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sexta-feira, 3 de julho de 2020

Ministros que mentem no currículo - Chuva Ácida Debates



COLETIVO CHUVA ÁCIDA
Decotelli não é o primeiro, nem o segundo e nem o terceiro. Mentir no currículo é uma prática comum nos ministeriáveis de Bolsonaro. Mas quando acontece na Educação, a coisa assume proporções inaceitáveis. É o tema deste Chuva Ácida Debates, com o professor Clóvis Gruner e o jornalista José António Baço.

segunda-feira, 28 de março de 2016

O radicalismo está fora de controle

POR JORDI CASTAN

Não votei no Lula, nem na Dilma. Temia que viesse a acontecer o que está acontecendo. Não serve de nada, neste momento, descobrir que tinha razão. Tudo isso era previsível. O que surpreende é o aumento do radicalismo. A disparada da agressividade e da violência. O que assusta é o perto que estamos que saia do controle. O assassinato do vereador Leandro Balcone, em Guarulhos, é um indicador de que podemos estar próximos demais de atingir um ponto sem volta. O risco é que este não seja um ato isolado, que haja uma possibilidade real e imediata que outras execuções possam acontecer e se implante um clima de terror.

Ninguém detém o monopólio da violência, tampouco há uma exclusividade da corrupção. A quantidade de políticos de todas as siglas, estados e níveis envolvidos em corrupção é escandalosa. Só é mais escandalosa a naturalidade com que isso é recebido por parcelas significativas da sociedade ou a idiotia dos partidários de um ou outro grupo, que insistem em querer convencer que os corruptos dos outros são mais corruptos que os seus. Como se a corrupção dos outros justificasse a sua. Há até uma disputa para provar que o Mensalão é maior que o Banestado, ou que o escândalo do BNDES é maior ainda que o do Petrolão, buscando justificar o injustificável. A insistência em querer nos fazer de corruptos a todos é a estratégia do momento, é do ex-Ministro da Justiça a frase: "Até síndico de prédio superfatura capacho". A beatificação da corrupção, a sua universalização.

A quem interessa esta radicalização? Quem a estimula? Quem ganha com ela? A resposta não é simples. Mas com certeza quem tem a sua disposição um “exercito” de militantes dispostos a partir para a violência ganhará com o discurso violento e verborrágico. O ex-presidente Lula declarou nestes dias: “É guerra, é guerra e quem tiver artilharia mais forte ganha". Quem pode contar com hostes agressivas dispostas a partir para o confronto é quem mais interesse tem em estimular a violência radical. O discurso do ódio não tem um único protagonista, mas evidente em quem esta sob fogo cruzado. Frente ao risco de ser presos, a única saída é o ataque raivoso, a busca feroz de nos e eles. Os corruptos acuados partem para o tudo ou nada. Têm pouco a perder. Sun Tsu, o estrategista chinês, escreveu no seu livro “A arte da Guerra” que deve-se evitar deixar o inimigo sem uma via de escape, porque nesse caso lutara até a morte.

Não restam muitas saídas. Todas elas implicam dor e sacrifício. O projeto de poder do PT e dos seus partidos aliados está seriamente ameaçado. A corrupção tem contaminado todos os avanços sociais. O governo passou de uma cleptocracia reconhecida, até o ponto que ex-ministro de Lula descreveu o governo como um “sindicato de ladrões”, o próximo estágio de degradação é a oclocracia, o puro esgoto. Em janeiro o Ministro Chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, em um repentino e pouco frequente, ataque de sinceridade, reconheceu que “Quem nunca comeu melado quando come se lambuza”, evidenciando o nível de lambuzagem a que chegamos. A resposta das manifestações do dia 13 foi a opera bufa da nomeação de Lula como ministro. 

A escalada de lado e lado não pressagia nada bom. Quando o povo vai para a rua é como abrir a caixa de Pandora, o resultado é imprevisível. É perigosíssimo que parlamentares aliados do governo afirmem que: "Estamos nessa guerra também, não tenho nada a perder." Pessoas e governos desesperados são levados a cometer erros irreversíveis.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

De que lado você samba?

POR CAROLINA PETERS

Em julho do ano passado, um amigo que estava em Londres me envia a imagem ao lado por email. Uma campanha produzida pelo periódico The Economist e veiculada amplamente em espaços como estações de metrô.

Where do you stand? Em bom português: de que lado você samba? Com uma imagem angelical de Angela Merkel, a campanha visava frear o avanço das manifestações que aconteciam na Europa contra a intervenção da União Europeia, protagonizada pela Alemanha, nas economias locais. Vale comentar que, ao mesmo tempo em que essa campanha midiática tomava corpo, as primeiras análises sobre a recessão que rondava a Alemanha já começavam a surgir.

Lembrando disso, não me estranha o apoio do The Economist ao candidato Aécio Neves. Ou antes, a Armínio Fraga e sua trupe.

Me estranha menos ainda, diante da declaração recente do candidato noticiada pelo Valor Econômico: o Mercosul está ultrapassado, "anacrônico", e é necessário repensar em "áreas de livre comércio". Ora, quer coisa mais anacrônica e furada que a Alca?

A América Latina, por outro lado, compra metade de nossos manufaturados. O Mercosul é responsável por 30%. O BNDES financia diversas obras na região e é assim que aumenta seu lucro. O fortalecimento da economia brasileira, da nossa credibilidade (pra não falar do nosso peso político lá fora), têm muito a ver com o fortalecimento da integração regional. 
Vamos falar de economia?

Criou-se há tempos um mito em torno da política econômica -- e da política, de forma geral -- que afirma que tudo se resolve com gestão, impessoal e mecânica. Economia depende de escolhas, e quem entende e influencia nos rumos da economia mundia sabe bem: de que lado? Há possibilidades diversas de estabilizá-la e fazer crescer. Pode-se investir em produção ou especulação, criar empregos e fortalecer o mercado interno, ou adotar uma política cambial mais maleável. Concentrar os lucros ou distribuir renda. 

Em terra (ou tela?) de comentários truculentos, e acusações de desinformação, é pedir demais que aqueles que pagam de intelectuais repetindo comentários aleatórios sobre o PIB e a inflação alta (alta mesmo?) saibam do que estão falando? 

A economista Leda Paulani, professora da USP e uma intelectual que respeito muito, escreveu essa semana no blog da Boitempo Editorial sobre o Terrorismo Econômico, narrativa que mais uma vez ronda as presidenciais brasileiras. Recomendo profundamente a leitura, junto com o melhor debate deste segundo turno: Guido Mantega e Armínio Fraga no ringue de Mirian Leitão. O link na íntegra está aqui. Aliás, alguém concorda com Fraga que o dinheiro emprestado do FMI foi "barato"? (palavras dele).

A política econômica do governo Dilma está longe dos meus sonhos, mas Armínio Fraga é o bicho papão da minha infância. Eu voto pelo Mercosul.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Tacanhas com diplomas fazem estatísticas

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Um dia destes, o Guilherme Gassenferth, que já integrou o time do Chuva Ácida, publicou, numa rede social, os resultados de uma pesquisa da Datafolha sobre a intenção de voto para presidente por escolaridade. O que chamou a atenção foi ele ter usado a expressão “mais instruídos” para descrever os apoiantes de Marina Silva.

Fiz um comentário a dizer que ele se referia a pessoas com diploma e não necessariamente mais instruídas (aliás, instruído pode ser sinônimo de adestrado). O fato é que nos dias de hoje ter um diploma não dá grandes garantias, apesar de o canudo ainda ter peso no Brasil. Aliás, convenhamos, isso é simples resultado do apartheid social e educacional em que o país sempre viveu.

Quando olho para as pesquisas lembro da tirada extraordinária de Millôr Fernandes, para quem “estatística é a ciência de torturar os números até que eles confessem”. Mas neste caso a tortura é dispensável. Quando se olha para os números é indiscutível que as pessoas com curso superior  preferem Marina Silva (43%), deixando Dilma Rousseff  (23%) e Aécio Neves (22%) para trás.

Mas essa relação entre diploma e instrução carece de substância científica. Nem preciso ir longe. Basta lembrar que Silas Malafaia, um dos mais destacados apoiantes de Marina Silva, tem diploma de psicólogo (Freud, Reich, Jung e Lacan devem estar a chutar lápides de tanta decepção). Vocês, leitor e leitora, conhecem alguém mais obscurantista que o telepastor? Podemos considerar instruída uma mente tão tacanha? Mas entra na estatística.

Se formos ler os números de forma absoluta é possível concordar com a pesquisa. Mas uma relativização dos dados pode mostrar outra coisa. Se subirmos a fasquia para pessoas com grau superior ao de simples licenciatura ou bacharelado, sou capaz de apostar que os números de Marina Silva despencam. Pode ser defeito do meu círculo de amizades, mas não conheço qualquer mestre ou doutor que cogite votar na senhora.

As pesquisas valem o que valem. E os números podem dar a impressão de que as pessoas “instruídas” apoiam Marina Silva. Mas não parece que isso encontre respaldo na realidade. Aliás, sobre a relação instrução-diploma recomendo uma leitura de um texto publicado hoje no “The New York Times” sobre os custos econômicos das falhas na educação (aqui)

É como diz o velho deitado: "O que a natureza não dá, Salamanca não empresta".

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Jordi Castan

POR JORDI CASTAN







Meus votos para presidente serão para Eduardo Campos, no primeiro turno, e para quem enfrente a Dilma e a máquina do governo, no segundo. O mais provável, hoje, é ser Aécio Neves, que não é o candidato dos meus sonhos mas tampouco dos meus pesadelos.

Fico feliz porque a maioria dos meus companheiros do Chuva Ácida tem a sólida convicção de que num país como o Brasil e possível fazer política partidária, ideológica. E que há espaço para o idealismo e os idealistas. O Clóvis e o Baço já parecem ter passado um pouco desta fase.

Num país em que o único ponto em comum de todos os partidos é chegar ao poder, se manter no poder e usar o poder - e para isso são capazes de fazer as mais espúrias alianças -, para mim, como eleitor, é impossível o voto partidário ou o voto em programas que mudam de acordo com os objetivos do momento. E assim, mesmo podendo provocar ataques de urticária nos meus co-bloggers, voto em pessoas. É o resultado de uma democracia imperfeita e à deriva.

Dilma declarou abertamente que vai "fazer o diabo". Não voto em quem pensa e age assim. Acredito que esta eleição será em dois turnos e acho salutar que assim seja. Estou curioso para saber como votarão os demais membros do blog num eventual segundo turno. Quem sabe podemos repetir a experiência e fazer uma nova declaração de voto. Se a candidata do PT conseguir de fato "fazer o diabo", pode até ser que nem haja segundo turno. Mas até lá temos tempo para pensar antes de tomar uma decisão. A minha, como eleitor, está tomada. Votarei em qualquer candidato que represente uma opção real de mudança frente à corrupção institucionalizada, à amoralidade instalada no governo e que não aplauda corruptos presos e condenados como se fossem heróis.

Sobre o discurso do combate à pobreza, as bolsas, o assistencialismo e todas essas histórias, tenho uma visão muito simples (e talvez curta): o melhor programa de combate a miséria é um bom emprego.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Pit stop, demagogia e austeridade

POR CLÓVIS GRUNER

Pra começo de conversa: são hipócritas e eleitoreiras a imensa maioria das críticas aos gastos presidenciais em Lisboa no final de semana. O assunto só mereceu tamanho destaque porque se trata de uma presidenta de esquerda, e sempre há gente disposta a compartilhar factóides vindos da direita e masturbar-se indignar-se com eles, principalmente em ano eleitoral. Por outro lado, ele serviu para expor uma vez mais a pobreza - de idéias, argumentos, proposições - em que estão mergulhados a oposição e parte da chamada grande imprensa - o que, no Brasil, é praticamente a mesma coisa. 

Há muito que criticar no governo Dilma. As políticas de segurança pública e de direitos humanos engataram marcha à ré nos últimos quatro anos; pode-se dizer o mesmo da política indigenista. Na educação, os índices continuam muito aquém do esperado, a mostrar que o propalado aumento no número de vagas, principalmente nas universidades, é medida insuficiente sem investimentos estruturais em todos os níveis. Além disso, a ampliação do arco de alianças comprometeu ainda mais o outrora projeto político petista. Os resultados todos conhecem: a co-responsabilidade do governo na eleição de Marco Feliciano à presidência da Comissão de Direitos Humanos no ano passado é um deles. A presença da senadora ruralista Kátia Abreu entre os aliados do governo, outro.

O problema é que a oposição não está disposta a um confronto político pautado em projetos e programas. Em parte, porque tem teto de vidro: é difícil criticar as alianças e os aliados petistas depois de ter feito o mesmo nos anos de gestão tucana. Além disso, é delicado posicionar-se sobre temas para os quais ela tem pouco a mostrar no passado, quando foi governo, e ainda menos a oferecer em um futuro próximo, quando pretende ser governo. Mesmo o esforço por transformar as manifestações de junho passado em grandes atos “contra tudo” resultou em um grande nada: Dilma segue liderando as pesquisas, e nem mesmo a entrada em cena de um político de carreira como Aécio Neves conseguiu mudar o quadro. Sobra pouco, e daí protestar contra a Copa e fazer de dois dias em Lisboa um escândalo político parece ser uma boa opção.

DINHEIRO PÚBLICO, CAPRICHOS PRIVADOS – Li gente defendendo os valores gastos no pit stop presidencial argumentando que, afinal, ela estava em missão oficial, que nada há de ilegal nos gastos e que eles são compatíveis com a dignidade do cargo. Outros lembraram que Dilma apenas repete o que é prática comum entre nossos governantes e, por certo, não faltou quem lembrasse das muitas viagens de Fernando Henrique, uma delas com Regina “eu tenho medo” Duarte como convidada, sabe-se lá porque. É tudo verdade. Mas o buraco é mais embaixo. A gastança de Dilma em Lisboa – e em Roma, no ano passado – é sintoma de um mal antigo. Ela, Lula, FHC, todos sem exceção, reiteram um comportamento recorrente em nossos representantes políticos: a ostentação à custa do dinheiro público.

A coisa vem de longe e os exemplos abundam. Basta ler as crônicas de Machado de Assis sobre a vida na corte durante o Segundo Reinado, ou o panorama nada alvissareiro que faz Lima Barreto dos primeiros anos da República: não satisfeitos em fazer da coisa pública extensão de seus interesses e vícios privados, nossas elites políticas se acostumaram a usar o dinheiro público para sustentar e alardear seus muitos caprichos. Em uma cultura onde o consumo e a ostentação são dois dos principais signos de distinção social, não chega a ser uma surpresa ver os governantes valendo-se de uma coisa e outra para reafirmarem os privilégios que seus cargos lhes conferem. Também não surpreende ouvir vozes antes emudecidas apenas agora reagindo, só aparentemente preocupadas com a austeridade. Ostentar não é em si um problema; problema é quando um ex-operário e uma ex-guerrilheira decidem dar um rolezinho.  

Não, não estou aqui a defender que Dilma deva hospedar-se em um albergue e comer um PF no boteco da esquina. Mas oito mil dinheiros a diária, mesmo a de uma suíte presidencial, é muito. Sei também que não resolveríamos nossos problemas economizando os poucos “trocados” gastos em Lisboa. Mas seria no mínimo simpático, além de um gesto simbolicamente significativo, a presidenta de um país onde milhões ainda contam com o Bolsa Família para complementar a renda, dar o exemplo e hospedar-se em um bom hotel mais barato que o Ritz ou o Westin Excelsior. Parafraseando um ex-candidato a prefeito de Joinville: dá pra fazer.

O presidente do Uruguai, José Alberto Mujica, tem sua própria receita; ela não precisa obviamente ser seguida à risca, mas poderia servir como parâmetro. Por outro lado, difícil não anotar a esquizofrenia: os mesmos – colunistas, políticos de oposição – que hoje criticam a ostentação de Dilma, provavelmente a chamariam de demagoga – que é como se referem a Mujica – se ela decidisse praticar uma política da “não ostentação”. Ser um presidente ou presidenta de esquerda é meter-se em uma encruzilhada: se gasta e ostenta, esbanjou dinheiro público; se não gasta e é humilde, é demagogia populista. Mas é este o nível da disputa política no país. E não vai melhorar. Ruim para nós, que teremos de ver o debate público reduzido a isso ou a algo pior nos próximos meses, até pelo menos as eleições.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

A rua NÃO é a maior arquibancada do Brasil

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Ao contrário do que muitos podem pensar, a rua não é a maior arquibancada do Brasil. O comercial de uma montadora de automóveis que diz "vem pra rua porque a rua é a maior arquibancada do Brasil", utilizando-se da música do grupo "O Rappa", apenas transfigura e esconde uma realidade vista por nós, brasileiros, todos os dias. Talvez influenciados por estas intervenções na grande mídia, e também pelo espírito de torcedor inflamado com a Copa das Confederações, muitos levaram a ideia de arquibancada para as últimas caminhadas passivas (travestidas de manifestações), as quais ainda acontecem por todo o país. Necessitamos desconstruir esta lógica e mostrar que a rua é o maior palco do Brasil.

Antes de continuarmos, faz-se necessária a disposição do significado da palavra arquibancada e da palavra palco:


arquibancada
sf (arqui+bancada) 1 Bancada principal. 2 Série de assentos dispostos em fileiras, em diversos planos, empregados em estádios e circos, para acomodar, com boa visibilidade, grande quantidade de espectadores.

palco
sm (ital palco) 1 Estrado, tablado. 2 Lugar, no teatro, onde os atores representam. 3 Lugar onde sucede algo dramático, impressionante ou solene; cenário.


Em qualquer espetáculo, seja ele de qual ordem for, temos "os que fazem a coisa acontecer" e "os que assistem à coisa acontecendo". No futebol, por exemplo, a arquibancada acompanha os 22 jogadores correrem atrás da bola, respeitando regras pré-estabelecidas, conduzidas por juízes. Só assiste à coisa acontecer. Quando o jogo acaba, o resultado não muda e o torcedor que está na arquibancada é obrigado a aceitar pacificamente ordeiramente passivamente aquilo que aconteceu no palco, pois a sua função é apenas assistir e dar apoio moral, gritando, xingando, levando cartazes, etc. Levando isto em consideração, não podemos ir para a rua com a lógica da arquibancada.

Precisamos entender que a rua é o espaço para fazermos as transformações que queremos. Na rua como palco, somos os jogadores, decidimos sobre tudo e construímos a nossa vida. É nela que as desigualdades sociais tornam-se evidentes (e por muitas vezes fechamos os olhos). O mais desastroso nisso tudo é que as pessoas que foram para as ruas nas últimas semanas, em sua grande maioria, não acostumadas a encarar a rua como palco e como aquelas "que fazem a coisa acontecer", levaram todo o sentimento que possuíam da arquibancada consigo. É notório que o palco se tornou lugar de movimentos difusos, nacionalistas ao extremo (do jeito que o pensamento ditatorial adora), com palavras de ordem motivacionais como "o gigante acordou", e pedindo pra alterar aquele jogador que supostamente não estaria bem na partida, só porque o comentarista pediu para tirar (vide o "Fora Dilma"). Ao final das partidas, torcedores reclamam dos seus times, dizendo que "está tudo errado" e que "tudo" precisa ser mudado.

Por outro lado, a rua precisa ser o espaço das manifestações fortes, pontuais, e que visem acabar com as desigualdades provenientes das mais diversas ordens. A rua, no fim das contas, não deve ser espaço de "um bando de desocupados" para ser um "espaço democrático". A rua deve ser um "lugar de todos", e não apenas "lugar dos automóveis". Muito menos o lugar de comemorações. A rua é o cenário para afirmarmos aquilo que queremos ser enquanto sociedade.

domingo, 10 de junho de 2012

Como fazer sucesso com a classe média


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O Chuva Ácida sempre convida os seus leitores (os que não são anônimos, claro) para escrever textos. Mas tem gente que sofre da tal síndrome da folha em branco (ou a tela do computador em branco) e acha difícil escrever. Por isso, arrisco dar uma fórmula eficaz aos nossos leitores.

Dica 1 - Fale mal de Dilma e dos ministros que não param de cair. Diga que são todos corruptos (nem precisa ter provas). É tema de sucesso garantido entre as classes médias que lêem jornais ou blogs.
Dica 2 - Falar mal de Lula é garantia de leitura. Meta o dedo na ferida: Lula não fez faculdade. Ironize, achincalhe e diga que é uma vergonha o Brasil ter um sem-diploma como presidente.
Dica 3 -  Fale mal da esquerdalha que tomou conta do poder na América Latina. Chávez, Morales, Correa. Faça piada com o populismo dessa gente. Não tem erro.
Dica 4 - Pegue numa frase feita e destrua a nossa auto-estima. "O Brasil não é um país sério", "coisa de brasileiro", "eta povinho", por exemplo, é receita certa. Culpe o governo, culpe os políticos, culpe os brasileiros. Todos são culpados menos você, que está heroicamente a escrever um texto (é fazer algo,afinal).
Dica 5 - Se for de Santa Catarina, mostre respeito pelos velhos caciques e oligarcas. Elogie. Puxe o saco sem pudor. Diga que são velhas raposas. Atenção: nem pense em dizer que são uns tipos pouco escrupulosos que fazem tudo pelo poder. Ah... e omita dizer  que alguns estiveram ligados à ditadura.
Dica 6 - Incorpore o paladino da ética e da moral. Seja agressivo. Diga que está indignado com toda essa bandalheira (não precisa especificar, há bandalheira em todos os lugares). Use palavras fortes como "lixo", "nojo", "repugnância" etc.
Dica 7 - Lance um slogan. Proponha coisas do tipo "não reeleja". É uma ideia totalmente idiota, mas os slogans são mera publicidade e não estão sujeitos à verificação.
Dica 8 - Não é preciso estudar, ler, pesquisar. Simplifique. Veja apenas a revistona semanal e tire de lá os seus argumentos. Podem ser pura balela, mas o povo acredita e gosta.
Dica 9 - Falar mal de integrantes dos movimentos populares é tiro certo. Use termos como baderneiros, invasores, criminosos, terroristas. Falar mal dos sem-terra é garantia de êxito.
Dica 10 - Culpe os políticos por tudo. Diga que são todos iguais. Ninguém vai perguntar se você, alguma vez na vida, levantou o traseiro da cadeira para tentar mudar as coisas a sério. Afinal, como já foi dito, você está escrevendo um texto para denunciar toda essa sacanagem. E isso é fazer muito.

DICAS DOS LEITORES

Dica 11: Fale mal de Jonville, diga que é uma "vila", que é cidade pequena, de gente atrasada e que Curitiba é o que há. Não tem erro.
Dica 12: Diga que Joinville é uma cidade cosmopolita que mantém as suas tradições.
Dica 13: Eike Batista perdeu 1 bilhão em 24 horas, a Busscar foi para o saco de vez, a Construtora tal tá mal das pernas, a empresa do candidato também, o Chavez e Castro tem 2 meses de vida, e por aí vai. A classe média adora a desgraça alheia.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Burro, ignorante e ameba

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO


"Povo burro". "Sociedade ignorante". "Mídia manipulada". "Amebas". "Povo ignorante". "Mídia comprada". Foram expressões que li repetidas vezes nas redes sociais, na semana passada, quando foi divulgada a pesquisa CNI/Ibope, que apontava um índice de 77% de aprovação da presidente Dilma Roussef.

Ok... mas desenganem-se os opositores do atual governo e do partido do atual governo. Não vou discutir o petismo ou o antipetismo. O que importa aqui é falar dessas pessoas que têm o topete de chamar as outras de burros, ignorantes ou amebas. De onde esses caras tiram a autoridade moral e intelectual para tentar espezinhar os outros? Quem eles julgam que são?



Parece óbvio. Burro, ignorante ou ameba é quem não tem a educação cívica, a vivência democrática e a urbanidade indispensáveis para conviver com a opinião dos outros. O nome do jogo é democracia. Mas há muitos desses chatos: se você pensa diferente deles, então está errado. E é burro. Porque os "inteligentes" são eles. Fala sério. E por falar em mídia comprada e manipulada, fico a imaginar: deve ser gente educada pela revistona semanal.

Acho que os caras não se tocaram. A gente não ouve pessoas inteligentes a chamarem as outras de burras (pelo menos em público). Porque a contenção verbal é inerente à inteligência. E qualquer pessoa com dois dedos de cérebro sabe que o conhecimento tem dessas coisas: quanto mais a pessoa sabe, mais noção ela adquire das suas fragilidades intelectuais.


Mas no Brasil tem muitas malas-sem-alça. O cara tem um diplominha qualquer na parede ou dinheiro para comprar um computador e escrever besteiras nas redes sociais e pronto: acha que é uma espécie de elite, alguém melhor que os outros.


Ah... falei em elites. Aposto que já tem gente pensando em voltar à velha discussão dos tempos do Lula, quando se falava muitos nas “zelites”. Não vale a pena a perda de tempo. O meu conceito de elite é diferente. Para mim elite é quem tem capacidade de articular bom pensamento, tem uma boa práxis e faz leituras racionais do mundo. E, claro, não se deixa levar pelo ódio de classe. O resto são tertúlias flácidas para dormitar bovinos.


Burro, ignorante ou ameba é o cara que vive na presunção de ser superior.



P.S.: E antes que alguém venha dizer que estou a fazer a defesa do PT, eu achava a mesma coisa na época do FHC.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O 2011 de nossos representantes

POR CHARLES HENRIQUE

Mais um ano está indo, e a época de retrospectivas, vindo. Eu vou entrar nessa onda. Afinal, em uma véspera de eleições é salutar que lembremos do que nossos representantes (aqueles que tem domicílio eleitoral aqui na cidade) andaram fazendo por aí...

O Chuva Ácida, que está no ar desde 23 de setembro deste ano, tem o dever de alertar o cidadão joinvilense para algumas questões, fomentando o debate e qualificando a opinião de cada um sobre os mais diversos temas aqui levantados. Se porventura algum fato for esquecido, ou simplesmente não comentado, deixo claro desde já que os comentários serão bem aceitos. Então, vamos lá:

PREFEITURA: Esse foi o ano em que o Carlito mais inaugurou obras. Pequenas e pontuais, mas foram obras. Algumas pontes, praças, asfaltamentos, binário polêmico e um falso parque ali na rotatória da Rua do Bera. Teve o esgotamento sanitário, a falência de duas empreiteiras que estavam realizando duas obras importantes, pacotão de 60 medidas que ainda não foram implementadas em sua integralidade, greve que praticamente parou a cidade, estratégias erradas com aliados políticos, Presidente da Fundema preso, submissão à Câmara de Vereadores no repasse das sobras, não-renovação do Conselho da Cidade, pressa na discussão da LOT. Diante disto tudo, 2011 foi o melhor dos três anos de gestão de Carlito. Ainda está longe do ideal, mas parece que os petistas se encontraram.

LEGISLADORES EM BRASÍLIA: Nossa representatividade no Distrito Federal é muito aquém do que a cidade merece. Dois senadores e um deputado federal. Pouco. Quando estive em Brasília, a ministra Ideli Salvatti me confessou que “falta força política para representar os anseios de Joinville junto ao Congresso e União”. O senador LHS se envolveu em polêmicas com o novo Código Florestal ao ser o relator do projeto. E só. No mais ele atuou como o estrategista que sempre foi. Paulo Bauer protocolou um Projeto de Lei interessante: tirar o imposto dos medicamentos. Já Mauro Mariani se afastou demais do cenário joinvilense, rodeando mais as cidades do norte catarinense. Parece que o único deputado federal aqui da região já está pensando em voos maiores para 2014...

GOVERNO DO ESTADO: foi tão apagado, mas tão apagado, que se resume à novela do BNDES. E só. Para quem tanto critica a gestão Carlito e apóia Colombo, o constrangimento deve ser a primeira palavra do dicionário.

DEPUTADOS ESTADUAIS: o quê falar deles após a denúncia que fizemos aqui no Chuva? Diárias para “ficar” em Joinville, sendo que aqui é o reduto eleitoral dos mesmos? Gastos absurdos com telefone e postagem? “Meteram o bedelho” nas principais polêmicas da cidade, mas, pouco produziram (ah, protocolaram vários projetos de subvenção social)... penso que já gastei linhas demais para falar do Clarikennedy, do Nilson e do Darci.

CÂMARA DE VEREADORES: o aumento ou não do número de Vereadores acabou resumindo o ano dos nossos legisladores municipais. Sem contar a “média” que tentaram fazer na greve dos servidores estaduais e saíram prejudicados, pois estavam atuando em um tema que não lhes pertencia. Além disso, muito barulho com as sobras do orçamento da casa. Parece que as discussões mais importantes que passaram por lá foram os Projetos de Lei advindos do Executivo e que foram amplamente debatidos, devido a grande oposição ao Executivo.

UNIÃO: Se atrapalhou demais com o caso da BR-280 (as denúncias de corrupção em licitações suspendeu todo o processo), UFSC-de-um-curso-só e BNDES (fez um empurra-empurra). Um ano sem ter muito que falar.

Num geral, o ano de 2011 foi de muitas expectativas não correspondidas, da mesma forma que 2010 e 2009. Percebe-se que tudo já está sendo feito pensando nas eleições do ano que vem e também na de 2014 (nenhuma novidade). Muitas pendências para 2012, e muitos capítulos de novelas mexicanas ainda não chegaram ao fim.