POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Um dia destes, o Guilherme Gassenferth, que já
integrou o time do Chuva Ácida, publicou, numa rede social, os resultados de uma pesquisa da
Datafolha sobre a intenção de voto para presidente por escolaridade. O que
chamou a atenção foi ele ter usado a expressão “mais instruídos” para descrever
os apoiantes de Marina Silva.
Fiz um comentário a dizer que ele se referia a
pessoas com diploma e não necessariamente mais instruídas (aliás, instruído
pode ser sinônimo de adestrado). O fato é que nos dias de hoje ter um diploma
não dá grandes garantias, apesar de o canudo ainda ter peso no Brasil. Aliás, convenhamos, isso é simples resultado do apartheid social e educacional em que o país sempre viveu.
Quando olho para as pesquisas lembro da tirada
extraordinária de Millôr Fernandes, para quem “estatística é a ciência de
torturar os números até que eles confessem”. Mas neste caso a tortura é
dispensável. Quando se olha para os números é indiscutível que as pessoas com
curso superior preferem Marina Silva (43%), deixando Dilma Rousseff (23%) e Aécio Neves (22%) para trás.
Mas essa relação entre diploma e instrução carece
de substância científica. Nem preciso ir longe. Basta lembrar que Silas Malafaia,
um dos mais destacados apoiantes de Marina Silva, tem diploma de psicólogo
(Freud, Reich, Jung e Lacan devem estar a chutar lápides de tanta decepção). Vocês,
leitor e leitora, conhecem alguém mais obscurantista que o telepastor? Podemos considerar instruída uma mente tão tacanha? Mas entra na estatística.
Se formos ler os números de forma absoluta é
possível concordar com a pesquisa. Mas uma relativização dos dados pode mostrar
outra coisa. Se subirmos a fasquia para pessoas com grau superior ao de simples
licenciatura ou bacharelado, sou capaz de apostar que os números de Marina
Silva despencam. Pode ser defeito do meu círculo de amizades, mas não conheço qualquer
mestre ou doutor que cogite votar na senhora.
As pesquisas valem o que valem. E os números
podem dar a impressão de que as pessoas “instruídas” apoiam Marina Silva. Mas
não parece que isso encontre respaldo na realidade. Aliás, sobre a relação instrução-diploma recomendo uma
leitura de um texto publicado hoje no “The New York Times” sobre os custos
econômicos das falhas na educação (aqui)
É como diz o velho deitado: "O que a natureza não dá, Salamanca não empresta".