As mobilizações de rua durante a Copa das Confederações, em grande
parte, foram pautadas pelos gastos com a construção dos estádios. Tudo bem, o
governo federal, principal alvo da turba, não construiu nenhum estádio. Esta
tarefa coube a governos estaduais, clubes de futebol ou até prefeituras. No máximo
o BNDES emprestou o dinheiro e vai receber de volta, com juros. Os manifestantes
diziam 'não' aos estádios e 'sim' para a saúde e educação. Particularmente acho um
maniqueísmo meio sofrível esse. Um governo tem que fazer tudo ao mesmo tempo. É
pão, é circo, é educação, é saúde, é esgoto, é estrada, enfim...
Acho até louvável
essa nova concepção de Arena que oportuniza uma diversidade de eventos de
massa. Em Brasília já teve tanta atividade no Mané Garrincha que já valeu a
pena. Até Renato Russo já apareceu em holograma. A Copa acaba e os estádios continuam e devem ser bem utilizados.
Mas a situação me lembrou Joinville de 2004. Enquanto a pirotecnia
oficial fazia a festa, o candidato
continuísta jorrava lágrimas porque não poderia participar da inauguração da nova Arena
Joinville. Essa cidade sempre cultuou obras faraônicas, começando pela Ponte do Trabalhador e indo até a Expoville, Centreventos e Arena. O candidato da
oposição tentou dizer, na época, que com o dinheiro da Arena daria para fazer tantos
leitos hospitalares...foi dizimado. Mesmo elogiando o equipamento, demarcar
uma possível reflexão foi dar um murro na ponta da faca.
No último governo municipal também os porta-vozes do mega,
hiper, super vinham com aquela pergunta: "qual a grande obra?". Não importa se o saneamento
básico é uma vergonha e está sendo, enfim, retomado, ou que os investimentos
maciços em educação e saúde não apareçam, os arautos do grandíssimo querem algo sempre maior e mais bonito.
Hoje parece que as coisas mudaram. Agora é moda ir para a rua
reivindicar saúde e educação, mesmo tendo plano de saúde ou estudar em
colégio particular. Agora é moderno reivindicar redução da tarifa de ônibus,
mesmo sem nunca botar o pé no 'buzão'. Aliás, o moderno é reivindicar por
reivindicar. Tem até médico indo para a rua defender o seu curral profissional.
Afinal é aviltante ir para o interior por R$ 10 mil.
Maravilhosos esses tempos em que as pessoas deixam de
replicar mensagens dos seus notebooks, das quais elas não têm nenhuma ideia e vão
para a rua replicar cartazes que procuram lavar a sua alma. Uma autonomia
criativa que beira o anarquismo, levando em conta o lado genial dessa teoria
libertária.
Mas voltando ao nosso tema, será que Joinville agora vai
desistir de grandes obras e se mobilizar coletivamente para garantir os
alicerces de uma sociedade melhor de se viver? Será que agora, definitivamente,
vamos enfrentar a saúde, não com hospitais, heliponto e medicina de última
geração tecnológica, mas com ações preventivas, não curativas, com alimentação,
com lazer e esportes? Será que vamos pensar a mobilidade urbana com responsabilidade
estratégica, com planejamento de longo prazo, corredores e transporte coletivo ou
vamos fazer pontes e viadutos para
agradar oportunistas? Vamos manter a prioridade no saneamento, nas moradias
populares, na educação de qualidade ou vamos de novo partir para projetos
empolgantes, geniais, caros, que jogam uma fatura comprometedora do futuro, como
está agora acontecendo com a Prefeitura?
As mobilizações
sociais sempre foram criminalizadas em nosso país e repudiadas com veemência.
Hoje, com o panfleto digital on-line das redes sociais, as pessoas podem se
mobilizar mais rapidamente e por diversos interesses. A televisão passa ao vivo
e fica insistindo 'ad nauseum' que a manifestação é até
pacífica, e que a violência é de uma minoria de vândalos. Como se algum dia a
conquista de algum direito social tenha sido fácil.
Mas os tempos são outros e
torço para que coxinhas, MPL, vermelhos, verdes ou amarelos, socialistas, democratas, anarquistas ou liberais mostrem a
sua cara e a política seja exatamente aquilo que o povo quer e não uma usura
criminosa de uma classe que privatiza o interesse público.