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terça-feira, 4 de julho de 2017

É gafe atrás de gafe: um governo de "gafiosos"

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A maior tragédia de um país é ser governado por gente medíocre, inculta e focada apenas nos próprios interesses. É o retrato exato do governo de Michel Temer. E é desnecessário falar de economia, política ou finanças, áreas onde os resultados podem ser verificados na primeira pessoa pelos brasileiros.

O tema aqui é a falta de cultura dessa gente. Mas isso importa? Sim, importa muito. As limitações do presidente, um homem que tem o cérebro em algum lugar do passado, e das pessoas no seu entorno impedem uma clara leitura do mundo. Ou seja, Michel Temer e sua gente não estão intelectualmente apetrechados para governar.

É um fato verificável em todos os segmentos, mas que também fica evidente quando se olha para os detalhes. Um dos exemplos é o chorrilho de gafes que vem sendo debitado desde os primeiros dias do seu governo (ilegítimo). Enfim, o atual presidente está à frente de um governo “gafioso” (expressão que traz uma curiosa homofonia).

Sem querer ser freudiano, lembro o conceito de “atos falhos”. É quando o inconsciente e o consciente se baralham e fazem a pessoa dizer algo que não seria suposto dizer. Em política a coisa também é tratada pelo eufemismo “gafe”. Desde que chegou ao poder, Michel Temer e a sua pandilha pariram um sem fim de atos falhos.

O presidente não deixa os créditos por mãos alheias. O seu acervo de bolas-fora é vastíssimo. Disse que o massacre de 56 presos era um “acidente pavoroso”. Desejou que a Paraíba fosse inundada. Disse que os governos precisam ter marido. Mais recentemente, chamou a Rússia de União Soviética, numa viagem em que também confundiu o rei da Noruega com o “rei da Suécia”. E por aí vai...

A sua entourage também é assídua produtora de besteirol. Um ex-ministro disse que antes da lista de Janot estava de olho na “lista de Schindler”. Outro aliado disse que a Justiça do Trabalho nem deveria existir. Um ministro disse que os “homens trabalham mais, por isso não acham tempo para cuidar da saúde”. E até um outro ex-ministro disse que o México é um perigo para os políticos homens “porque descobri aqui que metade das senadoras é mulher”.

E o retrato mais definitivo parece ter sido pintado ontem pelo secretário nacional de Juventude, Assis Filho, que abriu um evento citando “o grande filósofo alemão William Shakespeare”. Nem chega a ser estranho num país onde procuradores confundem Engels com Hegel, mas mostra a pobreza intelectual dos caras que ditam os rumos do Brasil.

O que leva de volta à frase do início. A maior tragédia de um país é ser governado por gente disfuncional, sem expressão política e com critérios éticos muito lassos. Os atos falhos, lapsos ou gafes são apenas a expressão da falta de cultura, entendida aqui num sentido mais lato. Ou seja, um caldo de (in)cultura  machista, classista, anti-intelectualista. Ou apenas pura ignorância mesmo.

É a dança da chuva.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Brasil de Temer: uma tragicomédia em três atos
















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

ATO 1 – O GOLPE

Machado – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel.
Jucá – Só o Renan que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
Jucá – Com o Supremo, com tudo.
Machado – Com tudo, aí parava tudo.
Jucá – É. Delimitava onde está, pronto.

É chato ter que voltar ao óbvio. Mas mesmo depois da divulgação dessa conversa entre os conspiradores, ainda há gente a rejeitar a tese de golpe. Foi golpe e pronto. Mas por que é importante essa caracterização? Ora, porque a manutenção de um golpe antidemocrático só pode ocorrer por arbitrariedades, negociatas e subtrações de direitos e liberdades. Afinal, como diz o povo, pau que nasce torto até a cinza é torta. Vem coisarada por aí, diria um joinvilense.

ATO 2 – A REAÇÃO AO GOLPE

As pessoas que se sentem usurpadas estão a reagir a quente. Mas o discurso dos defensores de Dilma Rousseff tem alguns erros de avaliação e mesmo algumas ingenuidades. Nada muda o fato de que o golpe foi consumado e Micher Temer é o presidente.

Erro 1: "A história vai julgar os golpistas".
A história não marca hora para vereditos. Aliás, alguém acha que os golpistas vão perder o sono por causa da história? Os caras assumiram a canalhice ao vivo e a cores e em rede nacional. É óbvio que não vão se sentir intimidados por essa coisa abstrata chamada história.

Erro 2: "O mundo está vendo".
Sim. Aliás, fora do Brasil todos sabem que é golpe. Mas o mundo tem mais com o que se preocupar. E se o Brasil volta a ser a velha república das bananas isso faz a alegria dos abutres estrangeiros, sempre prontos para o butim.

Erro 3: "Vai ter oposição".
Claro que vai. Quem teve que lutar pela democracia - essa que acaba de ser violentada - sabe que vai ser como nos tempos da ditadura. Fica meia dúzia a brigar. O resto vai para casa cuidar da vidinha.

ATO 3 – VÃO-SE OS ANÉIS, VÃO-SE OS DEDOS

É fatal. Temer vai governar. Mas a que preço? Para conseguirem manter os seus governos, Lula e Dilma tiveram que acender uma vela para deus e outra para o cramulhão. O problema de Temer é que o seu acordo é apenas com o cramulhão. E o tinhoso é neoliberal. A coisa vai doer para os mais desfavorecidos, claro.

O Brasil sai desse processo fraturado, desmoralizado e com as instituições enfraquecidas. Não havia pior maneira de começar a governar. Eis o erro. Os que hoje comemoram a ascensão de Michel Temer imaginam o fim da crise econômica. Tolice. Mesmo admitindo que o único ponto respeitável do governo de Temer é a sua equipe econômica.

O problema com o time de Henrique Meirelles é jogar no campo da austeridade. E do neoliberalismo, que já vive em descrédito nos países mais desenvolvidos. Não se trata de ser catastrofista, mas só alguém muito desligado da realidade pode achar que a crise brasileira vai acabar. Não vai. Por que razão o Brasil estaria na contramão da economia mundial?

Diagnósticos são perigosos, mas é natural haver números razoáveis no princípio. O problema é que folhas de Excel não enchem barrigas vazias. Ninguém duvida que o ataque vai ser sobre o social e os programas de distribuição de renda que, em grande medida, serviram para alavancar a economia ao longo dos últimos anos.

O futuro pode ser péssimo para os pobres, mas chegará uma hora em que os ricos também terão que pagar a fatura. Eis o perigo. Quando a pressão for generalizada, o que o governo pode fazer para se salvar, ainda mais nessa condição de ilegítimo? Negociar com o diabo e o diabo. E de cedência em cedência abre-se o caminho para a corrupção. Que, por ironia, era o que Dilma Rousseff ameaçava estancar.

É a dança da chuva.


Com Temer no poder, acabou a corrupção. Não é preciso urgência