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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Joinville paga o preço do crescimento a todo custo

POR CHARLES HENRIQUE VOOS


Os números divulgados pelo IBGE na semana passada referentes ao PIB (Produto Interno Bruto) dos municípios brasileiros revelaram algo que muita gente nunca sonhou em presenciar: Joinville perdeu o posto de cidade mais rica do estado para Itajaí. Uma hegemonia que durava várias décadas caiu. Por mais que tenha sido, para alguns setores econômicos e políticos locais, um "desastre" perder na quantidade, parece não alarmar o fato de que Joinville há muito tempo perdeu o posto de melhor cidade para se viver e os números são meras consequências.

O enfoque qualitativo é difícil para alguns, principalmente políticos e demais gestores públicos. Até pouco tempo atrás as desculpas de "maior cidade" e "terceiro maior PIB da região sul" ainda eram utilizadas para refutar análises qualitativas, quando algumas surgiam. Agora não dá mais, porque os números mostram a crua realidade que há anos alguns "teimosos" já mostravam.

A cidade sempre careceu de cuidados que quase nunca existiram. Jamais tantas pessoas morreram de formas socialmente construídas como nestes últimos anos: os homicídios batem recordes atrás de recordes e os acidentes de trânsito com vítimas fatais também. As periferias se desenvolveram de forma descontrolada e os sucessivos governos, por décadas, não conseguiram organizar a cidade para as pessoas, apenas para o crescimento econômico a todo custo. Graças a este cenário, os "anos gloriosos" de Joinville acabaram.

O desenvolvimento econômico de qualquer cidade, principalmente neste século 21 mundializado, requer um equilíbrio da economia com o social e a cidade é o "palco" onde isso é efetivado. O crescimento dos índices econômicos devem vir acompanhados de qualidade de vida, lazer, cultura e sustentabilidade (apesar deste último termo ter sua concepção muito abrangente e, certas vezes, deturpada). Pelo que percebemos, nos tornamos a "Manchester Catarinense" e esquecemos de melhorar a qualidade da vida destes que a fazem diariamente. Não temos parques, áreas públicas qualificadas, equipamentos públicos em bom estado de funcionamento e nenhum atrativo diferenciado. Somos uma cidade bem comum que tinha em seus indicadores o grande trunfo. Não tem mais, e se sobrou alguma coisa irá perder em breve - basta continuar neste ritmo.

Precisamos lembrar que a política econômica monolítica apoiada pelos governos gerou uma instabilidade perigosa para a cidade. Uma economia pautada no setor secundário como a nossa podia sucumbir com qualquer crise alojada no setor. Em 2014 tivemos pequenas amostras de como é prejudicial o incentivo a apenas uma forma de construir riqueza. Com a pequena crise no setor industrial brasileiro, o PIB de Joinville diminuiu, a cidade não gerou tantos empregos como antes e a qualidade de vida despencou mais ainda.

É fácil e cômodo para alguns irem aos jornais e rádios locais e dizer que perdemos a liderança por questões circunstanciais das outras cidades. Melhor ainda é "jogar a sujeira para debaixo do tapete", como outros fizeram, e não reconhecer as próprias deficiências. Independente da mercantilização das cidades e a competição urbana, creio que todos nós queremos - e precisamos - de uma cidade melhor para vivermos. Quando as políticas sociais não atingem as grandes parcelas da população não há economia que aguente. Levamos 40 anos para percebermos, mas agora pode ser tarde demais.


* Este articulista blogueiro, sociólogo mal formado e urbanista frustrado (como sempre diz um anônimo raivoso e que quer me matar pelo uso do primeiro termo) deseja a todos os leitores do blog Chuva Ácida um ótimo fim de ano e espera revê-los em 2015!

sábado, 19 de julho de 2014

As várias Joinvilles

POR JORDI CASTAN


Falar de duas Joinvilles é apresentar uma visão excessivamente simplista desta cidade e da sua sociedade: o correto seria se referir as Joinvilles, assim mesmo no plural, porque esta cidade são muitas cidades. A pública e a privada, a oficial e a real, a rica e a pobre, a pobre e a miserável, ou a Manchester catarinense e o reino dos manguezais. Todas elas são Joinville, todas elas formam juntas, a imagem caleidoscópica desta cidade.

Gostaria hoje de me referir a um único aspecto, que chama a atenção de quem procura se aprofundar além das respostas de sempre. Frente ao discurso ufanista da Joinville das maravilhas, a cidade do milhão de habitantes, a cidade que não para de crescer, a realidade mostra uma outra cara da mesma Joinville. Uma pobre cidade rica. A Joinville dos R$ 18,4 bilhões de PIB, a maior cidade do estado, maior que a capital, com um PIB per capita de R$ 35,8 mil, é um pedinte sem recursos para enfrentar os seus desafios. Uma cidade em que a maioria da população é pouco qualificada e ganha pouco. Uma cidade que vem perdendo qualidade de vida a passos agigantados e enfrentará, já a curtíssimo prazo, problemas cada vez maiores e de solução mais complexa.

O PNUD ( Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgou recentemente a renda per capita de todos os municípios brasileiros. Joinville está na 65ª posição, com uma renda de R$ 1.126,74. Comparando com outros municípios de Santa Catarina, Joinville é o décimo, atrás de Florianópolis, com uma renda per capita de R$ 1.798,12, e de Balneário Camboriú, Rio Fortuna, Treze Tílias, Joaçaba e Blumenau.

5.- Florianópolis - R$ 1.798,12
10.- Balneário Camboriú - R$ 1.625,59
14.- Rio Fortuna - R$ 1.570,51
21.- Treze Tílias - R$ 1.471,95
31.- Joaçaba - R$ 1.338,50
38.- Blumenau - R$ 1.253, 17
41.- Timbó - R$ 1.214,03
49.- Seara - R$ 1.188,18
57.- São José - R$ 1.157,43
65.- Joinville - R$ 1.126,74

Parte da situação origina-se no modelo econômico, dependente da disponibilidade abundante de mão de obra barata e pouco qualificada. A título de exemplo: 46,56% da população só tem o ensino fundamental, considerando completo e incompleto; e só 5,84% dos joinvilenses tem formação superior completa, incluindo os 1,01% que tem doutorado ou mestrado.  A esse quadro há que acrescentar a falta de uma visão estratégica e o imediatismo na hora de definir os rumos da cidade. O resultado é que Joinville, frente ao silêncio generalizado, vem perdendo protagonismo no cenário nacional e regional. Quando o prefeito Udo Dohler afirmou que Joinville era a terceira economia do sul do Brasil e estava a caminho de tornar-se a segunda, provavelmente discursava tendo em mãos dados de três décadas atrás. 

As duas tabelas abaixo evidenciam dois aspectos que refletem a nossa realidade quotidiana. A primeira informa sobre nosso contexto econômico e ajuda a explicar o perfil do comércio e das empresas prestadoras de serviços destinadas ao mercado local.
Na Joinville operária, 61,05% da população recebe entre 1/2 e 2 salários mínimos.

A segunda mostra as nossas taxas de crescimento populacional, que não sustentam o mito que Joinville alcançará, a curto prazo, ao numero mítico do milhão de habitantes - o prefeito Udo Dohler usa esse número cabalístico para defender um modelo de cidade.



Ignora o prefeito, convenientemente, que na Joinville de hoje, sem mudar uma vírgula a legislação, nem aumentar um único metro quadrado o perímetro urbano, caberia uma Joinville de dois milhões de habitantes.


Joinville e os seus dirigentes, não só os políticos, mas também suas lideranças empresariais, tem optado por apostar numa cidade menos eficiente, numa cidade ambientalmente pior, em que a visão e os projetos de médio e longo prazos cedem lugar ao “curto pracismo”. Os motivos e as escusas para não fazer são os mais variados: desde a judicialização, a incompetência, a falta de recursos para fazer frente aos custos mais básicos e prosaicos, seja remédios de uso continuado, troca de lâmpadas, desapropriações para duplicar ruas e avenidas, inclusive para materiais de uso diário. Sem mudanças importantes a curto prazo o resultado desse quadro é no melhor dos casos um futuro incerto e pouco promissor. 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Adeus, Mayerle Boonekamp!

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Falar sobre a memória requer muito cuidado. É um composto de simbologias, interpretações e situacionismo cronológico que varia de pessoa para pessoa e que levam à construção da identidade. Cada ser humano tem a sua vida, a sua história, e os seus princípios. Logo, cada um tem a sua memória. Aquilo que é importante para mim, pode não ser importante para você, leitor, ou ainda: lembramos das mesmas coisas mas de formas muito diferentes. Entretanto, quando um elemento da cidade é lembrado da mesma maneira por um quantidade significativa de pessoas, as quais constroem laços afetivos ou funcionais em comum, ele é importante para a manutenção, antes de tudo, de quem nós somos. E deve ser preservado.

Em Joinville (pra variar), o poder econômico e a especulação imobiliária passam por cima disto. O crime da vez foi cometido com a derrubada total do prédio centenário da fábrica de bebidas Mayerle Boonekamp, como mostra a foto abaixo, por uma empreiteira (a qual, por pura coincidência de fatos, é ligada à ACIJ), para dar lugar a uma grande rede de supermercados.


Pode ser que o prédio era velho e sem utilidade. Pode ser que ele precisasse dar lugar ao "moderno", pois era ultrapassado. Pode ser que já não condizia mais com o entorno "desenvolvido". Pode ser que tivesse sido de um empresário já falecido. Pode ser que fosse um lugar "sem vida", com mendigos e traficantes. Pode ser que, nos últimos anos, ele tenha sido um espaço que juntasse todas estas características.

Para empresários do ramo da construção civil de Joinville, o prédio é um empecilho para o lucro.

Está ocupando um espaço em que será construído um grande supermercado. Está ocupando um espaço de grande valor comercial. Está ocupando um espaço com uma possibilidade de uso totalmente diferente do que foi no passado.

Para as pessoas que vivem a cidade e percebem os seus traços e as suas histórias, a derrubada do prédio da Mayerle Bonnekamp foi um crime. Foi uma espoliação de parte de suas identidades. Foi uma privação da capacidade de ver e lembrar não somente a cidade (em um comparativo de como era e como é), mas suas próprias vidades. Foi cambiar o cheiro daquela deliciosa bebida amarga, que reunia amigos em botecos na cidade inteira, por pó e concreto desabados. Foi sentir o dinheiro esmagando a necessidade de se olhar para trás, para se entender o presente. Foi ver a Joinville que não queremos. Foi ver uma Joinville sem controle e sem dono. Foi ver uma Joinville morrer.



Aquilo não servia para o bolso de alguns, mas servia para a coletividade. Seria como, em escala maior, arrancar as palmeiras da Alameda Bruestlein. Seria como se, ao invés de humanos portadores de sentimentos, percepções e heranças, fôssemos robôs programados apenas para o dual casa-trabalho. Frios. Secos. Com um serial number.

Seria como beber uma dose de Mayerle Boonekamp e não se sentir bem.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Como será o futuro de Joinville?


POR GUILHERME GASSENFERTH

Segundo reportagem veiculada na edição número 1.001 da Revista Exame, a região Norte-Nordeste de Santa Catarina será a que mais vai crescer no Brasil até 2025. Parece uma ótima notícia. Será mesmo?

É claro que é bom saber que vivemos em uma região economicamente promissora. Mas será que a região está estruturada para isso? Temos condições de suportar este crescimento sem perder a qualidade de vida? Joinville e região possuem pessoas qualificadas profissionalmente para os milhares de empregos que ainda se abrirão? Há universidades e cursos suficientes (em número e qualidade) para essas pessoas? Nossas cidades estão preparadas para receber o novo contingente de moradores que certamente aumentarão nossas estatísticas populacionais? Conseguiremos manter uma das maiores áreas de mata atlântica primária do Brasil?

Do ponto de vista da infraestrutura, é inútil dizer que o estado atual das coisas é muito aquém do que é razoável para uma região rica como a nossa. A BR-101 é nossa principal via de comunicação com as outras cidades. Com as dezenas de grandes empresas a instalarem-se em Araquari, Garuva e Barra Velha, a BR-101 continuará dando conta da demanda? Sobre a BR-280, sem comentários. 

Nosso aeroporto está ganhando seu ILS, mas como bem já disse o Charles Henrique aqui neste blog, que adianta estrutura se as empresas aéreas não colaboram com mais voos e em melhores horários? Nós temos condomínios, prédios e imóveis para nossos novos moradores? Não. As avenidas de Joinville (dá pra contar nos dedos de uma mão) suportarão o crescimento? Já estão saturadas, como poderão absorver mais carros?

Na questão da saúde, embora eu concorde que a manutenção de nossos hospitais e sua adequação para estarem funcionando a pleno vapor é prioridade, mas será que não cabe um hospital (estadual!) na Zona Sul? É preciso pensar em construir já para que quando Joinville esteja maior não precise correr atrás do prejuízo. Nossa saúde está muito mal e os medicamentos que prescrevemos já não fazem efeito.

E a cultura? Joinville tem só um teatro pra menos de 500 pessoas. É vergonhoso. E mesmo quando o novo teatro que a prefeitura anunciou estiver pronto, continuará a ser vergonhoso. Cinema só filmes comerciais. Os museus só estão atrativos para traças. Uma cidade como esta, riquíssima, ter apenas dois teatros, poucos cinemas e museus caindo aos pedaços. Nem Ionesco poderia ser tão trágico.

Será que nossas faculdades, universidades e cursos técnicos estão dando resposta ao que a sociedade e o mercado necessitam? À primeira, certamente não. Já falamos aqui sobre a deficiência de cursos na área de humanas. Felizmente, começam rumores (confirmados pelo diretor da UFSC Joinville) de que em breve iniciam estudos para a implantação de cursos de humanas no campus local. Antes tarde do que nunca!

Preocupa-me também a nossa condição insular. Sim, eu sei que geograficamente não somos uma ilha. Mas nossas cidades são como tal: não se relacionam, não pensam em conjunto, não planejam umas com as outras. Que adianta Joinville buscar atender suas necessidades e planejar um novo hospital pensando só em seus moradores e depois estar superlotado porque não se pensaram nas cidades vizinhas que também farão uso? A questão do transporte coletivo também é vergonhosa. Joinville precisa pensar na integração regional, é uma questão premente!

Diante deste quadro, só uma palavra me vem à mente: planejamento. Joinville e cidades da região têm que planejar como querem estar daqui a 10, 30, 50, 100 anos. E começar a por em prática as estratégias das quais lançarão mão para chegarem ao futuro como desejam.  Planejamento regionalizado, integrado, responsável, apartidário, efetivo, criativo.

Mas dentre todas as carências de nossa cidade, uma destaca-se na multidão: a ausência de cabeça. Nossas lideranças (de todos os aspectos) precisam usar a massa cinzenta para pensarem como tirar Joinville desta crise fiscal e fazer a região tornar-se não só a que mais cresce no Brasil, mas principalmente a que será a melhor do Brasil para todos! Com criatividade, inovação e trabalho, Joinville será de fato a melhor cidade para se viver no país!