quinta-feira, 19 de outubro de 2023
Milei pode vencer. O que há com nuestros hermanos?
sábado, 27 de maio de 2023
Dog-whistle: a linguagem dos cães racistas
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Sabe o que são as “dog-whistle politics”? É uma expressão da língua inglesa muito usada por grupos específicos, em especial nos Estados Unidos, mas que começou a ser difundida em outros países, graças à ascensão da extrema mundial em todo o mundo. A tradução literal significa “política do apito do cão” e é fácil entender o significado. Há um som de apito que apenas os cães conseguem ouvir. Ou seja, os fascistas reconhecem o apito dos fascistas.
O que isso quer dizer? Que é um código partilhado por grupos específicos. É uma mensagem política dirigida a um grupo que domina o código e é capaz de entender os significados. A maioria das pessoas não nota, mas essas mensagens estão espalhadas de forma subliminar pela internet, em especial nas redes sociais.
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Como a coisa acontece? Há a apropriação de um símbolo inocente e atribui-se um segundo sentido. Ou seja, deixa de ter a sua significação inicial para adquirir outro significado, percebido apenas por um determinado grupo. E para que o leitor entenda o conteúdo das “dog-whistle”, vamos a um exemplo prático. Em 2022, o presidente Jair Bolsonaro foi fotografado - e a imagem amplamente partilhada entre os bolsonaristas - com a camisa do time da Lazio, de Roma.
Ora, é um recado até pouco sutil. A Lazio tem fama de ser um times de futebol mais fascistas do mundo. E a explicação é fácil: Benito Mussolini, que engendrou o fascismo italiano, era o seu mais ilustre torcedor. A sua torcida também é conhecida por ter cantos racistas e até por idolatar, por exemplo, o jogador Paulo di Canio, que em 2005 fez gestos nazistas no clássico contra a Roma. Ainda há pouco tempo, em 2021, o clube italiano demitiu o funcionário responsável por cuidar águia mascote do clube, em consequência de ter feito a saudação fascista numa vitória sobre a Inter de Milão.
Também podemos lembrar do caso de Filipe Martins, assessor especial para assuntos internacionais do presidente Jair Bolsonaro. O sujeito reproduziu um gesto considerado supremacista, que significa "white power". É um “ok” que por vezes usamos no dia a dia, mas que foi apropriado pelos militantes racistas. Se feito com a mão esquerda tem o significado original de “tudo bem”. Mas com a mão direita é usada para significar “poder branco”.
Em suma, a linguagem dos "dog-whistle" é uma estratégia política utilizada por grupos específicos para transmitir mensagens subliminares e direcionadas a um público que compartilha seus ideais. Essa tática envolve a apropriação de símbolos aparentemente inocentes, aos quais é atribuído um segundo significado compreendido apenas por esse grupo. Essas mensagens são disseminadas principalmente nas redes sociais, e sua eficácia tem sido evidenciada em várias esferas políticas. É crucial ter atenção a esses códigos e suas conotações, a fim de combater o discurso de ódio.
É a dança da chuva.
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Bolsonaro com a camisa da Lazio: apito de cão. |
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Filipe Martins, assessor de Bolsonaro, a fazer o gesto... |
sexta-feira, 3 de julho de 2020
Ministros que mentem no currículo - Chuva Ácida Debates
COLETIVO CHUVA ÁCIDA
Decotelli não é o primeiro, nem o segundo e nem o terceiro. Mentir no currículo é uma prática comum nos ministeriáveis de Bolsonaro. Mas quando acontece na Educação, a coisa assume proporções inaceitáveis. É o tema deste Chuva Ácida Debates, com o professor Clóvis Gruner e o jornalista José António Baço.
sábado, 6 de junho de 2020
Os ocasos de Trump, Bolsonaro e Udo
POR CHUVA ÁCIDA
O Chuva Ácida faz uma viagem desde Washington, onde Donald Trump enfrenta problemas com manifestações por todo o país, passando por Brasília, com os 30 mil de Jair Bolsonaro, acabando em Joinville, onde candidatos a prefeitos estão a ser contagiados.
sábado, 30 de maio de 2020
Bolsonaro é o presidente mais burro do mundo
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Bolsonaro diz que a sua imagem no exterior é má porque a imprensa internacional é de esquerda. Uma ideia que vem apenas comprovar o fato de que o presidente é uma pessoa sem cultura, sem inteligência e sem capacidade de ler o mundo. Ou, em outras palavras, Bolsonaro é hoje o presidente mais burro do planeta.
sexta-feira, 22 de maio de 2020
Impasses da oposição no Brasil
sábado, 25 de abril de 2020
A demissão de Moro, o delírio de Araújo
quarta-feira, 22 de abril de 2020
Como explicar Bolsonaro para estrangeiros...
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A resposta é simples. A eleição de Jair Bolsonaro foi democrática, pelo voto direito (não vamos discutir aqui o processo da prisão de Lula). Mas mesmo assim as pessoas tendem a não ficar convencidas. E isso obriga a uma reflexão sobre uma pesquisa divulgada há algum tempo e segundo a qual os brasileiros tem uma péssima percepção da realidade do país. Ou seja, muita dificuldade em interpretar o mundo.
Para tentar uma abordagem didática, tomei a liberdade de seccionar os eleitores de Bolsonaro em três grupos: os antipetistas, os que cultuam o "mito" e os que veem em Bolsonaro uma espécie de espelho (uma projeção da sua própria maldade). Tudo parece indicar que apenas estes últimos ainda estejam ao lado do presidente e a palavra "impeachment" voltou ao léxico cotidiano.
terça-feira, 18 de dezembro de 2018
Na corrupção não há meia virgem, nem uma pequena gravidez.
domingo, 25 de novembro de 2018
Olavo, Bolsonaro e o governo dos idiotas
“Muito, mas muito mais grave que a corrupção é a questão ideológica”. A frase foi proferida por Jair Bolsonaro, há poucos dias, numa reunião partidária. É um evidente contrassenso, uma vez que ele foi eleito graças ao discurso contra a corrupção e a proposta de “mudar isso daí”. Por enquanto, os eleitores do futuro presidente estão caladinhos como ratos. Afinal, a maioria deles já percebeu que foi engabelada.
No entanto, a afirmação merece uma análise mais detida. Porque Jair Bolsonaro parece estar mesmo preocupado com as questões “ideológicas”. Em aspas porque é evidente que ele não domina o conceito de ideologia. O presidente eleito - assim como os seus eleitores - não é amigo dos livros. Tomo a liberdade de ficar pelo conceito marxiano de ideologia, que, grosso modo, afirma que ideologia é uma distorção da realidade.
Jair Bolsonaro vive numa realidade distorcida e nem se dá conta. É por isso que pretende substituir o que julga ser um conjunto de ideias (aquilo a que chama ideologia) pela mais obtusa das ignorâncias. E é aí que surge o nome de Olavo de Carvalho, um astrólogo charlatão que nas horas vagas vive a farsa de ser “filósofo”. O fato é que o astrólogo emplacou dois ministros no futuro governo: Ricardo Vélez Rodríguez (Educação) e Ernesto Araújo (Itamaraty).
O Brasil está entregue à distopia dos ignorantes. Bernardo Mello Franco, colunista de política do jornal “O Globo”, estabeleceu uma boa definição para o que o país está a passar: “o olavismo passou de piada a doutrina oficial de governo”. É isso. Olavo de Carvalho passou de situação de apenas ridículo para mentor dos homens do futuro governo. É impossível sair algo de bom “disso daí”.
E por falar em ridículo, deixo aqui um vídeo do Youtube onde a mente mais brilhante do futuro governo expressa a sua “sabedoria”. É apenas ridículo. O futuro do Brasil passa por um bando de idiotas a governar. E tudo seria muito cômico se não fosse trágico. Pobre Brasil!
terça-feira, 30 de outubro de 2018
83,18%
segunda-feira, 8 de outubro de 2018
Rachou feio
terça-feira, 2 de outubro de 2018
Acordaremos dia 8 com um Brasil rachado
terça-feira, 4 de setembro de 2018
Bolsonaro não só fuzila a "petralhada", mas também mata a decência
Uma pergunta hipotética: num segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, em quem você votaria? Não tenho dúvidas de que muita gente, em Santa Catarina e particularmente em Joinville, escolheria votar em Bolsonaro. Ora, qualquer pessoa com dois dedinhos de testa percebe que Bolsonaro não joga com o baralho todo. O homem é um cretino. Mas o ódio ao PT é maior do que a prudência e tem muita gente a mandar os escrúpulos para os diabos.
Quem andou pelas redes sociais nos últimos dias deve ter visto o discurso de Bolsonaro no Acre, quando o candidato, simulando uma arma nas mãos, disparou no alvo: “Vamos fuzilar a petralhada toda aqui do Acre. Vamos botar esses picaretas pra correr do Acre. Já que eles gostam tanto da Venezuela, essa turma tem que ir pra lá. Só que lá não tem nem mortadela, hein galera?! Vão ter que comer é capim mesmo”. Sim... esse homem quer ser presidente.
Não é fato único na trajetória do candidato. Mas há linhas vermelhas que não se deve ultrapassar. Um candidato à presidência deve ter um certo recato. É inaceitável essa apologia da violência e incitação ao crime. Há quem durma bem com esse barulho, mas qualquer democrata perde o sono. O discurso foi aplaudido, o que leva a um exercício de imaginação: que tipo de pessoa apoia um homem do baixo calibre de Bolsonaro?
Mas para além da questão da violência do candidato, há pelo menos duas ironias no episódio. A primeira é que, pela manifestação da plateia, é possível ouvir mulheres entre o público. E uma mulher capaz de votar em Bolsonaro deve ter algum problema com a sua condição feminina. A outra ironia é Bolsonaro dizer que as pessoas vão ter que comer capim. Sério? Porque todos sabemos sobre quem recai a imagem de burro.
Haver gente capaz de fechar os olhos para esse tipo de episódio e, mais que isso, estar disposta a votar em Bolsonaro, é motivo de preocupação. Porque mostra o avançado estado de putrefação da democracia (que nunca foi, mas poderia ter sido). O comportamento de Bolsonaro seria inaceitável em sociedades civilizadas, mas no Brasil os números das pesquisas evidenciam uma clara opção pela barbárie. Isso não vai acabar bem.
É a dança da chuva.
terça-feira, 7 de agosto de 2018
Bolsonaro limpando a barra dos portugueses? Não, obrigado!
Jair Bolsonaro é um beócio. A sua personalidade é um somatório de ignorâncias. É machista, homofóbico e racista. Defende torturadores. Prega a violência. Sempre viveu de dinheiro público. Mas agora decidiu invadir a seara dos historiadores. Numa “justificação” para rejeitar as cotas, disse que não existe qualquer dívida histórica com os descendentes de escravos. Porque, segundo afirma, os africanos são os autores da própria desgraça.
Para o candidato da extrema direita, os portugueses não tiveram culpa pela escravidão. “Se formos ver a história, realmente (...), o português nem pisava na África. Eram os próprios negros que entregavam os escravos (...). Os portugueses faziam o tráfico, não caçavam os negros na costa. Eles eram entregues pelos próprios negros (...). Que dívida é essa?”, disse Bolsonaro, com ar de entendido na bagaça.
O que tenho a dizer, enquanto português? Ora, que dispenso esse “branqueamento” da história (em Portugal a palavra “branquear” significa apagar o lado sujo dos fatos). Tal proposição nunca cairia bem, vinda de onde viesse. Mas quando vem de uma criatura deplorável como Jair Bolsonaro há ainda mais razões para ser categórico. Tentar limpar a barra dos portugueses soa a vitupério. Nem pensar!
É fato que a escravidão na África já existia há mais tempo. Mas foram os portugueses que introduziram uma lógica econômica que fomentou guerras para gerar mais escravos. No entanto, não vou perder tempo a argumentar com fatos históricos (e haveria muito por onde pegar), porque seriam palavras ao vento. O candidato Jair Bolsonaro e os seus seguidores são incapazes de entender uma argumentação séria. Passo.
O fato é que a notícia chegou até à imprensa portuguesa. O que não é novidade, porque ao longo dos tempos o nome de Bolsonaro tem aparecido nos noticiários, sempre envolto em estupefação. Os portugueses não entendem a ascensão de alguém tão desqualificado. Aliás, a reação de estranheza não é apenas em Portugal. Os europeus, de maneira geral, não engolem esse tipo de aberração política. Tempos sombrios.
Para ter uma ideia, um dia destes li que Bolsonaro “é um perigo real e segue os passos de Adolf Hitler”. Ora, quando alguém é acusado de seguir doutrinas que podem ser comparadas ao nazismo, é porque a vaca foi para o brejo. Ou, por outras palavras, isso significa que uma parcela da população brasileira – que pode chegar aos 20% - está com as capacidades cognitivas em estado vegetativo.
Mas voltando à vaca fria. Bolsonaro não engana ninguém quando tenta aliviar para os portugueses (que, como já disse, dispensam ser defendidos por um fascista). Afinal, todos sabemos que é apenas uma tentativa de dar alguma “razoabilidade” ao seu racismo. Não dá. Até porque, segundo a imprensa, o seu vice, o general Mourão, diz que o brasileiro resulta da indolência do índio e da malandragem do negro. Dupla mais racista, impossível.
É a dança da chuva.
terça-feira, 13 de fevereiro de 2018
Bolsonaro, a Rocinha e a metralhadora da mídia
Ora, ora, ora. Parece que a velha imprensa anda mesmo empenhada em detonar o putativo candidato a presidente Jair Bolsonaro. Desta vez o ataque foi com chumbo grosso, a tiros de metralhadora. A denúncia partiu do jornalista Lauro Jardim, que publicou, no jornal O Globo, a notícia de que Bolsonaro teria proposto metralhar a Rocinha para acabar a guerra entre as facções envolvidas no tráfico de drogas.
Diz o jornalista que a ideia foi apresentada durante um evento de um banco, que reuniu cerca de mil executivos. Qual era a estratégia de Bolsonaro para resolver o problema? Simples. A partir de um helicóptero, lançar folhetos ordenando aos bandidos que se entregassem num prazo de seis horas (por que seis horas?). Se não se rendessem, as metralhadoras começariam a varrer a favela.
A notícia virou tema quente nas redes sociais. Mas não demorou para circular um filme em que Bolsonaro, com ar indignado, fazia o desmentido e exigia uma retratação do jornalista (algo que, parece, não aconteceu). “Isso é uma insanidade, uma loucura alguém escrever uma coisa dessas", disse um irritado Bolsonaro, negando que tivesse falado em metralhar toda a favela.
Eis o problema do candidato. É que a ideia, mentirosa ou não, acaba por parecer plausível sendo ele o autor. Bolsonaro é um boquirroto capaz de dizer os maiores disparates e isso torna fácil acreditar na notícia. Não vamos esquecer daquela entrevista em que ele falava de matar uns 30 mil. Aliás, muitos dos seus seguidores levaram a sério e até acharam que metralhar a Rocinha era boa ideia.
Uma coisa é certa: o estrago (mais um) na imagem de Bolsonaro está feito. O candidato pode espernear, gritar ou ir à Justiça pedir reparação. Mas no Brasil a mentira da mídia (lembremos que o jornalista não desmentiu) tem o efeito de um furacão e os desmentidos mais parecem simples brisas de verão. É lídimo pensar que, depois de focar o afastamento de Lula, a velha mídia tenta agora detonar quem vem em segundo nas pesquisas.
Todos sabemos que a direita – em especial os tucanos – não consegue ganhar eleições, nem mesmo com a incansável adesão da mídia. Quer dizer, a direita não pode correr o risco de ter adversários. Lula e Bolsonaro são pedras no meio do caminho. É preciso removê-las e abrir passagem para um novo Fernando Collor. E todos sabemos que está a ser preparado um candidato - a jato - para dar corpo ao engodo.
É a dança da chuva.
terça-feira, 25 de abril de 2017
Bolsonaro e uma geração intelectualmente inútil
Falar sobre Jair Bolsonaro é um tema enfadonho. Devo ter escrito um ou dois textos, feito uma ou outra citação. E só. Porque tenho uma posição clara sobre o putativo candidato à presidência: nenhum país cometeria a tolice de eleger um beócio como Bolsonaro para a presidência. As pesquisas mais recentes revelam que ele não consegue ultrapassar a barreira dos 10% nas intenções de voto. Mas – porque tem sempre um “mas” – estamos a falar do Brasil. Um dia destes tropecei nuns “bolsominions” e deu vontade de analisar.
Diz a sabedoria ancestral que o preço da liberdade é a eterna vigilância. É bom que a sociedade não se distraia. E há pelo menos um motivo para preocupação: uma geração perdida. Tenho lido – e o quotidiano confirma – que os seguidores do deputado são jovens entre os 18 e os 35 anos (e também uma molecada que sequer vota, mas cultua o “mito”). É uma geração intelectualmente inútil. Aliás, se houver alguma utilidade, será como objeto de estudo.
Quem são? No caso da molecada, tenho lido e ouvido que são aqueles caras para os quais ninguém liga na escola (as meninas, principalmente). E viram rebeldes... “porque sim”. Todos sabemos que a adolescência é um tempo de opções esquisitas. No entanto, ver adultos a apoiar Bolsonaro – alguns na universidade e alguns até com diplomas na parede – faz doer o cérebro. Não é preciso ser um neurocientista para concluir que alguma coisa atrapalha os processos mentais dessa gente. É o fracasso das sinapses.
Deve estar aí a identificação. Porque Bolsonaro é o retrato do fracasso. 1. Não tem obra. É um deputado medíocre. 2. Não tem ideias. Falta consistência intelectual. 3. Não tem um discurso. É mal articulado. 4. Não tem um programa. Limita-se a uma meia dúzia de clichês moralistas mal amanhados. Enfim, é um político que só convence os idiotas. Neste caso, a idiotia é como o sarampo: infecciosa, viral, transmissível, contagiosa e comum na infância (infância mental, claro). Mas por sorte existe uma vacina.
Bolsonaro é um significante carente de significado. Os seus seguidores desempenham o papel de construir esse “mito”, transferindo para a sua imagem o que de pior lhes vai pela cabeça. É um coquetel de ignorância: misoginia, homofobia, agressividade, incapacidade de debater, ódio aos pobres, culto da violência, antidemocracia, negação do outro, anticomunismo primário, elogio das ditaduras etc. Tudo em Bolsonaro aponta para o retrocesso civilizacional.
Os “bolsominions” (a molecada e os que têm idade mental de criança) ganharam notoriedade porque representam uma espiral de irracionalismo. O país vive um movimento que se aprofunda, aprofunda, aprofunda... e nunca acaba. Os seguidores de Bolsonaro apostam no caos político e institucional. E representam uma desafio para a democracia. É aquilo que Karl Popper chamou “paradoxo da tolerância”. Ou seja, a democracia deve abrigar, no seu seio, os que desejam acabar com a própria democracia? Eis a questão.
É a dança da chuva.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2016
Fidel Castro e a patologia do ódio
A morte de Fidel Castro motivou acesas discussões, como era de esperar. E quem acompanhou as reações mundo afora percebeu algo flagrante: nas democracias consolidadas, o tom do debate aqueceu, mas raramente ultrapassou os limites do aceitável; no patropi a coisa degringolou. A reacionaria não pretendeu falar na vida ou na morte do líder revolucionário cubano. Afinal, era uma oportunidade única espalhar aquele ódio pestilento que está a tornar o Brasil um lugar pouco recomendável.
Dispensável dizer que muita gente comemorou – e ainda comemora – a morte de Fidel Castro. Os suspeitos do costume. As primeiras pedras até foram lançadas pelo previsível Jair Bolsonaro, arquétipo-mor dos que pensam com o fígado. Foi de rir. O homem acusa o líder cubano de ser um "exterminador de liberdades". Eis um exemplo da insanidade endêmica que tomou conta do Brasil. Um defensor da ditadura militar acusa outro de não respeitar as liberdades individuais. Muito louco, né?
E tinha que sobrar para os “comunistas”, “socialistas” ou “esquerdistas”, seja lá isso o que for. Para os bovinos odiadores uma coisa leva a outra. As comemorações pela morte do líder cubano permitiram introduzir um “morra Lula” na semântica defunteira dessa gente doente. O ódio leva à barbárie. O Brasil está a ser asfixiado por esse desejo insano de extermínio do Outro. Quem olha para a História sabe que coisa boa nunca vem dos irracionalismos. Aliás, o ódio é tanto que teve até fogo amigo.
Muito já foi dito sobre o episódio, mas deixo esta opinião. “A morte de Fidel faz recordar, especialmente à minha geração, o papel que ele e a revolução cubana tiveram na difusão do sentimento latino-americano e na importância para os países da região de se sentirem capazes de afirmar seus interesses. A luta simbolizada por Fidel dos ‘pequenos’ contra os poderosos teve uma função dinamizadora na vida política no Continente”. Quem é o autor? Ninguém menos que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, claro, sentiu o gostinho do ódio da patuleia nas redes sociais.
Vamos trazer a análise para um patamar mais chão? Eu, por exemplo, fui abalroado por uma criatura que tinha um argumento irretorquível. “Conheces Cuba? Eu infelizmente conheci. Os carros mais novos são dos anos 50. Vai morar lá e ver que bom para a tosse”. Agora tente entender de onde veio a autoridade deste especialista em temas caribenhos. Um estudioso? Um jornalista? Um diplomata? Não. É um cara que passou pela ilha durante um cruzeiro. E é com esse o nível de inteligência que temos que lidar no quotidiano.
Enfim, o que essa gente tem a dizer sobre Fidel Castro e sobre a sua morte? Nada. Os odiadores querem apenas odiar. Esse é o único “argumento” que eles entendem. O ódio não é um meio, mas um fim. É patológico e produz um paradoxo social interessante: quanto mais o ódio obscurece a mente, mais essas pessoas pensam ver com clareza.
É a dança da chuva.
quinta-feira, 28 de julho de 2016
Podem me chamar de petralha
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Trabalho de Banksy |