terça-feira, 21 de outubro de 2014

De que lado você samba?

POR CAROLINA PETERS

Em julho do ano passado, um amigo que estava em Londres me envia a imagem ao lado por email. Uma campanha produzida pelo periódico The Economist e veiculada amplamente em espaços como estações de metrô.

Where do you stand? Em bom português: de que lado você samba? Com uma imagem angelical de Angela Merkel, a campanha visava frear o avanço das manifestações que aconteciam na Europa contra a intervenção da União Europeia, protagonizada pela Alemanha, nas economias locais. Vale comentar que, ao mesmo tempo em que essa campanha midiática tomava corpo, as primeiras análises sobre a recessão que rondava a Alemanha já começavam a surgir.

Lembrando disso, não me estranha o apoio do The Economist ao candidato Aécio Neves. Ou antes, a Armínio Fraga e sua trupe.

Me estranha menos ainda, diante da declaração recente do candidato noticiada pelo Valor Econômico: o Mercosul está ultrapassado, "anacrônico", e é necessário repensar em "áreas de livre comércio". Ora, quer coisa mais anacrônica e furada que a Alca?

A América Latina, por outro lado, compra metade de nossos manufaturados. O Mercosul é responsável por 30%. O BNDES financia diversas obras na região e é assim que aumenta seu lucro. O fortalecimento da economia brasileira, da nossa credibilidade (pra não falar do nosso peso político lá fora), têm muito a ver com o fortalecimento da integração regional. 
Vamos falar de economia?

Criou-se há tempos um mito em torno da política econômica -- e da política, de forma geral -- que afirma que tudo se resolve com gestão, impessoal e mecânica. Economia depende de escolhas, e quem entende e influencia nos rumos da economia mundia sabe bem: de que lado? Há possibilidades diversas de estabilizá-la e fazer crescer. Pode-se investir em produção ou especulação, criar empregos e fortalecer o mercado interno, ou adotar uma política cambial mais maleável. Concentrar os lucros ou distribuir renda. 

Em terra (ou tela?) de comentários truculentos, e acusações de desinformação, é pedir demais que aqueles que pagam de intelectuais repetindo comentários aleatórios sobre o PIB e a inflação alta (alta mesmo?) saibam do que estão falando? 

A economista Leda Paulani, professora da USP e uma intelectual que respeito muito, escreveu essa semana no blog da Boitempo Editorial sobre o Terrorismo Econômico, narrativa que mais uma vez ronda as presidenciais brasileiras. Recomendo profundamente a leitura, junto com o melhor debate deste segundo turno: Guido Mantega e Armínio Fraga no ringue de Mirian Leitão. O link na íntegra está aqui. Aliás, alguém concorda com Fraga que o dinheiro emprestado do FMI foi "barato"? (palavras dele).

A política econômica do governo Dilma está longe dos meus sonhos, mas Armínio Fraga é o bicho papão da minha infância. Eu voto pelo Mercosul.

8 comentários:

  1. É disso que os tucanos tem mêdo.
    Eles passaram anos no Governo, chocando em seus ninhos.
    E o tempo passou.
    Agora, sentem saudades do aconchego do FMI e querem voltar a mamar.
    Não vai dar.
    O povo não quer mais alimentar gente inútil.

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  2. Olá, Carolina!
    Eu concordo que foi barato financeiramente. Foi caro no ego, não há como negar.
    A conta é a seguinte: a taxa de juros cobrada por este empréstimo era muito menor que a taxa Selic. Sendo que não adiantava aumentar dívida interna, pois o que o país precisava era de dólar para honrar as transações em conta corrente. Vou além: essa história de que esta dívida foi paga é uma balela! O que a equipe econômica do Lula fez foi aumentar o endividamento interno (via títulos do Tesouro Nacional), pagando uma elevada taxa de juros (pois à época os juros ainda estavam altos devido ao "risco PT"), para comprar dólar no mercado interno e assim pagar o FMI. Ok, a dívida com o FMI foi paga, mas criou-se outra, muito mais cara.
    Sim, a inflação está muito alta e está subindo. E tem outra: este governo nunca conseguiu cumprir a meta em seu centro, sempre dependeu da margem superior.
    Sobre o BNDES, os financiamentos que ele faz aos nossos vizinhos são ótimos em termos de política regional. Como a coisa funciona? Bem, desde o início do governo do PT, o Tesouro Nacional capitalizou o BNDES em mais de 400 bilhoes de reais. Ou seja, o país se endividou (com uma alta taxa de juros) para isto. E o BNDES empresta o dinheiro aos nossos vizinhos a uma taxa inferior ao que o Tesouro tomou emprestada. Advinha quem paga a conta?

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    1. Olá, Rodrigo! Pleno acordo sobre o "pagamento da dívida".

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  3. Parabéns Carolina, tava faltando alguém para falar na lingua de gente inocente, que não sabe de nada sobre "Economia para Reles Mortais".
    Afinal, ser educado por miriam leitão e sanemberg, é para quem não tem amigos que pensam e falam bem o que pensam bem. Viva o Brics e o Mercosul.

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  4. Olá,
    Sinceramente falando, se contentar com o Mercosul é muito, mas muito pouco em termos de política econômica e externa. Não há como comparar os anos FHC com os anos LULA e muito menos com os anos DILMA. Os tempos são outros. O mundo mudou muito em 12 anos, o Brasil viveu um boom de commoditties com a ascensao Chinesa e isso nos tornou credores internacionais. Mas sabemos que tanto os fundamentos plantados por FHC com o plano real e inclusive com as privatizações (baratas ou não, eram necessárias), juntamente com a manutenção destas medidas por LULA, juntamente com o reconhecimento da China como economia de mercado e um novo alinhamento SUL-SUL abriu portas a nossa economia. Contudo, quando vejo nossos vizinhos como Chile, Peru, Colômbia, México crescerem mais do que nós, desenvolver maiores acordos intl com países desenvolvidos, em desenvolvimento, enfim, onde haja mercado eles tentam entrar e olho para o nosso fraco Mercosul com altas tendências populistas na Venezuela e na Argentina (esta inclusive tenta barrar nossas cargas de diversas formas na fronteira), sinto que o estado brasileiro parece estar míope, só enxerga meia verdade e está deixando nossos vizinhos roubarem mercados que poderiam ser nossos. É só pesquisar e comparar o número de acordos bilateriais de nosso país com o dos vizinhos citados, ou o acordo com a UE que o Brasil quase sempre aprova, mas no final a Argentina recua e o Brasil por estar acorrentado ao Mercosul não consegue finalizar. Realmente se contentar somente com o Mercosul é uma lástima!
    Andy

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  5. Valeu, tá na hora de ler algo mais inteligente e ao mesmo tempo "para reles mortais" entenderem. Viva o Brics e o Mercosul.
    Aos "sabe nada, inocentes" resta Miriam Leitão e Sanemberg.
    A fina flor da direita.

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  6. Qual é o número da Merkel para eu teclar e confirmar ?

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  7. Toda vez que alguem do psdb fala sobre o Mercosul, a primeira ação que eles fazem e arriar as calças na direção de Tio Sam.Esta e a grande diferença para mulher como Dilma, onde nosso pais sempre vem na frente, Aécio sabe que abrindo as pernas do Mercosul para os EUA sobra muita coisa pra ele. Espero : e torço muito ,ano que vem ele estará jogando damas com FHC em algum parque da região paulista.ou mesmo do Leblon...

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