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quarta-feira, 8 de julho de 2020

Udo Dohler e o escândalo do Rio Mathias





POR JORDI CASTAN

O escândalo das obras do Rio Mathias esta longe de chegar ao seu fim. A prefeitura pela pressão dos tecnicos e da sociedade atingida pelas obras que impactaram duramente negocios e empregos.

As declarações do secretario Romualdo França isentando os tecnicos da prefeitura de responsabilidade na decisão de renovar o contrato das empreiteiras, quando a obra já apresentava problemas tecnicos insoluveis e atrasos injustificados foi a pá de cal, num processo que forçou a prefeitura municipal a rescindir unilateralmente o contrato.

A decisão poderá influenciar na eleição municipal de novembro proximo e aumenta ainda mais o desgaste do prefeito Udo Dohler.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Manual do bom manifestante

POR JORDI CASTAN



Nestes dias Joinville tem vivido a manifestação do pessoal do MPL. Os moradores do Itinga também se manifestaram contra a falta de água, interrompendo a circulação de veículos na SC 301. Moradores de diversos bairros têm se manifestado contra o estado lamentável de ruas e logradouros públicos. Os rolezinhos são um novo modelo de manifestação.

Estas manifestações legítimas têm servido para que diversos setores da sociedade se posicionassem a favor ou contra. Alguns acharam as manifestações violentas. Queimar pneus, atirar ovos e tomates ou interromper o trânsito é visto como extremamente violento em Joinville. E deixar um bairro sem água por semanas ou aumentar preços e tarifas acima da inflação não parece que preocupe tanto o joinvilense médio. Há quem tenha proposto outras formas de protesto que sejam menos perturbadoras a sociedade. Aliás, o ideal seria que nem houvesse protestos e manifestações.

Depois das manifestações multitudinárias de junho de 2013, em que o povo se lançou às ruas para, num grande evento folclórico popular, protestar contra tudo e contra todos, parecia que a rua fosse transformada no espaço democrático para que a sociedade se manifeste e possa se expressar estava definitivamente aberto. Sabemos hoje, como já era previsível, que a falta de foco e de uma pauta concreta de reivindicações trazia no seu bojo o esvaziamento do movimento.

Para os movimentos que fazem das manifestações uma forma de reivindicação e para os que ainda não tem experiência nesses temas, a editora Chuva Ácida acaba de publicar o Manual do Bom Manifestante, exclusivamente em versão digital.

O Manual do Bom manifestante é uma ferramenta imprescindível para quem quer fazer da rua o seu espaço de reivindicação e manifestação política. Entre os temas abordados com seriedade e conhecimento um dos mais interessantes é:

- Com que roupa eu vou?

Manifestantes experimentados recomendam roupas cômodas, preferivelmente com cores claras no verão e roupas mais escuras na temporada outono-inverno. A Hering lançou uma coleção de camisetas básicas para manifestações. A empresa oferece estampas personalizadas de acordo com o motivo da manifestação e para pedidos superiores a 500 camisetas, a estampagem é gratuita. Entre as imagens mais comercializadas está a de Che Guevara, que continua como campeão de vendas. As de Mao Tse Tung, praticamente  desapareceram do mercado, mas ha uma volta das imagens de Marx, tanto Karl, como Groucho. Não se recomenda usar camisas polo, e menos ainda se forem Lacoste, Tommy ou Ralph Laurent.
Se o tema é calçado, a dica é um calçado cômodo. Militantes mais aguerridos não dispensam um All Star, mas há também muito Nike. Evite marcas como Puma ou Adidas e nada de usar salto alto, não é adequado e pode provocar lesões no caso que seja preciso correr. Havaianas tampouco são recomendadas apesar da sua imagem popular.

Que cores usar?

O tema da cor está muito vinculado à moda e tendência. Há os clássicos. Nenhum mais forte que o preto e o vermelho. Sempre fica bonito que uma manifestação que se preze tenha algumas bandeiras e faixas. No caso de Joinville a escolha do vermelho e do preto tem vantagens adicionais por serem as cores do JEC. Assim que não é difícil encontrar peças de tecido com essas cores no mercado local.
Alguns movimentos específicos têm as suas cores próprias que os identificam, como o arco íris dos coletivos GLS, ou o roxo feminista, ou o verde dos ecologistas. Assim, antes de participar de alguma manifestação não deixe de informar-se de quais as cores mais recomendadas.

Tecnologia. Como usá-la ao seu favor?

Para quem quer participar ativamente de manifestações e movimentos populares há disponíveis bons aplicativos, tanto para iPhone como para Android. Há aplicativos para informar sobre os itinerários das manifestações, dos locais de concentração, dos horários de início e fim, de quais manifestações tem mais homens ou mais mulheres. Aplicativos permitem escolher a musa da manifestação e o Manigram permite publicar online as imagens mais violentas da repressão policial.
A tecnologia permite também convocar e desconvocar manifestações, twittar, facebucar e usar todas as redes sociais para que aqueles que preferem acompanhar os movimentos desde o conforto do sofá e do ar condicionado não percam um único lance e possam fazer também seus comentários.
Uma boa pedida são as câmeras Gopro, que permitem gerar imagens de alta definição e resistem a impactos. Assim é possível ter imagens de alta qualidade de cada manifestação que podem ser colocadas em Youtube.
Há aplicativos que permitem avaliar as manifestações, dar pontos e escolher as melhores, as mais divertidas, as melhor organizadas, aquelas para manifestantes mais curtidos nas batalhas e as recomendadas para quem é viciado em adrenalina.

Banners, faixas e cartazes

Uma boa manifestação deve ter bom material de apoio, faixas, banners e cartazes, mas não só. São importantes palavras de ordem, cantos e um que outro golpe de efeito. Um Batman ou um Superman sempre alegram qualquer manifestação. Claro que nenhum super herói tem como concorrer com o apelo das meninas do Femen. Colocar algumas jovens com os seios ao ar é sucesso garantido e a possibilidade de ganhar a capa de algum jornal local é maior que a iniciativa de queimar alguns pneus.
Para manifestantes profissionais há bons sites de compras coletivas que permitem obter bons descontos na compra de banners e faixas.

Como se comportar?

Manifestações são bons lugares para paquerar. Há muita gente com tempo para uma conversinha. Sempre se conhece gente interessante, com boa conversa e não será difícil achar alguém que esteja "a fim de...". Um problema nas manifestações é que sempre pode aparecer algum político que queira sair na foto. Neste caso, é bom prestar atenção e, a menos que você forme parte dos denominados "papagaios de pirata", é recomendável se manter afastado deste tipo de gente.

Participar de uma manifestação faz bem a saúde?

É bom lembrar que as manifestações, diferentemente dos rolezinhos, se realizam ao ar livre. Como se caminha bastante e, se não houver contratempos, podem ser um bom exercício. Há sempre um risco de ter que sair correndo, ou de levar gás pimenta no rosto, mas em geral aqui em Santa Catarina as manifestações são bastante pacíficas. Há quem leve um lanche e aproveite a oportunidade para fazer um piquenique.

O que fazer e o que evitar?

Cada sociedade tem costumes que devem ser respeitados. O que na Europa seria visto com total normalidade, em Cuba ou na Coreia do Norte pode ser duramente penalizado. No caso de Joinville é preciso ser cuidadoso. Joinvilense tem dificuldade para lidar com os direitos dos outros e qualquer manifestação é vista com receio pela maioria da população. Questionar o "status quo" é um ato de ousadia extrema. Assim, queimar pneus ou interromper o trânsito é equiparado pelos setores mais conservadores da sociedade a atos de violência que requerem uma forte reação policial. Bom não confundir esse tipo de ações com as que envolvem depredação do patrimônio público ou privado.

O joinvilense tem a ideia ainda que uma carta a ouvidoria ou ao gabinete do prefeito é um ato que requer um elevado grau de ativismo e revelia e que mais que isso já é violência. Alguns mais ousados escrevem cartas aos jornais locais ou postam em Facebook ou Twitter e com isso tem a sua consciência cidadã tranquila. Inútil explicar que uma cidade muda não muda. Para que as coisas mudem é preciso mais, muito mais.

Da minha época de faculdade ficaram boas lembranças. Viver o final da ditadura franquista foi uma experiência interessante e correr na frente da polícia é sempre um deporte arriscado que requer velocidade e prática. Mas uma das frases daquela época, que permanece vigente na sociedade de hoje é: "falamos da violência dos rios, mas ninguém lembra da violência das margens que os oprimem". Na Joinville das enchentes e dos alagamentos pelo trasbordamento dos rios e córregos que tiveram suas margens reduzidas e confinadas pela violenta especulação imobiliária, a frase ganha outro sentido.

Assim se por um lado defendemos o direito de manifestação, um direito que não é permitido em todos os países. Defendemos com a mesma veemência uma atuação policial madura e equilibrada, sem excessos e sem violência de parte e parte. É bom lembrar que direito não é algo que alguém nos dá. Direito é aquilo que não podem nos tirar. Em qualquer democracia o direito de manifestar, protestar e discordar é um direito sagrado. Aliás, é um bom indicador do nível de democracia de uma sociedade.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O "blá-blá-blá" das redes sociais

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

É muito comum nos depararmos com pessoas que são contrárias às redes sociais, principalmente pelas manifestações que surgem a partir dos Facebooks, twitters e blogs da vida. O próprio Chuva Ácida é prova disso, ao ser criticado constantemente por pessoas que não gostam de terem suas atitudes confrontadas perante um contraditório que por aqui surge. Há outras milhares de pessoas, em seus perfis particulares, que encaram as redes sociais como um espaço de militância e de divulgação das ideias. A reação a isso tudo, portanto, é a desqualificação em tom de "crítica pela crítica" ou um puro "blá-blá-blá"

O que estes reacionários não enxergam, por muitas vezes, é a ação de um discurso. Esta ação pode seguir dois caminhos muito distintos, dependendo da intenção do emissor da mensagem: pode transformar, trazer novos pontos ao debate, mudar o ponto de vista sobre determinada situação, ou simplesmente contrapor aquilo que, ao seu ver, está errado. Por outro lado, pode manter um status quo; esconder as reais intenções de uma situação, ou simplesmente propagar conceitos que não transformam e apenas reproduzem o vazio. Nenhuma palavra é solta "ao vento", sem intenções.

Foi este mesmo "blá-blá-blá" que mostrou para o mundo inteiro, através das redes sociais, o real problema da questão urbana brasileira. Foi o que levou milhões para as ruas, e iniciou o processo de conscientização de muita gente sobre a real importância da manifestação e busca por soluções, através das "Jornadas de Junho". Nada teria acontecido sem a propagação de discursos, de mensagens, de ações transformadoras embasadas em conhecimento sobre determinados assuntos. As redes sociais potencializaram a propagação. Até a eleição para Prefeito em 2012 teve cenários delimitados pelo o que surgia no meio virtual.

Portanto, o "blá-blá-blá" sempre está na cabeça de quem não acredita no poder de uma palavra. Está na cabeça de quem acredita 100% no que diz a mídia tradicional e corporativa, as camarilhas políticas, e as rodas de puxa-sacos. Está naquele que tem medo da mudança pela possibilidade de detrimento do individual em prol do coletivo.

Para finalizar, vale lembrar que o emissor tende a deslocar seus desejos de poder, tornando-os opacos, e o discurso explicita sua luta pelo poder. Não poderia ser diferente, pois a explicitação de seu desejo de poder é o próprio discurso. De forma diversa, o discurso tem lados, é um discurso de visões de mundo. Desconstrói o outro e a forma como constrói a si próprio, como oposição ao outro; (re)produz o mundo. Falar, criticar, escrever, apontar e desconstruir não é "blá-blá-blá". É a forma que alguns encontraram de mudar o lugar em que vivem. E, convenhamos, Joinville precisa demais destas pessoas.

domingo, 7 de julho de 2013

Qual a grande obra?


POR FABIANA A. VIEIRA

As mobilizações de rua durante a Copa das Confederações, em grande parte, foram pautadas pelos gastos com a construção dos estádios. Tudo bem, o governo federal, principal alvo da turba, não construiu nenhum estádio. Esta tarefa coube a governos estaduais, clubes de futebol ou até prefeituras. No máximo o BNDES emprestou o dinheiro e vai receber de volta, com juros. Os manifestantes diziam 'não' aos estádios e 'sim' para a saúde e educação. Particularmente acho um maniqueísmo meio sofrível esse. Um governo tem que fazer tudo ao mesmo tempo. É pão, é circo, é educação, é saúde, é esgoto, é estrada, enfim... 
Acho até louvável essa nova concepção de Arena que oportuniza uma diversidade de eventos de massa. Em Brasília já teve tanta atividade no Mané Garrincha que já valeu a pena. Até Renato Russo já apareceu em holograma. A Copa acaba e os estádios continuam e devem ser bem utilizados.

Mas a situação me lembrou Joinville de 2004. Enquanto a pirotecnia oficial fazia a festa,  o candidato continuísta jorrava lágrimas porque não poderia participar da inauguração da nova Arena Joinville. Essa cidade sempre cultuou obras faraônicas, começando pela Ponte do Trabalhador e indo até a Expoville, Centreventos e Arena. O candidato da oposição tentou dizer, na época, que com o dinheiro da Arena daria para fazer tantos leitos hospitalares...foi dizimado. Mesmo elogiando o equipamento, demarcar uma possível reflexão foi dar um murro na ponta da faca.

No último governo municipal também os porta-vozes do mega, hiper, super vinham com aquela pergunta: "qual a grande obra?". Não importa se o saneamento básico é uma vergonha e está sendo, enfim, retomado, ou que os investimentos maciços em educação e saúde não apareçam, os arautos do grandíssimo querem algo sempre maior e mais bonito.

Hoje parece que as coisas mudaram. Agora é moda ir para a rua reivindicar saúde e educação, mesmo tendo plano de saúde ou estudar em colégio particular. Agora é moderno reivindicar redução da tarifa de ônibus, mesmo sem nunca botar o pé no 'buzão'. Aliás, o moderno é reivindicar por reivindicar. Tem até médico indo para a rua defender o seu curral profissional. Afinal é aviltante ir para o interior por R$ 10 mil.

Maravilhosos esses tempos em que as pessoas deixam de replicar mensagens dos seus notebooks, das quais elas não têm nenhuma ideia e vão para a rua replicar cartazes que procuram lavar a sua alma. Uma autonomia criativa que beira o anarquismo, levando em conta o lado genial dessa teoria libertária.  

Mas voltando ao nosso tema, será que Joinville agora vai desistir de grandes obras e se mobilizar coletivamente para garantir os alicerces de uma sociedade melhor de se viver? Será que agora, definitivamente, vamos enfrentar a saúde, não com hospitais, heliponto e medicina de última geração tecnológica, mas com ações preventivas, não curativas, com alimentação, com lazer e esportes? Será que vamos pensar a mobilidade urbana com responsabilidade estratégica, com planejamento de longo prazo, corredores e transporte coletivo ou vamos fazer pontes  e viadutos para agradar oportunistas? Vamos manter a prioridade no saneamento, nas moradias populares, na educação de qualidade ou vamos de novo partir para projetos empolgantes, geniais, caros, que jogam uma fatura comprometedora do futuro, como está agora acontecendo com a Prefeitura?

 As mobilizações sociais sempre foram criminalizadas em nosso país e repudiadas com veemência. Hoje, com o panfleto digital on-line das redes sociais, as pessoas podem se mobilizar mais rapidamente e por diversos interesses. A televisão passa ao vivo e fica insistindo 'ad nauseum'  que a manifestação é até pacífica, e que a violência é de uma minoria de vândalos. Como se algum dia a conquista de algum direito social tenha sido fácil. 
Mas os tempos são outros e torço para que coxinhas, MPL, vermelhos, verdes ou amarelos, socialistas, democratas, anarquistas ou liberais mostrem a sua cara e a política seja exatamente aquilo que o povo quer e não uma usura criminosa de uma classe que privatiza o interesse público.

terça-feira, 25 de junho de 2013

O povo saiu às ruas. E agora?

POR JORDI CASTAN

Fora a beleza do espetáculo que os brasileiros ofereceram, com bandeiras, cartazes e faixas criativas na tomada das ruas, é muito provável que nada mude, mesmo depois da prova de força destes dias. Mesmo que os R$ 0,20 ou R$ 0,10 dos descontos (dependendo da cidade) proporcionados pela redução dos impostos federais PIS-Cofins, talvez sejam reincorporados à planilha de custos que compõe a tarifa, em momento eleitoral ou político mais oportuno.

Sem lideranças e sem objetivos claros há um risco elevado que todo o esforço tenha sido inútil. Puro desabafo travestido de manifestação popular que, se não fosse pela presença policial violenta, pareceria mais com uma alegre quermesse, festa junina ou a celebração de alguma vitória esportiva, observada na ausência dos tradicionais bêbados e de musica estridente, que sinalizavam a importância e transcendência do momento.

É preciso muito mais para mudar o país, mas foi um bom começo. Tirar o joinvilense da zona de conforto numa tarde chuvosa tem muito mérito. Apesar da falta de prática. Há gerações que não sabem o que é uma manifestação de tal dimensão. Quantos guardam na memória o correr da polícia? Terem ido para a rua reivindicar. Ou até mesmo de ter vivenciado tal momento? Especialmente em Joinville isso tem um significado adicional.

A pergunta que muitos fazemos: e agora que acontecerá? Qual é o passo seguinte? O nosso histórico recente faz pensar em quem aposte que nada vai mudar, terá muitas mais chances de acertar.

O único ponto claro, e que deveria merecer análises melhores é o silêncio ensurdecedor dos políticos que, num misto de perplexos ou amedrontados, colocaram suas barbas de molho. Sua desaparição do cenário é prova concreta que alguma coisa mudou, inclusive a suposição que possam ter culpa no cartório.

A maior mudança pode ainda a vir acontecer se a mobilização se mantiver crescente. Mas político é por natureza um animal oportunista, com enorme capacidade de adaptação. Não deverá demorar muito para que alguns tentem capitalizar este movimento, cujo maior mérito reside, justamente, na sua aparente anarquia, falta de liderança e no amalgama de vários setores da sociedade e a variedade de reivindicações que aglutina. É bom lembrar que a classe media não tem muita prática, é nova nisso. Justamente a turma do MPL, com mais experiência e mais calejados, estava nadando de braçada,

O curioso será se for justamente essa nova classe media que surgiu nos últimos anos no país, que acabe por promover, com a sua ida as ruas, as reformas que o Brasil tanto precisa e que demoram. Seria irônico que a classe média criada a partir do seu acesso ao consumo insista em querer, além de tela plana, carro e viagem ao exterior. Indica um novo “arranjo hierárquico das necessidades humanas e vêm à tona impulsos mais elevados”, como o fim da corrupção, serviços públicos de qualidade, uma reforma política entre outras reivindicações. Justamente essa classe média que está, aos poucos, descobrindo que além de ser uma força econômica pelo seu peso no mercado é também uma força política.


Se fosse político teria muito medo. Porque se a sociedade descobrir a força que tem de verdade, muita coisa poderia mudar rapidamente e os políticos poderiam ser transformados no inimigo público número um. Representam, salvo honrosas exceções, “o pior do pior”. Aquilo contra o que as pessoas estão dispostas a ir à luta.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

A rua NÃO é a maior arquibancada do Brasil

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Ao contrário do que muitos podem pensar, a rua não é a maior arquibancada do Brasil. O comercial de uma montadora de automóveis que diz "vem pra rua porque a rua é a maior arquibancada do Brasil", utilizando-se da música do grupo "O Rappa", apenas transfigura e esconde uma realidade vista por nós, brasileiros, todos os dias. Talvez influenciados por estas intervenções na grande mídia, e também pelo espírito de torcedor inflamado com a Copa das Confederações, muitos levaram a ideia de arquibancada para as últimas caminhadas passivas (travestidas de manifestações), as quais ainda acontecem por todo o país. Necessitamos desconstruir esta lógica e mostrar que a rua é o maior palco do Brasil.

Antes de continuarmos, faz-se necessária a disposição do significado da palavra arquibancada e da palavra palco:


arquibancada
sf (arqui+bancada) 1 Bancada principal. 2 Série de assentos dispostos em fileiras, em diversos planos, empregados em estádios e circos, para acomodar, com boa visibilidade, grande quantidade de espectadores.

palco
sm (ital palco) 1 Estrado, tablado. 2 Lugar, no teatro, onde os atores representam. 3 Lugar onde sucede algo dramático, impressionante ou solene; cenário.


Em qualquer espetáculo, seja ele de qual ordem for, temos "os que fazem a coisa acontecer" e "os que assistem à coisa acontecendo". No futebol, por exemplo, a arquibancada acompanha os 22 jogadores correrem atrás da bola, respeitando regras pré-estabelecidas, conduzidas por juízes. Só assiste à coisa acontecer. Quando o jogo acaba, o resultado não muda e o torcedor que está na arquibancada é obrigado a aceitar pacificamente ordeiramente passivamente aquilo que aconteceu no palco, pois a sua função é apenas assistir e dar apoio moral, gritando, xingando, levando cartazes, etc. Levando isto em consideração, não podemos ir para a rua com a lógica da arquibancada.

Precisamos entender que a rua é o espaço para fazermos as transformações que queremos. Na rua como palco, somos os jogadores, decidimos sobre tudo e construímos a nossa vida. É nela que as desigualdades sociais tornam-se evidentes (e por muitas vezes fechamos os olhos). O mais desastroso nisso tudo é que as pessoas que foram para as ruas nas últimas semanas, em sua grande maioria, não acostumadas a encarar a rua como palco e como aquelas "que fazem a coisa acontecer", levaram todo o sentimento que possuíam da arquibancada consigo. É notório que o palco se tornou lugar de movimentos difusos, nacionalistas ao extremo (do jeito que o pensamento ditatorial adora), com palavras de ordem motivacionais como "o gigante acordou", e pedindo pra alterar aquele jogador que supostamente não estaria bem na partida, só porque o comentarista pediu para tirar (vide o "Fora Dilma"). Ao final das partidas, torcedores reclamam dos seus times, dizendo que "está tudo errado" e que "tudo" precisa ser mudado.

Por outro lado, a rua precisa ser o espaço das manifestações fortes, pontuais, e que visem acabar com as desigualdades provenientes das mais diversas ordens. A rua, no fim das contas, não deve ser espaço de "um bando de desocupados" para ser um "espaço democrático". A rua deve ser um "lugar de todos", e não apenas "lugar dos automóveis". Muito menos o lugar de comemorações. A rua é o cenário para afirmarmos aquilo que queremos ser enquanto sociedade.

domingo, 29 de julho de 2012

E as vaginas saem à rua para mostrar o poder

POR ET BARTHES
Eis o que aconteceu. Havia um debate sobre o aborto na Casa dos Representantes, em Michigan. E a deputada Lisa Brown encerrou a sua participação com esta frase: “Finalmente, sr. presidente da mesa, estou lisonjeada por estar tão interessado na minha vagina, mas 'não' quer dizer 'não'".
Ora, era uma mulher a criticar os homens que queriam legislar sobre o seu corpo. E sabem o que aconteceu? Ela acabou por ser censurada, proibida de voltar a falar na Casa dos Representantes. A acusação: usou a palavra vagina, que não está de acordo com o decoro parlamentar.
É claro que um absurdo desses não ia passar batido. E a coisa virou uma tremenda manifestação das vaginas em frente ao Capitólio de Michigan, à qual estiveram presentes mulheres, políticos e Eve Ensler, criadora dos famosos “Monólogos da Vagina”.

Aviso aos moralistas: a manifestação está cheia de referências à palavra vagina.