segunda-feira, 17 de junho de 2013

A espoliação camuflada em dez centavos

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Acompanhamos nos últimos dias o início de uma onda de protestos nas principais cidades brasileiras. Os problemas urbanos, tão característicos dos anos 70 e 80, voltaram como a pauta principal de nossas manifestações. O pífio transporte público, a falta de moradia adequada, e a inexistência de democracia são questões muito visíveis e que, felizmente, estão sendo questionadas pela população. Já em Joinville, influenciado pelas manifestações e o escândalo do ouro no Dona Helena, como bem alertado pela colega Fabiana Vieira no sábado, Udo Dohler baixou a tarifa de ônibus em dez centavos, seguindo uma normativa nacional de isenção de impostos que baixa os custos do transporte coletivo.

Tecnicamente, não há nada de extraordinário neste ato, pois foi apenas um repasse do corte de custos (da mesma forma que ele faria se houvesse um incremento nos custos, repassando tudo para o usuário). Politicamente, foi uma bela cartada, pois ao baixar o preço da tarifa do ônibus e passar a ideia de que é um "enfrentamento" às permissionárias, está escondendo (e se utilizando da imprensa parcial para tal fim) as realidades da sua gestão urbana, a qual segue diretrizes antidemocráticas e que promovem - apoiando-me na brilhante ideia de Lúcio Kowarick - uma espoliação urbana em Joinville.

Ao trazer à tona as arcaicas discussões sobre planilhas, o prefeito e sua equipe demonstram que esta é a única discussão em pauta quando o assunto é transporte coletivo, inclusive já alertando que até o fim do ano poderemos ter novo aumento. Reforça, assim, tudo aquilo que nós já vimos. Em nenhum momento nesta semana (posso estar enganado) ouvi técnicos da Prefeitura explicando o andamento do plano de mobilidade (está há três anos em elaboração no IPPUJ, desde o término da pesquisa origem-destino, primeira etapa do processo) ou replicando a visão parcial do prefeito anterior, o qual limitou as transformações mais radicais à licitação (teve quatro anos e não tirou do papel).

A atual gestão promove a espoliação recuperando estes discursos de seus antecessores (muito pouco para quem diz promover uma qualificação da máquina pública), e quando também esquece-se do que está escrito no Plano Diretor; não faz esforço para confeccionar instrumentos que garantam uma melhor qualidade de vida para a população, não diz nada sobre a licitação do transporte coletivo (estamos há apenas seis meses do vencimento do contrato de Gidion e Transtusa e uma licitação deste porte não é coisa simples), priva as camadas mais populares da gestão democrática da cidade (basta lembrar a imposição do CNPJ na construção do conselho da cidade) rasgando o Estatuto das Cidades, e insere a lei de ordenamento territorial (ao contrário do plano de mobilidade, a LOT já está pronta, pois serve a praticamente todos os interesses das entidades empresariais da cidade) como "salvadora da pátria", colocando-a na comissão de frente da política urbana joinvilense.

Resultado: sem democracia, não há um pensamento voltado para o social. A espoliação domina. Desta forma, continuaremos com um Conselho da Cidade que atende interesses do grande capital, sem plano de mobilidade, licitações sem previsões e sem perspectivas de mudança, transporte coletivo ruim e caro, sem infraestrutura urbana (o macrozoneamento, base da LOT, promove o aumento do perímetro urbano e a consequente segregação socioespacial), entidades empresariais colocando a tinta na caneta de nossos governantes, especulação imobiliária, verticalização travestida de adensamento, aumento do índice de automóveis per capita (62 mil veículos a mais nos últimos três anos, defasando, assim, a pesquisa origem-destino de 2010), reprodução da pobreza, mídia parcial, aumento da violência urbana, aumento de impostos, sem ciclovias, sem calçadas, e sem a garantia de nossos direitos enquanto cidadãos.

Espoliação maior do que isso, somente aquela provocada pelo cassetete do PM.

26 comentários:

  1. É o que eu sempre digo:

    Aqueles que pariram o monstro que o embale!

    Parabéns Charles, e o pessoal do chuva, acordando do sonho de outubro...

    NelsonJoi@bol.com.br

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    1. Alias, só por curiosidade, sua passagem por este governo durou mais ou menos do que no governo Carlito?

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    2. Menos, bem menos. E ah, uma coisa não invalida a outra.

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    3. Desculpe não ter assinado a pergunta... NelsonJoi@bol.com.br

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  2. Ultimamente todas as medidas tomadas para mudanças no ordenamento territorial da cidade foram para o interesse de algum grupo (Shopping Garten, Pseudo Leroy Merin) e não para o bem da população. O certo é que pelas politicas de isenção para carros, ampliação do crédito e melhor poder de compra da população, Joinville tem cada vez mais veículos, Passando de 200 mil carros e 50 mil motos. E o que foi feito de melhoria no transporte público nos últimos anos? Os corredores de ônibus que começaram no governo Tebaldi e foram ampliados no governo Carlito, e mais nada. Eles ajudam na parte mais central da cidade, mas tem que ser ampliados. Já passou muito da hora de uma nova licitação, e temos que pensar em alternativas, pois pelas previsões em 2030 teremos 1 milhão de habitantes.

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  3. Aliás, tem gente que nasce pra escrever outros pra governar/executar. Caso do Charles é escrever. E escrever bobagem.

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  4. Parabéns Charles. Definiu com maestria a atual gestão.

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  5. Parabéns Charles. Revelou com maestria a atual gestão espoliativa

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  6. Foi só ser despedido do cargo comissionado da prefeitura que já começou a achar todos os defeitos do mundo. Mas não é ato exclusivo. Todos o fazem ao perder a bôca em qualquer governo

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    1. Nunca achei que faria isso, mas neste ponto defenderei Charles Henrique.

      Foi o primeiro (quem sabe o único) que assim que surgiram os fatos (vídeo do Údo "reclamando" dos vereadores) criticou a postura do governo, o qual ele próprio fazia parte.

      Diferente dos cordeiros de plantão, CHV (Charles Henrique Voos) não se absteve de emitir sua opinião.

      Não concordo muito com as opiniões e atitudes de CHV, principalmente as que foram ápice da discussão política de outubro passado, mas neste caso específico, o mesmo teve atitude de uma pessoa de caráter.

      Parabéns!

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    2. Desculpe, hoje estou esquecendo de assinar:

      NelsonJoi@bol.com.br

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  7. Caro Anônimo,
    Você não sabe dos fatos. FUI EU QUE PEDI PRA SAIR.

    Saí justamente por não concordar com os rumos que a gestão estava tomando. Saí por ter princípios e não aceitar ver diante dos meus olhos tudo isso que está escrito em meu texto. Saí porque sou humano o suficiente pra não me esconder em 3.800 reais. Saí, pois acredito em coisas diferentes das deles. Saí por não ter condições de trabalhar e fazer algo concreto.

    Você faria o mesmo? Largaria dinheiro,falso status, falso prestígio e um monte de coisas por princípios? Tenho quase certeza que não, pois até seu nome, o maior princípio que podemos ter, você esconde na hora de dar opinião.


    Melhor você ficar calado em seu anonimato. Assim você não escreve inverdades sobre os outros e não assassina a língua portuguesa.

    E se isso te deixar mais raivoso ainda, saiba que estou muito mais feliz agora, e continuarei a achar todos os defeitos do mundo. Achei mais um no dia de hoje: você :)

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  8. pessoal da LOT já ta começando a levar ferro na justiça ....vide autos nº. 038.13.014290-2.

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    1. Acho que você não leu a decisão, a liminar foi concedida parcialmente.

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  9. "E se isso te deixar mais raivoso ainda, saiba que estou muito mais feliz agora"
    O advérbio "muito" modifica o adjetivo feliz, intensificando-o.
    "Muito mais feliz" é verdadeiramente assassinar a língua portuguesa.

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    1. Muito feliz agora é diferente de muito mais feliz agora. Para a minha frase, ainda serve esta opção.

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  10. CÁRA, EU TO VENDO O PROTESTO NO BRASIL INTEIRO VIA UOL AO VIVO, TÁ DE ARREPIAR!!!!

    SE TIVER UM "FORA UDO" POR AQUI, ME AVISEM QUE EU TO DENTRO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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    1. Amigo, a questão não é Udo. A questão é o todo.
      Acordaaaa!

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    2. É contra tudo, inclusive contra empresário sonegador de impostos que se lambuza em pote de ouro e diz que tem as mãos limpas.

      NelsonJoi@bol.com.br

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  11. tá rolando uma rave no brasil todo?

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  12. Vamos lá Udo, jogue uma pá de cal sobre essa esquerda brasileira demagoga e caquética!

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  13. Os aumentos das tarifas de onibus foram o estopim para o levante.
    O povo já não aguenta mais essa faca encostada no pescoço.
    Nos roubam na maior cara dura e temos que engolir a seco!
    Pagamos impostos altíssimos e nada disso retorna à população.
    Parece que estamos nos tempos feudais. Malditos políticos feudais.
    É revoltante! Chega... Todo mundo para as ruas exigindo mudanças já! Espero que dia 20, Joinville entre para a história! Não por não participar, mas por levar milhares de pessoas às ruas.

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  14. Charles, acho importante colocar aqui algumas informações que você não citou, ou não lembrou, e que respondem algumas das tuas colocações. Em relação ao andamento do Plano de Mobilidade, estás desatualizado. Além da pesquisa origem-destino, bastante recomendada pelo Ministério das Cidades nesse processo, as etapas necessárias à discussão participativa do plano já estão bastante adiantadas, o que será possível só agora com a retomada dos trabalhos do Conselho da Cidade. Aliás, veja o que Lei da Mobilidade no 12.587/2012 fala sobre prazos deste Plano (e Plano é diferente de Lei), além de recomendar sua constante revisão. Em relação à Lei de Ordenamento Territorial ser o primeiro ponto de pauta no Conselho, é porque o próprio Plano Diretor estabeleceu prazos e uma sequencia destes encaminhamentos: veja o Art. 76 da Lei 261/2008. Após a aprovação da nova lei de ordenamento é que poderemos encaminhar os demais instrumentos de que comentas. No entanto, independente disso, em relação aos instrumentos de gestão do planejamento temos as Conferências Municipais, o Conselho e o Estudo de Impacto de Vizinhança realizados e/ou já aprovados e em andamento. Temos divulgado no site do IPPUJ desde o ano passado a proposta da Lei Complementar de Indução do Desenvolvimento Sustentável de Joinville a ser encaminhada à câmara 30 dias após a aprovação da LOT. Estão sendo elaborados, sem esperar pelos desdobramentos da LOT, diversas outras recomendações que o Plano Diretor estabeleceu. Finalmente, essa tua colocação “técnicos da prefeitura explicando o andamento...”, caso a mídia venha se interessar nesse assunto, esses técnicos o farão como sempre fizeram. Valeu esta oportunidade. Amanda.

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