POR JORDI CASTAN
Não há termino médio quando
o tema é corrupção, nem meia virgem. Ou se é honesto ou não. Ou se é virgem ou
não. Há no Brasil uma capacidade extraordinária para alargar os limites da
honestidade até faze-los tão elásticos que fiquem irreconhecíveis. Já
esqueceram o inflamado discurso da Presidente do PT no Senado dizendo que o que
tinha sido roubado na Petrobras era um valor mínimo frente ao seu patrimônio e
faturamento? Pois é. O mesmo discurso foi ouvido nestes dias para justificar o
que parece um novo caso de corrupção, o valor é irrisório e não deve ser tomado
com tanta seriedade.
É perversa esta lógica
que é possível ser só um pouco corrupto. Que só podemos considerar corrupção
acima de determinados valores. Assim o brasileiro de uma forma geral não
considera errado levar material de escritório do trabalho para casa, canetas,
marcadores, folhas de papel, não tem um valor significativo. Utilizar a internet
no horário de trabalho para tratar de assuntos particulares tampouco e usar a máquina
de xerox, da empresa, para fotocopiar aquele livro de receitas da vizinha, não
pode ser considerado corrupção.
A corrupção também utiliza
de outros argumentos, como que aquilo é feito por todos, ou pela maioria. No
caso dos políticos é conhecido o caso dos deputados e senadores reeleitos que
recebem uma verba para fazer a mudança de Brasilia para seus estados e outra
para fazer a mudança dos seus estados para Brasilia. Até uma criança de 7 anos,
no seu candor, entende que esta verba, que por si só já é questionável, não
deve ser paga em dobro para os deputados e senadores reeleitos. Já que eles permanecem
na capital federal.
Do mesmo modo a forma
como são definidas e são justificadas as verbas de gabinete dos legisladores
nos três níveis, não só permitem, como estimulam a contratação de mais assessores
que os necessários, pior ainda é uma porta aberta para que sejam contratados
assessores sem competência e capacidade para prestar seus serviços e que ainda
acabem devolvendo, na forma de um pedágio, parte do seu salario ao vereador,
deputado ou senador que o contratou. Algo que não é novidade nem por aqui. Já
tivemos casos destes em Joinville.
A decisão que devemos
tomar como nação é se aceitaremos conviver com níveis menores de corrupção ou
se toda corrupção, por menor e mais insignificante que possa parecer será
denunciada, perseguida e punida com dureza? A resposta não é tão fácil como
pode parecer. No Brasil a corrupção está de tal forma entranhada no ADN de cada
um que é difícil obter uma única resposta. Há uma tendência, perigosíssima a
aceitar pequenos níveis de corrupção, como uma alternativa a corrupção sistêmica
e escandalosa com a que temos sido confrontados nos últimos anos.
O nosso futuro como
nação dependerá diretamente ao modelo de casa leniência que definamos para os próximos
quatro anos. Será um antro repleto de meretrizes experientes e conhecedoras dos
caminhos e dos atalhos que levam ao poder ou teremos um jardim florido em que revoem
alegres grupos de vestais com vaporosos vestidos brancos?
O Brasil votou contra a
continuidade das marafonas. A maioria da população expressou nas urnas o desejo
que houvesse uma mudança radical na administração da casa de lenocínio, será difícil
aceitar que uma nova geração de pécoras assuma o negócio, pior ainda se entre
as raparigas encontram-se algumas velhas conhecidas da clientela. No Brasil de
hoje só Polyana para acreditar que alguém possa chafurdar na lama da política e
manter a castidade e a pureza virginal. O dilema que eleitor enfrenta é ser
condenado como Sísifo a empurrar até o topo de uma montanha uma rocha que
inevitavelmente rolará eternamente de novo ladeira abaixo, assim a cada nova
eleição escolhemos o candidato menos ruim, que depois de empossado acaba se
mostrando pior, mais inepto e mais corrupto que o anterior.