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quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Milei pode vencer. O que há com nuestros hermanos?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O que há com os argentinos? Será que vão eleger o estroina Javier Milei nas eleições presidenciais? Uma pesquisa recente da Atlas Intel diz que ele lidera as preferências, com 36,5% das intenções de voto, seguido por Sergio Massa, com 29,7%, e Patricia Bullrich, com 23,8%. Tudo indica que haverá um segundo turno, mas Milei mantém um enorme potencial de votos. Mas a mesma pesquisa traz uma revelação inquietante: Milei tem o maior apoio entre os eleitores com idade entre 18 e 30 anos.

O candidato usa uma motosserra como símbolo de campanha, numa metáfora para a proposta de “cortar o Estado”. Milei usa essa simbologia para sugerir que ele está disposto a tomar medidas radicais para reformar o Estado argentino. Mas, afinal, quais são as propostas do candidato do partido La Libertad Avanza? Há a promessa de um liberalismo econômico radical. Milei, que nunca administrou sequer uma mercearia, tem como prioridade e promessa de redução do gasto público. Isso sempre pega bem, em qualquer país.

O candidato vai ainda mais longe e promete a privatização de empresas públicas, como as Aerolíneas Argentinas e a Correo Argentino. Uma ampla liberalização da economia é outra promessa, que inclui ainda a redução de impostos. Mas além dessas propostas econômicas, Milei defende uma série de medidas conservadoras no plano social, como o aumento da pena de morte, a proibição do aborto e a legalização da venda de armas de fogo. Não é por acaso a admiração que ele tem por Donald Trump ou Jair Bolsonaro. 

Os opositores de Javier Milei não perdoam e produzem um chorrilho de críticas. A começar pelo fato de acusaram as suas propostas econômicas de serem radicais e inviáveis. Mais do que isso, a redução drástica do gasto público e a privatização de empresas públicas levariam ao desemprego, à pobreza e à instabilidade econômica. No plano social, a pena de morte, a proibição do aborto e a legalização da venda de armas de fogo são medidas capazes de produzir enormes retrocessos em termos de direitos humanos. 

Os críticos de Milei também apontam a sua postura, considerada arrogante e desrespeitosa. E afirmam ser apenas um populista oportunista que se aproveita do descontentamento da população. Mas a ideia mais fora da casinha tem a ver com a venda de órgãos humanos. O candidato argumenta que a venda de órgãos é uma forma de aumentar a autonomia individual e de permitir que as pessoas possam tomar suas próprias decisões sobre os seus corpos (um contrassenso em relação ao corpo das mulheres e o aborto).

Enfim, o domingo está à porta. Os argentinos parecem resistir, mas há um antídoto para evitar a catástrofe: é só olhar para o vizinho Brasil e ver a desgraça que foi o governo Bolsonaro.

É a dança da chuva.



terça-feira, 17 de maio de 2016

O governo golpista é material tóxico

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Qual será o primeiro país do mundo a reconhecer o governo (interino) saído do golpe? O mundo todo percebeu que o processo foi ilegítimo, antidemocrático e protagonizado por corruptos. Nenhum político internacional quer ser contaminado pela peste golpista de Michel Temer. No Brasil ainda há meia dúzia de gatos pingados a falar em legitimidade, mas no exterior os democratas não vão na cantiga do bandido.

Se fosse em outros tempos (1964, para ser mais exato), o primeiro reconhecimento caberia aos EUA. Mas deu chabu. Barack Obama representa o Tio Sam, claro, mas a parte mais interessada no golpe são os abutres das finanças, do petróleo, do armamento ou até as poderosas igrejas evangélicas. Obama já disse que só se manifesta no fim do processo de impeachment. Talvez os inefáveis irmãos Koch façam as honras da casa.

Outra hipótese seria o governo argentino, de Mauricio Macri. Há muitas afinidades ideológicas entre os dois, que apostam na cartilha neoliberal. Mas Macri foi eleito de forma legítima e talvez também tenha medo do contágio e de uma possível reviravolta no caso brasileiro. Além do mais, há uma tendência no continente para o não reconhecimento do governo interino e Macri não quer ficar isolado.

E o tal primeiro mundo? Difícil. Os governos dos países desenvolvidos, onde o estado de direito é para respeitar, têm todas as informações e não vão cair na esparrela de reconhecer um governo ilegítimo (ainda que interino). Mesmo para aqueles com interesses econômicos no Brasil, o silêncio vale ouro. Restam Paraguai e Honduras, que passaram por golpe semelhante. Mas será que esses países querem ficar sob os holofotes? Não parece.

Do ponto de vista político, o governo golpista (interino) é tóxico e tende a ficar isolado do mundo democrático (pelo menos até o afastamento definitivo de Dilma Rousseff). A informação circula de forma rápida, instantânea e permanente. O mundo sabe que o golpe resulta da conspiração de políticos corruptos, parte do Judiciário e dos grandes grupos econômicos da comunicação. Não dá para disfarçar.


É a dança da chuva.


quinta-feira, 10 de maio de 2012

O inimigo externo

POR JORDI CASTAN

A Albânia é um país relativamente pequeno. Situado nos Balcãs, faz divisa com Montenegro, Kosovo, Macedônia, Grécia e é banhado pelo mar Jônico.
No pós-guerra ficou no lado comunista da Cortina de Ferro e se converteu numa das piores e mais fechadas ditaduras comunistas da época. E escolheu a aliança com o comunismo radical de China de Mao, que o stalinismo soviético considerado moderado demais.

Durante os anos mais duros da ditadura o governo criou o mito do inimigo externo como uma forma de manter a população preparada e unida para defender o país da ameaça que vinha de fora. Numa época em que o país tinha menos de 2,5 milhões de habitantes, foram construídos mais de 700.000 bunquers para formar uma linha de defesa para proteger o pais. Mais de um bunker para cada família. Nunca existiu um perigo real e imediato de invasão por parte de nenhum vizinho ou de nenhuma potencia estrangeira. A Albânia era - e continua sendo - um objetivo estratégico pouco importante para que alguem possa imaginar uma invasão.

Criar inimigos externos reais ou imaginarios é uma pratica comum na política. A Argentina fez isto em plena ditadura militar, para unir um pais e uma sociedade fragmentada frente a um suposto inimigo externo. O resultado foi a desastrada guerra das ilhas Falklands/Malvinas. Agora de novo tentou reviver o tema das ilhas, com pouco êxito e optou por fazer da expropriação do capital espanhol na petrolera YPF, uma nova versão de união de todos contra um inimigo externo. A Bolívia vem fazendo isso em doses menores, com maior frequência. A brasileira Petrobras já foi vítima deste jogo político.

Ao nível local há uma propensão de também construir - ou até inventar - inimigos  externos ou internos.
Às vezes é o Governo do Estado, outras o PI (Partido da Ilha), outras os estados vizinhos e, em épocas passadas, o governo federal, nosso atual melhor amigo. Outras vezes os inimigos são internos, as viúvas de um , os aliados de ontem,  os críticos de sempre. Às vezes até os elementos da natureza têm sido apresentados como inimigos que ameaçam a paz e a harmonia desta magnífica cidade.



Mas é bom saber separar os inimigos reais dos fantasmas e dos monstros imaginários, que inventamos para amedrontar crianças e eleitores.