sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Macacos me mordam #1


Não reeleja, renove geral!


POR SALVADOR NETO

Anote os nomes a seguir: Adilson Mariano (PSOL), Claudio Aragão (PMDB), Dorval Pretti (PPS), Fabio Dalonso (PSDB), Jaime Evaristo (PSC), James Schroeder (PDT), João Carlos Gonçalves (PMDB), Levi Rioschi (PPS), Lioilson Correa (PT), Manoel Bento (PT), Mauricinho Soares (PMDB), Mauricio Peixer (PSDB), Maycon César (PSDB), Odir Nunes (PSDB), Pastora Leia (PSD), Roberto Bisoni (PSDB), Rodrigo Fachini (PMDB), Rodrigo Thomazi - Suplente/Sidnei Sabel (PP) titular, Zilnety Nunes (PSD). Anotou? Agora fixe essa lista em sua geladeira, quadro branco, ou onde deixe suas anotações importantes do que tem a fazer. Já explico.


Essas pessoas listadas acima são os vereadores no exercício do cargo em Joinville (SC). Eleito em 2012 ainda pelo PSD, Patricio Destro, hoje PSB (é...) virou deputado estadual em 2014 abrindo a vaga para Zilnety Nunes. Rodrigo Thomazi assume quando Sidnei Sabel deseja ser secretário do Governo Udo. Temos mais nomes de suplentes – aqueles que ficam na fila para assumir caso um dos eleitos tenha de deixar o cargo por qualquer motivo -, mas isso fica para um exercício de casa para você eleitor. Sim, você quer uma cidade melhor, tem de fazer a lição de casa: pesquisar, saber quem é quem, de onde veio, para onde foi, quais negociações fez, se tem nome sujo (processos, acusações, etc), se trabalhou, se não. Coisas básicas para exercer de fato o seu direito de cidadão. E aí votar.

Esclarecido isso, faça o passo seguinte, claro, somente em 2016: não reeleja nenhum destes vereadores ocupantes das cadeiras no legislativo joinvilense. Renove geral. Somos quase 700 mil habitantes dos quais quase 400 mil tem direito a votar, e ser votado. Portanto, há muita gente que pode dedicar seu tempo, conhecimento, habilidades, estudo, formação, visão de mundo, para a coisa pública. Aliás, isso deveria ser uma missão de todo cidadão, alguma vez se candidatar, fazer política partidária, não partidária, se envolver nas associações de bairros, de classes, ser voluntário de instituições sociais e públicas, participar de diretorias de entidades sociais. Fazer política é isso, não é somente votar, ou reclamar diante da TV, dos noticiários.



Claro que na lista atual de vereadores, e de suplentes, há pessoas de bem, com bons serviços prestados. Mas como diz o ditado, o uso do cachimbo deixa a boca torta. Eleitos, começam a compreender a máquina, o os corruptores, lobbies, lobistas, achacadores, e outros, e a se influenciar, ou influenciar outrem. Com isso perde a sociedade. É só ver a quantas andam os projetos cruciais para o bem de Joinville como a Lei de Ordenamento Territorial (LOT), por exemplo. Começam a se acostumar com as benesses (carro, combustível, diárias, tudo livre), com o dia a dia da reclamação do povo, e sequer dão bola para os gritos das ruas e bairros. Portanto, se elegeu, teve seu tempo, realizou, não realizou? Troquemos na próxima!

Como os políticos legislam sobre o sistema político – a tal reforma política muda para nada mudar a anos – mudemos nós a nossa postura. Deixemos de atender ao coração porque o tio, o pai, o irmão, o primo, o amigo precisa... Abandonemos a tentação do aceno de cargo público, ajuda de custo, barro, saibro, máquina para limpar um terreninho... Vamos mudar, pois o poder está conosco, no voto, na nossa escolha! Se mudarmos todos, novos entram, sangue novo, renova-se o ar político. E quando falo de renovar não é a ideia de idade – até porque há nesta lista e em outras, novos bem velhos! -, mas sim de pessoas que nunca passaram pelo legislativo, não conhecem aquele mundo por dentro.

Comecemos, pois esse movimento social pela renovação total do legislativo municipal pela nossa cidade. Não reeleja ninguém, renove geral! A ideia pode parecer utópica, mas é preciso retomar as utopias para que a sociedade volte a ter crença nela mesma, e na política! Acabe com o carreirismo político. Renove tudo, e vejamos como aí sim a juventude voltará a acreditar na política como instrumento de transformação social, que de fato é. A provocação está feita. Comecemos aqui em nossa cidade. Em 2016, não reeleja, renove geral.


É assim, nas teias do poder...

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

#PrimeiroAssédio



POR VANDERSON SOARES

vanderson.vsoares@gmail.com

As redes sociais, nos últimos meses, tem trazido à baila um problema antigo, mas ainda bem atual: o assédio sexual. Em especial, os maiores incentivadores deste debate foram os tweets e postagens sobre a menina Valentina, participante do MasterChef Jr e o #PrimeiroAssedio, hashtag criada no Twitter para que as meninas que já sofreram assédio pudessem falar mais a respeito de suas desagradáveis experiências.

Detive-me a ler os tweets e comentários e não pude deixar de pensar no quão difícil deve ser mulher nos tempos de hoje. Não por ser mulher, mas por ser o maior alvo no caso do assédio. Este texto não tem a presunção de analisar o machismo, pois este é mais amplo (atinge o mercado de trabalho, a vida conjugal, a forma de educar os filhos, etc), mas o assédio é um dos aspectos no rol de atividades que o machismo incentiva, o ato em si é algo que ultrapassa a barreira da criminalidade, do mais baixo nível que nossa espécie pode chegar.

O que mais assombra no relato das meninas é que quase todas sofreram abusos ou tentativas enquanto ainda crianças, com 9, 10, 12 anos. Você que é homem e lê este texto, você acha normal uma criança despertar o seu tesão? Se sim, procure ajuda, pois não, não é normal. 

Fiquei intrigado com o tema e conversei um pouco com as mulheres que convivo no trabalho ou nos grupos que participo e todas que pude conversar admitiram que já sofreram algum tipo de assédio. E por assédio, não se entenda somente os comentários ofensivos e chulos que são feitos na rua (que também ferem e machucam), mas também gestos, atitudes e até tentativas de agressão.

Imagine você que é pai, que é marido, que é irmão ou que é um ser humano capaz de viver em sociedade, consegue imaginar o medo que sua filha, namorada ou mãe tem ao andar sozinha na rua ou em horários noturnos? Pois não deveriam ter esse receio. O direito de ir e vir não escolhe gênero. Ainda me recordo das vezes que escutei meu pai ou mãe falar para minha irmã trocar de roupa, pois a calça dela estava apertada demais. Entendo que seja uma forma de proteger, de querer o bem, mas isso é educar ao contrário, é culpar a vítima e não o agressor. 

O que tira a fé na reabilitação da humanidade é ler os comentários de gente que não tem empatia tampouco capacidade de vivência em sociedade, defendendo o assédio (sim, o crime) com comentários do tipo: “Mas também, olha a roupa que ela estava usando”, “Ela estava pedindo”, “Essa merece” e por aí vai. 

Esse tema se desmembra em tantos outros que não caberiam apenas neste texto, mas uma grande “justificativa” difundida para este crime é que é “da natureza do homem, do instinto”. Se dermos crédito a isso, estaremos nos reclassificando novamente como primitivos, como animais. É também próprio da espécie humana querer a evolução, a compreensão e a plena convivência em sociedade.

Por ser homem, não me sinto com autoridade suficiente nem com domínio do assunto para incentivar as mulheres em como reagir, mas com certeza se calar não é a melhor forma de lidar. Sofrer um abuso, um assédio, por mais próxima que seja a pessoa, um vizinho, tio, amigo, deve ser denunciado e sofrer os rigores da lei. Se não isso, ao menos a franca conversa com a mãe, a filha ou alguém de confiança, pois guardar para si apenas colabora para a continuidade do problema na sociedade e não superação pessoal do ocorrido. 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Ah! Aleluia! O Corredor é nosso!


Não passarão!


Vá de retro, ciência. Isso é doutrinação!


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Rolou um “auê” entre os reaças. Tudo por causa das provas do ENEM, que trouxeram nomes como Simone de Beauvoir, Nietzsche ou Paulo Freire. Os caras foram à loucura e não demoraram a armar o berreiro: “doutrinação, doutrinação, doutrinação”. E nem importa se também apareceram nomes como Hume, Hobbes, São Tomás de Aquino, Platão ou, imaginem, Usain Bolt. Os caras não querem saber? A reacionaria quer é circo.

A palavra doutrina tem origem no latim doctrina, expressão derivada de doceo (ensino). Ou seja, tem a ver com instrução, aprendizado, aquisição de conhecimento. Apenas em tempos mais recentes a palavra passou a ser entendida como um conjunto de teorias que, sistematizadas, formam os fundamentos de uma ciência. Se soa a inteligência, a reacionaria odeia, claro. Há mais ou menos aquilo que Kostas Axelos chamou “rejeição do pensamento”.

Num país como o Brasil, onde os conservadores representam o que há de mais atrasado, a palavra ganhou outros contornos. Virou um clichezão a ser repetido por qualquer iliterato para falar em imposições ideológicas. Ou, numa linguagem que os reaças talvez entendam, doutrinação é sinônimo de “fazer a cabeça”.

Eis o problema. O anti-intelectualismo – ao estilo tea party – estufa o peito e insiste em dar cartas. E rejeição do pensamento ganha contornos de uma estranha “ciência”: é tudo ao contrário. Enfim, aquilo que a pessoa não entende - e não quer entender por imperativo ideológico ou abulia intelectual - é o que ela chama "doutrinação". Qual o perigo? É que o país parece disposto a mergulhar nas trevas sem ter experimentado as luzes.

Quadro de Goya
É nesse meio obscurantista que surgem Bolsonaros, Malafaias, Felicianos, Rola-Bostas, Sheherazades, Constantinos e outras hediondezas, como os reacionários das redes sociais. Afinal, são organismos que só se desenvolvem em ambientes intelectualmente anaeróbicos. Aliás, essas pessoas são incapazes de perceber que a própria ignorância é doutrinária.

Um retrato do Brasil? Há uma pintura de Goya, exposta no Museu do Prado, que pode representar este momento. O quadro, chamado “Luta com Clavas” (Duelo a Garrotazos), mostra dois homens a combater na lama – ou areia movediça. Quanto mais lutam mais afundam e correm perigo. Mas mesmo assim não param de lutar. É o Brasil a se afundar no irracionalismo. Vá de retro, ciência.


É a dança da chuva.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

A cadeira giratória: prefeito por 48 horas

POR JORDI CASTAN


Joinville teve 3 prefeitos em uma semana.

O vereador Rodrigo Fachini (PMDB) poderá incluir no seu currículo que foi prefeito de Joinville por dois dias ou por algumas horas. Sentou na cadeira do prefeito e ocupou o gabinete, quando poderia ter despachado perfeitamente desde o seu próprio gabinete na Câmara de Vereadores. Poderá ainda acrescentar que assinou o Adimplir 2  e o teatro poderá descer o telão. A peça terá terminado e a claque de sempre aplaudirá em pé e pedirá bis. Todo um espetáculo republicano.

É evidente que a peça foi cuidadosamente ensaiada. Tudo foi planejado para afagar o presidente do Legislativo e manter assim uma relação tão estreita com o Executivo que poderia ser classificada de promiscua. Com certeza o vice-prefeito Rodrigo Coelho não poderia entrar em férias num momento mais oportuno. É também evidente que a capacidade de fiscalizar o Executivo, que a Câmara tem como função, fica comprometida.

Esses agrados e gentilezas têm um peso significativo no teatro em que tem se convertido a política. E que, no âmbito local, acaba parecendo mais uma comédia de segunda categoria que uma peça de teatro. É por estas e outras que Joinville não consegue superar o seu complexo de vila de interior.

Estabelece-se uma dívida de gratidão entre o prefeito, o vice-prefeito e o presidente do legislativo. E essas dividas, além de criarem vínculos fortes, devem ser pagas. Se todos estes agrados não fossem suficientes, o prefeito em exercício indicara ainda o subprefeito da região sul. A dança das cadeiras permitirá ainda que o vereador Lioilson Corrêa (PT) assuma, também por 48 horas, a presidência da Câmara de Vereadores.

Joinville só repete o que também acontece no âmbito estadual e federal. Presidentes da República em exercício por poucos dias têm sido motivo de episódios que causam vergonha alheia. Viagens oficiais com avião presidencial ao Estado de origem. Ou atos oficiais absolutamente desimportantes. Até porque nem o prefeito, nem o governador, nem o presidente deixam “tinta na caneta”. Assim, a interinidade se converte numa ridícula pantomima com direito a discursos, intensa agenda de trabalho e justas e merecidas homenagens.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Nos fios da teia #2



POR SALVADOR NETO

Nos Fios da Teia agradou aos leitores do Chuva Ácida, como esperado. E aqui vamos nós a mais alguns fios que tecem parte do mundo em que vivemos. Vamos em frente?
Cunha, sigilo e grana – O quase ex-deputado e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, foi com tanta sede ao pote que se afogou no próprio oceano da sua hipocrisia. Com dois inquéritos abertos contra ele no STF, contas na Suíça em seu nome e da família com apenas (?) 9 milhões de reais, agora sequestrados a pedido do ministro Teori Zavascki, seu fim se aproxima. E a turma do impítim (leia-se PSDB, DEM, PPS) se afoga junto.

CPMF vem aí – O imposto, ou contribuição como queiram, que mais assusta os ricos e afortunados, grandes empresas e multinacionais, além de bancos e financeiras, vai valer em breve. O governo Dilma costura os apoios, já tem governadores e até prefeitos ao seu lado. Com essas canetas não há deputado que deixe de aprovar. Afinal, se suas cidades quebrarem, e assim seus estados, para que serviriam deputados e senadores? E cá prá nós, quem pagará a CPMF é quem nunca paga nada, os mais ricos. Que venha, e logo.

Congretrevas – Essa legislatura eleita pelo povo brasileiro tem feito uma força danada para arrastar o Brasil às trevas da Idade Média. A proposta do Estatuto da Família negando a realidade, a derrubada da criminalização da homofobia e, pasmem a tentativa ridícula de criminalizar atos contra heterossexuais (kkk), para ficar somente nisso, nos colocam no século X. E você aí em casa, vai ficar só olhando?

Mídia Caolha – Na província de Joinville, nossa Sucupira, nossa velha e carcomida mídia local/regional enxerga festival de cucas, distribui afagos ao fascista Bolsonaro, negando ao seu público conhecer o outro lado da moeda, ou das notícias. Em meio às enchentes desta quinta-feira (22) os joinvilense descobriram que não há radio jornalismo para prestar serviço em meio às águas e caos instalado. Fujam para os meios digitais alternativos gente!

Mídia Caolha 2 – Você já deve ter ouvido falar de Dalmo Dallari não? Grande jurista brasileiro, professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, com grandes obras publicadas, teve participação importantíssima na Constituinte. Esta personalidade esteve na província de Joinville esta semana em evento sobre direitos humanos. Você soube? Não, claro que não. A mídia local/regional usou o tapa-olho. Não viu, não quis ver, não publicou. Não interessa aos donos do poder. Aguardem a vinda do Bolsonaro. Ganhará capa e espaços de entrevista generosos.

Enchente – Algo que não é novidade desde que os imigrantes afundaram os pés no mangue das terras de Dona Francisca, as enchentes por toda a cidade tornaram a vida dos joinvilenses um inferno nesta quinta-feira (22). Caiu muita água entre a madrugada e o meio da tarde, e os prejuízos como sempre, serão altos. No mandato anterior, de Carlito Merss, a limpeza permanente dos rios, bocas de lobo, riachos, causou grande redução das cheias. Hoje, esse processo cessou. Resultados aparecem dentro das casas e comércios.

Troca-Troca – Enquanto a chuva encharcou a paciência dos joinvilenses, um troca-troca chamou a atenção: Udo, que deixou um Rodrigo, que deixou para outro Rodrigo. O primeiro foi passear em outro continente, e deu um agrado ao seu vice, de quem na verdade quer distancia. Este ficou um pouquinho, e passou a bola para o outro Rodrigo, o Fachini. Este, por sua vez, destacou em cerimonia familiar o “desafio”, a “missão” que teria por... 48 horas. Ele só não contava com as chuvas. É, essa Joinville faz coisas...
E a prevenção?  – Santa Catarina sofre com cheias há décadas. É um convívio diário e permanente com as águas dos rios, somadas ao grande fluxo de chuvas que já sabemos até em quais meses acontecem. A pergunta que nunca tem resposta é: porque os governos e suas estruturas não colocam em ação um plano de prevenção, já que tem informações antecipadas das intempéries? Porque não soam avisos à população tão sofrida, com antecedência? Porque não colocam planos de contingenciamento das águas, deslocamento das pessoas, proteção aos seus patrimônios? É uma falta de vontade política e de governo que beira a um ato criminoso contra as comunidades.
É assim, os fios da teia nas teias do poder...

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Tudo sob controle!


O sul não é meu país


POR FELIPE CARDOSO

O respeito à democracia é fundamental, principalmente no momento de polaridade política que enfrentamos no país. Apesar de sempre respeitar opiniões de conhecidos e amigos nas publicações que fazia no Facebook, parei de publicar alguns posicionamentos na rede social pelo simples fato de perceber que as pessoas não estão preparadas para respeitar o próximo, muito menos realizar debates com bons argumentos, sem ofensas, sem partir para a apelação, para os xingamentos, reduzindo problemas políticos, econômicos e sociais a ataques pessoais.

Recentemente, a notícia da morte de um imigrante haitiano a facadas, em Navegantes, chocou boa parte dos catarinenses. A notícia teve destaque nacional. Também pudera. Dez pessoas assassinaram uma.

Quem observou e analisou todas as movimentações feitas com a chegada dos imigrantes em terras tupiniquins não ficou tão surpreso com a notícia, pois está alertando, constantemente, sobre o agravamento desse problema, enquanto o Estado assiste tudo e se mantém omisso. Mesmo assim, não tem como não se assustar com tamanha barbárie.

O descaso do governo, o exagero da imprensa mostrando de maneira negativa a chegada de imigrantes haitianos no país, a diferença de tratamento em relação aos outros imigrantes, o racismo por trás de todo o tratamento negado... Tudo isso foi relatado em um texto postado aqui no blog, meses atrás.

Infelizmente, as consequências estão aparecendo. Todo o discurso de ódio, todo o racismo e toda a xenofobia ficaram escondidas em desculpas sobre a crise.

Talvez, tentando respeitar a tal democracia, permitimos que o discurso de ódio se propagasse, que as ideias de separação entre povos tomassem força, que sulistas se achassem superiores a nordestinos, que brasileiros se achassem superiores aos imigrantes, que brancos continuem se achando superiores aos negros.

O patriotismo e o nacionalismo só servem para dividir a classe trabalhadora, bem como o racismo. Ao amar cegamente uma cidade, um estado ou um país você pode não enxergar as imperfeições presentes nele. É o que acontece por aqui, no sul maravilha. A movimentação separatista, junto com uma imprensa pra lá de bairrista, insiste em jogar a culpa e a responsabilidade dos problemas para os outros. Outros estados, outros governos, outras pessoas...

Em um momento de crise financeira, as vítimas da vez foram os imigrantes, mas não todos, apenas os negros. O alarde dos perigos foram feitos por diversos veículos de comunicação, assistimos diversos casos de xenofobia e racismo por todo o país, contra os imigrantes negros. Poderíamos ter aprendido com o erro dos outros estados, mas, infelizmente, seguimos o fluxo. Na onda separatista e conservadora defendemos algo que achamos ser nosso. Um pedaço de terra, um papel, um emprego... Preferimos o ter pelo o ser. Em troca, expulsamos, afastamos. O diferente, o outro é a ameaça. Essa ameaça precisa ser extinta, não pode estar perto. E assim vamos construindo muros simbólicos e físicos, deixando de lado o respeito, a empatia, a troca de experiência e conhecimento.

A morte do imigrante haitiano, em Santa Catarina, não foi efetuada apenas com as mãos das pessoas que cometeram o crime físico. Foram efetuadas com as mãos dos que cometem os crimes psicológicos e simbólicos. Do movimento separatista, da imprensa, dos empresários, dos políticos, dos que negam a oportunidade e, também, com as mãos dos que se mantêm em silêncio diante tudo isso.

Devemos entender que o mundo foi feito para todos e que um mapa não pode ser motivo para a segregação.

O mundo é meu país!

Mobilidade, o item que falta no TOP 10


POR IVAN ROCHA*
Ao ler o preciso texto “A prova dos nove de Udo Dohler”, do jornalista José António Baço (link), senti falta de uma discussão sobre a Mobilidade Urbana e o tema merece um comentário à parte.


Lembro de quando presenciei uma reunião do Movimento Passe Livre com Udo Dohler, ainda em 2013. O prefeito ainda professava absurdos como um carro por pessoa em 30 anos, “mesmo que não usassem”. De lá pra cá muita coisa aconteceu.
Tivemos o labirinto do anel viário do Iririú, onde os moradores tinham que “descobrir” os melhores caminhos por conta própria, parte sem infraestrutura mínima para o aumento da demanda. Ou aquela lombo-faixa fora dos padrões mínimos de qualidade em frente ao colégio, que teve morte. Ou ainda o fim do programa aluno guia, lembrado após a segunda morte na saída das escolas.
Apesar disso tudo, a falta de competência na hora de fazer intervenções não é o pior dos problemas. A falta de coragem de enfrentar os velhos privilégios parece ser uma marca ainda maior da gestão Udo Dohler. Isso é bem claro em dois casos bem conhecidos na cidade.
O mais recente é o privilégio que os pais dos estudantes do Colégio Santos Anjos tinham de parar seus carros no corredor de ônibus da avenida JK. Isso teve fim desde a última segunda-feira, mas só aconteceu após insistência do pessoal da página “Não é só pelo corredor”, que levou o caso ao Ministério Público. A administração municipal estava tentando enrolar através de um projeto de R$ 800 mil que nunca sairia do papel. E a solução foi simples, com alguns cones e mudança nas placas de sinalização.
O segundo caso é a licitação do transporte coletivo, que já venceu a concessão inconstitucional em janeiro de 2014. Mas até agora a Prefeitura continua enrolando com dificuldades de fazer um plano de mobilidade participativo, ou com o processo das empresas de um suposto prejuízo que os usuários teriam que arcar na tarifa. Como no primeiro caso, a solução é simples. Basta reabrir a ação direta de inconstitucionalidade, pois o valor cobrado certamente confrontaria o arquivamento da ação, que seria a falta de prejuízo aos contribuintes.

Assim está minguando o mito Udo Dohler, o empresário que resolveria os problemas da cidade com um “choque de gestón”. Espero que tenhamos aprendido que precisamos de um líder com projeto que quebre paradigmas, e não de um gestor que enrola e não enfrenta velhos privilégios.

*Ivan Rocha integra o grupo de comentaristas do Barulho na Chuva

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Back to the cana!


Joinville é a segunda melhor, mas o segundo lugar não é suficiente

POR FELIPE SILVEIRA

Calma, não estou falando aquela besteira que gente escrota diz sobre competições, de que o segundo é só o primeiro dos perdedores. Quero dizer que não é suficiente ser considerada a segunda melhor cidade do país enquanto somos escandalosamente injustos e desiguais. Por outro lado, negar que Joinville esteja entre as melhores, no comparativo, também me parece injusto. Negar seria não reconhecer o privilégio de viver em uma cidade como a nossa.

Joinville foi privilegiada economicamente por décadas e décadas. É uma cidade industrializada, com empregos, universidades. Na ditadura civil-militar, empresas da cidade receberam muita grana do Estado, gerando um enriquecimento às elites e um esvaziamento do campo. As pessoas foram deixadas de lado para gerar enriquecimento privado.

A cidade é um resultado disso e um prêmio não dá conta das contradições que ela apresenta. Não dá pra comemorar o segundo lugar em uma cidade com saúde precária, superexploração de trabalhadores, transporte público zoado e caro, uma imensidão de ruas de barro, centenas de animais abandonados que o munícipio não dá conta de cuidar, rios poluídos por empresas, saneamento básico que apenas recentemente começou a ser implantado, universidades públicas voltadas apenas às engenharias, universidades privadas que custam o olho da cara dos estudantes, educação pública que não dá conta de educar crianças e jovens, incentivo de desenvolvimento à cultura no chão. Entre outras coisas.

Comemora quem vive numa bolha. Quem tem asfalto na frente de casa, quem ganha vários salários mínimos (na indústria e no comércio o salário médio não chega a dois), quem tem grana para frequentar a via gastronômica, a arquibancada coberta e os teatros globais que de vez em quando aparecem no Teatro Juarez Machado. Comemora quem paga colégio particular e cursinho para os filhos estudaram nas universidades federais em Floripa ou em Curitiba. Parecem muitos, mas são poucos.

Um debate primordial

Um dos maiores dilemas de quem lida com Direitos Humanos, com promoção da igualdade, da justiça e da ideia de uma sociedade melhor, é como chegar às pessoas que não compartilham da mesma ideia. Parece que ficamos falando para nós mesmos, jogando pra torcida, ou, o que é pior, brigando entre nós.

Para mudar isso, acredito que um debate seja fundamental: como usar a comunicação social para isso. Enquanto defensores e defensoras dos direitos humanos conversam com meia dúzia de pessoas, a programação das TVs e rádios, que são concessões públicas, chegam aos milhões de brasileiros diariamente, dia e noite. É preciso exigir que elas façam a sua parte. Marcelo Rezende, Datena, Geraldo Brasil, RBS, Gugu, Xuxa, Pânico, Hélio Costa, Nilson Gonçalves e muitos outros promovem, todos os dias, a desigualdade. Alimentam o ódio e o egoísmo na sociedade. Se continuar assim, não há esperança.

Cura do câncer

O debate sobre a fosfoetanolamina está mais polarizado que a política no Brasil. Pessoal que é contra acha que todo mundo quer que simplesmente se distribua a droga. Não, senhoras e senhores, tem uma parcela que quer a ampliação e finalização das pesquisas.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O capitalismo falhou... rotundamente


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Capitalismo e capitalistas é o tema. E nada mais oportuno que começar pelo investidor Martin Shkreli, um dos casos mais recentes de sucesso do capital lá para as bandas de Wall Street. O que o tipo tem de tão especial para ser um expoente (à luz do capitalismo)? Ora, o sucesso está associado ao dinheiro. E, aos 32 anos, Martin Shkreli é um capitalista que faz dinheiro, muito dinheiro. Importam os meios usados?

Eis a fórmula do sucesso do investidor norte-americano. Há pouco tempo, ele criou a Turing Pharmaceuticals, da área de medicamentos, e comprou a patente da droga pirimetamina, usada no combate a doenças como a AIDS e a malária, por exemplo. Até aí tudo normal. Mas o capitalismo existe pelo lucro. E para lucrar o máximo e o mais rápido possível, Shkreli não perdeu tempo: aumentou o preço do remédio, de modestos US$ 13,50 para exorbitantes US$ 750.

Eis a pergunta: há algo errado, do ponto de vista dos capitalistas? Não. O cara vislumbrou a oportunidade (é meritocracia), investiu (é empreendedorismo), deu um novo rumo ao negócio (é inovação). E lucrou... sem gastar uma gotinha de suor. Ou seja, o homem fez apenas o que todo bom capitalista faz. Sem dilemas éticos. Aliás, imagino que os defensores do capital achem normal e não vejam falta de escrúpulos no episódio. Mas...

O capitalismo é um sistema legal, social, econômico e, sobretudo, cultural. Mas há uma coisa que definitivamente não é: ético. Nunca foi, nunca será. E quanto mais muda, mas vai em outro sentido: o velho capitalismo de terra e trabalho, que também nunca andou de mãos dadas com a ética, foi ultrapassado. Ou seja, morreu aquele modo de produção original: tirar da terra, transformar pela força de trabalho humana e vender no mercado com mais-valia.

Hoje o capitalismo é sustentado pela cultura do dinheiro e do individualismo. Os resultados práticos? O dinheiro faz dinheiro, sem haver trabalho. E foi nesse sistema de cassino que surgiram os famosos “lobos de Wall Street” (que têm seus similares em todo o mundo), conhecidos pela ganância e o foco exclusivo no dinheiro. Parece ser o caso do investidor norte-americano na compra da patente. O problema é que esse tipo de sistema sem ética leva o mundo a um caminho muito perigoso.

O resultado de décadas de capitalismo financeiro tem sido um autêntico desastre: 0,7% da população adulta detém precisamente 45,2% da riqueza mundial. Nessas condições, é estranho ver defensores do capitalismo entre os 99,3% restantes. É a prova provada de que o capitalismo fracassou. Mas é aí que entra a cultura. A grande vitória do capitalismo é no plano cultural. Ou seja, é fazer acreditar na sua superioridade, mesmo quando os números mostram que o contrário. E de forma acachapante.

E, para terminar, um aviso aos leitores anônimos: não venham escrever comentários essa conversa de que por criticar capitalismo a pessoa tem que ir para a Coreia. Nem vou discutir. Isso só vai demonstrar que vocês têm um QI muito inferior ao de um símio. Melhor que voltem para as árvores.


É a dança da chuva.