isentando Udo de qualquer participação ilícita, o estrago estava feito.

Quem trabalha com marketing sabe que, num momento de crise, o segredo é tomar decisões rápidas. E a resposta veio em um anúncio reduzindo a tarifa de ônibus de Joinville - numa semana recheada de manifestações polêmicas, lideradas pelo Movimento Passe Livre (MPL) em grandes centros do Brasil com destaque para São Paulo.

A decisão foi acertada. Ninguém mais fala do ouro. Udo já trabalhou bem com isso em outras ocasiões. Na campanha ainda, a decisão de doar o salário de prefeito para entidades assistenciais, nos últimos dias de campanha, é dada para alguns estudiosos como a grande virada nas urnas. Outro momento decisivo para a imagem de Udo foi revogar o anúncio deixado por Carlito Merss, também sobre a redução da tarifa. Começou o governo no lucro midiático.

Mas voltando sobre a decisão de baixar a tarifa de ônibus na última semana, cabe salientar que a medida é resultado da decisão anunciada há  um mês pelo governo federal, que isentou as empresas de transporte coletivo do PIS e Cofins. Esta ação foi tomada, inclusive, por outras prefeituras do Brasil Em São Paulo, por exemplo, já foram seis cidades que anunciaram a redução da tarifa do ônibus após medida do governo federal. Portanto houve também um benefício para as empresas.

Na visão do Movimento Passe Livre (MPL) de Joinville essa redução de impostos atendeu as necessidades diretas dos empresários do setor - não foi uma política pública para atender a população joinvilense que usa o transporte coletivo. Outra alegação do MPL é que ainda falta discutir em Joinville a questão da licitação que pode garantir mais concessões e acabar com o monopólio do ônibus na cidade. Saindo um pouco da opinião do MPL, vale destacar a opinião de enquete realizada pelo jornal A Notícia, onde os entrevistados lembram que não adianta baixar a tarifa agora e aumentar em dezembro, como já sinalizou o prefeito.

Mesmo com essas contradições após o anúncio de Udo, eu acho que sua imagem foi preservada, ou pelo menos restaurada. Pois quem utiliza o ônibus todos os dias sabe que uma redução de 10 centavos, faz diferença no bolso no final do mês. Mesmo que sejam seis meses apenas. Acho que esse joinvilense aprovou sim o anúncio de Udo. Agora ele já pode pensar em novas estratégias para dezembro, quando as empresas irão pressionar por um novo aumento.