sábado, 19 de julho de 2014

As várias Joinvilles

POR JORDI CASTAN


Falar de duas Joinvilles é apresentar uma visão excessivamente simplista desta cidade e da sua sociedade: o correto seria se referir as Joinvilles, assim mesmo no plural, porque esta cidade são muitas cidades. A pública e a privada, a oficial e a real, a rica e a pobre, a pobre e a miserável, ou a Manchester catarinense e o reino dos manguezais. Todas elas são Joinville, todas elas formam juntas, a imagem caleidoscópica desta cidade.

Gostaria hoje de me referir a um único aspecto, que chama a atenção de quem procura se aprofundar além das respostas de sempre. Frente ao discurso ufanista da Joinville das maravilhas, a cidade do milhão de habitantes, a cidade que não para de crescer, a realidade mostra uma outra cara da mesma Joinville. Uma pobre cidade rica. A Joinville dos R$ 18,4 bilhões de PIB, a maior cidade do estado, maior que a capital, com um PIB per capita de R$ 35,8 mil, é um pedinte sem recursos para enfrentar os seus desafios. Uma cidade em que a maioria da população é pouco qualificada e ganha pouco. Uma cidade que vem perdendo qualidade de vida a passos agigantados e enfrentará, já a curtíssimo prazo, problemas cada vez maiores e de solução mais complexa.

O PNUD ( Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgou recentemente a renda per capita de todos os municípios brasileiros. Joinville está na 65ª posição, com uma renda de R$ 1.126,74. Comparando com outros municípios de Santa Catarina, Joinville é o décimo, atrás de Florianópolis, com uma renda per capita de R$ 1.798,12, e de Balneário Camboriú, Rio Fortuna, Treze Tílias, Joaçaba e Blumenau.

5.- Florianópolis - R$ 1.798,12
10.- Balneário Camboriú - R$ 1.625,59
14.- Rio Fortuna - R$ 1.570,51
21.- Treze Tílias - R$ 1.471,95
31.- Joaçaba - R$ 1.338,50
38.- Blumenau - R$ 1.253, 17
41.- Timbó - R$ 1.214,03
49.- Seara - R$ 1.188,18
57.- São José - R$ 1.157,43
65.- Joinville - R$ 1.126,74

Parte da situação origina-se no modelo econômico, dependente da disponibilidade abundante de mão de obra barata e pouco qualificada. A título de exemplo: 46,56% da população só tem o ensino fundamental, considerando completo e incompleto; e só 5,84% dos joinvilenses tem formação superior completa, incluindo os 1,01% que tem doutorado ou mestrado.  A esse quadro há que acrescentar a falta de uma visão estratégica e o imediatismo na hora de definir os rumos da cidade. O resultado é que Joinville, frente ao silêncio generalizado, vem perdendo protagonismo no cenário nacional e regional. Quando o prefeito Udo Dohler afirmou que Joinville era a terceira economia do sul do Brasil e estava a caminho de tornar-se a segunda, provavelmente discursava tendo em mãos dados de três décadas atrás. 

As duas tabelas abaixo evidenciam dois aspectos que refletem a nossa realidade quotidiana. A primeira informa sobre nosso contexto econômico e ajuda a explicar o perfil do comércio e das empresas prestadoras de serviços destinadas ao mercado local.
Na Joinville operária, 61,05% da população recebe entre 1/2 e 2 salários mínimos.

A segunda mostra as nossas taxas de crescimento populacional, que não sustentam o mito que Joinville alcançará, a curto prazo, ao numero mítico do milhão de habitantes - o prefeito Udo Dohler usa esse número cabalístico para defender um modelo de cidade.



Ignora o prefeito, convenientemente, que na Joinville de hoje, sem mudar uma vírgula a legislação, nem aumentar um único metro quadrado o perímetro urbano, caberia uma Joinville de dois milhões de habitantes.


Joinville e os seus dirigentes, não só os políticos, mas também suas lideranças empresariais, tem optado por apostar numa cidade menos eficiente, numa cidade ambientalmente pior, em que a visão e os projetos de médio e longo prazos cedem lugar ao “curto pracismo”. Os motivos e as escusas para não fazer são os mais variados: desde a judicialização, a incompetência, a falta de recursos para fazer frente aos custos mais básicos e prosaicos, seja remédios de uso continuado, troca de lâmpadas, desapropriações para duplicar ruas e avenidas, inclusive para materiais de uso diário. Sem mudanças importantes a curto prazo o resultado desse quadro é no melhor dos casos um futuro incerto e pouco promissor. 

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