sexta-feira, 31 de outubro de 2014
0,97% para a cultura e 0,002% para a juventude
POR CHARLES HENRIQUE VOOS
O Conselho Municipal de Políticas Culturais alertou, nesta semana, que em 2015 a verba destinada para a cultura não chegará a 1%, o mínimo estabelecido por diversos órgãos e entidades para que o desenvolvimento cultural fosse garantido. Dos 2,25 bilhões previstos para o orçamento municipal em 2015, apenas 22,01 milhões será repassado para a cultura (veja o documento aqui), seja pela Fundação Cultural ou pelo Fundo Municipal de Incentivo à Cultura. Em números exatos, 0,977%.
Talvez por esquecimento, ou talvez proposital, está sendo descumprido, desta maneira, a meta número 17 do PMC, a qual diz que deve ser destinado "3% do orçamento geral da Prefeitura de Joinville para a consecução das metas do Plano Municipal de Cultura e o funcionamento de 100% das unidades vinculadas à Fundação Cultural de Joinville, nos Planos Plurianuais (PPA) de 2014 e 2018, bem como anualmente na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e na Lei Orçamentária Anual (LOA)". Segundo o mesmo documento, esta meta deveria ser alcançada com incrementos gradativos no orçamento até 2021, mas o que presenciamos é o contrário: dos 1,59% deixados em 2011 para 0,977% da realidade. Se nada mudar, perderemos, em breve, o título de referência nacional em políticas culturais conquistado há alguns anos.
No mesmo caminho estão as políticas de juventude. Carlito Merss, durante o seu mandato, incrementou (mesmo que de forma muito tímida) a atuação política da Coordenadoria de Juventude, juntamente com o seu orçamento, deixando mais de 100 mil reais previstos para 2012 e 2013. Já Udo Dohler, em um de seus primeiros atos administrativos como prefeito, contingenciou uma série de verbas públicas, incluindo 100% do orçamento destinado para as políticas de juventude. Ou seja, seria um setor amarrado, sem possibilidade de atuação (1). Em 2013, então, 118 mil reais foram pro ralo, visto que nada foi gasto, segundo dados do Portal da Transparência. Em 2014, primeiro ano do orçamento totalmente montado por Udo, míseros 50 mil reais foram planejados para a juventude. Até a publicação deste artigo, nenhum centavo havia sido gasto na rubrica orçamentária da "Juventude em Ação". Para 2015, o orçamento cresceu incrivelmente para 53 mil reais. Em números reais, 0,002% do orçamento (não chega nem a 0,1%!).
Isso mostra que a gestão Udo Dohler não trata como prioridade os seus programas sociais. A ONU já publicou vários documentos alertando que as políticas culturais e setoriais para a juventude são as principais ferramentas de inclusão e equidade para uma faixa etária que nem sempre possui as mesmas oportunidades, e que estão diante dos mais diversos riscos sociais que a vulnerabilidade e a desigualdade causam. Sem políticas culturais e afirmativas, a sociedade joinvilense se vê obrigada a encarar uma dura realidade social (trabalho e progresso) e uma escolha de seus representantes pela omissão.
Diante de tais fatos, não há como negar o caminho escolhido pelo governo municipal. Está evidente.
(1) Este foi um dos principais motivos que levou o presente articulista a pedir exoneração de seu cargo de Coordenador de Políticas para Juventude e Direitos Humanos, em maio de 2013.
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Eleições: sinta-se representado
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A intenção era fazer uma análise do resultado das eleições. Mas a reação das pessoas seria previsível. Os anônimos entrariam no blog só para me chamar de comunista, petralha, atrasado. Ou seja, o habitual. Por isso optei por resumir tudo a uma imagem que se tornou icônica no pós-eleições. A moça aí - uma encarnação típica dos que não querem saber de solidariedade para com os mais pobres - mostra o respeito que tem pela democracia. E, mais do que isso, pelas pessoas que pensam diferente. E hoje fico por aqui. Porque é com esse tipo de pessoas que não me apetece entrar em contato neste momento. As redes sociais não são lugar para pedagogia e hoje não estou no "mood". Deixo apenas o filme (de resto muito visto). Você, que entra aqui apenas para encher o meu saco, veja as imagens... e sinta-se representado. Abraços.
terça-feira, 28 de outubro de 2014
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Hora de analisar o resultado
POR JORDI CASTAN
O resultado das eleições é um Brasil dividido. Quem apostou
no ódio, no "nós contra eles", ricos contra pobres, brancos contra pretos, norte
contra sul, ou nós contra as “zelites” de olhos azuis ganhou. Hoje há que fazer
a leitura das urnas. Quem ganhou em que estados? Como votaram os municípios? Qual o perfil do eleitor? Tenho certeza que
aqui mesmo no Chuva Ácida não faltaram posts e comentários a se aprofundar no
tema.
Teve quem defendeu a sandice do voto em branco: a mensagem é que, com brancos, nulos e abstenções somando mais do 27%, o eleitor se omitiu mesmo e foi a abstenção, junto com o voto em
branco, o que serviu para eleger Dilma. Os que defenderam o voto crítico, inventaram
mais uma bizarrice e também contribuíram para eleger Dilma. O resultado é que a
maioria do eleitorado não votou na candidata que ganhou. Quem acredita que se
abstendo, votando em branco ou dando um voto crítico deu algum recado, pode
ficar com as suas sutilezas. Porque este pessoal não entende de sutilezas.
Os próximos capítulos desta história estão ainda por ser
escritos. Fala-se de impeachment, e já houve no Brasil presidente “impichado” por
muito menos. Mas aqueles eram outros tempos. Hoje o nível de tolerância - ou deveríamos
dizer de conivência do eleitor com a corrupção, a roubalheira e a falta de ética - é muito menos estrito.
Minhas felicitações aos que desde este espaço manifestaram
seu apoio a candidatura do PT. Lamento profundamente o resultado. Vivo numa
cidade e num Estado que majoritariamente votou no candidato que não venceu. Aliás, a mesma Santa Catarina que elegeu Raimundo Colombo no primeiro turno votou em
peso em Aécio, que não era o candidato do governador. Em Joinville, enquanto o
prefeito Udo Dohler declarava abertamente o voto em Dilma, a candidata do
prefeito levou um pau bonito de ver. Sinto-me de alma lavada. No segundo turno
apoiei o candidato que venceu em Joinville e em Santa Catarina.
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Vai terminar a pior campanha eleitoral da democracia brasileira
POR CHARLES HENRIQUE VOOS
Independente da vitória de Dilma ou Aécio, nós, brasileiros, não temos o que comemorar. Convivemos nos últimos três meses com o pior extrato possível de nossa democracia, materializada na corrida presidencial. O que já estava ruim no primeiro turno descambou para o patético e mediocredade no segundo. A sétima eleição para presidente após a redemocratização só evidencia que ainda estamos longe de um debate democrático sensato, inclusivo e igualitário.
Em primeiro lugar, não tivemos uma campanha eleitoral justa. Partidos menores, por mais que alguns destes sejam fruto da incapacidade nacional na questão da reforma política, deveriam participar de forma igual aos demais, sem exclusão ou tratamento diferenciado. Não foi isso que vimos na mídia, a qual se deu ao luxo de criar regras estranhas e nada coerentes com o que se diz democrático, priorizando os três porquinhos que lideravam todas as pesquisas.
Pesquisas estas que, contudo, precisam imediatamente de novos preceitos metodológicos diante dos erros abissais cometidos. A regionalidade é um fator variável na hora de analisarmos o comportamento eleitoral do brasileiro, mas oa levantamentos feitos pareciam se esquecer disto. Não há como fazer pesquisa eleitoral sem essa premissa.
Presenciamos, também, o perigo que é o atual sistema de financiamento de campanhas. Conforme o que já é debatido há muito tempo, a democracia corre perigo pois ela é altamente dependente dos altos investimentos privados para a potencialização do sucesso eleitoral de um candidato. Sendo assim, as empresas que mais necessitam de ações governamentais são as que mais investem na esperança de obter favores políticos em licitações, concorrências públicas e políticas setoriais e de subsídios. Consequentemente, as campanhas mais poderosas são as que mais permeiam os debates e as rodas de conversas dos eleitores comuns.
No primeiro turno, medimos a qualidade da campanha eleitoral pela zoeira virtual. As propostas perderam lugar para as brincadeiras, comparações e o sarro tirado com os candidatos porque, estes, esqueceram dentro dos escritórios dos marqueteiros as propostas de melhoria do Brasil. Temas importantes como mobilidade urbana (estopim das manifestações de 2013), combate à desigualdade, saúde, saneamento e segurança pública quase não foram pautadas. O sistema de debates, engessado, arcaico e repetitivo foi o principal responsável, em conjunto ao horário eleitoral gratuito, o qual serviu mais como palco para piadas do Tiririca do que apresentação de idéias.
Sofremos com o aparelho excretor, com a homofobia, com o preconceito e o ódio. Nadamos contra o respeito pela opinião alheia, por mais que ela fosse contrária a nossa. Partimos para uma agressão social gratuita. Ataques pessoais entre amigos infestaram nossas relações sociais, como se fosse um crime pensar diferente. O conservadorismo da ditadura rondou o imaginário de muitos. O desconhecimento sobre comunismo, socialismo e os programas de transferência de renda também. Nossa capital virou Havana e nosso pior inimigo era o bolivarianismo. Esquecemos do que era melhor para o país em troca de uma cegueira combinada à ilusão. Deixamos Everaldos serem estrelas e Marinas marinarem em um espectro de comoção nacional. A ideologia deu lugar ao individualismo e "liberdade de expressão". Ao invés de debates, tínhamos massacres.
E no meio disso tudo um acidente aéreo que abalou todas as estruturas e fez a "nova política" ruir na incoerência retrógrada de sua nova líder. Eduardo Campos mal morreu e já foi esquecido como se sua trajetória política fosse transferida para um patamar de herói de BBB. O "não vamos desistir do Brasil" foi esquecido no segundo turno.
Tudo aquilo que circulava pela internet foi transferido aos ataques de Dilma e Aécio, que pareciam crianças que se xingam mutuamente só pra ver quem fica sem respostas. A miséria foi tamanha que o tribunal eleitoral foi obrigado a intervir.
Agora estamos perto da decisão. Todos querem ganhar mas nos esquecemos da vergonha alheia que foi todo o processo. Saímos derrotados, sem exceções. Enquanto essa oportunidade de discutirmos o que de fato queremos, maior a chance de não sabermos o que cobrarmos lá na frente e repetirmos o pastoreio de ovelhas de junho do ano passado.
Ainda bem que vai acabar e, no dia sefuinte, poderemos tomar consciência e construir um processo totalmente diferente ao presente, olhando para trás, sem repetir de erros, e um futuro construído organicamente pelas lutas nossas de cada dia.
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
Da utilidade dos retrovisores
POR CLÓVIS GRUNER
O tcheco Max Brod, biógrafo de Franz Kafka, perguntou um dia
ao escritor e amigo se ele acreditava existir alguma esperança “fora desse
mundo de aparências que conhecemos?”. A resposta foi kafkiana: “Há esperança
suficiente, esperança infinita. Mas não para nós”. Lembro-me do diálogo a
propósito do segundo turno das eleições presidenciais, que encerram domingo
próximo. Está a se vender demasiada esperança em troca do voto, tanto Aécio
como Dilma. Esta mais diretamente, aquele quase sempre por metáforas que acusam
a candidata à reeleição e seus eleitores de “olhar sempre pelo retrovisor”
quando, diz ele, é hora de olharmos para frente.
Pois diferente do que prega Aécio, decidi meu voto no segundo
turno – no primeiro fui eleitor de Luciana Genro, do PSOL – principalmente
porque cultivo o saudável hábito de olhar sempre pelos retrovisores. Se em uma
eleição toda escolha implica certo grau de incerteza e risco, porque não há garantias sobre como o candidato, se eleito, se comportará ao longo do
mandato, o recurso ao passado pode
servir para orientar escolhas no presente,
além de nos ajudar a compor aquilo que o historiador alemão Reinhart Koselleck denominou “horizonte de expectativas”, o mais próximo que nos é permitido vislumbrar do que chamamos de futuro.
OLHAR PARA TRÁS UMA VEZ – De um de meus retrovisores eu vejo
um país que em 2011 atingiu o menor índice de desigualdade social da história, muito
disso em função do Bolsa Família: em 10 anos, o programa tirou cerca de 36 milhões de pessoas da extrema pobreza e
contribuiu para a redução da mortalidade infantil em 40%. Também na última
década, o crescimento real da renda dos 10% mais pobres foi de 91,2%. As
políticas sociais implementadas ou ampliadas pelos governos petistas – e que
provocam um surto de esquizofrenia em muitos eleitores tucanos – contribuíram
para que neste ano o Brasil, pela primeira vez desde que o instrumento foi criado,
ficasse fora do Mapa Mundial da Fome, depois de reduzir em 82% a população em
situação de subalimentação.
Em outra
área que me afeta sensivelmente, a escolaridade média da população de 25 anos
ou mais aumentou na década entre 2002 e 2012, passando de 6,1 para 7,6 anos de
estudo completos. O incremento foi mais intenso no ensino fundamental e atingiu
principalmente os “mais pobres”, graças a programas como o Viver Sem Limite e o Caminho da Escola, destinados respectivamente à crianças portadores
de deficiência e moradoras de zonas rurais e ribeirinhas. No ensino superior,
entre outras coisas, a política de cotas ajudou a triplicar o número de negros
nas universidades; o programa Ciência Sem Fronteiras levou 60 mil universitários para estagiar e estudar
em universidades estrangeiras; novas universidades foram construídas,
ampliando o número de vagas em instituições públicas federais; e aumentou a oferta de
bolsas para estudantes de graduação e pós-graduação.
(Você também
pode dar uma olhada no retrovisor do Murilo Cleto, do blog Desafinado, com uma visão bem mais
panorâmica que o meu.)
E OLHAR DE
NOVO – No segundo retrovisor as imagens são menos agradáveis. Há a corrupção, mas sua presença nos últimos governos não me incomoda mais nem menos que nos
anteriores, no que sou diferente de muitos eleitores, inclusive colegas deste blog, cuja
indignação é bastante seletiva. Gostaria de ver todos os culpados
presos, mas tucanos e aliados estão e provavelmente continuarão todos soltos. O
discurso contra a corrupção, aliás, ajudou a alimentar uma indignação dispersa e sem conteúdo e a
transformá-la em um ódio quase patológico dirigido principalmente contra o PT mas,
não raro, generalizado e direcionado, indiscriminadamente, à esquerda. Na ausência de propostas, a oposição passou os últimos 12 anos batendo na mesma tecla, ciente de que se trata de um discurso de fácil adesão: ao menos em tese, afinal, mesmo o sujeito que estaciona em vaga proibida, pára o carro em cima da faixa de pedestres ou suborna um agente público, é contra a corrupção, não é mesmo?
Dos
fragmentos de imagens que chegam do passado, me incomoda muito mais o viés conservador dos últimos
governos, notadamente o último; as alianças comprometedoras, que
acabaram por tornar figuras como a senadora Kátia Abreu parte da base de apoio
de Dilma Rousseff, além de sua aliada nesta eleição; a ausência de uma política efetiva de garantia dos direitos humanos e das minorias, expressa na
indiferença ou mesmo na truculência com que foram tratadas as demandas LGBTs e
das comunidades indígenas, por exemplo; a subserviência aos grupos de
comunicação, que impediu o governo de levar adiante o necessário e urgente
marco regulatório, condição fundamental à uma efetiva democratização das
mídias; a criminalização dos movimentos sociais e a repressão violenta, junto com os governos estaduais, das manifestações de 2013
e do #NãoVaiTerCopa, nesse ano; e, enfim, uma política de segurança pública
equivocada, cujas escolhas nem de longe tocam no que é fundamental: a
desmilitarização da polícia e uma nova política penitenciária.
O RISCO DO
RETROCESSO – Na hora de decidir meu voto no segundo turno, isso pesou tanto ou
mais que o conjunto de realizações sumariamente elencadas acima. Políticas de
inclusão social são sempre muitíssimo bem vindas, mas cidadania não se constroi
apenas pela inserção de novos consumidores no mercado, e nosso amadurecimento
democrático implica, justamente, seguir avançando naqueles pontos onde os governos
petistas – os dois de Lula inclusos – avançaram timidamente ou simplesmente não
avançaram. A consciência disso ajuda a contabilizar os riscos de minha
escolha e a ajustar minhas expectativas a elas: não acredito que iremos avançar
muito mais nos próximos anos do que conseguimos nos últimos quatro.
Mas
acredito, por outro lado, que as conquistas sociais elencadas acima, entre
outras, são importantes demais para as colocarmos em risco com quatro anos de uma aliança historicamente pouco comprometida com elas. E que a candidatura
do PT representa, hoje, se não a garantia mas a possibilidade de não retrocedermos
ainda mais nas demais pautas, postas sob ameaça maior em um eventual governo tucano. É claro que, não importa quem seja o próximo partido a ocupar o governo, será preciso tensioná-lo para tentar garantir algumas mudanças que, principalmente os grupos e forças conservadores, temem e recusam, o que não será tarefa fácil. Não
há certezas em uma eleição, mas olhar atentamente o retrovisor pode ajudar a
evitar retrocessos e evita alimentar ilusões. Talvez não haja esperança suficiente para nós. Mas me satisfaz a ideia de que, no domingo, a
memória pode vencer o ódio.
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
Uma visita inesperada bate à porta
POR FELIPE SILVEIRA
Domingo, 20 horas – Chove teses sobre o resultado das eleições no Facebook, no Twitter, nos jornais e em milhares de blogs Brasil (e mundo) afora. Para quem espera o fim da “chatice” nas redes sociais recomenda-se esperar mais um pouquinho. Eu, particularmente, espero que ela dure mais uns bons anos, pois, uma das poucas coisas boas deste processo eleitoral é que ele fez as pessoas tomarem partido.
Acredito que o pleito de 2014 tem sido muito mais claro do que os três recentes (à presidência) em relação a polarização entre dois projetos antagônicos de país, obrigando que os eleitores, de fato, escolham entre um e outro, mesmo que considerem um deles apenas “menos pior” ou que optem por um para “barrar” o outro.
É o meu caso. Militante filiado ao Psol, crítico ao modelo petista de desenvolvimento, opto pelo lado que, no contexto atual, não tem medo de dizer que está ao lado dos trabalhadores, enquanto o outro não se envergonha de ser o candidato dos patrões. Há, sem dúvida, dezenas ou centenas de motivos tanto para criticar quanto para defender a candidatura de Dilma. Mas não há um motivo sequer para defender a candidatura de Aécio Neves. Exceção feita aos especuladores e outros parasitas.
É justamente este acirramento ideológico, desenhado mais fortemente no segundo turno, que me interessa nos debates dos próximos anos. Com toda a direita ao redor de Aécio, coube à Dilma ser a candidata da esquerda, em que pese seus quatro anos de governo. Portanto, eu espero que essa configuração sirva, de fato, para empurrar Dilma e o PT novamente para a esquerda. Vamos ver, e cobrar, e lutar, diariamente. Como sempre repito por aqui, causa é o que não falta.
Se, nos anos 90, tentaram enterrar a História viva, ela tem sacudido a poeira em 2014, após ter levantado da tumba. Agora ela vai na casa de cada um pra dizer: “Chega de mimimi de que não existe direita e esquerda. Pega tuas armas, escolhe teu lado e vá à luta!”
Domingo, 20 horas – Chove teses sobre o resultado das eleições no Facebook, no Twitter, nos jornais e em milhares de blogs Brasil (e mundo) afora. Para quem espera o fim da “chatice” nas redes sociais recomenda-se esperar mais um pouquinho. Eu, particularmente, espero que ela dure mais uns bons anos, pois, uma das poucas coisas boas deste processo eleitoral é que ele fez as pessoas tomarem partido.
Acredito que o pleito de 2014 tem sido muito mais claro do que os três recentes (à presidência) em relação a polarização entre dois projetos antagônicos de país, obrigando que os eleitores, de fato, escolham entre um e outro, mesmo que considerem um deles apenas “menos pior” ou que optem por um para “barrar” o outro.
É o meu caso. Militante filiado ao Psol, crítico ao modelo petista de desenvolvimento, opto pelo lado que, no contexto atual, não tem medo de dizer que está ao lado dos trabalhadores, enquanto o outro não se envergonha de ser o candidato dos patrões. Há, sem dúvida, dezenas ou centenas de motivos tanto para criticar quanto para defender a candidatura de Dilma. Mas não há um motivo sequer para defender a candidatura de Aécio Neves. Exceção feita aos especuladores e outros parasitas.
É justamente este acirramento ideológico, desenhado mais fortemente no segundo turno, que me interessa nos debates dos próximos anos. Com toda a direita ao redor de Aécio, coube à Dilma ser a candidata da esquerda, em que pese seus quatro anos de governo. Portanto, eu espero que essa configuração sirva, de fato, para empurrar Dilma e o PT novamente para a esquerda. Vamos ver, e cobrar, e lutar, diariamente. Como sempre repito por aqui, causa é o que não falta.
Se, nos anos 90, tentaram enterrar a História viva, ela tem sacudido a poeira em 2014, após ter levantado da tumba. Agora ela vai na casa de cada um pra dizer: “Chega de mimimi de que não existe direita e esquerda. Pega tuas armas, escolhe teu lado e vá à luta!”
terça-feira, 21 de outubro de 2014
De que lado você samba?
POR CAROLINA PETERS
Em julho do ano passado, um amigo que estava em Londres me envia a imagem ao lado por email. Uma campanha produzida pelo periódico The Economist e veiculada amplamente em espaços como estações de metrô.
Where do you stand? Em bom português: de que lado você samba? Com uma imagem angelical de Angela Merkel, a campanha visava frear o avanço das manifestações que aconteciam na Europa contra a intervenção da União Europeia, protagonizada pela Alemanha, nas economias locais. Vale comentar que, ao mesmo tempo em que essa campanha midiática tomava corpo, as primeiras análises sobre a recessão que rondava a Alemanha já começavam a surgir.
Lembrando disso, não me estranha o apoio do The Economist ao candidato Aécio Neves. Ou antes, a Armínio Fraga e sua trupe.
Me estranha menos ainda, diante da declaração recente do candidato noticiada pelo Valor Econômico: o Mercosul está ultrapassado, "anacrônico", e é necessário repensar em "áreas de livre comércio". Ora, quer coisa mais anacrônica e furada que a Alca?
A América Latina, por outro lado, compra metade de nossos manufaturados. O Mercosul é responsável por 30%. O BNDES financia diversas obras na região e é assim que aumenta seu lucro. O fortalecimento da economia brasileira, da nossa credibilidade (pra não falar do nosso peso político lá fora), têm muito a ver com o fortalecimento da integração regional.
Vamos falar de economia?
Criou-se há tempos um mito em torno da política econômica -- e da política, de forma geral -- que afirma que tudo se resolve com gestão, impessoal e mecânica. Economia depende de escolhas, e quem entende e influencia nos rumos da economia mundia sabe bem: de que lado? Há possibilidades diversas de estabilizá-la e fazer crescer. Pode-se investir em produção ou especulação, criar empregos e fortalecer o mercado interno, ou adotar uma política cambial mais maleável. Concentrar os lucros ou distribuir renda.
Em terra (ou tela?) de comentários truculentos, e acusações de desinformação, é pedir demais que aqueles que pagam de intelectuais repetindo comentários aleatórios sobre o PIB e a inflação alta (alta mesmo?) saibam do que estão falando?
A economista Leda Paulani, professora da USP e uma intelectual que respeito muito, escreveu essa semana no blog da Boitempo Editorial sobre o Terrorismo Econômico, narrativa que mais uma vez ronda as presidenciais brasileiras. Recomendo profundamente a leitura, junto com o melhor debate deste segundo turno: Guido Mantega e Armínio Fraga no ringue de Mirian Leitão. O link na íntegra está aqui. Aliás, alguém concorda com Fraga que o dinheiro emprestado do FMI foi "barato"? (palavras dele).
A política econômica do governo Dilma está longe dos meus sonhos, mas Armínio Fraga é o bicho papão da minha infância. Eu voto pelo Mercosul.
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
A Arte da Mentira Política
POR JORDI CASTAN
Na reta final da campanha eleitoral, quando os ânimos estão exacerbados ao extremo e quando a eleição está polarizada entre dois candidatos que tem visões de país e valores diferentes, achei oportuno resgatar um texto publicado em julho de 2010 no jornal A Notícia.
Não lembro de uma campanha de mais baixo nível que a atual. É verdade que a candidata a reeleição ou o ventríloquo que a controla já avisaram que "fariam o diabo" confesso que não esperava tanto. E esse é um erro de avaliação grave, da minha parte, deveria ter imaginado, mas teria ficado curto.
O desespero dos que correm o risco de ser apeados do poder é evidente e os leva a radicalizar isso nunca é bom. Perder o poder é um castigo muito forte para quem durante 12 anos tem tido dificuldade em separar o público do privado. Voltar a ser cidadãos normais pode representar um duro golpe para algumas figuras que sempre têm vivido pendurados nas tetas do dinheiro público.
Igualmente é dura a situação dos que, faz já doze anos, não têm acesso ao Governo Federal. Os ânimos estão acirrados demais, ambos lados radicalizam e na reta final da campanha lembro da cena de um filme de Marx, os irmãos Marx, não o Karl que tantos admiradores tem neste blog. "Mais madeira que é a guerra" é o grito de ordem. Hora de colocar toda a lenha no fogo e de seguir fazendo o diabo.
O Brasil já perdeu o resultado será um país rachado ao meio, entre nós e eles, entre norte e sul, entre ricos e pobres, entre vermelho e azul.
O Brasil já perdeu o resultado será um país rachado ao meio, entre nós e eles, entre norte e sul, entre ricos e pobres, entre vermelho e azul.
'As pessoas nunca mentem tanto quanto depois de uma caçada,
durante uma guerra ou antes de uma eleição.' (Otto Von Bismarck)
A arte da Mentira Política
Recentes estudos comprovam o que todos já estamos carecas de saber. Todos mentimos, a diferencia reside na quantidade de vezes e no tamanho das mentiras. Mark Twain escreveu que “ Ninguém poderia viver com alguém que falasse sempre a verdade.” E é hoje que a sua afirmação se mostra profética.
Especialistas fazem questão de diferenciar as pequenas mentiras, aquelas chamadas caridosas, como por exemplo quando alguém próximo nos pergunta: você acha que engordei? Ou os contadores de historias, Quando todos sabemos que tudo não passa de um exagero ou de uma fabulação, neste grupo é fácil encontrar pescadores e namoradores. Que não podem ser colocadas no mesmo nível que aquelas proferidas pelos mitômanos profissionais, aqueles que tem como objetivo enganar, burlar e se aproveitar da boa fé dos outros.
Neste quesito ninguém consegue um refinamento maior que os nossos políticos. Inclusive já em 1600 o escritor britânico Jonathan Swift escreveu o seu tratado da Arte da Mentira Política, livro de leitura obrigatória em curso de graduação e doutorado, que mostra com todo luxo de detalhes a refinada técnica que deve ser desenvolvida para poder mentir com profissionalismo.
A arte da mentira, requer alem da teoria, a pratica. Só a pratica diária leva a perfeição. Entre as dicas que devem ser seguidas a risca pelos mitômanos profissionais, destacam a de não estabelecer prazos curtos para as promessas que façam, porque podem ser verificados pelos eleitores. Por isto não é recomendável dar datas exatas para inauguração de Parques, praças, PAs (Pronto Atendimentos), ou para asfaltamento de ruas e construção de binários. Sempre é necessário deixar a porta aberta para o imponderável, como desapropriações ou chuvas.
Outro tema que merece ampla discussão é se o povo, tem ou não direito a saber a verdade, a opinião geral é que o povo formado por gente ignara e pouco preparada, deve ser enganado sistematicamente, que não pode e não deve, pelo seu próprio bem, ser confrontado com a verdade.
É verdade, contudo, que frente as mentiras contumazes dos políticos profissionais, o povo responde com as suas. Numa ingênua forma de resposta e equiparação, comentando e fofocando, que fulano engordou no governo, que comprou casa na praia, ou que uma vizinha assegura que a mulher fez uma plástica, paga por um empreiteiro. Tem quem assegura que aquela ex-miss, teria sido a sua amante. Mentiras tolas, que o povo usa para, tentar se equiparar aos verdadeiros gênios do dissimulo e da truanice.
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
16 de outubro: comemorar o fim da fome
16 de outubro de 2014. Antes de falar neste dia histórico, faço uma
recomendação. Não leia se você você que não está nem aí para a pobreza ou a fome. Ou se acha que no tempo dos senhores emplumados é que era bom. O texto é escrito apenas para pessoas que se importam. Ou seja,
pessoas que são solidárias com os mais fracos e hoje, pela primeira vez na vida, vão poder comemorar o Dia
Mundial da Alimentação com a fome estrutural tendo sido erradicada do Brasil.
O fato é que estamos a falar de uma revolução. Porque no Brasil havia uma revolução simples de realizar: fazer
com que todos os brasileiros tivessem refeições à mesa diariamente. Muitos não
lembram – ou sequer sabem – mas houve um tempo em que ler “Geografia de Fome”,
de Josué de Castro, era uma obrigação acadêmica. A fome era uma vergonha
nacional. De décadas.
Mas a revolução aconteceu. A Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO) apresentou, há algumas semanas, o seu mapa da
fome. E o Brasil não está lá. Ou seja, está a vencer a guerra contra o
anacronismo da fome estrutural. É um momento histórico. Mas por que não há
grandes reportagens na imprensa? Por que os brasileiros não estão a celebrar? O
silêncio é gritante (perdoem o trocadilho).
A notícia foi recebida com indiferença e quase não repercutiu. Talvez por
causa da proximidade das eleições e dos interesses específicos. Uns consideram
conveniente olhar para o lado e fingir que nada houve. Outros talvez não tenham
sabido capitalizar uma notícia tão positiva. Aliás, vi o extremo ridículo: um
“jornalista” a culpar o governo por, nos últimos 12 anos, ir “da erradicação da
fome à epidemia de obesidade”. Hã!?!?
A notícia é boa, mas o combate à fome não deixa de ser uma prioridade. De
acordo com o relatório da FAO, há 3,4 milhões de pessoas (1,7% da população)
que ainda não se alimentam de maneira suficiente todos os dias. E saco vazio
não para em pé. Mas a saída do Brasil da lista dos países incapazes de prover a
segurança alimentar dos seus cidadãos é motivo de otimismo. Até porque permite
projetar novas “revoluções”.
O Brasil vive um
momento de transição. Vamos esperar pelo veredito das urnas e ver o rumo que o
País vai tomar. Se vai investir nas políticas sociais ou se vai trilhar os
caminhos neoliberais. De qualquer forma, a revolução do arroz e feijão já aconteceu
e agora podemos avançar em direção ao vaticínio daqueles músicos titânicos: “a
gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.
É como diz o velho deitado: "A fome é má conselheira".
terça-feira, 14 de outubro de 2014
Empresário vota no PT?
POR GUSTAVO ANDRÉ GUTZ
1) Pequenas e médias empresas renovaram seu parque de informática utilizando-se da MP do Bem para Equipamentos de Informática (desoneração de impostos) e financiaram via Cartão BNDES em 24 vezes. Hoje tablets, computadores e smartphones são vendidos com isenção de PIS e COFINS.
2) Bancos públicos (Caixa e Banco do Brasil) emprestam dinheiro para compra de veículos e equipamentos, e trocam recebíveis (boletos e compras no cartão) com juros abaixo do mercado. Isso não significa que operam com prejuízo, mas sim que emprestam com juros menos escorchantes que os bancos privados.
3) A fábrica da BMW em Araquari só foi transformada numa realidade porque o Governo Federal editou o pacote INOVAR-AUTO, possibilitando a empresa também se beneficiar da redução de impostos na venda de seus carros.
4) Várias empresas da área de TI receberam aportes do BNDESPAR e puderam aumentar seu corpo local e ainda poder atuar no exterior.
Devido a essas políticas destinadas ao crescimento das micros, pequenas e médias empresas, vejo um futuro ainda melhor com a continuação do governo atual. No debate entre o atual ministro da Fazenda e o indicado por Aécio não vislumbrei nas palavras de Armínio Fraga que essas políticas serão continuadas caso o PSDB vença. Pelo contrário, ele sinalizou a redução da participação dos bancos públicos nos investimentos.
Fontes:
MP DO BEM: http://info.abril.com.br/noticias/mercado/governo-prorroga-mp-do-bem-ate-2014-16122009-42.shl
Cartão BNDES: http://conhecer.cartaobndes.gov.br/
Bancos Públicos: http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2012/07/selic-cai-para-8-ao-ano-e-bancos-publicos-reduzem-taxas-de-linha-de-credito
INOVAR AUTO: http://www.novidadesautomotivas.blog.br/2013/02/bmw-e-habilitada-no-inovar-auto-e.html
BNDESPAR: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Sala_de_Imprensa/Noticias/2013/mercado_de_capitais/20130208_linx.html
info.abril.com.br
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
Violência, postes e cachorros
O Brasil é hoje um dos países mais violentos do mundo. Entre as 50 cidades mais violentas do mundo, quase duas dezenas são brasileiras. Aliás, praticamente todas se encontram no hemisfério sul e em países em desenvolvimento. Assusta o nível de violência a que a sociedade brasileira tem se habituado.
É difícil acreditar que este aumento da violência não tenha uma resposta firme da sociedade. Há uma insensibilidade e uma aceitação desta situação, que ganha corpo a ideia que a violência é irreversível e está fora de controle e por isso o Estado não tem condições ou meios de enfrentá-la.
É difícil acreditar que este aumento da violência não tenha uma resposta firme da sociedade. Há uma insensibilidade e uma aceitação desta situação, que ganha corpo a ideia que a violência é irreversível e está fora de controle e por isso o Estado não tem condições ou meios de enfrentá-la.
Não há dia em que a imprensa não noticie algum homicídio, assalto, roubo ou a destruição de patrimônio público. Há uma banalização da violência e isso faz com que a sociedade deixe de reagir e acabe anestesiada frente à brutalidade quotidiana. Como resultado, deixamos de acreditar nas polícias e na Justiça e já nem denunciamos crimes menores Um fato que, entre outras coisas, distorce as estatísticas e falseia dados e indicadores, criando a ilusão de normalidade... até que alguém conhecido seja a próxima vítima.
O Brasil tem mais homicídios por arma de fogo que países como os Estados Unidos, aonde a venda e possessão de armas de fogo é livre. O Brasil tem mais mortos por violência que a maioria de países com conflitos armados declarados, incluindo estados em guerra aberta e isso em quanto o país enfrenta uma situação de declarada "normalidade".
Saúde, educação e segurança deveriam ser pauta obrigatória em qualquer processo eleitoral. Mas no Brasil estes temas ficam fora de um debate sério. A corrupção, o mau uso do dinheiro público e os escândalos que envolvem figuras públicas, em todos os níveis da administração, fazem que o combate a insegurança e à violência deixem de ser prioridade. Pior ainda. Recentemente foi noticia o caso um aposentado preso por disparar para se proteger, dentro da sua residencia, da ação de um criminoso. Essa história é tão comum no Brasil quanto poste mijando no cachorro.
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
BRANCO
POR CHARLES HENRIQUE VOOS
No primeiro turno destas eleições, conforme manifesto feito aqui no Chuva Ácida, votei na candidata do PSOL. Os motivos estão todos expostos naquele texto e pretendo segui-los. Sendo assim, creio que seja o momento de dizer o porquê do meu voto em branco no próximo dia 26.
O voto em Luciana no primeiro turno foi também um voto de protesto contra os três grandes da eleição - Dilma, Marina e Aécio, os quais monopolizaram a maioria dos debates nos últimos meses. São, também, candidatos que não representam uma "nova política". Independente de quem chegasse ao segundo turno, daria no mesmo.
Com a ida de Dilma e Aécio para o segundo turno, chegou a hora de tomar uma posição coerente com tudo aquilo que defendo. É evidente que o voto no PSDB de Aécio representa um retrocesso, não somente pelas lembranças de Fernando Henrique Cardoso, mas também por tudo o que este partido vem fazendo na história recente do Brasil em São Paulo, Minas Gerais, no Congresso Nacional e em Joinville, principalmente.
Votar no PSDB de Aécio é concordar com o mensalão mineiro, com a falta de água em SP, com o cartel do metrô, com a intransigência da polícia nas áreas de ocupações irregulares, e todo o conservadorismo que marca os parlamentares tucanos em Brasília. Não consigo concordar com isto e nem com a filosofia dos seus aliados: Bolsonaro, Malafaia, Marina, e tantos outros. Puxando para a questão urbana, tema no qual me dedico a anos, votar em Aécio representa aceitar todo o esquema montado pelas grandes empreiteiras em prol dos tucanos nos últimos anos. É sabido sim que, quanto mais uma empreiteira injeta dinheiro em campanhas e em diretórios partidários, mais as cidades são formatadas em prol de interesses empresariais.
E em Joinville tivemos secretário da saúde do PSDB preso por corrupção.
Somado a tudo isto, não podemos esquecer os 27 motivos para não votar em Aécio, link que faz sucesso na internet.
Sobre a Dilma, preciso reconhecer todos os seus avanços no combate à desigualdade, combate à fome e à miséria. O Brasil tem políticas públicas reconhecidas mundialmente pela ONU e por entidades reconhecidas no estudo da desigualdade, como a Oxfam. Seria burrice de qualquer cidadão brasileiro não reconhecer este avanço. Por outro lado, e voltando à questão urbana brasileira, o governo Dilma representa o mesmo retrocesso que o seu oponente tucano.
Os recentes incentivos às indústrias automobilísticas rasgam todos os preceitos estabelecidos no Estatuto das Cidades, juntamente com o que mais moderno vem se fazendo nos países desenvolvidos: a abolição do automóvel e o incentivo aos modos coletivos e/ou aos modos não-motorizados. Para dar suporte ao projeto da Copa do Mundo, o governo petista se aliou às grandes empreiteiras, diretamente interessadas na construção de novos estádios e suas respectivas obras de apoio (avenidas, pontes, infraestrutura para o transporte coletivo, etc). Ao mesmo passo que isso acontecia, milhares de famílias foram despejadas de suas casas sem o devido tratamento (segundo a BBC Brasil, mais de 250 mil pessoas foram afetadas).
Por manter uma linha de coerência, creio que o ideal para quem defende a questão urbana brasileira seja, sim, o voto em branco. Antes que o leitor mais desavisado possa pensar que esta posição caminha rumo a uma neutralidade, antecipo o engano: é um posicionamento claro de que nem Dilma e nem Aécio me representam. Creio, por fim, que os dois também não representem as verdadeiras necessidades da política urbana brasileira. Independente de quem ganhar, as cidades serão as principais prejudicadas e, em consequência, os seus moradores.
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
Sul e o Norte
POR CAROLINA PETERS
O ódio é, acima de tudo, burro. |
-- Mas você não é daqui, né?
Eu respondia que não. E como o olhar insistia em mais informações, dizia que vinha de Santa Catarina. Floripa? Não, Joinville. Ah, mas você não fala como gaúcho.. Claro que não.
Depois da mostra de ignorância geográfica, vinha uma enxurrada de elogios às belas praias, às gentes bonitas e educadas, a qualidade de vida. Ao pedacinho de Europa, surrada e maltrapilha, mas Europa, que cultivamos como se existisse no sul do país. Mas por que razão? Por que deixar Santa Catarina?
O bom de São Paulo é que as placas são várias e não sabem ainda falar.
Por vezes, um mesmo que elogiava o meu estado vinha confessar que os migrantes do Norte eram a grande mazela de São Paulo. Aprendi que em SP, ser nordestino é xingamento, daqueles mais variados. “Baiano”, por exemplo, pode querer dizer tanto cafona quanto sujo ou mal educado. A xenofobia nunca é arbitrária ou incondicional. Alguns de fora valem menos, outros, valem mais.
Na minha primeira semana em Fortaleza, folheando o jornal, me deparo com o comentário de uma leitora sobre a sondagem eleitoral no estado do Ceará, que dava à presidenta Dilma ampla vantagem sobre Aécio e Campos - era maio: “Depois há quem reclame de ouvir dos habitantes do Sul e Sudeste que nós, nordestinos, não sabemos votar.”
Gosto muito de uma gravura feita pelo pintor uruguaio Joaquín Torres García em 1943, um mapa invertido da América do Sul. “El Sur es el Norte” é um manifesto de independência artística das escolas europeias e uma afirmação de humanidade dos habitantes do sul do globo. Meu Norte é o Sul: Uma noção que me orienta, um nacionalismo que é libertador, que busca romper com os padrões hegemônicos e produzir seus próprios paradigmas. Que não é xenófobo ou excludente. O oposto do sentimento separatista com o qual convivi em Santa Catarina e São Paulo.
Pensei em um livro que li no início desse ano, relatos de uma jornalista portuguesa que cobriu os dias que antecederam a queda do ditador Hosni Mubarak no Egito em janeiro de 2011. Lá pelas tantas, ao comentar o tratamento que a imprensa internacional dispensava ao levante popular e os posicionamentos de diversos chefes de Estado, ela escreve “para o ocidente, a vida dos outros povos pode sempre esperar”.
O Nordeste cresceu nos governos do PT. Os programas de distribuição de renda movimentaram a economia em pequenas e grandes cidades; o aumento do salário aumento o poder de compra. A economia nordestina cresce mais que a média do Brasil. O nordestino que reelege Dilma o faz por convicção e reflexão, não por ignorância.
O ódio aos homossexuais, aos negros, a misoginia, marcaram o primeiro turno nos debates. Proferidos de maneira explícita por dois candidatos menores que não valem citação, encheram a bola de Aécio, para quem fizeram linha auxiliar, colaborando para levar o tucano ao segundo turno. Apesar do desempenho pífio presidencial, o ódio mais caricato mostrou força nas disputas proporcionais e na disputa pela vaga do senado nos estados.
Na segunda volta, toma conta o ódio de classe que separa o Norte e Nordeste explorados do Sul e Sudeste beneficiários.
Este, ao menos, tem sofrido consecutivas derrotas. Pesquisas recentes e conversas entreouvidas no transporte público indicam que a percepção de que a pobreza é resultado da falta de oportunidade e da desigualdade social, não da preguiça e da vadiagem, como se dizia, tem crescido. Espero que a tendência siga.
Depois da mostra de ignorância geográfica, vinha uma enxurrada de elogios às belas praias, às gentes bonitas e educadas, a qualidade de vida. Ao pedacinho de Europa, surrada e maltrapilha, mas Europa, que cultivamos como se existisse no sul do país. Mas por que razão? Por que deixar Santa Catarina?
O bom de São Paulo é que as placas são várias e não sabem ainda falar.
Por vezes, um mesmo que elogiava o meu estado vinha confessar que os migrantes do Norte eram a grande mazela de São Paulo. Aprendi que em SP, ser nordestino é xingamento, daqueles mais variados. “Baiano”, por exemplo, pode querer dizer tanto cafona quanto sujo ou mal educado. A xenofobia nunca é arbitrária ou incondicional. Alguns de fora valem menos, outros, valem mais.
Na minha primeira semana em Fortaleza, folheando o jornal, me deparo com o comentário de uma leitora sobre a sondagem eleitoral no estado do Ceará, que dava à presidenta Dilma ampla vantagem sobre Aécio e Campos - era maio: “Depois há quem reclame de ouvir dos habitantes do Sul e Sudeste que nós, nordestinos, não sabemos votar.”
Gosto muito de uma gravura feita pelo pintor uruguaio Joaquín Torres García em 1943, um mapa invertido da América do Sul. “El Sur es el Norte” é um manifesto de independência artística das escolas europeias e uma afirmação de humanidade dos habitantes do sul do globo. Meu Norte é o Sul: Uma noção que me orienta, um nacionalismo que é libertador, que busca romper com os padrões hegemônicos e produzir seus próprios paradigmas. Que não é xenófobo ou excludente. O oposto do sentimento separatista com o qual convivi em Santa Catarina e São Paulo.
Pensei em um livro que li no início desse ano, relatos de uma jornalista portuguesa que cobriu os dias que antecederam a queda do ditador Hosni Mubarak no Egito em janeiro de 2011. Lá pelas tantas, ao comentar o tratamento que a imprensa internacional dispensava ao levante popular e os posicionamentos de diversos chefes de Estado, ela escreve “para o ocidente, a vida dos outros povos pode sempre esperar”.
O Nordeste cresceu nos governos do PT. Os programas de distribuição de renda movimentaram a economia em pequenas e grandes cidades; o aumento do salário aumento o poder de compra. A economia nordestina cresce mais que a média do Brasil. O nordestino que reelege Dilma o faz por convicção e reflexão, não por ignorância.
O ódio aos homossexuais, aos negros, a misoginia, marcaram o primeiro turno nos debates. Proferidos de maneira explícita por dois candidatos menores que não valem citação, encheram a bola de Aécio, para quem fizeram linha auxiliar, colaborando para levar o tucano ao segundo turno. Apesar do desempenho pífio presidencial, o ódio mais caricato mostrou força nas disputas proporcionais e na disputa pela vaga do senado nos estados.
Na segunda volta, toma conta o ódio de classe que separa o Norte e Nordeste explorados do Sul e Sudeste beneficiários.
Este, ao menos, tem sofrido consecutivas derrotas. Pesquisas recentes e conversas entreouvidas no transporte público indicam que a percepção de que a pobreza é resultado da falta de oportunidade e da desigualdade social, não da preguiça e da vadiagem, como se dizia, tem crescido. Espero que a tendência siga.
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
Um debate polarizado, de novo
POR CLÓVIS GRUNER
Encerrado
o primeiro turno, poucas surpresas ‒ a
vitória de Aécio Neves sobre Marina Silva é uma “meia surpresa” ‒ e uma certeza: a política brasileira tem dificuldade
de se desvencilhar da polarização PT x PSDB. Desde o retorno das eleições
diretas para presidente, em 1989, já foram sete campanhas; petistas e tucanos
se enfrentaram em seis delas, com a vitória do PSDB em duas (com FHC em 1994 e
1998, no primeiro turno) e do PT em outras três (2002 e 2006 com Lula; e 2010
com Dilma, todas no segundo turno). Fora do governo há mais de uma década,
tucanos e aliados tem sede de voltar a ele e farão literalmente qualquer coisa
para isso. Os petistas, por sua vez, sabem que enfrentam seu pleito mais
difícil, e que pela primeira vez desde a vitória de Lula há o risco real de
saírem derrotados no dia 26 de outubro.
Não
será uma disputa fácil, portanto. E embora seja uma espécie de mantra afirmar
que o segundo turno é uma “nova eleição”, penso que algumas possibilidades
podem ser aventadas com base nos resultados do primeiro. A começar pelo destino
dos votos de Marina Silva. Desde o
começo da semana, a candidata sinalizava o apoio à candidatura de Aécio Neves, confirmado ontem, no mesmo dia em que Aécio recebeu também o apoio do PV de Eduardo Jorge – o PSOL de Luciana Genro declinou de apoiar um dos candidatos, embora desaconselhe o voto no tucano. De todos, certamente o de Marina foi o golpe mais duro para o PT, que provavelmente esperava uma posição neutra,
a repetir a posição tomada em 2010. Por outro lado, o apoio a Aécio Neves, se confirmado, pode repercutir a médio prazo nas pretensões de Marina, que corre o
risco de perder definitivamente a credibilidade adquirida entre aqueles setores
mais à esquerda que, descontentes com os seguidos governos do petistas, depositaram nela alguma expectativa
de renovação.
Não
acredito, como parte da militância marinista, que sua derrota se deva aos ataques desferidos contra
ela pela campanha de Dilma. Primeiro,
porque Marina não foi exposta nestes dois meses de campanha mais do que o PT
nos últimos 12 anos e de Dilma nos últimos quatro. Ambos sobreviveram, e com chances
reais de emplacar o quarto mandato. Seu discurso careceu de solidez
e pecou por excesso de ambiguidade. Se é verdade que Marina foi exposta pelo
programa e pela militância petistas, sua derrocada se deveu também e, penso,
principalmente, ao fato dela mesmo ter se exposto, revelando suas muitas contradições.
E isso, me parece, contribuiu mais para a perda de votos que o confronto com a
candidata petista.
Junto aos eleitores mais à esquerda, Marina perdeu votos em
função de seus flertes com as políticas econômicas neoliberais ou sua
capitulação frente às pressões de setores conservadores; à direita, porque
tentou aproximar sua candidatura justamente daquelas políticas que estes
setores rejeitam, como ficou claro no último debate, quando insinuou que seu
programa era mais parecido com o de Luciana Genro do que com o dos tucanos. Pretendendo
não ser de esquerda, mas também não de direita, defendendo um princípio vago de
governar com “os bons” de todos os lados e matizes, Marina não só perdeu votos
ao ponto de nem figurar no segundo turno. Mas turbinou a campanha de seus
adversários, principalmente a de Aécio Neves, para onde parece ter migrado boa
parte deles.
UMA CAMPANHA DE MEDO E ÓDIO –
A meu ver, o pior de Marina Silva ter ficado de fora foi, justamente, o retorno
à polarização PT x PSDB que a candidata, por um breve momento, chegou perto de
dissolver. Particularmente, eu a preferia em uma disputa com Dilma Rousseff, mas
certamente as lideranças e os marqueteiros petistas não concordariam comigo. Tanto
que investiram parte de seu tempo e energia para forçar um segundo turno com
Aécio e os tucanos, e não é difícil entender as razões. Sob certa perspectiva, Marina representava um risco maior à
reeleição de Dilma, inclusive porque suas trajetórias e perfis são, em alguns
aspectos, bastante próximos, o que dificultaria o discurso polarizado.
A polarização entre petistas e tucanos
interessa ao PT, que poderá afrontar seu adversário ao longo dos próximos dias recorrendo
a um discurso baseado principalmente no medo de um passado que muitos eleitores
não querem de volta e, contra o qual, o PT se apresenta como o único antídoto. Com
Marina, este discurso era mais difícil, porque seu passado e de sua legenda
provisória, o PSB, incluía uma passagem pelo governo petista. Tendo ela como
adversária, a candidatura petista precisaria deslocar o temor do passado para o
futuro. Mas este, como sabemos, é um horizonte de expectativas e pode ser tanto lugar de receio como de
esperança. Será preciso esperar o resultado do segundo turno para saber se os
estrategistas de campanha acertaram. Tenho dúvidas.
Particularmente, penso que o PT terá de
investir mais na tentativa de mostrar aos eleitores que tem capacidade de se reinventar,
mesmo depois de 12 anos de governo. E isso me parece fundamental por pelo menos
duas razões. Primeiro, porque a quantidade de votos dados aos candidatos de
oposição, incluindo os chamados nanicos, sinaliza um claro desejo de renovação.
Cabe à candidatura petista mostrar que é capaz de fazê-lo, preservando as
conquistas que apresentou ao longo do primeiro turno como seus principais
trunfos políticos. Além disso, a quantidade expressiva de votos nulos e
brancos, somada a um alto índice de abstenção, deixa claro um outro tipo de
descontentamento, não apenas com este governo, mas com o debate político tal
como posto hoje, polarizado e pouco criativo. Conquistar parte deste eleitorado
é tarefa ainda mais difícil.
terça-feira, 7 de outubro de 2014
O Papa Francisco e a ACIJ
Por JORDI CASTAN
Sem surpresas. A campanha que a ACIJ capitaneou em prol de
candidatos que defendessem os interesses de Joinville foi de uma estultice
supina. Metade por pura desídia, e a outra por entender que a força da ACIJ nestes temas é equivalente a do Papa Francisco assomado ao seu balcão na
Praça de São Pedro, conclamando palestinos e israelenses a buscar a paz, ou
instando Putin a que cesse com suas agressões contra as ex- repúblicas soviéticas,
ou a reduzir as guerras e a violência em
prol da paz mundial. O Papa faz o seu papel sabendo que nada mudará. A ACIJ fez
o dela, e depois convidou aos eleitos para ocupar espaço na mídia e emplacar a
imagem do tigre de papel que a entidade empresarial é em temas político-partidários.
O resultado das eleições estava previsto: brancos e nulos
aumentaram, em Santa Catarina 30%; em Joinville 35%, bem maior que os 28% de votos perdidos na
eleição passada. É bom lembrar que a mais alta de história. Depois ainda batem
no peito dizendo que somos um povo politizado. Candidatos de fora levaram mais votos que nas
eleições anteriores, 19% frente aos 15% da eleição anterior, quando é preciso
que se diga que a entidade se empenhou mais em defender o voto por
Joinville. Assim se juntamos os votos brancos e nulos, os votos em candidatos
de fora, e o excesso de candidatos sem expressão e sem possibilidades de ser
eleitos, temos um quadro bastante claro de porque o resultado desta eleição foi
um suicídio anunciado. A quem interessa? Essa é a primeira pergunta. Quem se
beneficia? É a segunda.
Sobre as eleições presidenciais e o resultado do primeiro
turno, ficou provado que não há nenhuma relação entre o resultado das urnas e o
mapa do Bolsa Família. Que os estados em que há um maior numero de beneficiários
do bolsa família sejam aqueles em que Dilma tenha tido melhores resultados, é
pura casualidade. Todos aqueles que insistem em ver no Bolsa Família uma poderosa
ferramenta para manter milhões de brasileiros dependentes de um beneficio
público que não prevê a redução do numero de beneficiários, tampouco estimula
sua inserção no mercado de trabalho e que estoura foguetes cada vez que aumenta
o numero de beneficiados, estão errados. Não há nenhuma relação entre uma coisa
e outra. Mesmo que os resultados das eleições insistam em querer mostrar que
há. Por isso se alguém identificar alguma relação entre uma coisa e outra, deve
ser porque os mapas dos resultados eleitorais foram elaborados por algum instituto aparelhado para distorcer
dados e informações e levar os eleitores a conclusões erradas.
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