segunda-feira, 24 de junho de 2013

A rua NÃO é a maior arquibancada do Brasil

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Ao contrário do que muitos podem pensar, a rua não é a maior arquibancada do Brasil. O comercial de uma montadora de automóveis que diz "vem pra rua porque a rua é a maior arquibancada do Brasil", utilizando-se da música do grupo "O Rappa", apenas transfigura e esconde uma realidade vista por nós, brasileiros, todos os dias. Talvez influenciados por estas intervenções na grande mídia, e também pelo espírito de torcedor inflamado com a Copa das Confederações, muitos levaram a ideia de arquibancada para as últimas caminhadas passivas (travestidas de manifestações), as quais ainda acontecem por todo o país. Necessitamos desconstruir esta lógica e mostrar que a rua é o maior palco do Brasil.

Antes de continuarmos, faz-se necessária a disposição do significado da palavra arquibancada e da palavra palco:


arquibancada
sf (arqui+bancada) 1 Bancada principal. 2 Série de assentos dispostos em fileiras, em diversos planos, empregados em estádios e circos, para acomodar, com boa visibilidade, grande quantidade de espectadores.

palco
sm (ital palco) 1 Estrado, tablado. 2 Lugar, no teatro, onde os atores representam. 3 Lugar onde sucede algo dramático, impressionante ou solene; cenário.


Em qualquer espetáculo, seja ele de qual ordem for, temos "os que fazem a coisa acontecer" e "os que assistem à coisa acontecendo". No futebol, por exemplo, a arquibancada acompanha os 22 jogadores correrem atrás da bola, respeitando regras pré-estabelecidas, conduzidas por juízes. Só assiste à coisa acontecer. Quando o jogo acaba, o resultado não muda e o torcedor que está na arquibancada é obrigado a aceitar pacificamente ordeiramente passivamente aquilo que aconteceu no palco, pois a sua função é apenas assistir e dar apoio moral, gritando, xingando, levando cartazes, etc. Levando isto em consideração, não podemos ir para a rua com a lógica da arquibancada.

Precisamos entender que a rua é o espaço para fazermos as transformações que queremos. Na rua como palco, somos os jogadores, decidimos sobre tudo e construímos a nossa vida. É nela que as desigualdades sociais tornam-se evidentes (e por muitas vezes fechamos os olhos). O mais desastroso nisso tudo é que as pessoas que foram para as ruas nas últimas semanas, em sua grande maioria, não acostumadas a encarar a rua como palco e como aquelas "que fazem a coisa acontecer", levaram todo o sentimento que possuíam da arquibancada consigo. É notório que o palco se tornou lugar de movimentos difusos, nacionalistas ao extremo (do jeito que o pensamento ditatorial adora), com palavras de ordem motivacionais como "o gigante acordou", e pedindo pra alterar aquele jogador que supostamente não estaria bem na partida, só porque o comentarista pediu para tirar (vide o "Fora Dilma"). Ao final das partidas, torcedores reclamam dos seus times, dizendo que "está tudo errado" e que "tudo" precisa ser mudado.

Por outro lado, a rua precisa ser o espaço das manifestações fortes, pontuais, e que visem acabar com as desigualdades provenientes das mais diversas ordens. A rua, no fim das contas, não deve ser espaço de "um bando de desocupados" para ser um "espaço democrático". A rua deve ser um "lugar de todos", e não apenas "lugar dos automóveis". Muito menos o lugar de comemorações. A rua é o cenário para afirmarmos aquilo que queremos ser enquanto sociedade.

7 comentários:

  1. Seu pensamento é interessante... a Rua tem voz e é ativa...e essa geração atual descobriu isso...e nós das gerações de tantos gritos e protestos nas ruas...q ja estavamos frustrados...nos juntamos a eles...para aumentar essa ressonancia da necessidade de mudança de posturas politicas e ações sociais mais condizentes com nossas necessidades atuais..Du Von Wolff

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  2. rua é arquibancada sim. o palco é a URNA. perderam o controle do negócio e estão tristinhos? sinto muito. se não fosse o "fora dilma" dava nada ser arquibancada, diz ai, seja sincero...

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  3. "... a rua precisa ser o espaço das manifestações fortes, pontuais ... ".
    A ausência de foco é o principal problema das atuais manifestações.
    É só tirar como exemplo a manifestação da última quinta em Joinville. Dos três focos pré-definidos, não vi nenhum cartaz/canto/ato sobre um deles (licitação do transporte coletivo) no grupo em que estava. Esbocei, bem timidamente, um canto sobre o assunto e consegui a atenção de um outro manifestante, que conversou comigo sobre o tema. Foi só! Mas não faltaram atos contra a copa (?) e sobre outros assuntos, até mais importantes que a licitação, mas que não eram o foco daquele movimento naquela noite.
    E vai tentar "colocar na cabeça" do pessoal que devemos lutar por uma coisa de cada vez ...

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    1. Poizé, vi só um cartas fazendo menção ao ouro do hospital particular...Vai ver a chuva lavou a mente dos "protestantes"!

      NelsonJoin@bol.com.br

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  4. Esse guri tá precisando de tratamento..

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  5. Nestes últimos anos onde qualquer pio contra a inépcia e outras coisas piores do governo federal é taxada de crime grave, ser arquibancada ou palco tanto faz.

    Desfez-se a unanimidade dos 200% de aprovação.

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    1. É, mas a maré virou e hoje defender é que está sendo crime hediondo...

      Nem se pode pensar em elogiar...

      NelsonJoi@bol.com.br

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