terça-feira, 24 de setembro de 2024

Joinville turística: a 8ª maravilha do prefeito é apenas uma miragem

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Tenho estado atento às propostas dos candidatos à Prefeitura de Joinville. E algumas ideias suscitam reações. Como o filme em que o prefeito Adriano Silva fala do turismo de Joinville como se fosse a oitava maravilha do mundo. Não é, prefeito. Longe disso. O problema do poder público de Joinville, e não apenas na atual administração, é achar que uma agenda de eventos faz o turismo. Não faz. Porque não fideliza e não cria marca (no sentido do branding).

Os eventos ajudam a encher os hotéis. Mas há um problema: este ano a pessoa vai à cidade para um congresso, mas no ano que vem o congresso é em outro lugar. E “tchau Joinville”. Os eventos podem ser uma fonte de receita, mas não fazem uma estratégia de longo prazo. Os fluxos de pessoas são temporários e sazonais. É essencial diversificar a oferta com, por exemplo, o ecoturismo, o turismo cultural, o turismo histórico ou de lazer. Com estratégia...

Mas há novidades. Parece que o prefeito está a apostar todas as fichas no tal Palácio das Orquídeas (aliás, ainda não foi esclarecido o quiproquó do uso das verbas da educação). Não vamos tirar o mérito do projeto, mas a visita ao tal palácio vai ser pontual. O turista vai uma vez e não volta. Ou seja, Joinville vira um ponto de passagem. E hoje as cidades turísticas estão focadas na retenção dos turistas, porque aumenta o ticket médio.

Já escrevi e repito: há um problema de raiz. Nenhum prefeito se preocupou em construir um “produto turístico”. Ou seja, criar “reasons why” para os turistas: “por que razão eu deveria visitar Joinville”? Não vou repetir os argumentos que tenho desfiado ao longo dos anos. Mas o fato é que o prefeito está a falar de uma Joinville que só existe na cabeça dele. O que me autoriza a dizer isso? É que eu sou um turista que todos os anos passa um mês na cidade.

O turista destes tempos (em especial os que trazem mais valor) está focado na experiência e não na simples visita de locais. As pessoas querem conexões mais marcantes e autênticas nas suas viagens. Não é apenas ver um museu ou um “palácio”. Aliás, o prefeito, que é hiperativo no Instagram, devia fazer um raciocínio simples: a cidade é “instagramável”? Parece uma besteirinha, mas no turismo a sério esse é um fator a considerar. Mas isso é La Palice.

Que tal calçar os sapatos do turista? Acontece que as coisas estão ligadas. Qual é o turista que gosta de sair de casa todo besuntado com repelente para evitar a dengue? Qual é o turista que aceita não ir aos lugares porque o sistema de transportes é sofrível? Qual é o turista que fica satisfeito com os bares sendo a única opção noturna (aquilo que já chamei turismo da cirrose)? Qual é o turista que, no tempo da pandemia, iria para uma cidade dirigida por negacionistas?

Podia continuar com os exemplos. Mas é o suficiente para mostrar que o turismo não vive sem os outros setores. E que Joinville tem um longo caminho a percorrer. Tenho escrito muito sobre o tema ao longo dos anos e não quero parecer repetitivo. Aliás, o problema é que se repete: entra prefeito, sai prefeito, e ninguém pensa um turismo de qualidade. Ou melhor, ninguém pensa uma cidade de qualidade e no longo prazo. E aí é “caixão pro billy”.

É a dança da chuva.



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