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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Marina Silva e a absoluta falta de carisma



POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO


Eis um bom exemplo do jornalismo brazuca destes nossos dias. A manchete da Folha de S. Paulo de ontem diz que “Marina Silva é líder em todos os cenários de 2º turno”. Se o leitor ficar apenas pelo título da manchete vai imaginar que temos aí uma supermulher, uma candidata quase imbatível. Só que não. A manchete faz aquilo que em comunicação é chamado “metonímia”. Ou seja, usa a “parte” para mostrar o “todo”.


Quem lê a matéria e vê os números do primeiro turno fica a saber que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está disparado na frente, com 24% das intenções de voto. A candidata da Rede fica muito atrás, nos diversos cenários. Se for contra Aécio Neves, temos um 15% a 11% (que dá um empate técnico); se for contra Sérgio Moro, que a pesquisa teve o “cuidado” de introduzir como potencial candidato, fica num empate de 11%.

Aliás, sobre o primeiro turno a Folha diz que “Luiz Inácio Lula da Silva cresceu nas simulações de primeiro turno, na comparação com o levantamento anterior”. Nada mal, se tivermos em conta que o ex-presidente tem sido vítima de um massacre midiático e judicial. E a distância entre Lula e Marina no segundo turno caiu: ela tinha 52% em março e agora tem 43%, enquanto o ex-presidente subiu de 31% para 34%.

Por que a Folha de S. Paulo está a inflar a candidatura de Marina Silva? Afinal, será que ela emplaca? Muita gente acha que, com um tempo alargado de televisão, a putativa candidata tem potencial para crescer nas intenções de voto. Não teria tanta certeza. Mais tempo de televisão é mais tempo de exposição e de escrutínio da imagem. E as muitas contradições podem ficar mais evidentes. 

Qual foi a posição de peso e demarcadora que Marina Silva tomou nos últimos tempos? Nenhuma. A candidata limita-se a frases inócuas sobre a corrupção. Mais nada. É inodora, insípida e incolor. E o fato de ser apontada como candidata do Banco Itaú ou da Natura, por exemplo, também dá panos para manga. E, por ironia, os áulicos da direita estão em desespero, acusando o seu partido de fletir para a esquerda.

No entanto, há um fator que, parecendo de menor importância, poderá ser definidor: a figura de Marina Silva é débil do ponto de vista do carisma. E isso pode ser um sério problema. Todos sabemos que os eleitores não compram apenas ideias (e é preciso tê-las), mas sim imagens e signos. Aliás, não é despiciendo salientar o conceito de dominação carismática, ponto saliente na sociologia de Max Weber.

A dominação carismática assenta em valores afetivos, na crença de que o líder tem qualidades superiores. A seguir a senda weberiana vamos encontrar uma condição: o governante deve ser visto pelos governados como alguém acima da média, quase sagrado e a sua imagem deve emanar algo “heróico”. Ora, nenhuma dominação é boa. Mas vale lembrar que as massas gostam da ideia do pai (ou mãe) autoritário e protetor.

Não parece que Marina Silva, por mais currículo e qualidades que venha a apresentar, possa ser incluída no rol de pessoas capazes de passar uma imagem vigorosa. Pelo contrário. E há muito caminho por percorrer. Aliás, o mais estranho é ter pesquisas dois anos antes das eleições. Mas vamos esperar os próximos capítulos dessa novela sucessória, que ainda promete muitas emoções. Afinal, no Brasil destes dias é muito arriscado fazer previsões, em especial sobre o futuro.

É a dança da chuva.



terça-feira, 21 de outubro de 2014

De que lado você samba?

POR CAROLINA PETERS

Em julho do ano passado, um amigo que estava em Londres me envia a imagem ao lado por email. Uma campanha produzida pelo periódico The Economist e veiculada amplamente em espaços como estações de metrô.

Where do you stand? Em bom português: de que lado você samba? Com uma imagem angelical de Angela Merkel, a campanha visava frear o avanço das manifestações que aconteciam na Europa contra a intervenção da União Europeia, protagonizada pela Alemanha, nas economias locais. Vale comentar que, ao mesmo tempo em que essa campanha midiática tomava corpo, as primeiras análises sobre a recessão que rondava a Alemanha já começavam a surgir.

Lembrando disso, não me estranha o apoio do The Economist ao candidato Aécio Neves. Ou antes, a Armínio Fraga e sua trupe.

Me estranha menos ainda, diante da declaração recente do candidato noticiada pelo Valor Econômico: o Mercosul está ultrapassado, "anacrônico", e é necessário repensar em "áreas de livre comércio". Ora, quer coisa mais anacrônica e furada que a Alca?

A América Latina, por outro lado, compra metade de nossos manufaturados. O Mercosul é responsável por 30%. O BNDES financia diversas obras na região e é assim que aumenta seu lucro. O fortalecimento da economia brasileira, da nossa credibilidade (pra não falar do nosso peso político lá fora), têm muito a ver com o fortalecimento da integração regional. 
Vamos falar de economia?

Criou-se há tempos um mito em torno da política econômica -- e da política, de forma geral -- que afirma que tudo se resolve com gestão, impessoal e mecânica. Economia depende de escolhas, e quem entende e influencia nos rumos da economia mundia sabe bem: de que lado? Há possibilidades diversas de estabilizá-la e fazer crescer. Pode-se investir em produção ou especulação, criar empregos e fortalecer o mercado interno, ou adotar uma política cambial mais maleável. Concentrar os lucros ou distribuir renda. 

Em terra (ou tela?) de comentários truculentos, e acusações de desinformação, é pedir demais que aqueles que pagam de intelectuais repetindo comentários aleatórios sobre o PIB e a inflação alta (alta mesmo?) saibam do que estão falando? 

A economista Leda Paulani, professora da USP e uma intelectual que respeito muito, escreveu essa semana no blog da Boitempo Editorial sobre o Terrorismo Econômico, narrativa que mais uma vez ronda as presidenciais brasileiras. Recomendo profundamente a leitura, junto com o melhor debate deste segundo turno: Guido Mantega e Armínio Fraga no ringue de Mirian Leitão. O link na íntegra está aqui. Aliás, alguém concorda com Fraga que o dinheiro emprestado do FMI foi "barato"? (palavras dele).

A política econômica do governo Dilma está longe dos meus sonhos, mas Armínio Fraga é o bicho papão da minha infância. Eu voto pelo Mercosul.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Sul e o Norte

POR CAROLINA PETERS

O ódio é, acima de tudo, burro.
Quando mudei para São Paulo, aos 15 anos, conseguir uma informação para chegar do ponto A ao B era quase impossível. Começa que já sou meio desorientada mesmo; que não conhecia nadica de nada da cidade; que minha cartografia catarinense não conseguia ainda dimensionar as distâncias paulistanas. E acaba que eu falava cantadinho. Antes que eu terminasse o pedido, vinha a pergunta:

-- Mas você não é daqui, né?

Eu respondia que não. E como o olhar insistia em mais informações, dizia que vinha de Santa Catarina. Floripa? Não, Joinville. Ah, mas você não fala como gaúcho.. Claro que não.

Depois da mostra de ignorância geográfica, vinha uma enxurrada de elogios às belas praias, às gentes bonitas e educadas, a qualidade de vida. Ao pedacinho de Europa, surrada e maltrapilha, mas Europa, que cultivamos como se existisse no sul do país. Mas por que razão? Por que deixar Santa Catarina?

O bom de São Paulo é que as placas são várias e não sabem ainda falar.

Por vezes, um mesmo que elogiava o meu estado vinha confessar que os migrantes do Norte eram a grande mazela de São Paulo. Aprendi que em SP, ser nordestino é xingamento, daqueles mais variados. “Baiano”, por exemplo, pode querer dizer tanto cafona quanto sujo ou mal educado. A xenofobia nunca é arbitrária ou incondicional. Alguns de fora valem menos, outros, valem mais.

Na minha primeira semana em Fortaleza, folheando o jornal, me deparo com o comentário de uma leitora sobre a sondagem eleitoral no estado do Ceará, que dava à presidenta Dilma ampla vantagem sobre Aécio e Campos - era maio: “Depois há quem reclame de ouvir dos habitantes do Sul e Sudeste que nós, nordestinos, não sabemos votar.”

Gosto muito de uma gravura feita pelo pintor uruguaio Joaquín Torres García em 1943, um mapa invertido da América do Sul. “El Sur es el Norte” é um manifesto de independência artística das escolas europeias e uma afirmação de humanidade dos habitantes do sul do globo. Meu Norte é o Sul: Uma noção que me orienta, um nacionalismo que é libertador, que busca romper com os padrões hegemônicos e produzir seus próprios paradigmas. Que não é xenófobo ou excludente. O oposto do sentimento separatista com o qual convivi em Santa Catarina e São Paulo.

Pensei em um livro que li no início desse ano, relatos de uma jornalista portuguesa que cobriu os dias que antecederam a queda do ditador Hosni Mubarak no Egito em janeiro de 2011. Lá pelas tantas, ao comentar o tratamento que a imprensa internacional dispensava ao levante popular e os posicionamentos de diversos chefes de Estado, ela escreve “para o ocidente, a vida dos outros povos pode sempre esperar”.

O Nordeste cresceu nos governos do PT. Os programas de distribuição de renda movimentaram a economia em pequenas e grandes cidades; o aumento do salário aumento o poder de compra. A economia nordestina cresce mais que a média do Brasil. O nordestino que reelege Dilma o faz por convicção e reflexão, não por ignorância.

O ódio aos homossexuais, aos negros, a misoginia, marcaram o primeiro turno nos debates. Proferidos de maneira explícita por dois candidatos menores que não valem citação, encheram a bola de Aécio, para quem fizeram linha auxiliar, colaborando para levar o tucano ao segundo turno. Apesar do desempenho pífio presidencial, o ódio mais caricato mostrou força nas disputas proporcionais e na disputa pela vaga do senado nos estados.

Na segunda volta, toma conta o ódio de classe que separa o Norte e Nordeste explorados do Sul e Sudeste beneficiários.

Este, ao menos, tem sofrido consecutivas derrotas. Pesquisas recentes e conversas entreouvidas no transporte público indicam que a percepção de que a pobreza é resultado da falta de oportunidade e da desigualdade social, não da preguiça e da vadiagem, como se dizia, tem crescido. Espero que a tendência siga.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Um debate polarizado, de novo

POR CLÓVIS GRUNER

Encerrado o primeiro turno, poucas surpresas ‒ a vitória de Aécio Neves sobre Marina Silva é uma “meia surpresa” ‒ e uma certeza: a política brasileira tem dificuldade de se desvencilhar da polarização PT x PSDB. Desde o retorno das eleições diretas para presidente, em 1989, já foram sete campanhas; petistas e tucanos se enfrentaram em seis delas, com a vitória do PSDB em duas (com FHC em 1994 e 1998, no primeiro turno) e do PT em outras três (2002 e 2006 com Lula; e 2010 com Dilma, todas no segundo turno). Fora do governo há mais de uma década, tucanos e aliados tem sede de voltar a ele e farão literalmente qualquer coisa para isso. Os petistas, por sua vez, sabem que enfrentam seu pleito mais difícil, e que pela primeira vez desde a vitória de Lula há o risco real de saírem derrotados no dia 26 de outubro.

Não será uma disputa fácil, portanto. E embora seja uma espécie de mantra afirmar que o segundo turno é uma “nova eleição”, penso que algumas possibilidades podem ser aventadas com base nos resultados do primeiro. A começar pelo destino dos votos de Marina Silva. Desde o começo da semana, a candidata sinalizava o apoio à candidatura de Aécio Neves, confirmado ontem, no mesmo dia em que Aécio recebeu também o apoio do PV de Eduardo Jorge o PSOL de Luciana Genro declinou de apoiar um dos candidatos, embora desaconselhe o voto no tucano. De todos, certamente o de Marina foi o golpe mais duro para o PT, que provavelmente esperava uma posição neutra, a repetir a posição tomada em 2010. Por outro lado, o apoio a Aécio Neves, se confirmado, pode repercutir a médio prazo nas pretensões de Marina, que corre o risco de perder definitivamente a credibilidade adquirida entre aqueles setores mais à esquerda que, descontentes com os seguidos governos do petistas, depositaram nela alguma expectativa de renovação.

Não acredito, como parte da militância marinista, que sua derrota se deva aos ataques desferidos contra ela pela campanha de Dilma. Primeiro, porque Marina não foi exposta nestes dois meses de campanha mais do que o PT nos últimos 12 anos e de Dilma nos últimos quatro. Ambos sobreviveram, e com chances reais de emplacar o quarto mandato. Seu discurso careceu de solidez e pecou por excesso de ambiguidade. Se é verdade que Marina foi exposta pelo programa e pela militância petistas, sua derrocada se deveu também e, penso, principalmente, ao fato dela mesmo ter se exposto, revelando suas muitas contradições. E isso, me parece, contribuiu mais para a perda de votos que o confronto com a candidata petista.

Junto aos eleitores mais à esquerda, Marina perdeu votos em função de seus flertes com as políticas econômicas neoliberais ou sua capitulação frente às pressões de setores conservadores; à direita, porque tentou aproximar sua candidatura justamente daquelas políticas que estes setores rejeitam, como ficou claro no último debate, quando insinuou que seu programa era mais parecido com o de Luciana Genro do que com o dos tucanos. Pretendendo não ser de esquerda, mas também não de direita, defendendo um princípio vago de governar com “os bons” de todos os lados e matizes, Marina não só perdeu votos ao ponto de nem figurar no segundo turno. Mas turbinou a campanha de seus adversários, principalmente a de Aécio Neves, para onde parece ter migrado boa parte deles.

UMA CAMPANHA DE MEDO E ÓDIO – A meu ver, o pior de Marina Silva ter ficado de fora foi, justamente, o retorno à polarização PT x PSDB que a candidata, por um breve momento, chegou perto de dissolver. Particularmente, eu a preferia em uma disputa com Dilma Rousseff, mas certamente as lideranças e os marqueteiros petistas não concordariam comigo. Tanto que investiram parte de seu tempo e energia para forçar um segundo turno com Aécio e os tucanos, e não é difícil entender as razões. Sob certa perspectiva, Marina representava um risco maior à reeleição de Dilma, inclusive porque suas trajetórias e perfis são, em alguns aspectos, bastante próximos, o que dificultaria o discurso polarizado.

A polarização entre petistas e tucanos interessa ao PT, que poderá afrontar seu adversário ao longo dos próximos dias recorrendo a um discurso baseado principalmente no medo de um passado que muitos eleitores não querem de volta e, contra o qual, o PT se apresenta como o único antídoto. Com Marina, este discurso era mais difícil, porque seu passado e de sua legenda provisória, o PSB, incluía uma passagem pelo governo petista. Tendo ela como adversária, a candidatura petista precisaria deslocar o temor do passado para o futuro. Mas este, como sabemos, é um horizonte de expectativas e pode ser tanto lugar de receio como de esperança. Será preciso esperar o resultado do segundo turno para saber se os estrategistas de campanha acertaram. Tenho dúvidas.

Particularmente, penso que o PT terá de investir mais na tentativa de mostrar aos eleitores que tem capacidade de se reinventar, mesmo depois de 12 anos de governo. E isso me parece fundamental por pelo menos duas razões. Primeiro, porque a quantidade de votos dados aos candidatos de oposição, incluindo os chamados nanicos, sinaliza um claro desejo de renovação. Cabe à candidatura petista mostrar que é capaz de fazê-lo, preservando as conquistas que apresentou ao longo do primeiro turno como seus principais trunfos políticos. Além disso, a quantidade expressiva de votos nulos e brancos, somada a um alto índice de abstenção, deixa claro um outro tipo de descontentamento, não apenas com este governo, mas com o debate político tal como posto hoje, polarizado e pouco criativo. Conquistar parte deste eleitorado é tarefa ainda mais difícil.

Por outro lado, se Aécio Neves tem, a favor dele, o consenso narrativo forjado ao longo dos últimos anos, segundo o qual o PT é a matriz de todos os males, ainda não deixou claro quais são suas propostas e suas soluções para os problemas que acusa no governo petista. Com sua dupla derrota em Minas Gerais, fica mais difícil simplesmente dizer que pretende fazer pelo Brasil o que fez pelo seu estado depois de ter sido rejeitado pela maioria dos mineiros. Sua campanha, fundamentalmente, se alimentou do e repercutiu o ódio contra o PT, e seus eleitores parecem mais odiar o governo petista que, necessariamente, aprová-lo – e a onda de violência contra os votos de nordestinos e pobres nas redes sociais, desqualificando-os, são um indicativo disso. E num ambiente político de paixões exacerbadas e onde, historicamente, poucos são os eleitores que escolhem candidatos baseados em propostas e programas, há o risco que a polarização partidária reverbere em outra, ainda mais nociva à democracia: a que opõem o medo ao ódio. 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A vitória de Udo Döhler pode estar próxima

POR GUILHERME GASSENFERTH

Udo conta voto a voto :P
A estreia de Udo Döhler nas urnas, com de mais de 85 mil votos, calou muita gente. Para quem amargava o quarto lugar durante boa parte do processo, a votação de Udo foi surpreendente e demonstrou a força que possuem na cidade o PMDB, LHS e o próprio empresário.

Embora Colombo tenha vencido ainda no primeiro turno, foi da mesma forma nas eleições de 2010. Largou lá de trás e veio crescendo, até suplantar as duas candidatas favoritas ao título. Por que a comparação com o governador? Porque a capacidade de crescimento e de virar o jogo são aspectos que caminham juntos dos vencedores.

No primeiro turno, a campanha peemedebista foi Udinho Paz e Amor, numa louvável postura de evitar ataques e de apresentar propostas - o que deve ter sido um dos fatores do seu sucesso. Mas no início do segundo turno, Döhler estava muito atrás nas pesquisas. A maior parte delas apontava cerca de 65% para Kennedy e 35% para Udo, numa diferença gritante e que parecia carimbar o passaporte pessedista para o gabinete ocupado hoje pelo Carlito Merss. Ao perceber a disparidade, Udo partiu para o ataque, promovendo quase que táticas de blitzkrieg contra o seu oponente, que em muitas vezes ficou atordoado com a inesperada artilharia.

Udo 'kennedyzou' no segundo turno. Usou os mesmos expedientes que seu adversário, lançando mão de vídeos acusativos (pelo menos sem denúncias anônimas), ataques diretos e bombardeando as redes sociais. Quem não curtiu, compartilhou ou pelo menos viu alguma das ilustrações da cômica série "Dá Pra Fazer"? É uma alusão às sandices que Kennedy promete mesmo sem qualquer nível de realidade maior que a do "mundo de Bobby". Teve também o vídeo que mostra Kennedy afirmando: "isto é compromisso, nós vamos baixar o valor da água em Joinville". Alguns meses depois, o mesmo Kennedy diz: "eu nunca disse que iria baixar o valor da água em Joinville". Pegou mal e certamente tirou votos do Kennedy e deu pra Udo.

Além disso, a postura de Udo passou a se aproximar da demagogia que parece encantar o povo. Abrir mão do salário é uma dessas iniciativas. Embora o cardápio sirva política a la Kennedy, parece que é neste restaurante que os eleitores gostam de comer. E talvez Udo tenha acertado nas estratégias. Doar seu salário de prefeito significará um milhão de reais no bolso de entidades beneficentes da cidade. O povo, que acha que os políticos emprestam suas carinhas para as fotos da urna eletrônica só em troca de altos salários e poder, vê com bons olhos um candidato que abra mão de um salário polpudo como este. Mais um pontinho na caderneta do 15.

Há de se considerar o inesperado - pelo menos por mim - apoio dos sindicatos de trabalhadores à campanha de Udo. Invalidou o discurso de que Udo é o candidato dos patrões, uma vez que quase 30 sindicatos aderiram à sua candidatura, inclusive o sindicato dos trabalhadores em indústrias têxteis. Este apoio é o mais simbólico de todos, porque demonstra que a relação de Udo (presidente do sindicato patronal) com o sindicato laboral é, no mínimo, respeitosa. "São pelegos", alguns dirão. Pode ser, acredito que há sindicatos pelegos. Mas 29 pelegos? Aí dificulta um pouco. A propósito, o vice do Kennedy é de uma das quatro associações empresariais mais importantes da cidade, a ACOMAC. Ele não é patrão?

Outra fonte de votos importante para Döhler é a coligação-ornitorrinco formada na cidade, por Kennedy, Carlito e Tebaldi. Assim como Tebaldi saiu de mais de 40% dos votos para 15%, a população não ficaria impassível diante dos programas de TV que mostram que votar Kennedy representa fazer voltar Tebaldi e continuar Carlito, os dois candidatos mais rejeitados. Tem gente de que tanto nojo desta súcia junção resolveu abandonar a orientação partidária e votar Udo.

Não se deve deixar de considerar as pessoas que estavam inclinadas a anular o voto mas, diante das circunstâncias e do medo da vitória do Kennedy, sufragarão Udo para evitar o mal maior. Não é em quem gostariam de votar, mas entendem que um dos dois vencerá as eleições de qualquer forma e pretendem passar a atuar para que o PSD não vença. Disse Max Weber: "neutro é quem já se decidiu pelo mais forte". 

Todos estes fatores somados mostram que o número de eleitores de Döhler está crescendo muito. Informações extraoficiais recebidas na noite passada demonstram que Udo e Kennedy entraram num empate técnico, o que corrobora esta tese. Mas se antes Kennedy e Udo tinham uma diferença gritante e agora colaram, é porque há forte viés de queda de Kennedy e ascensão de Udo. Desta forma, diferentemente do que vinham pensando algumas pessoas, Udo não só está no páreo como é possível que neste momento já tenha ultrapassado Kennedy e esteja a dois dias de sagrar-se prefeito da maior cidade de Santa Catarina!