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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Pit stop, demagogia e austeridade

POR CLÓVIS GRUNER

Pra começo de conversa: são hipócritas e eleitoreiras a imensa maioria das críticas aos gastos presidenciais em Lisboa no final de semana. O assunto só mereceu tamanho destaque porque se trata de uma presidenta de esquerda, e sempre há gente disposta a compartilhar factóides vindos da direita e masturbar-se indignar-se com eles, principalmente em ano eleitoral. Por outro lado, ele serviu para expor uma vez mais a pobreza - de idéias, argumentos, proposições - em que estão mergulhados a oposição e parte da chamada grande imprensa - o que, no Brasil, é praticamente a mesma coisa. 

Há muito que criticar no governo Dilma. As políticas de segurança pública e de direitos humanos engataram marcha à ré nos últimos quatro anos; pode-se dizer o mesmo da política indigenista. Na educação, os índices continuam muito aquém do esperado, a mostrar que o propalado aumento no número de vagas, principalmente nas universidades, é medida insuficiente sem investimentos estruturais em todos os níveis. Além disso, a ampliação do arco de alianças comprometeu ainda mais o outrora projeto político petista. Os resultados todos conhecem: a co-responsabilidade do governo na eleição de Marco Feliciano à presidência da Comissão de Direitos Humanos no ano passado é um deles. A presença da senadora ruralista Kátia Abreu entre os aliados do governo, outro.

O problema é que a oposição não está disposta a um confronto político pautado em projetos e programas. Em parte, porque tem teto de vidro: é difícil criticar as alianças e os aliados petistas depois de ter feito o mesmo nos anos de gestão tucana. Além disso, é delicado posicionar-se sobre temas para os quais ela tem pouco a mostrar no passado, quando foi governo, e ainda menos a oferecer em um futuro próximo, quando pretende ser governo. Mesmo o esforço por transformar as manifestações de junho passado em grandes atos “contra tudo” resultou em um grande nada: Dilma segue liderando as pesquisas, e nem mesmo a entrada em cena de um político de carreira como Aécio Neves conseguiu mudar o quadro. Sobra pouco, e daí protestar contra a Copa e fazer de dois dias em Lisboa um escândalo político parece ser uma boa opção.

DINHEIRO PÚBLICO, CAPRICHOS PRIVADOS – Li gente defendendo os valores gastos no pit stop presidencial argumentando que, afinal, ela estava em missão oficial, que nada há de ilegal nos gastos e que eles são compatíveis com a dignidade do cargo. Outros lembraram que Dilma apenas repete o que é prática comum entre nossos governantes e, por certo, não faltou quem lembrasse das muitas viagens de Fernando Henrique, uma delas com Regina “eu tenho medo” Duarte como convidada, sabe-se lá porque. É tudo verdade. Mas o buraco é mais embaixo. A gastança de Dilma em Lisboa – e em Roma, no ano passado – é sintoma de um mal antigo. Ela, Lula, FHC, todos sem exceção, reiteram um comportamento recorrente em nossos representantes políticos: a ostentação à custa do dinheiro público.

A coisa vem de longe e os exemplos abundam. Basta ler as crônicas de Machado de Assis sobre a vida na corte durante o Segundo Reinado, ou o panorama nada alvissareiro que faz Lima Barreto dos primeiros anos da República: não satisfeitos em fazer da coisa pública extensão de seus interesses e vícios privados, nossas elites políticas se acostumaram a usar o dinheiro público para sustentar e alardear seus muitos caprichos. Em uma cultura onde o consumo e a ostentação são dois dos principais signos de distinção social, não chega a ser uma surpresa ver os governantes valendo-se de uma coisa e outra para reafirmarem os privilégios que seus cargos lhes conferem. Também não surpreende ouvir vozes antes emudecidas apenas agora reagindo, só aparentemente preocupadas com a austeridade. Ostentar não é em si um problema; problema é quando um ex-operário e uma ex-guerrilheira decidem dar um rolezinho.  

Não, não estou aqui a defender que Dilma deva hospedar-se em um albergue e comer um PF no boteco da esquina. Mas oito mil dinheiros a diária, mesmo a de uma suíte presidencial, é muito. Sei também que não resolveríamos nossos problemas economizando os poucos “trocados” gastos em Lisboa. Mas seria no mínimo simpático, além de um gesto simbolicamente significativo, a presidenta de um país onde milhões ainda contam com o Bolsa Família para complementar a renda, dar o exemplo e hospedar-se em um bom hotel mais barato que o Ritz ou o Westin Excelsior. Parafraseando um ex-candidato a prefeito de Joinville: dá pra fazer.

O presidente do Uruguai, José Alberto Mujica, tem sua própria receita; ela não precisa obviamente ser seguida à risca, mas poderia servir como parâmetro. Por outro lado, difícil não anotar a esquizofrenia: os mesmos – colunistas, políticos de oposição – que hoje criticam a ostentação de Dilma, provavelmente a chamariam de demagoga – que é como se referem a Mujica – se ela decidisse praticar uma política da “não ostentação”. Ser um presidente ou presidenta de esquerda é meter-se em uma encruzilhada: se gasta e ostenta, esbanjou dinheiro público; se não gasta e é humilde, é demagogia populista. Mas é este o nível da disputa política no país. E não vai melhorar. Ruim para nós, que teremos de ver o debate público reduzido a isso ou a algo pior nos próximos meses, até pelo menos as eleições.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Burro, ignorante e ameba

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO


"Povo burro". "Sociedade ignorante". "Mídia manipulada". "Amebas". "Povo ignorante". "Mídia comprada". Foram expressões que li repetidas vezes nas redes sociais, na semana passada, quando foi divulgada a pesquisa CNI/Ibope, que apontava um índice de 77% de aprovação da presidente Dilma Roussef.

Ok... mas desenganem-se os opositores do atual governo e do partido do atual governo. Não vou discutir o petismo ou o antipetismo. O que importa aqui é falar dessas pessoas que têm o topete de chamar as outras de burros, ignorantes ou amebas. De onde esses caras tiram a autoridade moral e intelectual para tentar espezinhar os outros? Quem eles julgam que são?



Parece óbvio. Burro, ignorante ou ameba é quem não tem a educação cívica, a vivência democrática e a urbanidade indispensáveis para conviver com a opinião dos outros. O nome do jogo é democracia. Mas há muitos desses chatos: se você pensa diferente deles, então está errado. E é burro. Porque os "inteligentes" são eles. Fala sério. E por falar em mídia comprada e manipulada, fico a imaginar: deve ser gente educada pela revistona semanal.

Acho que os caras não se tocaram. A gente não ouve pessoas inteligentes a chamarem as outras de burras (pelo menos em público). Porque a contenção verbal é inerente à inteligência. E qualquer pessoa com dois dedos de cérebro sabe que o conhecimento tem dessas coisas: quanto mais a pessoa sabe, mais noção ela adquire das suas fragilidades intelectuais.


Mas no Brasil tem muitas malas-sem-alça. O cara tem um diplominha qualquer na parede ou dinheiro para comprar um computador e escrever besteiras nas redes sociais e pronto: acha que é uma espécie de elite, alguém melhor que os outros.


Ah... falei em elites. Aposto que já tem gente pensando em voltar à velha discussão dos tempos do Lula, quando se falava muitos nas “zelites”. Não vale a pena a perda de tempo. O meu conceito de elite é diferente. Para mim elite é quem tem capacidade de articular bom pensamento, tem uma boa práxis e faz leituras racionais do mundo. E, claro, não se deixa levar pelo ódio de classe. O resto são tertúlias flácidas para dormitar bovinos.


Burro, ignorante ou ameba é o cara que vive na presunção de ser superior.



P.S.: E antes que alguém venha dizer que estou a fazer a defesa do PT, eu achava a mesma coisa na época do FHC.