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quarta-feira, 7 de março de 2018

As Universidades e a "disciplina do golpe"


POR CLÓVIS GRUNER
Já são 23 as universidades brasileiras, a maioria delas públicas – federais ou estaduais – que oferecerão nos próximos meses uma disciplina ou curso de extensão para discutir o “golpe de 2016”. O número só impressiona menos que a reação, de resto esperada, de um monte de gente ressentida que aproveitou o evento para desfilar a velha cantilena contra a universidade pública e seu corpo docente, doutrinação, infiltração esquerdista, etc... Já vi esse filme antes e não vale a pena comentá-lo; seria dar demasiada atenção a quem não merece.

A UFPR é uma das instituições a ofertar uma atividade – no nosso caso, um curso de extensão – sobre o tema. Sou um dos proponentes e participo, junto com outras duas colegas, de um módulo em que discuto a intervenção federal no Rio e o que chamo de “produção da insegurança pública”. E faço parte do grupo mesmo já tendo me manifestado, inclusive nesse blog, contrário ao uso da expressão “golpe” para se referir ao impeachment de Dilma. Apesar disso, acho importante, fundamental até, que se discutam os acontecimentos recentes e seus desdobramentos, e por algumas razões.

A mais imediata é a própria ilegitimidade do impeachment, apesar de sua reivindicada legalidade. Além disso, se há gente contrária, inclusive nas universidades, há quem defenda, dentro e fora do ambiente acadêmico, que se tratou de um golpe parlamentar, e que sustenta sua argumentação em uma literatura política já consolidada. O primeiro grupo deveria ter a competência de fazer o mesmo que nós, críticos do impeachment, estamos a propor: criar seus próprios cursos e ofertá-los, com vagas públicas e gratuitas, para que os interessados conheçam seus motivos e discutam seus argumentos.

Mas o mais importante: a destituição de Dilma Rousseff, e pouco importa se você acha que foi um golpe ou um impeachment conduzido dentro da mais estrita normalidade, foi um ponto de inflexão na história política brasileira. Discuti-lo e seus desdobramentos é uma necessidade, assim como o que significou a ascensão ao poder do PMDB e de Michel Temer – além, obviamente, de livrá-los da cadeia. Que as universidades públicas tomem à frente desse debate não é casual.

Desde que assumiu, Temer fez da desqualificação e do desmonte do ensino público, e não apenas o superior, um projeto político. E nisso conta com o apoio de uma parcela da sociedade, por razões insondáveis disposta a afagar e legitimar um presidente e um governo corruptos e eleger como inimigos professoras e professores, escolas e universidades públicas. Não acredito que as disciplinas e cursos de extensão produzirão um diagnóstico definitivo sobre os últimos dois anos. Mas é um movimento de reação e reflexão, apesar de suas limitações e sua provisoriedade, urgente e necessário.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O que faz Bob? Bobices...

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
“Sapateiro, não vás além dos sapatos” (sutor, ne ultra crepidam). Acho que a maioria das pessoas conhece esta expressão, que, segundo a lenda, surgiu de um episódio a envolver Apeles, pintor grego da Antiguidade, e um sapateiro. O artista tinha o hábito se esconder para ouvir a opinião das pessoas sobre as suas obras. Depois fazia as alterações que julgava apropriadas.

Certa vez ouviu um sapateiro a elogiar um quadro, mas com a ressalva de que as sandálias podiam ser mais caprichadas. Como era uma opinião de profissional, Apeles fez as mudanças e tornou a expor o quadro. O sapateiro voltou a ver a obra e desta vez o veredicto foi de que a sandália ficou melhor, mas que o vestido na pintura deixava muito a desejar.

O pintor, indignado por achar que o sapateiro estava a extrapolar as suas capacidades, saiu de onde se escondera e soltou: “sapateiro, não vás além dos sapatos”. Sempre tive alguma reserva em relação à frase, porque pode parecer um tanto castradora. Mas o fato é que faz sentido, porque as pessoas também devem conhecer os seus limites. Seria como dizer: “golpista, não vá além do golpe”.

Sim. Trago esta historinha para falar do ministro da Cultura, Bob Freire. É que a sua performance na entrega do Prémio Camões, na semana passada, foi um momento da mais brutal vergonha alheia. Uma vergonha em escala transcontinental, indo de São Paulo a Dili, mas passando por Lisboa ou Maputo. Afinal, estamos a falar do maior prêmio de língua portuguesa e o ministro foi uma figura muito pequena. E foi além dos sapatos.

Ok... é até lógico que a cultura do Brasil esteja entregue a uma alma penada política como Bob Freire. O ministro é a cara do governo Temer, recheado de incompententes, dilapidadores e gente de caráter mais que duvidoso. Bob Freire não se aquietou na truculência e atacou: “esse histrionismo oposicionista evidentemente tem os seus dias contados”. É a suprema ironia: o histrião atribui o histrionismo aos outros.

Todos sabem o que se passou na entrega do Prémio Camões, mas não custa repetir. Raduan Nassar, o escritor agraciado, disse que o Brasil vive tempos sombrios e denunciou a tramoia que apeou Dilma Rousseff do poder. A posição do escritor nem chegou a ser novidade, uma vez que ele foi muito crítico do impeachment, que considera golpe (aliás, como qualquer pessoa com dois dedinhos de testa).

A reação virulenta de Bob Freire é o caso típico do sapateiro que foi além dos sapatos. O ministro desembestou (é o que fazem os abestados) num chorrilho de aselhices e chegou mesmo a realçar o momento democrático vivido pelo Brasil. Risos. Pobre democracia. O que faz um Bob? Bobices. Então, vamos ver quais foram as bobices deste “homem de cultura”. Eis:

- “É um adversário recebendo um prémio de um governo que ele considera ilegítimo, mas não é ilegítimo para o prémio que ele recebeu”.
- Errado. Não foi o governo Temer que deu o prêmio.
“Quem dá prémios a adversário político não é a ditadura”.
- Bob Freire insiste no erro. Errar uma vez é humano, persistir no erro é bobice.
“Que os jovens façam isso já seria preocupante, mas não causaria esta perplexidade”.
- Errado. Bob Freire está a ser edaísta. Mas esperem: aposto que ele, um homem de cultura, não sabe o significado da palavra.
“Ele desrespeitou todos nós!”
- Errado. Se houve algum desrespeito foi o de Bob Freire. Afinal, o homenageado era Raduan Nassar.
“[o prêmio] é dado pelo governo democrático brasileiro e não foi rejeitado”.
- Errado. O prémio é dados pelos estados de Portugal e Brasil. Bob Freire parece não saber a diferença entre estado e governo.

E para fechar a ridicularia com chave de ouro, depois o ministro foi dizer à imprensa: “acho que até fui brando”. Errado novamente. Não houve qualquer brandura nesse tremendo tiro no pé. Foi um suicídio moral. Bob Freire fez bobice atrás de bobice e detonou os próprios sapatos.

É a dança da chuva.



sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Brasil de Temer: uma tragicomédia em três atos
















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

ATO 1 – O GOLPE

Machado – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel.
Jucá – Só o Renan que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
Jucá – Com o Supremo, com tudo.
Machado – Com tudo, aí parava tudo.
Jucá – É. Delimitava onde está, pronto.

É chato ter que voltar ao óbvio. Mas mesmo depois da divulgação dessa conversa entre os conspiradores, ainda há gente a rejeitar a tese de golpe. Foi golpe e pronto. Mas por que é importante essa caracterização? Ora, porque a manutenção de um golpe antidemocrático só pode ocorrer por arbitrariedades, negociatas e subtrações de direitos e liberdades. Afinal, como diz o povo, pau que nasce torto até a cinza é torta. Vem coisarada por aí, diria um joinvilense.

ATO 2 – A REAÇÃO AO GOLPE

As pessoas que se sentem usurpadas estão a reagir a quente. Mas o discurso dos defensores de Dilma Rousseff tem alguns erros de avaliação e mesmo algumas ingenuidades. Nada muda o fato de que o golpe foi consumado e Micher Temer é o presidente.

Erro 1: "A história vai julgar os golpistas".
A história não marca hora para vereditos. Aliás, alguém acha que os golpistas vão perder o sono por causa da história? Os caras assumiram a canalhice ao vivo e a cores e em rede nacional. É óbvio que não vão se sentir intimidados por essa coisa abstrata chamada história.

Erro 2: "O mundo está vendo".
Sim. Aliás, fora do Brasil todos sabem que é golpe. Mas o mundo tem mais com o que se preocupar. E se o Brasil volta a ser a velha república das bananas isso faz a alegria dos abutres estrangeiros, sempre prontos para o butim.

Erro 3: "Vai ter oposição".
Claro que vai. Quem teve que lutar pela democracia - essa que acaba de ser violentada - sabe que vai ser como nos tempos da ditadura. Fica meia dúzia a brigar. O resto vai para casa cuidar da vidinha.

ATO 3 – VÃO-SE OS ANÉIS, VÃO-SE OS DEDOS

É fatal. Temer vai governar. Mas a que preço? Para conseguirem manter os seus governos, Lula e Dilma tiveram que acender uma vela para deus e outra para o cramulhão. O problema de Temer é que o seu acordo é apenas com o cramulhão. E o tinhoso é neoliberal. A coisa vai doer para os mais desfavorecidos, claro.

O Brasil sai desse processo fraturado, desmoralizado e com as instituições enfraquecidas. Não havia pior maneira de começar a governar. Eis o erro. Os que hoje comemoram a ascensão de Michel Temer imaginam o fim da crise econômica. Tolice. Mesmo admitindo que o único ponto respeitável do governo de Temer é a sua equipe econômica.

O problema com o time de Henrique Meirelles é jogar no campo da austeridade. E do neoliberalismo, que já vive em descrédito nos países mais desenvolvidos. Não se trata de ser catastrofista, mas só alguém muito desligado da realidade pode achar que a crise brasileira vai acabar. Não vai. Por que razão o Brasil estaria na contramão da economia mundial?

Diagnósticos são perigosos, mas é natural haver números razoáveis no princípio. O problema é que folhas de Excel não enchem barrigas vazias. Ninguém duvida que o ataque vai ser sobre o social e os programas de distribuição de renda que, em grande medida, serviram para alavancar a economia ao longo dos últimos anos.

O futuro pode ser péssimo para os pobres, mas chegará uma hora em que os ricos também terão que pagar a fatura. Eis o perigo. Quando a pressão for generalizada, o que o governo pode fazer para se salvar, ainda mais nessa condição de ilegítimo? Negociar com o diabo e o diabo. E de cedência em cedência abre-se o caminho para a corrupção. Que, por ironia, era o que Dilma Rousseff ameaçava estancar.

É a dança da chuva.


Com Temer no poder, acabou a corrupção. Não é preciso urgência






quinta-feira, 19 de maio de 2016

Três argumentos sobre a crise e o governo Temer












Por Clóvis Gruner

É ilegítimo, mas não é golpeO governo Temer não nasceu de um golpe. Ainda que o impeachment de Dilma Roussef seja uma verdadeira chicana conduzida para atender os interesses escusos justamente daqueles que a julgam – e que, não por coincidência, compõem o novo governo –, nem por isso o termo “golpe” serve para definir o processo movido contra a presidenta, e que culminou com seu afastamento no último dia 12. Não serve do ponto de vista estrito, como algo desferido de fora e cuja força é externa, já que a articulação para derrubar Dilma foi urdida principalmente desde dentro do governo e de sua base aliada. Mesmo depois da decisão de romper com um governo do qual fez parte por mais de uma década, tomada em míseros três minutos, o PMDB manteve, além do vice, um bom punhado de ministérios. Já que estava em curso um golpe, seria coerente a demissão dos ministros dissidentes pela presidenta, o que não aconteceu. 

Mas mesmo se a tomarmos em um sentido mais amplo, a ideia de golpe também é problemática. E não porque o rito seguiu a Constituição, garantindo ao menos formalmente ampla defesa do governo; nem tampouco porque a decisão pela abertura do processo foi votada por ampla maioria na Câmara dos Deputados: quem acompanhou o processo sabe que sua base jurídica, no mínimo frágil, foi ofuscada pelos arranjos e interesses políticos em jogo. Arranjos e interesses de que o governo participou, ao passar meses tentando construir alternativas à sua queda, incluindo negociações com os mesmos agentes políticos que hoje chama de “golpistas”. E continuariam a governar com eles se tivessem algo vantajoso a oferecer em troca do voto.

Por outro lado, a narrativa do golpe traz inúmeras vantagens, a começar pelo fato de que não é necessário um exame crítico das próprias condutas: um governo e um partido vítimas de um golpe, afinal, não precisam prestar contas de seus erros. E eles são muitos, a começar pela forma como o PT não apenas manteve, mas reproduziu as mesmas práticas fisiologistas de coalizão, incluindo a aliança com o PMDB e o PP (que já foi PPB, PPR, PDS e, em um passado nem tão longínquo, Arena). Ao mesmo tempo, foi em parte para minar o poder peemedebista que PT e governo incentivaram Gilberto Kassab a fundar o PSD, hoje também um dos principais articuladores do impeachment. E se hoje há quem se horrorize com os encontros de Temer com Malafaia, é recomendável não olvidar que a IURD já ocupou acento nas reuniões ministeriais do governo Dilma, e que a aproximação do PT com as igrejas evangélicas começou com Lula, que chamou José Alencar para seu vice.

Em 13 anos os governos petistas não avançaram o suficiente, ou simplesmente não avançaram, em temas fundamentais: o imposto sobre grandes fortunas; o marco regulatório dos meios de comunicação; a descriminalização do aborto, a criminalização da homofobia e a legalização das drogas são apenas alguns deles. A política desenvolvimentista (não confundir com desenvolvimento), de que Belo Monte tornou-se símbolo, foi priorizada a um custo social altíssimo, especialmente para aquelas comunidades que vivem à margem dela. E há as inúmeras denúncias de corrupção. Se, por um lado, pode-se dizer que as investigações foram politizadas e espetacularizadas ao extremo, por outro é difícil apostar na inocência do PT e de algumas de suas lideranças, e acreditar que tudo não passa de uma grande conspiração da justiça, da mídia e da oposição, quiçá com apoio e participação internacionais, para perpetrar um “golpe” e voltar a ser governo.

A meta é não ir pra cadeiaO Ministério de Temer é constituído, à exceção de alguns quadros do PSDB e DEM, pelos mesmos partidos e políticos que em algum momento dos últimos trezes anos estiveram no governo ou próximo a ele. Em uma entrevista concedida quando a palavra impeachment saiu das ruas e adentrou os gabinetes e articulações políticas da base aliada e da oposição, o agora chanceler José Serra disse que Temer precisaria montar uma “equipe surpreendente”. O problema é que, fora Henrique Meirelles (aliás, um dos “homens fortes” da economia na gestão de Lula), um nome técnico, todos os demais são escolhas políticas, verdadeiras nulidades nas áreas que irão comandar e, não poucos, estão envolvidos em escândalos de corrupção, incluindo a Lava Jato.

Não há nada de surpreendente nisso: o governo Temer surgiu para frear as investigações de corrupção e assegurar a impunidade aos que sempre se souberam impunes. É um governo feito para livrar criminosos da cadeia e, nesse sentido, o impeachment foi, fundamentalmente, uma garantia de sobrevivência política. Os arranjos começaram a aparecer cedo. Na segunda seguinte (18/4) à vergonhosa votação na Câmara dos Deputados, o ministro do STF Gilmar Mendes sugeriu, em entrevista concedida ao programa “Roda Viva”, que Michel Temer poderá ser absolvido no TSE agora que Dilma, a cabeça de chapa, estava virtualmente deposta. Trata-se do mesmo ministro que na semana passada, em 24 horas, autorizou e depois suspendeu o pedido de abertura de inquérito contra Aécio Neves, do PSDB, pela Procuradoria Geral da República. Há alguns dias a Folha de São Paulo alertou para o fato de que a meta do PMDB é neutralizar e reduzir os danos da Lava Jato. Do PMDB e dos tucanos, eu acrescentaria.

A estratégia tem tudo para dar certo. Além de se apoderar dos mecanismos do Estado, o novo governo contará com a conivência cínica dos indignados que amassaram suas panelas e envergaram o uniforme verde amarelo da CBF não contra a corrupção, mas contra o PT. Além da disposição dos principais setores da mídia a cooperar com Temer e a nova situação em nome de uma intolerável “conciliação”. Restará, no parlamento, uma oposição à esquerda minoritária e fragilizada pela derrota, sem força para fazer frente a um esquema minuciosa e profissionalmente arquitetado para que tudo volte ao que sempre foi.

Além disso, o novo ministério revela um governo desconectado não apenas do país, mas do século em que vive. Temer e seus ministros não se veem à frente nem estão dispostos a governar um país moderno: plural, multicultural, multiétnico e recortado por diferentes clivagens (gênero, idade, orientação sexual, etc...). O Brasil do presidente interino é, fundamentalmente, masculino, branco e hetero, e sua composição diz muito sobre a sensibilidade social do governo (ou a ausência dela), bem como sua compreensão limitada do que significa, hoje, democracia. O mais irônico é que, com esse desenho, estamos mais próximos dos governos ditos bolivarianos, do que dos países norte americanos e europeus de democracia liberal já consolidada. Mas isso tampouco importa porque, no fim das contas, a meta não é unificar ou refundar o país: é simplesmente escapar da cadeia.

A culpa é do PT e dos “petistas”A mais nova onda é usar o voto na chapa Dilma Rousseff-Michel Temer para desqualificar toda e qualquer crítica ao presidente interino. A lógica do “eu não votei no Temer, vocês sim” não é nova. Ela atualiza a máxima “A culpa não é minha. Eu votei no Aécio”, corrente antes do próprio Aécio afundar na lama e os indignados arrancarem os adesivos dos carros e se justificarem com o bordão segundo o qual eles “não tem bandido de estimação”. Eu votei em Dilma no segundo turno, e é verdade que junto com ela ajudei a eleger Michel Temer, candidato a vice em um programa de governo que a 54 milhões de eleitores pareceu a melhor opção ou, como foi o meu caso, a menos pior.

Mas há nessa acusação de “culpa” alguns problemas. Dois mais imediatos. Primeiro, confunde propositalmente os eleitores de Dilma com “petistas”, como se voto e militância fossem equivalentes. O segundo: Temer, como acabei de dizer, era o candidato a vice em um programa de governo com o qual, supostamente, estava comprometido. Caso assumisse o governo, esperava-se que ele continuasse a implementá-lo. Que ele não o esteja, reforça o caráter oportunista, desonesto e ilegítimo de seu governo, além de dar munição a quem defende que o impeachment é, na verdade, um golpe de Estado encoberto com o manto da Constitucionalidade.

Mas não é só. Não foram, basicamente, os eleitores de Dilma que tensionaram para um impeachment que, embora legal, é ilegítimo. Não foram os eleitores de Dilma, basicamente, os que foram às ruas gritando que eram “milhões de Cunha” e que permaneceram indiferentes, às vezes agressivamente indiferentes, sempre que alguém alertava para os riscos de uma transição abrupta e, insisto, ilegítima como a que está a ocorrer. Então, vamos deixar claro: nós elegemos Temer. Mas não o fizemos presidente de um governo que fragilizou ainda mais nossa democracia para, unicamente, proteger e garantir a sobrevivência política da velha elite.

A falsa polêmica, entretanto, expõe problemas crônicos de nosso sistema político e, mais particularmente, de nosso modelo eleitoral que, entre outras coisas, promove uma política de alianças espúria que faz do fisiologismo a regra. Uma das consequências diretas é, justamente, a ausência de critérios partidários e programáticos na escolha dos candidatos a vice. Agrava esse quadro o fato de que no Brasil o voto não é baseado em critérios públicos, mas privados – vota-se na pessoa, não no partido ou no programa –, o que colabora ainda mais para não se discutir o lugar e o papel do vice na candidatura e em um eventual governo. 

Em um editorial bastante duro – daqueles que não se costuma ler na imprensa brasileira –, publicado na última sexta (13), o inglês “The Guardian” afirma, sobre o impeachment, que o “que deveria estar em julgamento acima de tudo é o modelo político brasileiro que falhou”, e não Dilma Rousseff que, de acordo com outro jornal estrangeiro, o “New York Times”, paga um preço desproporcionalmente alto pelos seus erros administrativos. Para o “The Guardian”, uma reforma política é não apenas necessária, mas urgente. E lamenta que o governo Temer seja “muito duvidoso” para dar esse salto. Eu também.

terça-feira, 17 de maio de 2016

O governo golpista é material tóxico

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Qual será o primeiro país do mundo a reconhecer o governo (interino) saído do golpe? O mundo todo percebeu que o processo foi ilegítimo, antidemocrático e protagonizado por corruptos. Nenhum político internacional quer ser contaminado pela peste golpista de Michel Temer. No Brasil ainda há meia dúzia de gatos pingados a falar em legitimidade, mas no exterior os democratas não vão na cantiga do bandido.

Se fosse em outros tempos (1964, para ser mais exato), o primeiro reconhecimento caberia aos EUA. Mas deu chabu. Barack Obama representa o Tio Sam, claro, mas a parte mais interessada no golpe são os abutres das finanças, do petróleo, do armamento ou até as poderosas igrejas evangélicas. Obama já disse que só se manifesta no fim do processo de impeachment. Talvez os inefáveis irmãos Koch façam as honras da casa.

Outra hipótese seria o governo argentino, de Mauricio Macri. Há muitas afinidades ideológicas entre os dois, que apostam na cartilha neoliberal. Mas Macri foi eleito de forma legítima e talvez também tenha medo do contágio e de uma possível reviravolta no caso brasileiro. Além do mais, há uma tendência no continente para o não reconhecimento do governo interino e Macri não quer ficar isolado.

E o tal primeiro mundo? Difícil. Os governos dos países desenvolvidos, onde o estado de direito é para respeitar, têm todas as informações e não vão cair na esparrela de reconhecer um governo ilegítimo (ainda que interino). Mesmo para aqueles com interesses econômicos no Brasil, o silêncio vale ouro. Restam Paraguai e Honduras, que passaram por golpe semelhante. Mas será que esses países querem ficar sob os holofotes? Não parece.

Do ponto de vista político, o governo golpista (interino) é tóxico e tende a ficar isolado do mundo democrático (pelo menos até o afastamento definitivo de Dilma Rousseff). A informação circula de forma rápida, instantânea e permanente. O mundo sabe que o golpe resulta da conspiração de políticos corruptos, parte do Judiciário e dos grandes grupos econômicos da comunicação. Não dá para disfarçar.


É a dança da chuva.


sexta-feira, 13 de maio de 2016

Bem vindo ao passado, com Michel Temer















POR SALVADOR NETO

Seja bem vindo ao passado que acaba de voltar à cena. Parece filme, mas não é. A população acreditou no discurso da mídia/oposição/mp/judiciário e pensa que com Michel Temer, desde esta quinta-feira (12/5) o presidente em exercício do país, tudo vai mudar. Como se ele e o PMDB tivessem o receituário da vida eterna, sem crises, uma maravilha. Já escrevi aqui, e retomo sem medo, que não há crime da presidente Dilma Rousseff, mas houve uma bem sucedida articulação que culminou com seu impedimento, a meu ver, irreversível. É fato, e o tempo, sempre racional, mostrará.

É cômico, e claro entristecedor, ver até jornalistas e alguns intelectuais, além de boa parte da população, afirmar que o PT, Dilma e Lula quebraram o Brasil. Sim, pois esquecem que esse trio está apenas 14 anos no poder central, enquanto PMDB, PSDB, DEM, PP, e outros menos votados, não saem do governo federal desde a redemocratização em 1985. Poucos minutos de pesquisa apontam fácil, fácil o que digo.

Por falta de pesquisa muita gente não sabe que entre os deputados e senadores deste belíssimo parlamento brasileiro estão latifundiários com casos de trabalho escravo em suas fazendas, outros com acusações de tráfico de drogas, muitos fanáticos religiosos, muitos, mas muitos empresários, que defendem desde sempre somente o seu direito às benesses do Estado e muitos representantes de classe elitista. O povo? Ah, o povo... não precisa de representantes...


Como diz o jornalista Mino Carta, a Casa Grande e a Senzala mandaram diretamente neste imenso latifúndio Brasil por cinco séculos. Nos governos petistas, mandaram em parte, nos acordos pela governabilidade. Graças a popularidade do ex-presidente Lula, os avanços sociais se sucederam ao longo dos somente 14 anos que governaram juntos. Bolsa Família, ProUni, Pronatec, políticas especiais para as mulheres, Minha Casa Minha Vida, milhares de obras federais direta ou indiretamente realizadas ou em realização pelo pais, gerando empregos e renda com os PACs, rodovias, ferrovias, retomada da indústria naval, entre outros projetos que marcaram o período.

O passado está de volta, minha gente, e logo vamos sentir e lembrar daqueles tempos, e comparar com este que finaliza sob grande regozijo da classe empresarial. Nos tempos tucanos-peemedebistas, direitos dos trabalhadores foram suprimidos. Manifestações das movimentos sociais eram reprimidas com a força. Para quem estava com saudades, o filme está voltando. 

A ponte para o futuro de Temer é uma miragem que pretende seduzir trabalhadores que ganharam muito nos últimos anos, e que ao perder poder econômico e empregos nesta crise financeira que nos atingiu, se voltaram contra o governo. O “corte” de despesas, a “reforma” previdenciária, a “redução” do Estado, a supressão de ministérios voltados às mulheres, índios, negros – aliás, não há mulheres no ministério Temer, isso diz algo à elas? – tudo isso sinaliza para tempos sombrios aos direitos dos trabalhadores. Infelizmente.


Virão aí as privatizações do que o PSDB e o PMDB nos tempos de FHC, não conseguiram finalizar. Tudo em nome de nos colocar novamente de joelhos perante o capital internacional, aos rentistas, relegando o futuro de milhões de jovens a ser mão de obra barata e sem direitos aos grandes negócios dos empresários , boa parte deles que sempre estão por trás da corrupção que transborda hoje na Lava Jato.

Retiraram com um golpe parlamentar a primeira mulher presidente do Brasil, talvez a única honesta, sem contas na Suíça, nem acusações de corrupção, para recolocar o governo nas mãos de quem já conhecemos, por seu passado nada elogiável. Saberemos o que isso vai nos custar, brevemente. 

Para finalizar, deixo alguns dados para reflexão dos leitores, e para comparação futura. 
A Presidente eleita Dilma Rousseff deixa para o presidente interino uma herança desejada por qualquer governante:

1) As reservas internacionais líquidas do Brasil são de US$ 376,3 bilhões (eram de apenas US$ 16 bilhões em 2002).
Elas superam, com folga, toda a dívida externa do país, que é de US$ 333,6 bilhões.
Assim, o Brasil é credor externo líquido em US$ 42,7 bilhões.

2) O Brasil é credor do FMI:

3) A dívida pública líquida é de 38,9% do PIB (era de 60,4% do PIB em 2002).

4) Os investimentos externos produtivos (IED) no Brasil foram de US$ 78,9 bilhões nos últimos 12 meses (Abril 2015 a Março 2016), sendo equivalentes a 4,56% do PIB;

5) O Brasil tem o 7o. maior PIB mundial (era o 13o. em 2002);

6) A Renda per Capita é de US$ 10.000 (era de US$ 2.500 em 2002);

7) A taxa de inflação está despencando e deverá fechar, segundo o Banco Central, 
perto do teto da meta em 2016, ficando próxima de 6,5% no acumulado do ano. Para 2017, já se prevê uma taxa de inflação perto do centro da meta (de 4,5%);

8) O salário mínimo é de R$ 880,00, equivalente a cerca de US$ 250 (era de US$ 55 em 2002);

9) O déficit externo, em transações correntes, está em 2,39% do PIB, no acumulado de 12 meses (terminado em Março de 2016), e continua caindo rapidamente;


10) O Superávit comercial foi de US$ 19,7 bilhões em 2015, já acumulou US$ 14,5 bilhões em 2016, sendo que estimativas apontam que o mesmo poderá chegar a US$ 50 bilhões neste ano.

Anote aí. Os dados são do Banco Central do Brasil, oficiais. Seja bem vindo ao passado.


É assim nas teias do poder...

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Nos fios da teia #6















POR SALVADOR NETO

Feriadão, tudo calmaria... só que não! Vamos tecer alguns fios de acontecimentos dos últimos dias, afinal o que não faltam são piadas prontas, traições, pesquisas... Leia:

Linda, recatada e do lar – No esforço midiático para derrubar Dilma, a mulher durona, eis que a revista Não Veja publica matéria (??) sobre a mulher do vice Michel Temer, Marcela. Apostando na atual insanidade coletiva que mistura tudo, criou é milhares de reações das mulheres em memes dos mais variados nas redes sociais. Tiro no pé? Coitada da Marcela.

Do bar, do lar, onde quiser – A Não Veja e a coitada da Marcela receberam de volta um troco inteligente. Mulheres enviaram fotos com as mais variadas poses dando um chega prá lá no machismo gritante da matéria, escrita por uma mulher. Afinal elas podem ser o que quiserem,  ou não? Bolsonaro e muitos mais acham que não.

O Messias – Na votação da admissibilidade do impeachment, eis que surge ele, o arauto da violência. Bolsonaro, para alguns o melhor nome para presidir o Brasil (arghh) cuspiu apoios a ditadura, tortura, torturadores. Olhando as redes sociais, muitas mulheres apoiam o messias... como entender?

Para qual lado? – Afinal, de que lado estariam as mulheres? Seriam mais Marcelas, recatadas, lindas, do lar, dóceis? Ou mais Dilmas, guerrilheiras, corajosas, enfrentando o machismo nosso de cada dia? Discussão difícil, para sociólogo nenhum botar defeito. E jornalista também! Aceitamos opiniões.

Cai ou não cai? – Creio que a força econômica com raízes que vem do estrangeiro, derrubaram o governo Dilma. Há esforços, grandes até, mas será muito difícil reverter o quadro de traições que começaram há quase um ano com Michel Temer (PMDB), com a força do limpo Eduardo Cunha (PMDB). O Senado vai aceitar, julgar e cassar Dilma. Não sem luta, o que vai agravar ainda mais a crise econômica.

Acabou a corrupção - A massa que brada em redes sociais, entidades empresariais, clubes e nas ruas foi ao êxtase com a aprovação do impeachment na Câmara. Acreditam que acabaram com a corrupção. Só esqueceram de combinar com os master chefs do golpe que ficarão mandando no país: Michel Temer e Eduardo Cunha, ambos do PMDB. Presidente e Vice, que tal? O Brasil merece.


Acabou a Corrupção 2 - Além da dupla Temer/Cunha, não esqueçam, há os 367 deputados que aprovaram a abertura do processo contra Dilma. Eles vão apoiar a permanência de Cunha na presidência da Câmara, com resultado de não cassação dele no Conselho de Ética, e assim todos se salvam. Pelo menos por lá. E como já disse o Moro, em dezembro a Lava Jato acaba. Deixando toda a sujeira debaixo do tapete.

Estado mínimo – Quem apoia a processo golpista/parlamentar e não é da classe média/alta mais tradicional, não consegue enxergar o novo governo que estão desenhando Michel Temer e seus aliados de sempre, do PSDB com Aécio, DEM e outros. Políticas sociais sumirão, ministérios para mulheres, negros, minorias, idem. O estado mínimo está chegando. O choro será grande logo ali na frente, a hora que a miopia politica passar.

Estado mínimo 2 - O canto da sereia de controle fiscal, corte de gastos (o Estado gasta muito, etc) vai levar boa parte da população a crer que é a melhor saída para a economia voltar a crescer. Engano. Onde há Estado forte, há economia forte e direitos adquiridos são preservados. Onde ele é desmontado, desmontam-se as proteções aos menos favorecidos. A história ensina. Leia meu artigo "Já chega de pontes que nos levam ao o passado" que publiquei aqui dias atrás.



Na aldeia – Por Joinville, após as mudanças partidárias permitidas até 2 de abril passado, as alianças surgem e nomes também. Configura-se disputa abaixo da linha da cintura entre Udo Döhler (PMDB) e Darci de Matos (PSD), com Tebaldi (PSDB), Xuxo (PP), Carlito (PT) correndo por fora. As rejeições estão altíssimas.

Na aldeia 2 – No segundo pelotão estão Ivan Rocha (PSOL), Valmir Santhiago Jr (REDE) e outros menores para fazer legenda e eleger vereadores, de olho em 2018. Ainda podem pintar na corrida eleitoral Rodrigo Bornholdt (PDT) e Patricio Destro (PSB). Há desespero pelos lados da Prefeitura com tantos opositores, existentes, e os novos que vem por aí.

Na aldeia 3 – Os jacarés do rio Cachoeira, até eles, já sabem que pesquisas eleitorais agora servem só para fazer marola. Números de certo instituto ligado a um jornal regional dizem que Udo está na frente. Só se for da Prefeitura, dizem as garças que andam ao lado dos jacarés. Esqueceram de ir aos bairros, perguntaram somente aos nomeados.

Traições – Assim como Dilma em Brasília, a traição ronda o governo Udo. A coisa começa dentro do seu partido o PMDB. Ex-aliados por apelos do falecido líder LHS, Cleonir Branco e Alexandre Fernandes, ex-presidentes da sigla, não participarão da campanha. Pior que isso é ver que a lista de vereadores está reduzida, e fraca. Nada está tão ruim que não possa piorar. O PSB pode abandonar também.

Mãos limpas – A oposição a Udo Döhler já sabe que o lema mãos limpas vai ser o alicerce da campanha do peemedebista. É só o que há, por enquanto, para usar na tentativa de reeleição. Não há obras, nem gestão, nem remédios, nem asfalto, nem inovações. As pedras do rio Quiriri também sabem que pode surgir algo que bote tudo a perder neste alicerce. Veremos.


É assim, os fios da teia nas teias do poder...

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Um impedimento só não faz verão















POR SALVADOR NETO

Os brasileiros e brasileiras sofrem com uma crise econômica dura, amplificada pela crise política acelerada após a derrota do PSDB e aliados com seu candidato (?!) Aécio Neves. Ele perdeu para uma mulher, ex-guerrilheira, e isso deixou feridas não cicatrizadas. No Brasil a coisa é assim, dissimulada, mas é fato. Ele não admitiu a derrota para uma mulher. Simples assim. De lá para cá, sofrem os trabalhadores e trabalhadoras com esta briga sem fim, que acreditam na história da carochinha: se Dilma cair, tudo vai melhorar, vai mudar. É claro que não!

Já escrevi aqui no Chuva Ácida sobre o tema. Mas agora, quando deve acontecer a votação do impedimento da presidente Dilma Rousseff (ou seria impeachment, ou impitiman?) no final de semana, um processo que nasceu pelas mãos de Eduardo Cunha (PMDB) que tentou chantagear o governo e o PT para que não abrissem um processo contra ele na Comissão de Ética por... lavagem de dinheiro, corrupção, e outras coisas mais, é preciso gravar isso novamente. Afinal, há provas contra Cunha, contundentes, dinheiro na Suíça, mas o processo dele não anda. Mas contra a Presidente anda acelerado, insano, sem provas. A acusação não tem provas. E ponto.

Cunha, o corrupto, alia-se ao vice-presidente Michel Temer, ambos do PMDB, e conspiraram para derrubar o governo. Para isso contam com apoios em todos os partidos. Temer também já foi citado na Lava Jato. Não é segredo que a larga maioria dos deputados federais é investigada nos mais diversos tipos de processos, e com a aproximação da Lava Jato dos seus corruptores, partiram para o tudo ou nada.

Cid Gomes, que foi ministro relâmpago da Educação, disse tudo em discurso na Câmara dos Deputados em março de 2015. Ali havia 300 a 400 deputados achacadores. Todos, pelo que vemos hoje, filhos do... Cunha! E apadrinhados por Temer, que já se vê Presidente.


Com forte e histórico apoio dos grandes grupos de comunicação do pais, das entidades empresariais que financiam movimentos contra o governo, de parte da Policia Federal e MPF, e até da OAB – mais uma vez manchando a sua história – a população foi bombardeada com informações (??) dirigidas, de má fé editadas, tentando fazer crer que a presidente é criminosa. Não encontraram nada concreto, verdadeiro, e criaram as pedaladas, etc. Tudo historinha para inglês ver, e para enganar brasileiros que não acompanham a politica, não conhecem a história. E enganaram.

Escrevo antes da provável votação do processo de impedimento da Presidente, e sinto pena da nossa gente porque vamos cair, em caso de aprovação, nas mãos dos mais corruptos da nossa política. Temer, o traidor geral da República, e seu quase vice Eduardo Cunha. Uma dobradinha que vai entregar o resto do que temos no Brasil, além dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras tão duramente conquistados.

Mas o povo não consegue enxergar o objetivo final. Talvez até tenha que passar por isso para um novo aprendizado. O possível impedimento de Dilma não vai resolver os problemas do país. Quem vai mandar são os mesmos deputados achacadores, sob o comando dos grandes chefes.


Portanto minha gente, não haverá ganhadores entre nós aqui na planície. Há pessoas até bem intencionadas, chateadíssimas com a corrupção, a crise, mas sinto informar: um impedimento só não vai trazer o verão de volta. E tem um agravante: rasgarão a Constituição Federal, interrompendo um mandato conquistado no voto. E isso é grave para a nossa jovem democracia.

A saída é mudança total do sistema politico brasileiro, impedindo essa engrenagem nociva de financiamento de políticos por parte de empresas e empresários que transformou a nobre política na política de negócios. E eleições, no voto, pois é assim que se faz nas democracias, voto popular.


Não há Presidente e governo que resistam ao sistema atual, corrompido, velho, velhaco, falido. E a crise econômica não vai mudar com a derrubada de Dilma gente. Não se enganem. Impedidos ficaremos nós ainda mais com a possível chegada da dupla Temer-Cunha ao Planalto. E será tarde para chorar o leite derramado. Anotem e confiram.


É assim nas teias do poder...

terça-feira, 29 de março de 2016

É golpe, sim senhor!



POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Há um movimento que tenta dar um ar de legitimidade ao golpe. Os articuladores do impeachment já entenderam que Dilma Rousseff não vai renunciar – o que faria o golpe parecer legítimo – e agora tentam construir uma narrativa própria. A intenção é criar um discurso que inocente a palavra “golpe”. Não adianta. Golpe é golpe. Quem adere ao golpe é golpista. E golpistas odeiam a democracia.

Nos últimos dias, surgiu uma meia dúzia de juristas pingados a defender a tese de que impeachment sem crime não é golpe. Traduzindo o palavrório: é conversa para boi dormir. Por mais gente togada que apareça a dizer o contrário, golpe é golpe. Essa gente quer esculhambar o estado de direito. A construção da tal narrativa em juridiquês só tem um objetivo: dar um álibi moral para os sacripantas cívicos. “Não é golpe, é legal”, dirão aliviados.

A “gente de bem” que adere ao golpe vive numa espécie de terceiro mundo mental. Não importa se o impeachment está a ser articulado pela pandilha Temer-Cunha-Aécio-Serra, políticos de caráter duvidoso (para ser simpático) e sobre os quais recaem indícios mais que suficientes para serem investigados. Mas se for para apear Dilma Rousseff do poder, os adesistas do golpe não se importam de chafurdar na mesma lama. É o grau zero da moralidade.

Os golpistas se esforçam por construir uma narrativa auto-indulgente. Mas é gato escondido com o rabo de fora. Não dá para disfarçar, apesar da ajuda sentenciosa de velha imprensa nacional. Em sentido contrário, no exterior a comunicação social despertou para o tema e denuncia a existência de golpe. A palavra começa a aparecer cada vez com maior frequência nas manchetes dos jornais. A opinião pública mundial também começa a acompanhar essa tendência.

E, por fim, que tal um exercício de imaginação? Se Dilma Rousseff for impedida, como será o dia seguinte? Os políticos articuladores do golpe, por terem uma agenda própria, já sabem o que vão fazer. Tremei, incautos! Mas e a tal “gente de bem” que se deixou manipular e aderiu à narrativa golpista? Terá noção do que aconteceria no dia a seguir ao golpe? Pensem. Porque se pensarem vão perceber que a agulha da bússola não está a apontar para o Norte.


É a dança da chuva.

A imprensa internacional chama o golpe de golpe