quinta-feira, 31 de agosto de 2017
terça-feira, 29 de agosto de 2017
Brasileiros em Portugal: apartheid social atravessa o Atlântico?
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A Flaviane é a mulher que trabalha na limpeza aqui na agência, em Lisboa. E como sou um dos primeiros a chegar pela manhã (acreditem, sou um preguiçoso que trabalha muito) algumas vezes a gente passa uns minutos a conversar. O papo é quase sempre sobre o Brasil, porque faz muitos anos ela deixou Curitiba para viver em Portugal. No mês passado, em plano verão europeu, Flaviane tirou férias para receber a filha e o genro, que vinham à Europa pela primeira vez.
Quando voltou ao trabalho, é claro que o tema de conversa foi a visita da família. O que rolou? A filha e o marido adoraram o país, especialmente pela segurança, e tomaram a decisão: voltar ao Brasil para resolver alguns problemas, para depois emigrarem. O caso é apenas um exemplo de uma tendência que se acentuou ao longo do último ano – e um indicativo de que as coisas não estão a correr bem no Brasil.
O número de vistos pedidos por brasileiros não pára de aumentar. Mas desta vez o fluxo migratório tem uma característica interessante. É que os extremos se tocam. Da mesma maneira que as famílias mais pobres vêm para Portugal em busca de uma vida melhor, a imprensa não se cansa de noticiar que as “elites brasileiras” estão a fixar residência no país, a maioria na condição de investidores.
Mas um cheirinho a apartheid social brasileiro também atravessa o oceano. Os emigrantes pobres têm que encarar anos e anos de contribuição sem que consigam a legalização. Os ricos não têm problemas e usam o recurso ao Visto Gold. É uma iniciativa do governo português que garante visto de residência na aquisição de imóveis no valor de 350 mil euros (antes 500 mil). Ou seja, a vida corre bem para os brasileiros com grana. Como sempre...
Um caso de ricos. Um dia destes o jornal Público, por exemplo, publicou uma reportagem com o título “Elite brasileira traz novos negócios para Portugal”. Entre algumas histórias, falou no caso de uma empresária que estava a escolher entre Lisboa e Porto para viver, porque queria fugir da falta de segurança e da instabilidade política e financeira no Brasil. Ops! É um chute meu, mas a moça tinha todo o jeitão de quem vestiu de amarelo.
Um caso de pobres. Faz algum tempo conheci um brasileiro que vivia em Portugal e tinha um padrão de vida que dificilmente teria no Brasil. Vivia num apartamento confortável, tinha o próprio carro e o filho numa escola – pública – de qualidade. Durante o governo Lula achou que era o momento de voltar ao Brasil. E voltou. Mas a partir do ano passado mudou de ideia. Hoje vive em Portugal, onde tenta retomar a antiga vida.
Mudar de país não é fácil. E todos têm os próprios problemas para resolver. Os ricos terão que aprender a viver numa democracia social, onde os caminhos de pobres e ricos se entrecruzam mais vezes e as diferenças de classe têm menor peso que no Brasil. E os pobres têm que a ir à luta para conquistar um lugar. O que não chega a ser novidade e é claramente mais fácil numa sociedade sem apartheid social.
É a dança da chuva.
A Flaviane é a mulher que trabalha na limpeza aqui na agência, em Lisboa. E como sou um dos primeiros a chegar pela manhã (acreditem, sou um preguiçoso que trabalha muito) algumas vezes a gente passa uns minutos a conversar. O papo é quase sempre sobre o Brasil, porque faz muitos anos ela deixou Curitiba para viver em Portugal. No mês passado, em plano verão europeu, Flaviane tirou férias para receber a filha e o genro, que vinham à Europa pela primeira vez.
Quando voltou ao trabalho, é claro que o tema de conversa foi a visita da família. O que rolou? A filha e o marido adoraram o país, especialmente pela segurança, e tomaram a decisão: voltar ao Brasil para resolver alguns problemas, para depois emigrarem. O caso é apenas um exemplo de uma tendência que se acentuou ao longo do último ano – e um indicativo de que as coisas não estão a correr bem no Brasil.
O número de vistos pedidos por brasileiros não pára de aumentar. Mas desta vez o fluxo migratório tem uma característica interessante. É que os extremos se tocam. Da mesma maneira que as famílias mais pobres vêm para Portugal em busca de uma vida melhor, a imprensa não se cansa de noticiar que as “elites brasileiras” estão a fixar residência no país, a maioria na condição de investidores.
Mas um cheirinho a apartheid social brasileiro também atravessa o oceano. Os emigrantes pobres têm que encarar anos e anos de contribuição sem que consigam a legalização. Os ricos não têm problemas e usam o recurso ao Visto Gold. É uma iniciativa do governo português que garante visto de residência na aquisição de imóveis no valor de 350 mil euros (antes 500 mil). Ou seja, a vida corre bem para os brasileiros com grana. Como sempre...
Um caso de ricos. Um dia destes o jornal Público, por exemplo, publicou uma reportagem com o título “Elite brasileira traz novos negócios para Portugal”. Entre algumas histórias, falou no caso de uma empresária que estava a escolher entre Lisboa e Porto para viver, porque queria fugir da falta de segurança e da instabilidade política e financeira no Brasil. Ops! É um chute meu, mas a moça tinha todo o jeitão de quem vestiu de amarelo.
Um caso de pobres. Faz algum tempo conheci um brasileiro que vivia em Portugal e tinha um padrão de vida que dificilmente teria no Brasil. Vivia num apartamento confortável, tinha o próprio carro e o filho numa escola – pública – de qualidade. Durante o governo Lula achou que era o momento de voltar ao Brasil. E voltou. Mas a partir do ano passado mudou de ideia. Hoje vive em Portugal, onde tenta retomar a antiga vida.
Mudar de país não é fácil. E todos têm os próprios problemas para resolver. Os ricos terão que aprender a viver numa democracia social, onde os caminhos de pobres e ricos se entrecruzam mais vezes e as diferenças de classe têm menor peso que no Brasil. E os pobres têm que a ir à luta para conquistar um lugar. O que não chega a ser novidade e é claramente mais fácil numa sociedade sem apartheid social.
É a dança da chuva.
segunda-feira, 28 de agosto de 2017
Uma prefeitura sem a cultura de valorizar a cultura
POR JORDI CASTAN
A cultura não é prioridade em Joinville. Não é segredo. Juntar turismo e cultura, então, é um desserviço a ambos os setores. Cultura deveria ser tratada com a importância que efetivamente tem e merece. Poderíamos começar com coisas simples, até porque as complexas, aqui em Joinville, estão fora de cogitação. Então, a única alternativa seria fazer as fáceis, coisas que o secretário que aí está seria capaz de planejar, executar e colher os resultados. Provavelmente a parte mais difícil é explicar para o prefeito que vale a pena investir em cultura e que com pouco investimento é possível obter bons resultados.
Vamos a um exemplo simples, algo que poderia ser feito, que bastaria querer fazer. Aproximar os alunos da rede pública dos museus. Incentivar que os museus de Joinville sejam lugares de estudo, de desenvolvimento multidisciplinar. Levar mais crianças a se interessar pela arte, a história e a cultura da sua cidade. Um programa que facilitasse o acesso aos museus.
A primeira proposta seria aumentar o horário de visitação dos museus, que hoje funcionam só das 10 às 16 horas. Um horário que está mais voltado a atender os "interesses" e a conveniência do serviço público que os da sociedade. Um caso típico do poste mijando no cachorro. Museus que passam a maior parte do dia fechados não servem a seu objetivo
A segunda proposta seria a de disponibilizar transporte gratuito para os alunos da rede pública para que possam visitar os diversos museus de Joinville. O serviço já existiu no passado, mas com o tempo desapareceu. As escolas que querem visitar algum dos museus de Joinville devem se cotizar para contratar os serviços de uma das duas empresas que monopolizam o serviço na cidade. O orçamento que as empresas cobram pelo serviço é de R$ 400,00. Um absurdo. O poder público não oferece o serviço e tampouco se preocupa para que o serviço seja oferecido por um preço justo e razoável. O resultado é que os alunos são alijados do acesso a rede de museus municipais.
Seria preciso querer. E é esse “querer” que o poder público tem tanta dificuldade em assumir. Digamos, por exemplo, que depois dos horários de pico, um daqueles ônibus que passa a manhã ou parte da tarde estacionado em qualquer um dos terminais urbanos, fosse colocado à disposição das escolas para visitas a museus, sambaquis, parques e espaços culturais, as escolas só precisariam programar as suas atividades e agendar o transporte.
Fácil né? Seria preciso apenas que alguém quisesse. Ou seja, com um pouco de boa vontade e sem nenhum recurso extraordinário, se facilitaria o acesso à cultura a milhares de alunos da rede pública. Mas como em Joinville o problema não é de dinheiro e sim de gestão, já podemos imaginar que esta solução não será implantada.
Em tempo: quantos alunos visitaram os museus de Joinville no ultimo ano escolar? Quanto poderia aumentar a visitação se houvesse um programa de estimulo a visitação? Quais museus são os mais visitados? Qual é o perfil do visitante dos museus? Qual o melhor horário de funcionamento, para o visitante? Vai que o poder público de repente passa a se interessar pela cultura e estimula o acesso a cultura para todos.
A cultura não é prioridade em Joinville. Não é segredo. Juntar turismo e cultura, então, é um desserviço a ambos os setores. Cultura deveria ser tratada com a importância que efetivamente tem e merece. Poderíamos começar com coisas simples, até porque as complexas, aqui em Joinville, estão fora de cogitação. Então, a única alternativa seria fazer as fáceis, coisas que o secretário que aí está seria capaz de planejar, executar e colher os resultados. Provavelmente a parte mais difícil é explicar para o prefeito que vale a pena investir em cultura e que com pouco investimento é possível obter bons resultados.
Vamos a um exemplo simples, algo que poderia ser feito, que bastaria querer fazer. Aproximar os alunos da rede pública dos museus. Incentivar que os museus de Joinville sejam lugares de estudo, de desenvolvimento multidisciplinar. Levar mais crianças a se interessar pela arte, a história e a cultura da sua cidade. Um programa que facilitasse o acesso aos museus.
A primeira proposta seria aumentar o horário de visitação dos museus, que hoje funcionam só das 10 às 16 horas. Um horário que está mais voltado a atender os "interesses" e a conveniência do serviço público que os da sociedade. Um caso típico do poste mijando no cachorro. Museus que passam a maior parte do dia fechados não servem a seu objetivo
A segunda proposta seria a de disponibilizar transporte gratuito para os alunos da rede pública para que possam visitar os diversos museus de Joinville. O serviço já existiu no passado, mas com o tempo desapareceu. As escolas que querem visitar algum dos museus de Joinville devem se cotizar para contratar os serviços de uma das duas empresas que monopolizam o serviço na cidade. O orçamento que as empresas cobram pelo serviço é de R$ 400,00. Um absurdo. O poder público não oferece o serviço e tampouco se preocupa para que o serviço seja oferecido por um preço justo e razoável. O resultado é que os alunos são alijados do acesso a rede de museus municipais.
Seria preciso querer. E é esse “querer” que o poder público tem tanta dificuldade em assumir. Digamos, por exemplo, que depois dos horários de pico, um daqueles ônibus que passa a manhã ou parte da tarde estacionado em qualquer um dos terminais urbanos, fosse colocado à disposição das escolas para visitas a museus, sambaquis, parques e espaços culturais, as escolas só precisariam programar as suas atividades e agendar o transporte.
Fácil né? Seria preciso apenas que alguém quisesse. Ou seja, com um pouco de boa vontade e sem nenhum recurso extraordinário, se facilitaria o acesso à cultura a milhares de alunos da rede pública. Mas como em Joinville o problema não é de dinheiro e sim de gestão, já podemos imaginar que esta solução não será implantada.
Em tempo: quantos alunos visitaram os museus de Joinville no ultimo ano escolar? Quanto poderia aumentar a visitação se houvesse um programa de estimulo a visitação? Quais museus são os mais visitados? Qual é o perfil do visitante dos museus? Qual o melhor horário de funcionamento, para o visitante? Vai que o poder público de repente passa a se interessar pela cultura e estimula o acesso a cultura para todos.
sexta-feira, 25 de agosto de 2017
Eu, ele e o radinho
POR YAN PEDRO
É comum, entre uma vitória em casa e uma derrota fora (como virou costume nesta Série C), me pegar pensando nas chances que o Joinville teve para evitar este inferno pelo qual estamos passando. Parece coisa de louco ficar remoendo o passado, mas, para mim, é inevitável.
Da surreal noite na qual Jael perdeu dois pênaltis, passando pela derrota improvável do Náutico para o Oeste, o dia que mais me marcou no rebaixamento do JEC em 2016 foi 8 de outubro de 2016, quando percebi que a queda estava praticamente decretada.
O personagem desta foto é desconhecido. Eu não o conheço, sequer vi seu rosto pra registrar o momento. Mas, mesmo assim, sei bem o que ele passou na tarde daquele sábado, e por que ficou ali - parado, incrédulo, colado ao radinho - por mais de cinco minutos depois do apito final.
O rádio, companheiro de quando não havia TV e os holofotes de série A e B, contava o que ele custava acreditar: o Joinville - embora ainda não matematicamente - estava rebaixado para o inferno da terceira divisão.
O que ele poderia pensar naquele momento? Na dificuldade em subir para a Série B, lá em 2011? Na alegria de 2014, quando subimos como campeões para a primeira divisão? Ou na euforia de 2015, que deu lugar a frustração logo no primeiro semestre, com a perda traumática do título catarinense?
Quando o vi se levantar e ir embora cabisbaixo, um nó envergonhado se formou na minha garganta. Por sorte, ou talvez por já estar mais conformado, consegui segurar as lágrimas. Mas sabia que, a partir daquele 0 a 0 em casa com o Paysandu, o JEC era um paciente em estado terminal, à espera de os aparelhos serem desligados.
Sim, até houve uma breve melhora, mas somente aquela breve e enganadora antes de, finalmente, dar adeus e voltar para o inferno da Série C, da qual não temos certeza de que conseguiremos escapar este ano.
Yan Pedro é jornalista,
cronista esportivo
É comum, entre uma vitória em casa e uma derrota fora (como virou costume nesta Série C), me pegar pensando nas chances que o Joinville teve para evitar este inferno pelo qual estamos passando. Parece coisa de louco ficar remoendo o passado, mas, para mim, é inevitável.
Da surreal noite na qual Jael perdeu dois pênaltis, passando pela derrota improvável do Náutico para o Oeste, o dia que mais me marcou no rebaixamento do JEC em 2016 foi 8 de outubro de 2016, quando percebi que a queda estava praticamente decretada.
O personagem desta foto é desconhecido. Eu não o conheço, sequer vi seu rosto pra registrar o momento. Mas, mesmo assim, sei bem o que ele passou na tarde daquele sábado, e por que ficou ali - parado, incrédulo, colado ao radinho - por mais de cinco minutos depois do apito final.
O rádio, companheiro de quando não havia TV e os holofotes de série A e B, contava o que ele custava acreditar: o Joinville - embora ainda não matematicamente - estava rebaixado para o inferno da terceira divisão.
O que ele poderia pensar naquele momento? Na dificuldade em subir para a Série B, lá em 2011? Na alegria de 2014, quando subimos como campeões para a primeira divisão? Ou na euforia de 2015, que deu lugar a frustração logo no primeiro semestre, com a perda traumática do título catarinense?
Quando o vi se levantar e ir embora cabisbaixo, um nó envergonhado se formou na minha garganta. Por sorte, ou talvez por já estar mais conformado, consegui segurar as lágrimas. Mas sabia que, a partir daquele 0 a 0 em casa com o Paysandu, o JEC era um paciente em estado terminal, à espera de os aparelhos serem desligados.
Sim, até houve uma breve melhora, mas somente aquela breve e enganadora antes de, finalmente, dar adeus e voltar para o inferno da Série C, da qual não temos certeza de que conseguiremos escapar este ano.
Yan Pedro é jornalista,
cronista esportivo
e torcedor do JEC
Terrorismo do Exército mata na OAB
POR DOMINGOS MIRANDA
O Exército já prestou serviços gloriosos ao Brasil, tais como a campanha do Tenentismo, para moralizar a política, a participação na Segunda Guerra Mundial e as forças de paz em vários países. No entanto, houve períodos em que muitos de seus integrantes mancharam para sempre a instituição com a prática de torturas nos quartéis e atos de terrorismo. Um destes fatos vergonhosos aconteceu no dia 27 de agosto de 1980, quando uma carta-bomba explodiu na sede do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), matando a secretária da entidade, Lyda Monteiro da Silva. Quatro militares do Centro de Investigações do Exército (CIE) estavam envolvidos na ação.
Na época do atentado, o Brasil vivia em plena ditadura e muitos militares da “linha dura” não aceitavam a chamada abertura política. Em 1979, a anistia colocou em liberdade os presos políticos e permitiu o retorno dos exilados. Todos os setores oposicionistas sofriam nas mãos destes descontentes de farda. Em 1980, o bispo de Nova Iguaçu, dom Valdyr Calheiros, e o jurista Dalmo Dalari foram sequestrados e barbaramente espancados. A OAB denunciava estes desmandos e foi colocada no alvo dos facínoras fardados.
A carta-bomba destinada ao presidente da OAB, confeccionada pelo sargento Guilherme Pereira do Rosário, foi entregue pessoalmente pelo sargento Magno Cantarino Motta, codinome Guarany. Quem coordenou a ação terrorista foi o coronel Freddie Perdigão Pereira. Uma servente da OAB foi testemunha ocular da entrega da carta e, somente 20 anos mais tarde, confirmou o responsável pela entrega: Guarany. As investigações feitas na época não deram em nada e nenhum culpado foi punido.
Lyda Monteiro da Silva abriu a correspondência destinada a Eduardo Seabra Fagundes, presidente da OAB, quando ocorreu a explosão. A secretária teve um braço arrancado e outras mutilações pelo corpo. Morreu na ambulância, a caminho do hospital. No mesmo dia houve outros atentados no Rio: no gabinete do vereador Antônio Carlos de Carvalho (com cinco pessoas feridas) e na sede da sucursal do jornal Tribuna Operária (do PCdoB). No ano seguinte aconteceu um outro atentado que fracassou, durante as festividades do 1º de Maio, no Riocentro, com a presença de mais de 10 mil pessoas. A bomba explodiu no colo de um sargento e feriu gravemente um capitão, ambos estavam no interior de um carro Puma.
Era um período de grande intranquilidade. Bombas explodiam em bancas que vendiam jornais alternativos, verdadeiras operações de guerra eram montadas para tentar enfraquecer as greves operária, seu líderes eram presos e tentaram calar a Igreja Católica (tomaram dela a sua rádio). De janeiro de 1980 a abril de 1981, a “tigrada”, como era conhecido o grupo radical do Exército, realizou 74 ações terroristas. Elio Gaspari, em seu livro “A ditadura acabada”, afirma que “a Comunidade de Informações, que trabalhava em seu benefício, não desvendara um só dos atentados que ocorriam no país”.
Nos dias atuais causa calafrio quando vemos um ex-capitão, que em 1987 ameaçara colocar bombas nos quartéis por causa dos baixos soldos, figurar em segundo lugar nas pesquisas como candidato a presidente da República. Não devemos descuidar das serpentes, quando menos se espera, elas podem nos picar. Terrorismo nunca mais.s
O Exército já prestou serviços gloriosos ao Brasil, tais como a campanha do Tenentismo, para moralizar a política, a participação na Segunda Guerra Mundial e as forças de paz em vários países. No entanto, houve períodos em que muitos de seus integrantes mancharam para sempre a instituição com a prática de torturas nos quartéis e atos de terrorismo. Um destes fatos vergonhosos aconteceu no dia 27 de agosto de 1980, quando uma carta-bomba explodiu na sede do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), matando a secretária da entidade, Lyda Monteiro da Silva. Quatro militares do Centro de Investigações do Exército (CIE) estavam envolvidos na ação.
Na época do atentado, o Brasil vivia em plena ditadura e muitos militares da “linha dura” não aceitavam a chamada abertura política. Em 1979, a anistia colocou em liberdade os presos políticos e permitiu o retorno dos exilados. Todos os setores oposicionistas sofriam nas mãos destes descontentes de farda. Em 1980, o bispo de Nova Iguaçu, dom Valdyr Calheiros, e o jurista Dalmo Dalari foram sequestrados e barbaramente espancados. A OAB denunciava estes desmandos e foi colocada no alvo dos facínoras fardados.
A carta-bomba destinada ao presidente da OAB, confeccionada pelo sargento Guilherme Pereira do Rosário, foi entregue pessoalmente pelo sargento Magno Cantarino Motta, codinome Guarany. Quem coordenou a ação terrorista foi o coronel Freddie Perdigão Pereira. Uma servente da OAB foi testemunha ocular da entrega da carta e, somente 20 anos mais tarde, confirmou o responsável pela entrega: Guarany. As investigações feitas na época não deram em nada e nenhum culpado foi punido.
Lyda Monteiro da Silva abriu a correspondência destinada a Eduardo Seabra Fagundes, presidente da OAB, quando ocorreu a explosão. A secretária teve um braço arrancado e outras mutilações pelo corpo. Morreu na ambulância, a caminho do hospital. No mesmo dia houve outros atentados no Rio: no gabinete do vereador Antônio Carlos de Carvalho (com cinco pessoas feridas) e na sede da sucursal do jornal Tribuna Operária (do PCdoB). No ano seguinte aconteceu um outro atentado que fracassou, durante as festividades do 1º de Maio, no Riocentro, com a presença de mais de 10 mil pessoas. A bomba explodiu no colo de um sargento e feriu gravemente um capitão, ambos estavam no interior de um carro Puma.
Era um período de grande intranquilidade. Bombas explodiam em bancas que vendiam jornais alternativos, verdadeiras operações de guerra eram montadas para tentar enfraquecer as greves operária, seu líderes eram presos e tentaram calar a Igreja Católica (tomaram dela a sua rádio). De janeiro de 1980 a abril de 1981, a “tigrada”, como era conhecido o grupo radical do Exército, realizou 74 ações terroristas. Elio Gaspari, em seu livro “A ditadura acabada”, afirma que “a Comunidade de Informações, que trabalhava em seu benefício, não desvendara um só dos atentados que ocorriam no país”.
Nos dias atuais causa calafrio quando vemos um ex-capitão, que em 1987 ameaçara colocar bombas nos quartéis por causa dos baixos soldos, figurar em segundo lugar nas pesquisas como candidato a presidente da República. Não devemos descuidar das serpentes, quando menos se espera, elas podem nos picar. Terrorismo nunca mais.s
quarta-feira, 23 de agosto de 2017
Sobre parafusos e especulação imobiliária
Há uns 20, 30 anos, você começa a comprar terras superdesvalorizadas na periferia da cidade. E, ao mesmo tempo, vai pressionando os governos a investir nas áreas mais valorizadas para diminuir ainda mais o preço da terra na periferia, visando mais compras a preços ridículos. Quando você não tem mais o que comprar, começa a dizer por aí que o desenvolvimento da cidade precisa ser invertido, em direção às suas terras, porque "lá é onde o trabalhador mora".
Faz lobby para alterar o zoneamento, coloca diretor seu como laranja de entidade de trabalhadores no conselho da cidade (órgão que vai debater o novo zoneamento), manda ele para audiências públicas criticar os movimentos sociais, assume entidades empresariais que dão espaços privilegiados na mídia para defender seu interesse e investir em políticos amigos (ou vendidos mesmo) até que, depois de um tempo, o novo zoneamento é aprovado e suas terras passam a ficar extremamente valorizadas.
Meses depois da nova lei ser aprovada pelos seus políticos amigos (que assumiram o poder com a sua ajuda e das entidades que comandava), você manda o seu diretor ir ao jornal novamente mas, desta vez, para dizer que está lançando projetos imobiliários em mais de três milhões de metros quadrados de terras.
Aquelas que você comprou a preço de banana, mas agora, graças a sua atuação política e rentista-exploradora, vai te dar um lucro enorme, lembra?
E todo mundo na cidade acha normal. Ninguém questiona. Conselho da Cidade, então? Tem que pedir autorização pra falar e o nome é capaz de não ser colocado nas atas públicas, já que criaram uma norma para esconder os integrantes e seus interesses explícitos nas decisões. Quem denuncia isto é demitido, processado, chamado de "arruaceiro" pelos políticos e colegas de profissão, sendo que estes deveriam ser os primeiros a se levantar contra devido ao seu conhecimento técnico, mas se escondem porque seus clientes são os mesmos lobistas.
E assim a tragédia urbana se multiplica: crianças, mulheres, jovens e pobres se reproduzem na miséria criada por aqueles que dizem estar agindo em seus nomes.
O poder de alguns aumenta, e a fábrica de coalizão de consensos se mantém como a coisa mais impiedosa do local.
Em uma cidade latino americana qualquer, agosto de 2017.
terça-feira, 22 de agosto de 2017
Os honoris causa de Lula são ofensa para os "odiadores"
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
É entediante retornar ao mesmo tema vezes e vezes sem conta. Mas hoje volto a falar nos títulos de Doutor Honoris Causa atribuídos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E, para começar, deixo um statement que considero definidor: os doutores (gente com doutorado) que eu conheço não reclamam dos títulos atribuídos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De fato, a maioria até aplaude.
Mas ainda existe muita gente que reage com o fígado a cada título recebido pelo o ex-presidente? Eis a ironia. Quem reclama é justamente o pessoal pouco afeito às coisas do conhecimento: os “sábios” das redes sociais, os comentaristas dos blogs e, claro, essa petty bourgeoisie com canudo, que se acha superior (sem o ser, claro). É triste, mas na maioria dos casos estamos a falar de gente que tem um certo desprezo pelas letras.
Lula parece ser duro de engolir. E há pelo menos três pontos a destacar. 1. Mesmo que o discurso seja de negação, a prática mostra um indisfarçável ódio de classe. 2. Há uma excessiva veneração dos títulos acadêmicos no Brasil. Afinal, ao longo da história, quando os mais pobres não tinham acesso à universidade, o diploma tornou-se fator de distinção social. 3. Há o preconceito contra um homem que nasceu na pobreza e chegou à presidência.
Episódios ridículos se sucedem. Um dos mais recentes ocorreu na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que pretendia atribuir o título ao ex-presidente. Um juiz mandou suspender a entrega da distinção, num claro atropelamento das regras de autonomia das universidades. E foi mais longe. Ordenou que a Polícia Federal estivesse presente para impedir o evento. Isso é tão terceiro-mundo.
Ora, é preciso respeitar. Lula já recebeu títulos em algumas das mais renomadas instituições do mundo, como a Universidade de Coimbra, a Universidade de Salamanca ou o Instituto de Estudos Políticos de Paris. O Sciences Po, como é conhecida a escola francesa, por exemplo, foi fundado em 1871 e desde então só atribuiu esse grau honorífico a 16 pessoas. Lula é o primeiro latino-americano. Não é para qualquer um.
Em qualquer país civilizado a atribuição dessas distinções encheria os cidadãos de orgulho. E Lula poderia mesmo contar com um republicano silêncio dos seus desafetos políticos. Mas no Brasil é diferente. O sucesso e o reconhecimento internacional do ex-presidente soam quase como ofensa. É o gatilho que espoleta as reações dos “odiadores”, gente que transformou o ódio em vocação.
É a dança da chuva.
É entediante retornar ao mesmo tema vezes e vezes sem conta. Mas hoje volto a falar nos títulos de Doutor Honoris Causa atribuídos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E, para começar, deixo um statement que considero definidor: os doutores (gente com doutorado) que eu conheço não reclamam dos títulos atribuídos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De fato, a maioria até aplaude.
Mas ainda existe muita gente que reage com o fígado a cada título recebido pelo o ex-presidente? Eis a ironia. Quem reclama é justamente o pessoal pouco afeito às coisas do conhecimento: os “sábios” das redes sociais, os comentaristas dos blogs e, claro, essa petty bourgeoisie com canudo, que se acha superior (sem o ser, claro). É triste, mas na maioria dos casos estamos a falar de gente que tem um certo desprezo pelas letras.
Lula parece ser duro de engolir. E há pelo menos três pontos a destacar. 1. Mesmo que o discurso seja de negação, a prática mostra um indisfarçável ódio de classe. 2. Há uma excessiva veneração dos títulos acadêmicos no Brasil. Afinal, ao longo da história, quando os mais pobres não tinham acesso à universidade, o diploma tornou-se fator de distinção social. 3. Há o preconceito contra um homem que nasceu na pobreza e chegou à presidência.
Episódios ridículos se sucedem. Um dos mais recentes ocorreu na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que pretendia atribuir o título ao ex-presidente. Um juiz mandou suspender a entrega da distinção, num claro atropelamento das regras de autonomia das universidades. E foi mais longe. Ordenou que a Polícia Federal estivesse presente para impedir o evento. Isso é tão terceiro-mundo.
Ora, é preciso respeitar. Lula já recebeu títulos em algumas das mais renomadas instituições do mundo, como a Universidade de Coimbra, a Universidade de Salamanca ou o Instituto de Estudos Políticos de Paris. O Sciences Po, como é conhecida a escola francesa, por exemplo, foi fundado em 1871 e desde então só atribuiu esse grau honorífico a 16 pessoas. Lula é o primeiro latino-americano. Não é para qualquer um.
Em qualquer país civilizado a atribuição dessas distinções encheria os cidadãos de orgulho. E Lula poderia mesmo contar com um republicano silêncio dos seus desafetos políticos. Mas no Brasil é diferente. O sucesso e o reconhecimento internacional do ex-presidente soam quase como ofensa. É o gatilho que espoleta as reações dos “odiadores”, gente que transformou o ódio em vocação.
É a dança da chuva.
segunda-feira, 21 de agosto de 2017
É preciso admitir: Udo tinha razão
POR JORDI CASTAN
O candidato Udo Dohler estava certo quando insistia no mantra que o problema de Joinville não era a falta de dinheiro, mas sim a falta de gestão. Não faltava dinheiro no governo anterior e não falta dinheiro neste governo. O que faltava antes e continua faltando agora é gestão. Seguimos sem um gestor.
O discurso que acusava o ex-prefeito Carlito Merss de não ser um bom gestor trazia a mensagem implícita de que o candidato Udo Dohler seria o gestor que Joinville tanto precisava. Uma mensagem que a maioria do eleitorado acreditou. Tanto acreditou que votou no pretenso gestor para por ordem na gestão da cidade.
O resultado desastrado da primeira gestão Udo Dohler não foi suficiente para que o eleitor abrisse os olhos, que votou novamente no mantra do gestor. O resultado é que Joinville elegeu de novo um administrador medíocre e a cidade continua parada e abandonada. Para ter uma ideia do nível de ineficiência, só foi gasto 1,1% do orçamento previsto para a mobilidade.
Joinville merece um administrador melhor. E no quadro atual qualquer outro candidato parece melhor que o atual. O eleitor não acreditou na capacidade dos demais candidatos e os partidos não apresentaram candidatos capazes de convencê-los de que seriam capazes de administrar uma quitanda com um mínimo de sucesso. O resultado desta falta de bons candidatos foi a recondução do mesmo gestor que já mostrou que não foi capaz de gerir Joinville com um mínimo de competência, no primeiro mandato e continua sem fazê-lo no segundo.
A cidade enfrenta décadas seguidas de desgoverno, sem conhecer uma gestão municipal digna deste nome. Joinville está abandonada e o dinheiro público ou escorre pelo ralo ou dorme no caixa sem que sejam construídas as obras públicas que engessam o desenvolvimento da cidade. A situação só não é pior porque este é um povo pacato, que aceita mansamente todas as escusas e justificativas apresentadas pelo poder público. Ou seja, para não fazer que Joinville progrida e conitnue abandonada e sem rumo.
Só nos resta esperar que um dia o joinvilense acorde desta letargia e descubra, de uma vez por todas, que Joinville está como está porque somos um exército de leões comandado por um cordeiro. Se acordássemos deste pesadelo sem fim, poderíamos escolher um bom gestor de verdade, não este engabelador que aí está. E então e por Joinville de volta no eixo do desenvolvimento. Mas até lá teremos só essa gestão medíocre e covarde incapaz de tirar Joinville do marasmo em que esta submersa pela inépcia do seu gestor.
sábado, 19 de agosto de 2017
Burro, burro, burro
O futebol é o esporte mais popular do mundo. Não é por acaso. As regras são muito simples e qualquer pacóvio, mesmo que jamais tenha dado um chute numa bola, se acha autoridade no assunto. Na arquibancada, cada torcedor é um técnico.
- Com esse Osvaldão a gente não ganha de ninguém. É um técnico que só sabe inventar. Ih, olha essa jogada do Luisinho. O cara tropeçou na bola.
E grita para o banco.
- Ei, Osvaldão, tira essa múmia de campo.
A partida está no fim e o sujeito ao lado, a roer as unhas de nervoso, acha que o jogador não tem culpa.
- Pô, o culpado é o Osvaldão. Todo mundo sabe que o Luisinho é atacante, mas esse técnico fica inventando e escala o coitado como meio-de-campo.
- O Luisinho é craque mas está velho e não tem mais pulmões para jogar no meio-de-campo. Só o Osvaldão é que não vê.
- Assim vamos ficar no 0 a 0 e jogando em casa contra um timeco. Haja coração.
- Como é que a diretoria foi contratar essa besta para técnico?
- É culpa da imprensa. Os jornalistas ficaram enchendo a bola do cara só porque foi campeão num time lá na Arábia.
- Eu nem sabia que os árabes jogavam futebol. Pensei que o negócio deles fosse explodir bombas.
- Pois é, mandaram essa bomba de técnico para cá. O pior é que esse Osvaldão ganha um dinheirão.
- Eu é que quero o meu dinheiro de volta. Esta pelada não vale um tostão.
Nesse momento Luisinho dá de canela na bola. A torcida vai à loucura.
- Tira essa múmia de campo, Osvaldão.
- É foda. O cara escala mal e não sabe a hora de fazer as substituições. Técnico burro. Filho da...
E a galera, em coro, acha o mesmo.
- Burro, burro, burro.
Osvaldão tenta organizar o time e, do banco, grita para os jogadores manterem a calma. Pede que toquem a bola e não entrem no desespero do chuveirinho na área. Ainda faltam três minutos para o fim do jogo. A torcida continua:
- Burro, burro, burro.
Nesse momento, Luisinho recebe a bola no meio do campo, deixa dois zagueiros sentados com dribles geniais e, na saída do goleiro, toca no canto. Gol de placa. A torcida, delirando, ensaia um coro:
- Luisinho, Luisinho, Luisinho.
Os dois torcedores olham um para o outro.
- Eu não disse? O Osvaldão é um líder. Sabe jogar para os três pontos e dá confiança aos jogadores.
- É um técnico experiente. Sabe que craque não se tira. Craque resolve. Ele fez bem em deixar o Luisinho em campo.
sexta-feira, 18 de agosto de 2017
A indústria rumo à extinção
POR DOMINGOS MIRANDA
“Um país com 200 milhões de pessoas, quase continental, pode sobreviver sem indústria? Seremos um país no futuro ou um grande shopping center?” Quem disse estas palavras foi Benjamin Steinbruch, diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e diretor da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Ele é uma das poucas vozes empresariais que vem criticando a desindustrialização do Brasil. Na década de 80, a indústria representava 25% do PIB nacional e hoje não ultrapassa 9%, o mesmo patamar de 1947.
O que chama a atenção é o comodismo dos industriais. No passado ouvíamos as vozes de um Antônio Ermírio de Morais ou de José Alencar da Silva (vice de Lula) fazendo severas críticas aos juros abusivos que beneficiam o rentismo em detrimento do setor produtivo. Hoje, Steinbruch se transformou numa voz solitária clamando no deserto.
Em Joinville, o maior centro industrial de Santa Catarina, as lideranças do setor não se manifestam com contundência sobre o assunto. O último grande protesto dos empresários foi há mais de uma década contra a possível volta da CPMF. Dos políticos, o único que tem se manifestado é o deputado Darci de Matos. Em maio de 2015 ele escreveu: “A alta taxa de juros aliada com uma infraestrutura caótica e carga tributária elevadíssima acabam tirando a competitividade da indústria brasileira. Isto não pode continuar assim. Antes que seja tarde, temos o dever de formar um movimento nacional para salvar a nossa indústria”.
Uma das razões deste comodismo dos industriais é que muitos deles também praticam o rentismo. Ficou mais fácil investir em aplicações, que trazem retorno alto e garantido, do que correr o risco de ampliar a produção da empresa, tendo que se endividar com os bancos. Há ainda uma outra anomalia. Empresas transformam-se em maquiladoras: importam o produto pronto da China e apenas colocam o rótulo como se fosse produto nacional.
Se o país quiser angariar respeitabilidade é preciso ter indústrias de ponta. Estamos voltando ao que éramos na primeira metade do século passado, um grande exportador de comodities. A situação tende a piorar porque o Brasil está reduzindo as verbas para a área de pesquisa e desenvolvimento.
Para a população, este é um assunto que tem pouco interesse. Os consumidores buscam os produtos e pouco importa se na etiqueta esteja escrito Made in Brazil ou Made in China. Um pouquinho de nacionalismo nesta área vai bem. Só para se ter uma ideia do desmonte industrial, atualmente somos um dos maiores exportadores de minério de ferro, mas importamos a totalidade dos trilhos usados em nossas ferrovias. Só não se indigna com isso quem tem o coração de ferro.
“Um país com 200 milhões de pessoas, quase continental, pode sobreviver sem indústria? Seremos um país no futuro ou um grande shopping center?” Quem disse estas palavras foi Benjamin Steinbruch, diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e diretor da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Ele é uma das poucas vozes empresariais que vem criticando a desindustrialização do Brasil. Na década de 80, a indústria representava 25% do PIB nacional e hoje não ultrapassa 9%, o mesmo patamar de 1947.
O que chama a atenção é o comodismo dos industriais. No passado ouvíamos as vozes de um Antônio Ermírio de Morais ou de José Alencar da Silva (vice de Lula) fazendo severas críticas aos juros abusivos que beneficiam o rentismo em detrimento do setor produtivo. Hoje, Steinbruch se transformou numa voz solitária clamando no deserto.
Em Joinville, o maior centro industrial de Santa Catarina, as lideranças do setor não se manifestam com contundência sobre o assunto. O último grande protesto dos empresários foi há mais de uma década contra a possível volta da CPMF. Dos políticos, o único que tem se manifestado é o deputado Darci de Matos. Em maio de 2015 ele escreveu: “A alta taxa de juros aliada com uma infraestrutura caótica e carga tributária elevadíssima acabam tirando a competitividade da indústria brasileira. Isto não pode continuar assim. Antes que seja tarde, temos o dever de formar um movimento nacional para salvar a nossa indústria”.
Uma das razões deste comodismo dos industriais é que muitos deles também praticam o rentismo. Ficou mais fácil investir em aplicações, que trazem retorno alto e garantido, do que correr o risco de ampliar a produção da empresa, tendo que se endividar com os bancos. Há ainda uma outra anomalia. Empresas transformam-se em maquiladoras: importam o produto pronto da China e apenas colocam o rótulo como se fosse produto nacional.
Se o país quiser angariar respeitabilidade é preciso ter indústrias de ponta. Estamos voltando ao que éramos na primeira metade do século passado, um grande exportador de comodities. A situação tende a piorar porque o Brasil está reduzindo as verbas para a área de pesquisa e desenvolvimento.
Para a população, este é um assunto que tem pouco interesse. Os consumidores buscam os produtos e pouco importa se na etiqueta esteja escrito Made in Brazil ou Made in China. Um pouquinho de nacionalismo nesta área vai bem. Só para se ter uma ideia do desmonte industrial, atualmente somos um dos maiores exportadores de minério de ferro, mas importamos a totalidade dos trilhos usados em nossas ferrovias. Só não se indigna com isso quem tem o coração de ferro.
quinta-feira, 17 de agosto de 2017
quarta-feira, 16 de agosto de 2017
O nazismo de esquerda e gente que odeia pensar
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Faz muitos anos, quando ainda vivia em Joinville, ouvi um radialista da cidade dizer que o nazismo era de esquerda. O “jênio” chegou a essa conclusão porque Adolf Hitler pertencia ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Se tinha socialismo no nome, não havia dúvidas. O cara levou essa lógica ao limite e associou o ainda recente Partido dos Trabalhadores – que ele odiou desde a primeira hora – ao nazismo.
A afirmação só podia provocar risos, claro. Entre uma gargalhada e outra pensei comigo: “por sorte é só esse apoucado a aparecer com essas ideias... ninguém vai levar a sério”. E eis que mais de 20 anos depois a coisa volta a ganhar corpo. E com força. Há mesmo gente em acesos debates por causa dessa não-questão. Só em países como o Brasil, onde ninguém estuda história, esse tipo de discussão tem pernas para andar.
Não vou entrar na discussão, claro. O tema não merece um minuto do tempo de ninguém. É como entrar num debate com alguém que defende a tese de que a Terra é plana. Não faz sentido. Um debate pressupõe dois lados a argumentar e este é uma daqueles casos em que dois monólogos não fazem um diálogo. É perda de tempo quando os argumentos de um lado são respondidos pelo outro lado com clichês mal amanhados.
Mas não resisto a um comentário sobre os tipos defendem essa ideia. É que eles ressurgiram em força depois dos incidentes em Charlottesville, envolvendo militantes de extrema direita seguidores de ideais nazistas. Quem defende a maluqueira de que o nazismo é de esquerda? A turma do ódio. A turma que odeia história. A turma da escola sem partido. A turma que acredita no MBL. A turma que se “informa” pelo Facebook.
Há mais ou menos aquilo que Kostas Axelos chamou “rejeição do pensamento”. O cenário é de ascensão do anti-intelectualismo. A rejeição do pensamento invade as redes sociais e ganha contorno de uma estranha “ciência”: é tudo ao contrário. O que a pessoa não entende - e não quer entender por imperativo ideológico ou abulia intelectual - é o que ela chama esquerdismo. Enfim, é gente que se recusa a pensar.
Eis um detalhe interessante: o Brasil deve ser um dos poucos países do mundo onde a palavra “esquerdista” é usada como ofensa. No mundo civilizado não é assim. Muito pelo contrário. O mais deprimente é que essas hordas que pululam nas redes sociais são incapazes de perceber a própria ignorância. Porque não perceber o processo de subjetivação-sujeição é parte do próprio processo. Enfim, uma pescadinha de rabo na boca (o eterno retorno).
É a dança da chuva.
Faz muitos anos, quando ainda vivia em Joinville, ouvi um radialista da cidade dizer que o nazismo era de esquerda. O “jênio” chegou a essa conclusão porque Adolf Hitler pertencia ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Se tinha socialismo no nome, não havia dúvidas. O cara levou essa lógica ao limite e associou o ainda recente Partido dos Trabalhadores – que ele odiou desde a primeira hora – ao nazismo.
A afirmação só podia provocar risos, claro. Entre uma gargalhada e outra pensei comigo: “por sorte é só esse apoucado a aparecer com essas ideias... ninguém vai levar a sério”. E eis que mais de 20 anos depois a coisa volta a ganhar corpo. E com força. Há mesmo gente em acesos debates por causa dessa não-questão. Só em países como o Brasil, onde ninguém estuda história, esse tipo de discussão tem pernas para andar.
Não vou entrar na discussão, claro. O tema não merece um minuto do tempo de ninguém. É como entrar num debate com alguém que defende a tese de que a Terra é plana. Não faz sentido. Um debate pressupõe dois lados a argumentar e este é uma daqueles casos em que dois monólogos não fazem um diálogo. É perda de tempo quando os argumentos de um lado são respondidos pelo outro lado com clichês mal amanhados.
Mas não resisto a um comentário sobre os tipos defendem essa ideia. É que eles ressurgiram em força depois dos incidentes em Charlottesville, envolvendo militantes de extrema direita seguidores de ideais nazistas. Quem defende a maluqueira de que o nazismo é de esquerda? A turma do ódio. A turma que odeia história. A turma da escola sem partido. A turma que acredita no MBL. A turma que se “informa” pelo Facebook.
Há mais ou menos aquilo que Kostas Axelos chamou “rejeição do pensamento”. O cenário é de ascensão do anti-intelectualismo. A rejeição do pensamento invade as redes sociais e ganha contorno de uma estranha “ciência”: é tudo ao contrário. O que a pessoa não entende - e não quer entender por imperativo ideológico ou abulia intelectual - é o que ela chama esquerdismo. Enfim, é gente que se recusa a pensar.
Eis um detalhe interessante: o Brasil deve ser um dos poucos países do mundo onde a palavra “esquerdista” é usada como ofensa. No mundo civilizado não é assim. Muito pelo contrário. O mais deprimente é que essas hordas que pululam nas redes sociais são incapazes de perceber a própria ignorância. Porque não perceber o processo de subjetivação-sujeição é parte do próprio processo. Enfim, uma pescadinha de rabo na boca (o eterno retorno).
É a dança da chuva.
sábado, 12 de agosto de 2017
Burrice fenomenal ou traição nacional?
POR DOMINGOS MIRANDA
Se um ET descesse no Brasil e pedisse para entrar em contato com o nosso maior cientista não conseguiria. Simplesmente porque ele está preso e ficará atrás das grades até seus dias finais. Espantoso, mas é assim que as coisas funcionam na terra onde alguns imaginam ser mais espertos que os outros.
O almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, responsável pelo desenvolvimento de uma tecnologia 100% nacional de enriquecimento de urânio pelo método de ultracentrifugação, foi condenado a 43 anos de prisão pelo crime de corrupção durante as obras da usina nuclear Angra 3. O processo, cheio de falhas, como demonstrou o jornalista Luiz Nassif, foi conduzido pelo juiz da Lava Jato que tem notórias ligações com os serviços de informações dos EUA.
Em 1978, o almirante Othon recebeu a incumbência de iniciar os estudos para construir o primeiro submarino nuclear brasileiro e de 1979 a 1994 liderou o Programa Nuclear Paralelo, executado sigilosamente pela Marinha. Como acontece em casos semelhantes em outros países, muitas das aquisições não passam pela contabilidade oficial. Por isso soa estranho o nosso cientista ser condenado por corrupção sendo que, caso se interessasse em trabalhar no exterior, seus ganhos econômicos seriam fantásticos.
Ao fazermos a comparação com o tratamento dado pelas grandes potências a outros cientistas, veremos uma enorme disparidade com o que acontece no Brasil. O famoso cientista alemão Werner von Braun, inventor da bomba voadora V2, na Segunda Guerra Mundial, foi levado para os EUA e encarregado do nascente programa espacial americano. Von Braun era oficial da sanguinária corporação militar SS e nos seus trabalhos de pesquisa usou mão-de-obra escrava. No final da vida virou herói nacional por levar o primeiro homem à lua.
Um outro cientista alemão, Manfred von Ardenne, condecorado duas vezes pelo regime nazista, foi capturado pelas tropas da União Soviética após a derrota do 3º Reich e conseguiu desenvolver a primeira bomba atômica naquele país comunista. Ele continuou na URSS e na Alemanha Oriental aperfeiçoando seus inventos, inclusive na área de saúde, e em 1953 recebeu o Prêmio Stalin. Portanto, em menos de uma década foi premiado por regimes políticos de características totalmente antípodas. Falou mais alto o seu conhecimento.
Um pesquisador europeu comentou que o brasileiro é um povo infantil. Uma das características da criança é ser bastante susceptível à fantasia. E, no momento, estamos acreditando que não há interesses de forças externas em inviabilizar o nosso programa nuclear para defesa. No caso dos responsáveis por trancafiar o nosso maior cientista, há duas hipóteses. Uma é o desconhecimento das forças que regem a geopolítica internacional e aí poderíamos dizer que cometem uma burrice fenomenal. No outro caso seria estarem agindo em sintonia com os interesses estrangeiros, o que caracterizaria, indubitavelmente, um crime de lesa-pátria.
Aos brasileiros patriotas interessa a verdade. Só não podemos ficar de braços cruzados esperando o desenrolar dos fatos. Queremos o almirante Othon Pinheiro solto, como aconteceu com outros envolvidos na Lava Jato. O lugar dele é no laboratório desenvolvendo tecnologias que podem representar a independência brasileira na energia nuclear.
Se um ET descesse no Brasil e pedisse para entrar em contato com o nosso maior cientista não conseguiria. Simplesmente porque ele está preso e ficará atrás das grades até seus dias finais. Espantoso, mas é assim que as coisas funcionam na terra onde alguns imaginam ser mais espertos que os outros.
O almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, responsável pelo desenvolvimento de uma tecnologia 100% nacional de enriquecimento de urânio pelo método de ultracentrifugação, foi condenado a 43 anos de prisão pelo crime de corrupção durante as obras da usina nuclear Angra 3. O processo, cheio de falhas, como demonstrou o jornalista Luiz Nassif, foi conduzido pelo juiz da Lava Jato que tem notórias ligações com os serviços de informações dos EUA.
Em 1978, o almirante Othon recebeu a incumbência de iniciar os estudos para construir o primeiro submarino nuclear brasileiro e de 1979 a 1994 liderou o Programa Nuclear Paralelo, executado sigilosamente pela Marinha. Como acontece em casos semelhantes em outros países, muitas das aquisições não passam pela contabilidade oficial. Por isso soa estranho o nosso cientista ser condenado por corrupção sendo que, caso se interessasse em trabalhar no exterior, seus ganhos econômicos seriam fantásticos.
Ao fazermos a comparação com o tratamento dado pelas grandes potências a outros cientistas, veremos uma enorme disparidade com o que acontece no Brasil. O famoso cientista alemão Werner von Braun, inventor da bomba voadora V2, na Segunda Guerra Mundial, foi levado para os EUA e encarregado do nascente programa espacial americano. Von Braun era oficial da sanguinária corporação militar SS e nos seus trabalhos de pesquisa usou mão-de-obra escrava. No final da vida virou herói nacional por levar o primeiro homem à lua.
Um outro cientista alemão, Manfred von Ardenne, condecorado duas vezes pelo regime nazista, foi capturado pelas tropas da União Soviética após a derrota do 3º Reich e conseguiu desenvolver a primeira bomba atômica naquele país comunista. Ele continuou na URSS e na Alemanha Oriental aperfeiçoando seus inventos, inclusive na área de saúde, e em 1953 recebeu o Prêmio Stalin. Portanto, em menos de uma década foi premiado por regimes políticos de características totalmente antípodas. Falou mais alto o seu conhecimento.
Um pesquisador europeu comentou que o brasileiro é um povo infantil. Uma das características da criança é ser bastante susceptível à fantasia. E, no momento, estamos acreditando que não há interesses de forças externas em inviabilizar o nosso programa nuclear para defesa. No caso dos responsáveis por trancafiar o nosso maior cientista, há duas hipóteses. Uma é o desconhecimento das forças que regem a geopolítica internacional e aí poderíamos dizer que cometem uma burrice fenomenal. No outro caso seria estarem agindo em sintonia com os interesses estrangeiros, o que caracterizaria, indubitavelmente, um crime de lesa-pátria.
Aos brasileiros patriotas interessa a verdade. Só não podemos ficar de braços cruzados esperando o desenrolar dos fatos. Queremos o almirante Othon Pinheiro solto, como aconteceu com outros envolvidos na Lava Jato. O lugar dele é no laboratório desenvolvendo tecnologias que podem representar a independência brasileira na energia nuclear.
sexta-feira, 11 de agosto de 2017
Criar uma nova geração de torcedores do JEC
POR ALEXANDRE PERGER
Sabe aquelas memórias que ficam cravadas no cérebro e voltam de tempos em tempos e causam aquele suspiro de saudade? Das minhas, pelas minhas contas, uns 80% estão ligadas ao futebol e, mais especificamente, ao JEC. Dessas, uns 90% tem meu pai ou meu irmão como personagens fundamentais. Em grande parte, são lembranças impregnadas pelo cheiro do espetinho de gato assado ao lado do alambrado e, claro, da pipoca, do gosto do guaraná, do balançar da arquibancada ou do barulho dos pés batendo freneticamente nas tábuas de madeiras que serviam de assento.
Em meio a essas lembranças tem toda a sorte de acontecimento. Tentativa frustrada de pular o alambrado aos 8 anos de idade, pedrada nas costas abafada por um guarda-chuva, encenação de mal-estar para conseguir furar a multidão que se acotovelava para entrar no Ernestão e ver a final de 2000, chuva, muita chuva na cabeça (daqueles temporais que deixam a cidade embaixo d’água), chinelo caído em meio à estrutura metálica, gols aos 50, aos 40, decepção, alegria, enfim, é muita coisa.
Mas contei essa história toda para dizer que agora carrego uma enorme responsabilidade sobre meus ombros (essa ênfase toda vem da minha cabeça, é claro). Há um mês e meio nasceu meu filho, o Ernesto. Não preciso nem dizer que desde o dia em que recebi a notícia da gravidez minha cabeça de pai torcedor já criou mil cenários em relação às cores para as quais meu filho torcerá (se é que torcerá). Minha esposa, que não nutre nem 5% do meu interesse por futebol, já avisou: não vamos (ela usou vamos, mas era pra ser você) obrigar e nem forçar a nada.
Meu lado racional do cérebro dá toda a razão para ela. O menino tem que escolher por conta própria. Mas o lado passional não gosta nem de imaginar o futuro em que o Ernesto não ligue muito para futebol e para o JEC. E nesse dilema, tentando equilibrar uma coisa e outra, cheguei a uma conclusão: não torcendo para Avaí ou Figueirense já vai dar uma alegria para o pai.
Alexandre Perger é jornalista, jequeano e editor do site O Mirante.
Sabe aquelas memórias que ficam cravadas no cérebro e voltam de tempos em tempos e causam aquele suspiro de saudade? Das minhas, pelas minhas contas, uns 80% estão ligadas ao futebol e, mais especificamente, ao JEC. Dessas, uns 90% tem meu pai ou meu irmão como personagens fundamentais. Em grande parte, são lembranças impregnadas pelo cheiro do espetinho de gato assado ao lado do alambrado e, claro, da pipoca, do gosto do guaraná, do balançar da arquibancada ou do barulho dos pés batendo freneticamente nas tábuas de madeiras que serviam de assento.
Em meio a essas lembranças tem toda a sorte de acontecimento. Tentativa frustrada de pular o alambrado aos 8 anos de idade, pedrada nas costas abafada por um guarda-chuva, encenação de mal-estar para conseguir furar a multidão que se acotovelava para entrar no Ernestão e ver a final de 2000, chuva, muita chuva na cabeça (daqueles temporais que deixam a cidade embaixo d’água), chinelo caído em meio à estrutura metálica, gols aos 50, aos 40, decepção, alegria, enfim, é muita coisa.
Mas contei essa história toda para dizer que agora carrego uma enorme responsabilidade sobre meus ombros (essa ênfase toda vem da minha cabeça, é claro). Há um mês e meio nasceu meu filho, o Ernesto. Não preciso nem dizer que desde o dia em que recebi a notícia da gravidez minha cabeça de pai torcedor já criou mil cenários em relação às cores para as quais meu filho torcerá (se é que torcerá). Minha esposa, que não nutre nem 5% do meu interesse por futebol, já avisou: não vamos (ela usou vamos, mas era pra ser você) obrigar e nem forçar a nada.
Meu lado racional do cérebro dá toda a razão para ela. O menino tem que escolher por conta própria. Mas o lado passional não gosta nem de imaginar o futuro em que o Ernesto não ligue muito para futebol e para o JEC. E nesse dilema, tentando equilibrar uma coisa e outra, cheguei a uma conclusão: não torcendo para Avaí ou Figueirense já vai dar uma alegria para o pai.
Alexandre Perger é jornalista, jequeano e editor do site O Mirante.
quarta-feira, 9 de agosto de 2017
Um mundo de mercados e mercadores
POR ET BARTHES
Em Bruxelas, na Bélgica, as famosas passagens, onde estão lojas das principais marcas. (Foto: JAB) |
Ainda na Bélgica - só podia - lojas com 250 marcas de cerveja. Dizem que por lá você pode beber uma marca diferente por dia... sem repetir. (Foto: JAB) |
Em Budapeste, na Hungria, o mercado municipal é um festival de cores. Os pimentos são produto básico na dieta dos húngaros. (Foto: JAB) |
Na China, em qualquer cidade você pode encontrar insetos preparados para uma degustação. Diz quem comeu que a coisa é saborosa. (Foto: Nuno de Paula) |
No Rio Nilo, no Egito, os passeios em navios têm sempre o encontro com estes vendedores, que aparecem nos seus pequenos barcos a tentar negociar produtos típicos. (Foto: Arlete Castelo) |
|
Em Marrocos, comprar nos mercados públicos nas ruas é uma tradição que se estende a quase todas as cidades. (Foto: JAB) |
Na Índia, os mercados existem em praticamente todas as cidades e são bastante frequentados. O aspecto deste (Dadar) não ajuda muito. (Foto: Joana Reis) |
Na Nova Zelândia, todos os anos as pessoas vão ao Festival de Comidas Selvagens para experimentar coisas como insetos. É um dos eventos mais midiáticos do país. (Foto: Steve Gwaliasi) |
Em Oslo, na Noruega, você ainda pode ir ao porto e comprar peixe direto do pescador. (Foto: JAB) |
terça-feira, 8 de agosto de 2017
Não perca o JN sobre o ataque terrorista dos ovos
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Não perca, no Jornal Nacional desta noite, uma reportagem sobre o ataque terrorista a João Dória, ontem, em Salvador.
- A Polícia Federal está a investigar o caso, que batizou de Ovo a Jato. Mas as investigações só vão apurar os fatos ocorridos a partir de 2003, ano em que Lula tirou a galinha dos ovos de ouro das mãos dos vendilhões do país.
- Durante uma palestra em que não recebeu um tostão, o procurador Deltan Dallagnol mostra um powerpoint para provar a sua convicção de que Lula é o chefe da quadrilha dos atiradores de ovos.
- O juiz Sérgio Moro vai bloquear os bens de Lula, condenado sumariamente por ser proprietário de uma granja de galinhas no Guarujá. Diz não ter provas cabais, mas sabe que Lula come omelete duas vezes por semana e que isso é suficiente.
- Miriam Leitão fala nos efeitos na economia. Diz que o preço dos ovos vai subir, mas isso não interfere na economia brasileira, que com Michel Temer finalmente vai ter crescimento de tigre.
- Em comentário especial, Carlos Alberto Sardenberg prevê que com Michel Temer à frente do país os ovos de galinha passarão a ter o tamanho de ovos de avestruz.
- Gilmar Mendes diz que o ataque tem o dedo de Lula (o mindinho) e que isso é razão mais que suficiente para o STF o impedir de concorrer à presidência em 2018. "Com Lula fora, Aécio assume o favoritismo, mesmo partindo do zero", explica.
- No seu programa de amanhã, Ana Maria Braga vai usar um colar de ovos. E vai fazer uma frittata com eles no seu momento de culinária.
- Em entrevista, a jurista Janaína Paschoal afirma que os ovos são fornecidos por Putin e chegam ao Brasil através Venezuela. Exige a intervenção de Trump.
- Jair Bolsonaro, convidado como especialista em balística para mostrar a curva hodográfica do ovo, desistiu da entrevista. Pensava que balística tivesse a ver com 7 Belo.
- O bispo Silas Malafaia vai falar sobre quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, à luz da teoria criacionista.
- Jacob Kligerman, cirurgião que atendeu José Serra no caso da bolinha de papel, explica o efeito de um ovo a bater numa caixa craniana vazia como a de João Dória.
- O velocista Rubens Barrichello iria reproduzir um crash-test entre um ovo e uma testa humana. Mas só deve chegar ao estúdio na semana que vem...
- E uma entrevista com o próprio João Dória, que, agora com um sotaque de baiano da gema, quer mandar todos os esquerdistas para a Venezuela.
João Dória, o ovo bom e o ovo mau
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A "ovação" a João Dória é um
daqueles episódios que deixam as pessoas divididas. "Foi mal", diz o espírito republicano. "Foi bem", diz o pensamento de quem não engole o homem. Então, há uma batalha entre o anjinho
e o diabinho que habitam em cada um de nós e insistem em ficar dando palpites à consciência. Eis um diálogo. O Ovo Diabinho,
que gosta de um bom fuzuê, acha divertidíssima a omelete à João Dória.
Já o Ovo Anjinho, que é um cara muito certinho e cumpridor das regras, acha uma
atitude imprópria e pouco republicana.
Ovo Diabinho (divertido) – Viu que pontaria? Não sei quem foi, mas era certeiro. O ovo
parecia um míssil teleguiado na direção da fuça do Dória.
Ovo Anjinho (vetusto) – Isso não se faz. Ele estava na Bahia como
convidado.
Diabinho – Então, devia estar trabalhando em vez de fazer
campanha. Aliás, campanha antecipada não é crime eleitoral?
Anjinho – É crime. Mas ele foi convidado para
receber um título de cidadão sotero... soteropo... soteropolitano... eita
palavra difícil.
Diabinho – Caraca, meu. Mas o que o Dória fez pelos sotero...
baianos?
Anjinho – Nada. Mas o ACM Neto quer ser vice na
chapa do Dória. E saíram com a conversa de que a família dele é da Bahia. Quatrocentona.
Diabinho – Uma puta sacanagem, meu. Não foi o Dória que, na Embratur, quis tornar a miséria nordestina
em atração turística? Então... a Bahia fica no Nordeste.
Anjinho – Foi maus. Mas talvez ele estivesse apenas a
tentar ser criativo...
Diabinho – Dória criativo? Só rindo. Os baianos tiveram
muita sorte por ele não ter ido ao Pelourinho pintar aquilo tudo de cinza...
Anjinho – Ah... isso foi uma fase. Hoje ele é um homem
preocupado com outras coisas, como educação, saúde...
Diabinho – ... saúde... isso faz lembrar o episódio do Serra. Aquele era
um cagão. Levou com uma bolinha de papel na cabeça e teve que chamar um cirurgião,
fazer tomografia e o escambau...
Anjinho – O Serra apelou. Foi imoral. Como também é imoral
atirar coisas nas pessoas.
Diabinho – Ah... pára, né? Diz aí... o que é mais imoral?
Atirar ovos ou demolir casas com gente dentro?
Anjinho – Isso foi um acidente...
Diabinho – Ah... e por falar nisso, achas legal aumentar o
limite de velocidade na Tietê e Pinheiros e aumentar os acidentes?!?!?!
Anjinho – Ok... não foi uma boa ideia. Mas nem isso justifica jogar
ovos.
Diabinho – Fazer o quê? As pessoas dão flores e ele joga
fora, na cara dura e na má educação.
Anjinho – Pô, temos que ser republicanos. O que acharias se
jogassem ovos no Lula ou na Dilma, por exemplo?
Diabinho – Ah ah ah. Só rindo mesmo. Esses coxinhas nunca
vão pegar numa coisa que saiu do cu da galinha. Vão dizer: "Argh! Que nojo!" Só se mandarem
as empregadas...
Anjinho – Mas essa confusão ajuda o Dória, porque dá
visibilidade...
Diabinho – Que nada. O cabra abre a boca e só sai besteira. Parece
coxinha de facebook... só sabe falar no Lula...
Anjinho – Mas ele é o candidato anti-Lula...
Diabinho – Tontice. Isso é coisa daquela revista que ninguém lê e que
publicou uma foto na posição de quem está a meio de uma cagada...
Anjinho – Olha aí... não vamos baixar o nível...
Diabinho – Mas o Dória faz uma cagada atrás da outra. Aliás, sabes
como acabou a conversa de ontem, depois dos ovos? O cara mandou todo mundo para a Venezuela.
Anjinho – Para a Venezuela? Como uma coisa em Salvador pode
acabar na Venezuela?
Diabinho – É o pessoal do golpe. Faz de conta que não vê as merdas no Brasil e só fala em Venezuela, Venezuela, Venezuela...
Anjinho – Puta que pariu... aí não. Tens um ovo aí?
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