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quarta-feira, 13 de maio de 2020

É possível salvar a economia sem sacrificar mais vidas?




POR CLÓVIS GRUNER

Em entrevista recente, Paul Romer, Prêmio Nobel de Economia e ex-economista chefe do Banco Mundial, defendeu que a recuperação econômica tende a ser mais rápida, nos países que adotaram e seguiram medidas de distanciamento e isolamento social. Entre outras coisas porque, de acordo com Romer, a retomada econômica depende, em larga medida. que as pessoas se sintam seguras e confiantes.

Ele evita também o antagonismo, que se tornou lugar comum no Brasil, entre combate à pandemia e gestão econômica. Ambas as coisas são possíveis, argumenta.  Mas para isso é preciso que se teste maciçamente os níveis de contaminação, condição a um controle mais efetivo e eficiente da disseminação da Covid-19, e garantir o isolamento social. Isso porque o desconfinamento, e a gradual retomada das atividades econômicas, dependem antes do achatamento da curva de disseminação, o que só se faz... com isolamento social.

No Brasil estamos longe disso. Não temos um governo, nem competente nem, tampouco, sensível à pandemia e aos mais de 12 mil mortos em pouco mais de 30 dias, vítimas do coronavírus. Mas tão grave quanto, a indiferença presidencial colabora para que, cada vez mais, pessoas se sintam no direito de confrontar e desobedecer as medidas de distanciamento, reinvindicando seu direito de ir e vir e argumentando, não raro de maneria hipócrita, a necessidade de "manter a economia funcionando".

Vivemos, no Brasil, a condição surreal e bizarra, de vermos tratado como "vergonha" o exercício de um direito: o de defender e preservar a vida.

sexta-feira, 10 de março de 2017

"Aposentadoria fica, Temer sai"


POR CECÍLIA SANTOS
O título deste post foi o tema da manifestação do dia 8 de março em São Paulo, que reuniu milhares de mulheres. A reforma da previdência é mais uma das muitas medidas que visam desmontar as conquistas sociais e trabalhistas históricas, penalizando os mais pobres. Com o desmonte do SUS e da Previdência, que avança a passos largos, quem tem algum recurso vai contratar planos de saúde e de previdência privada (por que vocês acham que a Fiesp e o mercado financeiro apoiaram o impeachment?), enquanto os mais pobres vão ficar desamparados.

De todos os afetados, as mulheres são as mais prejudicadas com o aumento do tempo de contribuição e a perspectiva de se aposentar depois dos 65 anos.

É totalmente injusto igualar o tempo de contribuição das mulheres, considerando que temos jornadas duplas ou triplas. A divisão do trabalho doméstico continua a ser desigual e, se depender do conservadorismo cada vez mais forte, tem pouca chance de mudar. Pesquisa da Unicamp mostra que mulheres dedicam de 20 a 25 horas por semana ao trabalho doméstico, contra 9 horas pelos homens.

Mas nosso jurássico presidente da república reforça essa condição de desigualdade, conforme seu discurso proferido no próprio dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, deixando claro que a criação dos filhos é atribuição da mulher e não do homem:
Tenho absoluta convicção, até por formação familiar e por estar ao lado da Marcela, do quanto a mulher faz pela casa, pelo lar. Do que faz pelos filhos. E, se a sociedade de alguma maneira vai bem e os filhos crescem, é porque tiveram uma adequada formação em suas casas e, seguramente, isso quem faz não é o homem, é a mulher”
Por outro lado, as mulheres são frequentemente preteridas em contratações e promoções profissionais. E todo mundo sabe que uma pessoa de 40 anos, seja homem ou mulher, já é considerada velha para o mercado de trabalho. Então qual é a chance de uma mulher de 60 anos ser contratada a fim de completar seu tempo de contribuição e continuar a se sustentar? 

Toda essa situação levará a um empobrecimento geral da sociedade e a dependência financeira da mulher. E mesmo para quem se acha acima da questão, é preciso lembrar que o fato de haver uma população com baixíssimo poder aquisitivo compromete a economia. Se não há quem compre, o comércio e a indústria logicamente vão definhar e cada vez mais gente ficará desempregada.

Uma distribuição de renda mais igualitária entre homens e mulheres garante, entre outras coisas, que as mulheres tenham meios de sair do ciclo de violência doméstica, por meio da autonomia financeira. Frear a reforma da previdência não é só uma questão econômica, é também pela vida das mulheres.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Que tal uma nova cidade?















POR SALVADOR NETO

Enquanto a crise política e econômica nos empurra para o abismo, com mais desemprego, recessão e gerando assim mais violência nas cidades e até no campo, vinha pensando na aldeia onde vivo desde que nasci. Há tempos critico a paralisia de Joinville, a maior em economia, em população, em eleitores, mas que definha em várias áreas e não se desenvolve de forma sustentável. Temos indústrias de ponta, microempresários que se destacam, boas cabeças, mas uma infraestrutura urbana que se degrada ano após ano, sob a mesma desculpa: não podemos fazer, falta dinheiro, etc.

A provocação que faço neste artigo é simples, mas ao mesmo tempo complexa. Exige lideranças corajosas, com muita vontade de fazer acontecer, formando uma equipe criativa, ousada, diligente. E claro, uma classe política nova, que veja a oportunidade de fazer história e dar aos seus cidadãos uma nova cidade, ao mesmo tempo em que recuperaria a cidade antiga. Sim, o que proponho é a construção de uma nova cidade, planejada, pensada de forma moderna. Como Brasília o foi, Curitiba, e tantas outras Brasil afora, e também pelo mundo. Claro que tínhamos JK, um visionário e empreendedor, louco, presidente. Falta-nos um por aqui, mas vai que apareça?

Brasília custou aos nossos cofres cerca de US$ 1 bilhão entre 1956-1961. Um concurso público definiu o vencedor do projeto, o plano piloto. Uniram-se boas cabeças, arquitetos, trabalhadores, geraram-se empregos, renda, uma nova capital surgiu. Porque não pensar nesta saída para os nossos graves problemas urbanos? Desde o inicio do núcleo colonizador, assentamos os imigrantes, e depois migrantes, sobre o mangue, áreas alagadiças. A cidade não foi pensada para o futuro, e cresceu com a força da indústria de forma desordenada até. Hoje temos desafios quase intransponíveis diante das necessidades de mudanças na infraestrutura urbana.

Este jornalista é mais um louco, certamente vão dizer aí nos comentários. Mas o que custa ter ideias loucas para um futuro diferente do que temos visto hoje? Vem ano, vai ano, e ouvimos nossos líderes políticos, arquitetos da Prefeitura, e outros dizerem: elevados, não dá. Veiculo Leve sobre Trilhos (VLT) não dá. Ciclovias, não dá, só ciclofaixas perigosas. Duplicar vias, nem pensar. Vias rápidas, não dá. Ponte ligando A para B, impossível. Internet pela cidade, para quê? Joinville virou a cidade do não pode, não dá! Assim viraremos o que em poucos anos? Claro que dá se tiver vontade política, coletiva, um sonho pensado, embalado e construído de forma séria e factível, planejado.

Assim como a Novacap administrou a construção de Brasília, criaríamos a nossa administradora do projeto e da execução. Parceria público/privada poderia viabilizar a ideia, aproveitando que a Lei de Ordenamento Territorial (LOT) ainda está aí em brigas eternas, hoje inclusive com o protocolo de uma LOT somente para parte da cidade! Tudo isso geraria um movimento sustentável na economia, no orgulho da população, motivaria um novo ciclo econômico. E isso sem deixar de pensar na manutenção da velha e querida cidade atual. Ela seria um novo xodó turístico.


Assim teríamos um novo setor de serviços, na tecnologia de ponta, boas e novas cabeças, um setor econômico inovador que criaria certamente um novo jeito de cuidar, manter e desenvolver a cidade.

Não custa sonhar, de forma clara, planejada e com apoio da coletividade, da população. Santa Catarina gera um PIB de R$ 230 bilhões anuais, Joinville um PIB em torno de R$ 22 bilhões. A União gera R$ 5,5 trilhões, e ainda há organismos internacionais financiadores.

Será mesmo que um projeto deste porte não seria possível? Seria. Mas é preciso querer, e não somente dizer que não pode, não dá, é impossível. É preciso uma classe política local aguerrida, sem medo da capital. Que tal um projeto de uma nova cidade? Uma nova motivação para um salto formidável no desenvolvimento social e econômico? 


É possível inovar, com coragem, sair da mesmice, para ser grande e forte novamente com qualidade de vida para todos e todas. E gerar empregos, renda e uma onda de otimismo que seguirá por gerações.


É assim, nas teias do poder...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Vereador não é profissão. E dinheiro não nasce em árvores...


POR JORDI CASTAN

Novamente os vereadores fazem a farra com o nosso dinheiro. Comportam-se como um bando de adolescentes irresponsáveis que festam com o dinheiro dos pais. Já não há paciência para essa total falta de respeito com o dinheiro público. Essa história do aluguel dos carros da Câmara, por exemplo, já cansou. Ainda bem que há cada vez mais vereadores que renunciam a esta mordomia. É um alento que cinco vereadores não utilizem o carro alugado. Cinco são poucos, muito poucos, mas mostram que ainda resta um mínimo de vergonha entre os legisladores.

Pior é ver esse bando que tem feito da política a sua profissão, que vivem exclusivamente da sua atividade politica. Gente que não ganharia nunca, no mercado de trabalho, o que ganha como vereador. Sem contar todas as outras benesses e vantagens de que usufrui por conta do seu cargo. Há os que ainda acham pouco e cobram caixinha dos seus assessores, para aumentar ainda mais os seus ganhos. A situação há tempo que escapou do controle e, se não fosse por um recente TAC (Termo de Ajuste de Conduta), entre o nosso legislativo e o MPSC, o quadro atual seria ainda mais dramático.

A Câmara de Vereadores recebe uma parcela excessiva do orçamento municipal. E como sobra dinheiro, acaba sendo esbanjado com despesas desnecessárias, excessivas ou injustificáveis. E com a justificativa que há orçamento seguem gastando como se o dinheiro nascesse em árvores. A peroba resiste a tudo e a cada ano, amparados pelo discurso de boa gestão (essa é uma palavra que ultimamente me produz alergia, cada vez que a escuto) da economicidade, da moderação e lisura no trato da coisa pública, devolvem alguns milhões que não conseguiram gastar, apesar de todos os esforços feitos para tal fim. 

Não nos enganemos. O dinheiro que a Câmara devolve não é dinheiro economizado. É dinheiro que não conseguiram gastar. Nem com todas as viagens, diárias, reformas, obras e mais criativas invencionices, os vereadores conseguem gastar a fortuna nababesca a que o Legislativo tem direito, de acordo com a LOM (Leio Orgânica do Município). E todos os anos o presidente da Câmara se dirige aos joinvilenses, posando de bom administrador e a devolver uma parcela de dinheiro que não conseguiu gastar.

Está na hora de tirar a cangalha e começar uma mobilização contra todos esses abusos. Nas redes sociais, um grupo de cidadãos se propõe a promover os hashtag:



#semcarroalugado
#vereadorandadeonibus






Ainda não escolheu seu candidato? Aqui vão algumas dicas:
  • Usa carro alugado? Eu não voto. Vai de ônibus.
  • Mais de dois mandatos? Eu não voto. Quero renovação.
  • Tem plano de saúde pago com o meu dinheiro? Eu não voto. Que use o SUS.
  • Viaja para cursos de atualização a cidades turísticas? Tampouco ganha o meu voto.
  • Pula de galho em galho? Motivo a mais para não votar. Ficou fácil
Está mais que na hora de renovar essa Câmara. Vereador não é profissão. E seria interessante ver quantos ganhariam esse salário no mercado de trabalho.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Crise: Movimentos Sociais precisam entender que a disputa é na mídia
















O Brasil hoje vive mais uma crise política do que uma crise econômica. Lógico, há uma redução da atividade econômica que, após longos anos varrendo as economias de vários países chega agora às nossas mesas. Mas é fato que vivemos crises econômicas muito piores nas décadas de 1970, 1980, 1990, as superamos, e vamos superar mais uma vez.

Hoje não somos mais reféns do FMI, Banco Mundial e outros rentistas que viveram anos e anos à custa do nosso dinheiro. Temos muito menos pobreza, construímos uma classe média forte e decidida a se manter com sua nova qualidade de vida. Sem contarmos o pré-sal, a Petrobras que ainda é nossa, e um povo otimista.

Portanto, a crise política existente é mais relevante, pois se trata da disputa pelo poder, pela hegemonia em reger os destinos da nação. Setores que por longas décadas mandaram e concentraram a riqueza em suas mãos, hoje abriram mão de uma ainda pequena parte para compartilhar com os outros milhões de brasileiros.

Perderam eleições seguidas, não conseguem vencer no voto, e com a força da mídia conservadora, e porque não golpista, invadem as casas, carros, celulares, tablets, rádios, timelines, sites, despejando notícias negativas, formando uma ideia de que vivemos no pior dos mundos. Basta sair destes meios de comunicação para enxergarmos outra realidade, não perfeita, mas não desastrosa como tentam vender aos brasileiros.
Mas esses grupos de mídia são muito bem articulados com seus braços políticos no Congresso Nacional, com os grandes barões industriais e financeiros, e controlam jornais, emissoras de televisão, emissoras de rádio, e agora também marcam presença ativa na rede mundial de computadores, utilizando para isso os mesmos conteúdos produzidos por toda essa rede, não por acaso, nas mãos de poucas famílias no país. Há uma enorme gama de estudos e pesquisas que mostram isso. 

De outro lado, os movimentos sociais, onde incluo sindicatos, centrais sindicais, confederações de trabalhadores, organizações de direitos humanos, de moradia, sem terra, entre outros, não se articulam. Vivem cada um tentando vender sua mensagem individualmente.

Excetuando-se as grandes centrais sindicais com CUT, Força Sindical, CGT, UGT, que graças aos últimos governos conquistaram financiamento via Ministério do Trabalho para suas ações de defesa dos trabalhadores e trabalhadoras e tem estruturas fortes na comunicação, como jornais, tevês, e atuação em redes sociais (e nem todas tem!), sindicatos e demais movimentos vivem cada um no seu quadrado. 

Diferentemente do país, que avançou muito em várias áreas, e do povo que conquistou melhorias e oportunidades, esses movimentos pararam no tempo. Ainda buscam disputar a hegemonia de forma desarticulada, individual, dispersando esforços e poderio econômico.

Vivi experiência em comunicação no meio sindical por uma década pelo menos na maior cidade catarinense, e claro, em Santa Catarina e partilhando de atividades nacionais. Neste período busquei motivar, articular, planejar, orientar as lideranças sindicais para uma união de esforços econômicos, e de militância, para a criação de um jornal único, diário, com a pauta dos movimentos sindicais e populares. 

Persisti formulando projetos para a conquista de rádios ou emissora de televisão para informar e mostrar que há sim outra pauta acontecendo, fortalecer os ideais, combater a disputa midiática contra os grandes grupos de mídia. Infelizmente, até hoje por motivos diversos, a desarticulação continua.

Hoje, ao vivenciar essa crise política que tem o nascedouro na disputa midiática que influi sim no animo das pessoas, que molda olhares e pensamentos, estigmatizando uns, e endeusando outros, constato o atraso dos movimentos sociais. 

Eles perderam o trem que retirou milhões da pobreza, da falta de emprego, de comida, de renda, educação, computadores, televisões, acesso a universidades, moradia, viagens. Desencontraram-se com o povo que os fez fortes.

E esse desencontro cria um fosso perigoso para a democracia e manutenção dos avanços sociais. As lideranças envelheceram, viveram, e algumas ainda vivem, disputas internas, partidárias, sindicais, e não conseguem ver que a causa comum está à deriva. 

É preciso retomar o rumo, reordenar os movimentos sociais, e o começo para isso é investir em veículos de comunicação e mídia próprios, compartilhados. Essa é a disputa que se deve travar. Porque a disputa do poder se dá na conquista de corações e mentes que só se alcança com a comunicação.

É assim, nas teias do poder...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Joinville paga o preço do crescimento a todo custo

POR CHARLES HENRIQUE VOOS


Os números divulgados pelo IBGE na semana passada referentes ao PIB (Produto Interno Bruto) dos municípios brasileiros revelaram algo que muita gente nunca sonhou em presenciar: Joinville perdeu o posto de cidade mais rica do estado para Itajaí. Uma hegemonia que durava várias décadas caiu. Por mais que tenha sido, para alguns setores econômicos e políticos locais, um "desastre" perder na quantidade, parece não alarmar o fato de que Joinville há muito tempo perdeu o posto de melhor cidade para se viver e os números são meras consequências.

O enfoque qualitativo é difícil para alguns, principalmente políticos e demais gestores públicos. Até pouco tempo atrás as desculpas de "maior cidade" e "terceiro maior PIB da região sul" ainda eram utilizadas para refutar análises qualitativas, quando algumas surgiam. Agora não dá mais, porque os números mostram a crua realidade que há anos alguns "teimosos" já mostravam.

A cidade sempre careceu de cuidados que quase nunca existiram. Jamais tantas pessoas morreram de formas socialmente construídas como nestes últimos anos: os homicídios batem recordes atrás de recordes e os acidentes de trânsito com vítimas fatais também. As periferias se desenvolveram de forma descontrolada e os sucessivos governos, por décadas, não conseguiram organizar a cidade para as pessoas, apenas para o crescimento econômico a todo custo. Graças a este cenário, os "anos gloriosos" de Joinville acabaram.

O desenvolvimento econômico de qualquer cidade, principalmente neste século 21 mundializado, requer um equilíbrio da economia com o social e a cidade é o "palco" onde isso é efetivado. O crescimento dos índices econômicos devem vir acompanhados de qualidade de vida, lazer, cultura e sustentabilidade (apesar deste último termo ter sua concepção muito abrangente e, certas vezes, deturpada). Pelo que percebemos, nos tornamos a "Manchester Catarinense" e esquecemos de melhorar a qualidade da vida destes que a fazem diariamente. Não temos parques, áreas públicas qualificadas, equipamentos públicos em bom estado de funcionamento e nenhum atrativo diferenciado. Somos uma cidade bem comum que tinha em seus indicadores o grande trunfo. Não tem mais, e se sobrou alguma coisa irá perder em breve - basta continuar neste ritmo.

Precisamos lembrar que a política econômica monolítica apoiada pelos governos gerou uma instabilidade perigosa para a cidade. Uma economia pautada no setor secundário como a nossa podia sucumbir com qualquer crise alojada no setor. Em 2014 tivemos pequenas amostras de como é prejudicial o incentivo a apenas uma forma de construir riqueza. Com a pequena crise no setor industrial brasileiro, o PIB de Joinville diminuiu, a cidade não gerou tantos empregos como antes e a qualidade de vida despencou mais ainda.

É fácil e cômodo para alguns irem aos jornais e rádios locais e dizer que perdemos a liderança por questões circunstanciais das outras cidades. Melhor ainda é "jogar a sujeira para debaixo do tapete", como outros fizeram, e não reconhecer as próprias deficiências. Independente da mercantilização das cidades e a competição urbana, creio que todos nós queremos - e precisamos - de uma cidade melhor para vivermos. Quando as políticas sociais não atingem as grandes parcelas da população não há economia que aguente. Levamos 40 anos para percebermos, mas agora pode ser tarde demais.


* Este articulista blogueiro, sociólogo mal formado e urbanista frustrado (como sempre diz um anônimo raivoso e que quer me matar pelo uso do primeiro termo) deseja a todos os leitores do blog Chuva Ácida um ótimo fim de ano e espera revê-los em 2015!

terça-feira, 21 de outubro de 2014

De que lado você samba?

POR CAROLINA PETERS

Em julho do ano passado, um amigo que estava em Londres me envia a imagem ao lado por email. Uma campanha produzida pelo periódico The Economist e veiculada amplamente em espaços como estações de metrô.

Where do you stand? Em bom português: de que lado você samba? Com uma imagem angelical de Angela Merkel, a campanha visava frear o avanço das manifestações que aconteciam na Europa contra a intervenção da União Europeia, protagonizada pela Alemanha, nas economias locais. Vale comentar que, ao mesmo tempo em que essa campanha midiática tomava corpo, as primeiras análises sobre a recessão que rondava a Alemanha já começavam a surgir.

Lembrando disso, não me estranha o apoio do The Economist ao candidato Aécio Neves. Ou antes, a Armínio Fraga e sua trupe.

Me estranha menos ainda, diante da declaração recente do candidato noticiada pelo Valor Econômico: o Mercosul está ultrapassado, "anacrônico", e é necessário repensar em "áreas de livre comércio". Ora, quer coisa mais anacrônica e furada que a Alca?

A América Latina, por outro lado, compra metade de nossos manufaturados. O Mercosul é responsável por 30%. O BNDES financia diversas obras na região e é assim que aumenta seu lucro. O fortalecimento da economia brasileira, da nossa credibilidade (pra não falar do nosso peso político lá fora), têm muito a ver com o fortalecimento da integração regional. 
Vamos falar de economia?

Criou-se há tempos um mito em torno da política econômica -- e da política, de forma geral -- que afirma que tudo se resolve com gestão, impessoal e mecânica. Economia depende de escolhas, e quem entende e influencia nos rumos da economia mundia sabe bem: de que lado? Há possibilidades diversas de estabilizá-la e fazer crescer. Pode-se investir em produção ou especulação, criar empregos e fortalecer o mercado interno, ou adotar uma política cambial mais maleável. Concentrar os lucros ou distribuir renda. 

Em terra (ou tela?) de comentários truculentos, e acusações de desinformação, é pedir demais que aqueles que pagam de intelectuais repetindo comentários aleatórios sobre o PIB e a inflação alta (alta mesmo?) saibam do que estão falando? 

A economista Leda Paulani, professora da USP e uma intelectual que respeito muito, escreveu essa semana no blog da Boitempo Editorial sobre o Terrorismo Econômico, narrativa que mais uma vez ronda as presidenciais brasileiras. Recomendo profundamente a leitura, junto com o melhor debate deste segundo turno: Guido Mantega e Armínio Fraga no ringue de Mirian Leitão. O link na íntegra está aqui. Aliás, alguém concorda com Fraga que o dinheiro emprestado do FMI foi "barato"? (palavras dele).

A política econômica do governo Dilma está longe dos meus sonhos, mas Armínio Fraga é o bicho papão da minha infância. Eu voto pelo Mercosul.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Como será o futuro de Joinville?


POR GUILHERME GASSENFERTH

Segundo reportagem veiculada na edição número 1.001 da Revista Exame, a região Norte-Nordeste de Santa Catarina será a que mais vai crescer no Brasil até 2025. Parece uma ótima notícia. Será mesmo?

É claro que é bom saber que vivemos em uma região economicamente promissora. Mas será que a região está estruturada para isso? Temos condições de suportar este crescimento sem perder a qualidade de vida? Joinville e região possuem pessoas qualificadas profissionalmente para os milhares de empregos que ainda se abrirão? Há universidades e cursos suficientes (em número e qualidade) para essas pessoas? Nossas cidades estão preparadas para receber o novo contingente de moradores que certamente aumentarão nossas estatísticas populacionais? Conseguiremos manter uma das maiores áreas de mata atlântica primária do Brasil?

Do ponto de vista da infraestrutura, é inútil dizer que o estado atual das coisas é muito aquém do que é razoável para uma região rica como a nossa. A BR-101 é nossa principal via de comunicação com as outras cidades. Com as dezenas de grandes empresas a instalarem-se em Araquari, Garuva e Barra Velha, a BR-101 continuará dando conta da demanda? Sobre a BR-280, sem comentários. 

Nosso aeroporto está ganhando seu ILS, mas como bem já disse o Charles Henrique aqui neste blog, que adianta estrutura se as empresas aéreas não colaboram com mais voos e em melhores horários? Nós temos condomínios, prédios e imóveis para nossos novos moradores? Não. As avenidas de Joinville (dá pra contar nos dedos de uma mão) suportarão o crescimento? Já estão saturadas, como poderão absorver mais carros?

Na questão da saúde, embora eu concorde que a manutenção de nossos hospitais e sua adequação para estarem funcionando a pleno vapor é prioridade, mas será que não cabe um hospital (estadual!) na Zona Sul? É preciso pensar em construir já para que quando Joinville esteja maior não precise correr atrás do prejuízo. Nossa saúde está muito mal e os medicamentos que prescrevemos já não fazem efeito.

E a cultura? Joinville tem só um teatro pra menos de 500 pessoas. É vergonhoso. E mesmo quando o novo teatro que a prefeitura anunciou estiver pronto, continuará a ser vergonhoso. Cinema só filmes comerciais. Os museus só estão atrativos para traças. Uma cidade como esta, riquíssima, ter apenas dois teatros, poucos cinemas e museus caindo aos pedaços. Nem Ionesco poderia ser tão trágico.

Será que nossas faculdades, universidades e cursos técnicos estão dando resposta ao que a sociedade e o mercado necessitam? À primeira, certamente não. Já falamos aqui sobre a deficiência de cursos na área de humanas. Felizmente, começam rumores (confirmados pelo diretor da UFSC Joinville) de que em breve iniciam estudos para a implantação de cursos de humanas no campus local. Antes tarde do que nunca!

Preocupa-me também a nossa condição insular. Sim, eu sei que geograficamente não somos uma ilha. Mas nossas cidades são como tal: não se relacionam, não pensam em conjunto, não planejam umas com as outras. Que adianta Joinville buscar atender suas necessidades e planejar um novo hospital pensando só em seus moradores e depois estar superlotado porque não se pensaram nas cidades vizinhas que também farão uso? A questão do transporte coletivo também é vergonhosa. Joinville precisa pensar na integração regional, é uma questão premente!

Diante deste quadro, só uma palavra me vem à mente: planejamento. Joinville e cidades da região têm que planejar como querem estar daqui a 10, 30, 50, 100 anos. E começar a por em prática as estratégias das quais lançarão mão para chegarem ao futuro como desejam.  Planejamento regionalizado, integrado, responsável, apartidário, efetivo, criativo.

Mas dentre todas as carências de nossa cidade, uma destaca-se na multidão: a ausência de cabeça. Nossas lideranças (de todos os aspectos) precisam usar a massa cinzenta para pensarem como tirar Joinville desta crise fiscal e fazer a região tornar-se não só a que mais cresce no Brasil, mas principalmente a que será a melhor do Brasil para todos! Com criatividade, inovação e trabalho, Joinville será de fato a melhor cidade para se viver no país!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O mico, o polvo e o neo-caciquismo

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Um dia destes estava ouvir o jogo do JEC e, do nada, o comentarista interrompeu o locutor para dizer que tinha recebido um torpedo do ex-prefeito Marco Tebaldi. E, claro, deu uma tremenda puxada de saco no atual secretário da Educação. Fiquei a pensar que podia ter sido um deslize, um episódio isolado. Mas não. Num outro jogo, pouco tempo depois, fato semelhante se repetiu. Pô... é o tipo de coisa que faz Joinville parecer o fiofó do mundo.

Aliás, é uma daquelas situações que remete para a expressão “vergonha alheia”. Essas demonstrações públicas de afeto e sabujice do radialista já nem são um mico. São um tremendo King Kong. Mas é um exemplo que permite mostrar a marca na história da política de Joinville nas últimas décadas: o fenômeno do neo-caciquismo, que se articula na forma de compadrio, fisiologismo e amiguismo.

Esses neo-caciques (algumas vezes homens pequenos com grandes cargos) tratam a cidade como um feudo. E são como uma espécie de polvo, que estende os seus tentáculos por todo o tecido social. A sua influência pode ser detectada em todos os lugares: na comunicação social, nas estruturas públicas, nas igrejas, nas redes sociais, nos sindicatos, nos movimentos sociais ou em qualquer lugar onde seja possível cooptar vontades.

O que se tem, então? Jogos de interesses. Alianças pornográficas. E um balcão onde se compram e vendem dignidades. É o que os neo-caciques costumam chamar “política”. Mas é o que o mundo civilizado chama “atraso”. E não se iludam, leitor e leitora, porque não é apenas retórica. Não é preciso ser um phD para afirmar que isso traz consequências nefastas para a vida da cidade, não apenas no plano da democracia, mas também ao nível sócio-econômico.

Faz algum tempo, li um comentário sobre um estudo acadêmico realizado nos EUA (“Do Politically connected firms undermine their own competitiveness?”), que afirmava o seguinte sobre as consequências econômicas do compadrio: "fomenta a ineficiência, desincentiva a inovação, torna mais míope o planejamento, corrompe a competitividade e distorce a concorrência".

Alguém aí duvida do contrário? Portanto, leitor e leitora, é muito mais complexo que parece. Não é só política. Porque essa gente, que aparece sempre com um discurso progressista, nada mais faz do que empurrar a cidade para o atraso. Afinal, como tenho repetido inúmeras vez, o terceiro mundo não é um estado geográfico, mas um estado mental.